Campeonatos decididos e GP de Abu Dhabi geralmente não são uma das melhores combinações na Fórmula 1. Mas uma luta estratégica pelo segundo lugar no mundial de pilotos e uma pista que realmente ficou menos travada com as mudanças feitas antes da etapa do ano passado fez com que a temporada 2022 acabasse de uma maneira semelhante a como foi toda a temporada. Com Max Verstappen na frente e os demais se degladiando atrás.
Havia várias disputas em jogo, umas mais apertadas que outras. A maior delas era pelo vice-campeonato, com Charles Leclerc e Sergio Perez empatados. A Ferrari ainda estava de olho nas Mercedes. A Alpine, nas McLaren. E Alfa Romeo e Aston Martin brigavam pela sexta colocação no mundial.
Ferrari brigando em duas frentes
A classificação foi ao mesmo tempo fonte de um certo alívio e preocupação para a Ferrari. Por um lado, a Mercedes parecia ter uma de suas corridas-apagão. O bouncing voltou e, além disso, eles tiveram que usar as asas maiores para não comprometer o equilíbrio (e, por conseguinte, não gerar muito desgaste de pneus). Mas, com as longas retas de Abu Dhabi, isso seria uma grande desvantagem.
Por outro, a Red Bull não tinha os mesmos problemas de acerto do carro do Brasil, e caminhava para uma dobradinha tranquila, ainda mais com uma vantagem na velocidade de reta. A não ser que a Ferrari, que errou tanto na estratégia ao longo do ano, dessa vez acertasse.
Não ajudaram as simulações de corrida e classificação da sexta-feira, ambas péssimas para a Ferrari. Mas o time mudou o acerto do carro, e mostraria sua recuperação primeiro fechando a segunda fila no grid, e depois com um bom ritmo na primeira parte da corrida. Ou pelo menos no caso de Leclerc, uma vez que Carlos Sainz se meteu em uma briga com Lewis Hamilton que o fez perder tempo e desgastar seus pneus.
Problemas de Perez começaram cedo
Mais à frente, o mesmo estava acontecendo com Sergio Perez, sofrendo com graining dos dianteiros, um clássico de Abu Dhabi e que já custou um campeonato mundial a Fernando Alonso. Isso é diferente da degradação térmica que era esperada e que poderia ter feito a estratégia de duas paradas mais interessante, mas isso não aconteceu porque o domingo foi o único dia nublado do fim de semana, e isso deixou a temperatura do asfalto mais baixa.
A partir da volta 11, ele começou a perder terreno em relação a Leclerc. Quando o monegasco recebeu a mensagem de “pit opposite to Perez”, ou seja, para fazer o contrário do que o mexicano fizesse na entrada dos boxes, a Red Bull o chamou temendo o undercut. Mas esse undercut jamais iria acontecer.
O plano da Ferrari estava dando certo: Leclerc tinha aumentado o ritmo nas voltas que viriam antes da abertura da janela de paradas para quem faria dois pit stop justamente para criar na Red Bull a impressão de que ele adotaria essa tática. Mas quando o monegasco demorou seis voltas para fazer sua troca de pneus, o plano da Ferrari estava claro: eles iriam até o final.
O momento em que Perez perder o vice no GP de Abu Dhabi
O problema da Red Bull era que Verstappen também tinha conseguido fazer seus pneus sobreviverem por mais tempo no primeiro stint. Quando ele parou, na volta 21, ainda voltou na frente do companheiro de Red Bull, mesmo com ele forçando mais o ritmo com seus pneus novos.
Nas voltas 26 e 27, Perez chegou a ficar a menos de 2s do líder, o que já gera alguma interferência por conta da turbulência. E a ordem de inverter posições não veio. Na verdade, o que aconteceu foi uma discussão para converter a tática de Perez para uma parada, mas ele não quis, temendo um repeteco do que aconteceu em seu primeiro stint.
Esse segundo stint foi muito ruim para Perez. Ele ficou em uma terra de ninguém, tendo começado com um ritmo forte, mas depois andando no mesmo tempo de Verstappen sendo que, para fazer uma parada a mais, ele teria que ser mais rápido.
Muito trabalho para 24 voltas
Em 17 voltas, ele estava de volta aos pits, para fazer um stint de 24 voltas até o final, com os mesmos pneus duros, tendo que forçar o tempo todo para chegar em Leclerc.
Naquele momento, 19s e três carros o separavam do monegasco, sendo que dois deles (Sainz e Russell, que foi tirado da corrida por um pit stop ruim e uma punição por unsafe release) também parariam novamente. E o outro era Hamilton, que ele sofreu para passar mesmo com pneus 15 voltas mais usados.
Perez ainda encontrou a briga entre Albon e Gasly, retardatários, pela frente antes de encontrar Leclerc somente na última volta, mas ainda assim longe demais para tentar um ataque. Em um momento em que estavam pressionados pela possibilidade de perder ambos os vices e também com todos os rumores a respeito da troca de comando do time, a Ferrari foi perfeita nos pitstops e na leitura da estratégia.
Houve uma discussão se Verstappen deveria ter diminuído o ritmo para atrasar Leclerc e facilitar a chegada de Perez. Mas isso seria arriscado por conta do DRS. O monegasco poderia passá-lo e a Red Bull perderia a vitória e o vice. O momento do pitwall da Red Bull interferir tinha passado umas 30 voltas antes disso.
O desequilíbrio de Hamilton e a despedida de Vettel
Até cinco voltas para o final, o quarto colocado era Lewis Hamilton. Ele tinha perdido 19s em relação a Verstappen nas 18 primeiras voltas, antes de sua primeira parada, antecipada por um lance que aconteceu logo na primeira volta. Em uma disputa com Sainz, ele foi para zebra mais alta, seu carro saltou, e voltou com um equilíbrio diferente, com a dianteira muito presa. Isso dificultou seu cuidado com os pneus e também seu rendimento.
Depois de tirar asa dianteira no pit stop, o rendimento melhorou, e ele perdeu só 3s em relação a Max até ter um problema hidráulico no final. Mesmo assim, o inglês, tentando uma tática de uma parada, estava sendo alcançado por Sainz e seria ultrapassado mesmo com o bom ritmo e sem a quebra.
Sainz foi seguido por Russell, Norris, Ocon e Stroll, todos fazendo a estratégia de duas paradas funcionar (no caso de Stroll, com dois jogos de pneus usados).
Seu companheiro, Vettel, fazendo sua despedida, talvez tivesse conseguido um resultado melhor que o décimo lugar se tivesse optado pelo mesmo, já que teve de fazer 33 voltas com um jogo usado de duros. Por conta disso, seu primeiro stint, com os médios, foi longo demais, o que fez com que ele perdesse a posiçãopara Daniel Ricciardo, outro que pode ter feito sua despedida como titular. Pelo menos os dois chegaram lutando até o final, indiretamente para o deleite da Alfa Romeo, que garantiu o sexto lugar entre os construtores na briga com a Aston.
A Alpine assegurou o quarto posto mesmo com o abandono de Alonso em sua última corrida pelo time. A Ferrari ficou com os dois vices. E Verstappen deixou claro que Perez precisa fazer mais se quiser sua ajuda. Ao que tudo indica, com o respaldo da equipe.
1 Comment
Alem do Hamilton no último stint, o mexicano perdeu muito tempo após a 1a parada com o Vettel. Muito afobado na primeira tentativa. Mas acho difícil que a Red Bull fosse deixar o Max voltar atrás dele quando da parada (ainda que tenha voltado próximo).