Um dos principais entraves nas discussões do novo Pacto da Concórdia não é um assunto novo, mas pode mudar os rumos da F-1. A categoria sempre foi um campeonato, tanto de pilotos, quanto de construtores – ainda que muita gente ignore esta essência e queira igualar as forças entre as equipes. No entanto, não é de hoje que os times perceberam que uma cooperação pode ajudar todos os lados.
São quatro as que prestam algum serviço de assessoramento técnico. A Ferrari cede motores e câmbios para a Sauber e a Red Bull faz o mesmo com câmbio e transmissão e, ano que vem, o Kers para a Lotus, o modo mais tradicional de cooperação, enquanto os rivais Williams e McLaren têm parcerias técnicas mais abrangentes com Hispania (no caso do time de Grove), Force India e Virgin.
Há ainda a questão da relação entre Red Bull e Toro Rosso. Até o final de 2008, a ex-Minardi usava projeto baseado no carro dos hoje bicampeões mundiais, mas isso foi proibido pela FIA.
São todos modelos lucrativos para ambos os lados. Um time menor ganha know-how e o grande aumenta pelo menos seus rendimentos. Pelo menos porque, com o avanço das parcerias, cada vez fica mais nebulosa os tipos de troca envolvidos.
A FIA decidiu que uma equipe não pode usar o mesmo projeto de outra, ou seja, para defender o princípio do construtor, ele não pode ter mais de dois carros no grid. Isso porque a situação poderia levar – e o caso Red Bull/Toro Rosso chegava perto disso, não fosse a diferença de motor – uma equipe como a McLaren, por exemplo, a sublocar seus chassi para uma Force India. Isso diminuiria o gasto de qualquer time médio, mas também fatalmente levaria à falência quem não quisesse por qualquer motivo que fosse entrar na roda e seria um golpe em cheio na essência da categoria. Do ponto de vista comercial, geraria impasses como para quem ficariam os pontos no Mundial de Construtores – e a consequente fatia no bolo dos direitos comerciais da categoria.
Mas os limites entre as parcerias existentes hoje e essas proibidas possibilidade de haver uma sub-McLaren ou sub-Ferrari não estão muito claros. Uma equipe não pode ceder um projeto, mas o próprio escândalo da espionagem mostrou que o controle à propriedade intelectual precisa de alguns ajustes. É normal quando um profissional muda de equipe que ele passe por um período que os ingleses chamam de “jardinagem”, geralmente são 6 meses em que ele não pode trabalhar para mais ninguém. E sabemos que 6 meses de desenvolvimento são uma vida em termos de F-1.
Mas e se a falta de controle à propriedade intelectual for de interesse da equipe? É o que acredita-se que tenha acontecido justamente com a Toro Rosso e seu difusor soprado, que provocou um salto impressionante no rendimento do carro nas últimas duas provas. De 4.1% de desvantagem em relação ao tempo de volta da pole de Vettel em Cingapura, a melhor Toro Rosso esteve a 3.1% no Japão, 2.4% na Coreia e apenas 2% na Índia. É ponto pacífico que trata-se de uma tecnologia difícil de se lidar. Tanto, que times como McLaren e Ferrari demoraram a desenvolvê-la, ou seja, é muito provável que a Red Bull tenha cooperado para que o time de Faenza acelerasse seu processo. O motivo é simples: a Toro Rosso agora briga com Sauber e talvez até chegue na Force India, garantindo importantes milhões para o orçamento do ano que vem, além da possibilidade da valorização da equipe caso a intenção, como apontam rumores, seja realmente vendê-la.
Dentro das regras de hoje, seria um comportamento legítimo, mas que levanta uma questão para o futuro. Com o estreitamento das relações entre as equipes grandes e suas parceiras, caminho este que parece inevitável, o temor é que em um futuro próximo – e a grande mudança de regras de 2014 está aí para tentar todos a dar esse passo adiante – os times possam usar seus parceiros para testar novidades/conceitos, levar essa relação a limites que abalem a questão do construtor. Mas como controlar até onde o fluxo de informações, dados e até peças pode chegar – até porque se duas equipes trabalharem na mesma direção, isso seria uma economia de custos e iria contra o RRA? Seria a solução liberar de vez as sub-equipes, banir todo tipo de colaboração ou é possível encontrar um meio termo?
8 Comments
Olá, Julianne!
As equipes encontraram uma nova brecha que lhes permitem indiretamente burlar o regulamento que restringia os gastos com desenvolvimento dos carros, o RRA – Resource Restriction Agreement.
Quando eles repassam tecnologia para uma equipe satélite, eles estão sendo beneficiados pela economia de escala, pois o custo de desenvolvimento de uma tecnologia beneficia um número maior de carros, o que gera um maior retorno do capital investido.
Mas isso não se resume ao difusor soprado da Toro Rosso, que aliás é uma tecnologia com data e hora marcada para expirar após o fim do campeonato.
As equipes também se beneficiam quando colocam seus pilotos aspirantes nas equipes satélites, pois dão quilometragem para eles, enquanto os testes são muito limitados.
Também se beneficiam quando vendem assentos para pilotos pagantes.
Mas a criatividade é maior ainda. O que dizer por exemplo da Red Bull, que utiliza motor Renault, mas estampa o logo da Infiniti (divisão de luxo da Nissan que também faz parte do grupo Renault) e que indiretamente banca os custos dos motores?
E as associações também são importantes. A Lotus verde de Tony Fernandes se associou à GE – General Eletric, e com isso terá benefícios no desenvolvimento do Kers e por que não até nos contratos de leasing de turbinas de avião para a companhia aérea que ele possui.
Então tem muita coisa de fora do RRA e é muito difícil controlar tudo isso.
Abs.
Por conta da situação econômica mundial acho que deveriam ser escancaradas essas parcerias. Muito melhor pro esporte, sua competitividade, pra quem assiste, e não correríamos o risco de ter a F1 com um grid tão magro quanto o da MotGP. Nas décadas de 70 e 80 isso era muito comum, e foi um período delicioso de acompanhar. Teríamos 3 campeonatos ao invés de dois: 1- o de pilotos, 2- o de equipes e 3- o de construtores. Seria muito mais legal, e ajudaria no ingresso de bons talentos, sem o peso da grana que hoje está acentuado. Ainda liberaria dois pontos pra uso da DRS nos circuitos apenas para as equipes que utilizarem os Cosworth, que é mais barato. Um livremente para compensar a menor potência do motor, e outro dentro das regras atuais.
juju…cede de ceder é com c e não com s…adoro sua coluna! bjos
Minha nossa, que coisa horrível! Obrigada!
Julianne,
Ou então poderia ser liberado para as equipes a opção de comprarem chassis de terceiros como da Dallara, da Lola, e entre outras, essas empresas poderiam entrar na F-1 apenas para fornecer chassis para as equipes como acontece em outras categorias.
Também seria muito interessante se a F-1 tivesse um campeonato de motores, poderia atrair novas marcas. Em 2010 a campeã teria sido a Mercedes-Benz, esse ano seria a Renault, usando o critério das somas dos pontos das equipes que correm com cada marca de motor.
Abraço!
Otima a sua coluna, ….. que foto é aquela ! Linda, mas do que?
É um evento comemorativo da Lotus.
De toda essa parceria, fica uma dúvida esportiva, como chegamos a ver em 2010/11, quando a Toro Rosso, “aliviava” para a RBR, e muitas vezes “dificultava para Ferrari e Mclaren! Teoria da conspiração?