F1 Estratégia do GP do Canadá e o que aconteceu além “daquele” lance - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP do Canadá e o que aconteceu além “daquele” lance

Aconteceu mais no GP do Canadá do que aquele lance da volta 48. O fato do pneu macio ser realmente inferior devido à alta degradação movimentou mais a corrida do que o que tem sido normal nas primeiras voltas, com os pilotos que largaram com os médios ou duros conseguindo escalar o pelotão – à exceção das Haas, perdidas em relação aos pneus. Mesmo assim, não houve tantas disputas como era esperado devido às altas temperaturas dos freios: era difícil para um piloto seguir o outro de perto por muitas voltas, algo que foi particularmente prejudicial para a corrida da McLaren, que teve de chamar Carlos Sainz mais cedo ao box e viu a alta temperatura dos freios efetivamente acabar com a corrida de Lando Norris.

Esses problemas e a dificuldade de manter um bom ritmo com os macios na primeira volta ajudaram Max Verstappen e Valtteri Bottas, que largavam com o duro e médio, respectivamente, a escalar o pelotão. Sua função era ficar longe dos problemas nas primeiras voltas e, assim que todos parassem, abrir o equivalente a um pit stop de diferença, o que provou não ser um grande desafio.

Na verdade, quem roubou a cena no início da prova, embora só tenha ganhado uma posição, foi Nico Hulkenberg, que conseguiu um improvável overcut em Gasly com os pneus macios, fazendo-os durar por impressionantes 18 voltas mantendo um bom ritmo. As Renault, na verdade, foram os carros que roubaram a cena na prova, com o próprio Daniel Ricciardo ficando impressionado por ter segurado Bottas por mais de 10 voltas.

Impossível não notar, também, a corrida de Lance Stroll. Com ele e Sergio Perez largando mais atrás no pelotão, a Racing Point colocou Perez com o pneu médio e Lance, com o duro. O mexicano conseguiu ganhar várias posições no início da prova, mas depois de sua parada ficou travado, enquanto o piloto da casa conseguiu manter um ritmo forte com o duro por mais tempo e, quando parou, voltou ainda na zona de pontos.

Lá na frente, uma primeira análise dá conta de que a Ferrari esteve melhor com o pneu médio e a Mercedes, com o duro – aliás, quem leu as Rapidinhas de Montreal, no sábado, tinha uma boa pista do porquê esse seria o caso – mas parece haver também outro ingrediente: foi interessante ouvir que Vettel esteve poupando combustível por boa parte da segunda metade da corrida – quando cometeu o erro, na volta 48, e também nas últimas voltas. Em Montreal, dá para fazer a corrida até com tranquilidade com 105kg de combutível, mas é normal que as equipes arrisquem largar com menos, especialmente em um circuito com uma alta taxa de Safety Car.

Foi essa possibilidade, inclusive, que ditou a estratégia de Charles Leclerc. Ele já largou sabendo que pararia depois dos dois primeiros, para cobrir a equipe caso saísse um SC ou um VSC e Vettel já tivesse parado.

Voltando um pouco no tempo, como deve acontecer mais vezes durante a temporada devido à natureza dos pneus (algo que expliquei neste vídeo), a tendência é que o undercut não funcione muito bem no combo médio-duro, mas mesmo assim a Ferrari não quis dar a oportunidade para a Mercedes e, assim que a distância de um pit stop para Bottas abriu, Vettel fez sua parada. Hamilton foi, então, instruído a aumentar o ritmo e tentar o overcut mas, tendo estado a cerca de 2s de Vettel por todo o primeiro stint, já não tinha pneus para fazê-lo.

O que aconteceu dali em diante já foi bastante documentado devido a toda controvérsia. Hamilton sabia que não conseguiria passar Vettel, muito mais veloz nas retas, a não ser que ele cometesse um erro, e focou em colocar pressão. Funcionou, só talvez não da maneira como o inglês planejava.

Mais atrás, Leclerc tentava encostar nos líderes nas últimas voltas sem saber da punição de Vettel e acabou chegando só 1min atrás após os 5s serem aplicados. Foi interessante ouvir o diálogo do monegasco recusando a chance que lhe foi dada de parar e tentar uma volta mais rápida. Mesmo sem saber da punição, ele estava certo: estava perto demais dos líderes para deixar escapar uma eventual oportunidade com um enrosco dos dois.

Quem colocou os pneus novos para salvar um pontinho foi Bottas, que não tinha conseguido se recuperar de um erro na primeira tentativa do Q3. Será interessante ver como ele reage à terceira vitória seguida de Hamilton no GP da França.

Verstappen, mesmo com o azar da classificação, acabou na mesma quinta posição que o ritmo de seu carro permitia, enquanto o companheiro Pierre Gasly acabou sofrendo por não conseguir ser rápido o suficiente para a equipe sequer tentar fazê-lo classificar-se com o médio. A Renault voltou ao seu lugar bem às vésperas do GP da França, Stroll repetiu o bom desempenho de sua estreia em casa e Kvyat se aproveitou do dia para esquecer da McLaren.

3 Comments

  1. Ótima análise.
    Se a Ferrari tivesse parado o Leclerc uma volta depois do Vettel, será que não conseguiria o undercut no Hamilton.
    Mesmo que não conseguisse, estaria na cola do Hamilton a espera de uma oportunidade de ultrapassagem.
    Ficar a espera de um safety car é muito pouco para uma equipe com carro para vencer.

    • Ele estava 2s5 atrás do Hamilton, muito longe para um undercut. Além disso, é muito difícil conseguir ganhar tempo na primeira volta do pneu duro, porque ele demora muito a aquecer. Então o undercut indo do médio para o duro é bastante improvável de qualquer maneira.

    • Eu acredito que isso poderia dar certo, pois o pneu duro novo estava mais rápido que o médio usado, basta ver que de 2 segundos, a vantagem do Vettel foi para quase 4,5 segundos depois que o Hamilton voltou dos boxes. O tempo que o Ham ficou na pista com médios velhos, ele perdeu quase 2,5 segundos. Faltou à ferrari analisar mais rápido os acontecimentos da corrida e não ficar engessada numa estratégia de safety car.


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