Não é sempre que vemos quatro pilotos com três carros e motores diferentes cruzando a linha de chegada divididos por pouco mais de 5s. Ainda por cima na parte final do campeonato. Mas, a exemplo do que ocorreu nos EUA e no México, uma série de fatores contribuiu para o equilíbrio do GP do Brasil, uma das melhores corridas do ano.
Com o calor da hora da largada, bem diferente em relação aos treinos livres, a aposta da Ferrari de largar com os pneus macios parecia acertada, mas outros detalhes entrariam na equação. Largando em segundo, Sebastian Vettel já sabia que teria que correr com seu motor em um modo mais fraco devido a um problema de sensor, o que afetava a dirigibilidade e, consequentemente, dificultava que ele colocasse os pneus na janela de temperatura correta – que já é mais alta para os macios em comparação com os supermacios.
Já a combinação entre o pneu supermacio e o calor gerou o já comum superaquecimento nos pneus da Mercedes e a criação de bolhas após pouco mais de 10 voltas, enquanto o ritmo das Red Bull era alucinante. Vimos ao longo da temporada eles colocando menos energia nos pneus e conseguindo prolongar os stints, mas também é possível que o torque mais leve do motor Renault tenha ajudado a essa preservação maior, como ocorreu no México.
Para completar, o motor de Lewis Hamilton passou a apontar uma falha iminente por um problema nas válvulas que aumentava a temperatura, obrigando-o a, assim como Vettel, não usar o modo mais potente de sua UP.
A revelação destes problemas após a prova mostrou como existe uma interação importante entre o bom funcionamento do motor e a vida útil dos pneus. No caso de Vettel, foi necessário fazer uma segunda parada devido à falta de aderência. E, no de Hamilton, a influência não foi direta, mas no rendimento em si, mas fez a equipe chamá-lo aos boxes antes do programado, pois ele não teria como aumentar o ritmo para responder à aproximação de Verstappen que, quando o problema apareceu, pouco antes da volta 20, já estava perto o suficiente para tentar o undercut. Depois, não tinha como acompanhar o ritmo de Verstappen e acabou sendo ultrapassado até com facilidade.
A decisão defensiva da Mercedes de chamar Hamilton para os boxes naquele momento facilitou ainda mais a vida de Verstappen, que pôde adotar seu próprio ritmo, sem ar turbulento à frente. Naquele momento, para a sorte do holandês, o calor diminuiu significativamente, o que o ajudou a prolongar a vida de seu jogo de supermacios e fez com que ficasse frio demais para os médios que Hamilton acabara de colocar e que não tiveram o rendimento esperado. Lembrando que, quanto mais macio o composto, mais baixa a janela de temperatura em que ele funciona bem.
Mais atrás, Bottas tinha a prova prejudicada pelo mesmo motivo: ele destroçou seus pneus no primeiro stint de maneira mais rápida do que Hamilton porque estava se defendendo o tempo todo, e também teve a parada antecipada para evitar levar um undercut. Mas mesmo ainda tornou-se um dos personagens da corrida, basicamente evitando que Kimi Raikkonen lutasse pela vitória, segurando-o por 8 voltas na primeira parte da corrida, andando 1s por volta mais lento, e mais oito na parte final
Raikkonen ainda estava preso atrás de Bottas quando Verstappen se tocou com o retardatário Ocon. O francês forçou demais, como de costume, mas faltou visão de corrida para Max, que não deveria ter se colocado numa posição de risco. Ocon tem pilotado esbanjando frustração pela situação difícil que enfrenta mais uma vez na carreira e tinha saído dos boxes na volta anterior com supermacios novos. Max costuma ser aquele piloto que deixa que os outros decidam se vai haver toque ou não, encontrou outro que costuma fazer o mesmo, e parece ter se esquecido disso.
Mesmo com danos no assoalho por conta do toque, Verstappen ainda conseguiu chegar perto de Hamilton, que estava com o motor no limite. Mas a sorte de campeão está do seu lado e o inglês não deixou que o holandês carimbasse sua faixa de campeão.
3 Comments
Muitas corridas caíram no colo de Hamilton esse ano, é o que chamamos de sorte de campeão?
Já Vettel …
Resultados que dependem de fatores como o bom funcionamento do excesso de tecnologia embarcada e conservação de pneus…….
Piloto bom de braço tem que gerenciar o carro como um dono de padaria.
Ou, como dizem, dirigir como uma velhinha.
Pobre fórmula um.
Vamos começar uma campanha de recuperação do traçado clássico de Interlagos.