Até agora, fala-se que o motor Mercedes não é apenas melhor porque é confiável ou rápido, mas principalmente porque é mais eficiente, ou seja, usa melhor as tecnologias que o alimentam sem a combustão. Prova disso são os dados de velocidade máxima na pré-temporada, publicados no site alemão Auto Motor und Sport.
Olhando a tabela do link, à primeira vista parece que a Ferrari voa. Porém, o F14 T só passou dos 335km/h por três vezes, denotando que, ainda que os sistemas turbo + recuperação de energia funcionem, o time ainda não está confiante o suficiente para mantê-los em sua máxima carga o tempo todo. E Fórmula 1 não é sprint. Por outro lado, a Williams foi quem mais vezes ultrapassou 330km/h, seguida de perto pela Mercedes. Ambas atingiram a marca em todos os dias de teste.
Mas isso não significa que todos os carros com os motores alemães serão igualmente eficientes: quanto melhor a performance aerodinâmica do carro, menos resistência ao ar ele oferece e menos combustível é necessário para que ele vá mais rápido.
Além disso, o bom emprego do conjunto de configurações que se padronizou chamar de “mapeamento de motor”, a adoção de melhores estratégias e a adaptação da pilotagem a essa nova realidade vão ajudar a determinar quem chegará primeiro no GP da Austrália.
Basicamente, o mapeamento do motor regula a relação entre a posição de pedal definida pelo piloto e o torque que o motor vai gerar. É algo controlado eletronicamente pela ECU e é ajustado ao gosto de cada piloto. Os mapas também controlam o chamado overrun, ou seja o torque quando o acelerador estiver zerado – o que vai acontecer muito nesta temporada devido às técnicas de “coasting” que serão empregadas mais do que nunca pelos pilotos: tirar o pé antes do normal e deixar que o freio-motor ajude a parar o carro para economizar combustível. Fazer as curvas em marchas mais altas do que o normal também ajuda – e novamente um mapeamento de motor bem feito para ajustar o torque é bem-vindo.
Do lado dos estrategistas, Pat Symonds, da Williams, garante que haverá uma mudança considerável na escolha do número de paradas: a degradação dos pneus, variável mais importante dos últimos anos, perderá importância.
“O GP do Bahrein é uma corrida em que três paradas, no papel, teria sido o caminho mais rápido. Porém, agora temos de considerar que ser mais rápido também significa maior consumo de combustível. Cruzando estas duas informações, chegamos à conclusão de que parar duas vezes seria o melhor caminho para usar nossos 100kg de combustível.”
Isso também indica que, embora os carros não sejam necessariamente mais lentos, um regulamento voltado à eficiência deve tornar as corridas em si mais lentas. O melhor tempo dos testes do Bahrein foi de Felipe Massa, com 1min33s2, 0s9 mais lento que a pole de Nico Rosberg em 2013. Se por um lado é um projeto totalmente novo, com muito mais espaço para crescimento do que o carro do ano passado, o tempo foi obtido com pneus mais macios.
Mas o mais interessante é o ritmo de corrida da Mercedes do próprio Rosberg, com tempos flutuando entre 1min39 e 1min42. Ano passado, a corrida começou com Sebastian Vettel andando em 1min41 e fechando em 1min38. Basicamente, depois de todo um GP, os carros de 2014 chegariam um minuto depois no estágio atual de desenvolvimento. Como nos tempos de Fangio, o segredo será vencer sendo o mais lento possível.
23 Comments
Ju, uma dúvida: essas velocidades foram conseguidas com o DRS apenas nos pontos estabelecidos, ou em “toda”a pista?
Elas foram aferidas no ponto de velocidade máxima, no final da reta, então creio que com DRS ativado.
oi julianne td bem com vc? e queria bater um papo sobre as velocidades e a capacidades dos motores, se quiser entre em contato comigo no meu cel 011954326597 ou no meu email victorbcardoso@ig.com.br
Ju o tempo do pole no Gp do Bahrain em 2013 foi 1:32.330,quase um segundo mais rápido do tempo do Massa.
Oi Ju, parabéns pelo ótimo post!
Na primeira bateria de testes em Jerez, os carros deste ano foram 5s3 mais lentos que os de 2013 na mesma pista na pré-temporada do ano passado.
No Bahrein a diferença caiu para 0s9 e com o detalhe de a pole de Rosberg ter sido alcançada com muito mais stress do conjunto carro, motor, pneu do que deve ter sido a melhor volta de Massa com a Ferrari em Jerez/2013.
Daí eu pergunto: A diminuição na diferença de desempenho entre Jerez e Bahrein se deu por evolução dos carros ou porque na Espanha eles estavam mesmo muito aquém de seu potencial? (haja visto o curto espaço de tempo entre as sessões)
A outra dúvida se refere à Pirelli, se os pneus deste ano estão mesmo mais resistentes ou estão resistentes porque os carros estão mais lentos?
É certo que por conta dos motores turbo, os carros ganharam mais tração, que por si só exige um composto mais resistente. Este seria o motivo de a Pirelli dizer que este ano haverá menos degradação?
Um abraço!
Olá Sérgio. É certo que há uma evolução natural porque são projetos muito crus, mas uma questão importante é o uso progressivo das unidades de potência. Em Jerez, eles estavam limitando bastante os giros e os sistemas de recuperação de energia para garantir quilometragem. Aos poucos, foram ganhando confiança para explorar mais o lado da performance dos carros.
Quanto à Pirelli, os pneus parecem ser mais resistentes sim, inclusive deixando menos detritos (marbles) na pista, o que é uma ótima notícia para as ultrapassagens. A fornecedora foi mais conservadora justamente pela questão levantada por você e, inclusive, vai levar macios ao invés de supermacios para Melbourne para se garantir.
Valeu, Jullianne, obrigado pela atenção!
Interessante. Contudo, nem todos os circuitos tem pista para mais de 330 km/h, então não deve ser tão grande o prejuízo da Ferrari (ou motor Ferrari) sob aspectos de ultrapassagem. Pelo o que se vê, o lance de acertar tangencia/torque nas curvas parece ser mais a “alma do negócio”. Daí sim, acerta tudo isso na curva e tem uma reta inteira para jogar o carro!
Mas deixa eu perguntar um negócio (um pouco fora do tópico), já que não se falou na Renault/RBR. Caso a RBR tenha a infelicidade de não fazer esse carro andar com o motor e se for pra jogar tanto dinheiro fora e não melhorar muito, a equipe pode dar uma “louca” de simplesmente abandonar o campeonato? Digo, sob aviso oficial e tudo o mais?
Como eles assinaram o Pacto da Concórdia, imagino ao menos uma polpuda multa no caso de desistência. Mas ao que tudo indica não será para tanto. Semana que vem vai ter post só sobre a Red Bull.
Beleza! Porque o regulamento não foi feito para acabar com o domínio da RBR e é lamentável ver que a RBR não “compreendeu” certas questões.
Alguns boatos sobre a Red Bull irmão: problemas sérios com o “brake by wire”, vital pra recuperação parcial de energia das unidades de força, o que inviabiliza qualquer tentativa de refino aerodinâmico e performático. Ultra aquecimento dessa mesma unidade, em função de side pods com forma de gota, muito estreitos na extremidade traseira e sem arrefecimento suficiente. Problemas também com o (des)controle de potência e algumas outras tantas zicas.
Mas o que parece estar inadequado de fato é o software de controle da P.U. rubro taurina. Dizem que é aí o ponto chave. Será? A partir dessa resolução, muitas outras serão menos difíceis, é o que dizem por aí. Mas certamente que a equipe de T.I. da RBR vai encontrar a solução, nem que seja pra tirar o Neo de dentro do Matrix. Veremos no decorrer do ano…
Mas nem tudo está perdido. Hamilton e Button andaram falando que o RB10 é uma senhorita selvagem, com aerodinâmica espantosa. Jenson se disse “de cara” com um passão que ele levou do Ricciardo numa saída de curva nos testes e Lewis classificou a barata como “esplêndida”. Eles devem ter motivos sólidos para acreditar nisso, acho. Quando os caras falam…
Grande fds a todos! E que o próximo chegue logo!
Jóia Ju? na sua opinião as equipes de pequeno e médio porte pode surpreender nas primeiras corridas? Sauber, Force India por exemplo?
O que você entende por surpreender? Vitórias? Não creio, pois há quatro carros melhores. Pódios? No caso da Force India, é possível especialmente nestas quatro primeiras provas. No da Sauber, não acredito, pois eles tiveram muitos problemas na pré-temporada e não chegam muito bem preparados.
JU,em sua opinião,a redbull tem a possibilidade de se recuperar ?,e qual a sua opinião sobre o RB10 ?
Semana que vem tem post, Beto.
blz,ju.
JU,em sua opinião,a redbull tem a possibilidade de se recuperar ?,e qual a sua opinião sobre o RB10 ?
O interessante do seu post , foi algo que muitos vinham reclamando desde o início dos anos 90 com os controles de tração da williams
” Hoje em dia os pilotos nao precisam saber lidar/configurar o carro ”
Saber equilibrar o uso torque + recuperação de Energia + cinética do carro em função da dirigibilidade e ajuste de pedais é algo para pilotos refinados , acho que a nova geração de pilotos vai sofrer bastante já que sempre pegaram carros equilibrados e “grudados” ao chão. Lidar com motores turbo que despejam bastante potencia ao acelerar exigirá braçp
Parabéns Ju.
Julianne, Alonso disse em entrevista que esta temporada os pilotos mais “inteligentes” irão se sobressair. Os 2 mais inteligentes (opinião pessoal) são justamente o espanhol e o Raikkonen. Visto que a Ferrari não mostrou o desempenho de Mercedes e Willians, quais as reais chances dos 2 ferraristas neste inicio de campeonato?
Eles aparecem como 3ª/4ª força na pré-temporada, então vão precisar dessa boa noção de corrida de sua dupla e da confiabilidade mostrada nos testes para maximizar os pontos. Do GP da Espanha em diante, vai depender do desenvolvimento.
Eu discordo do Alonso. Acho que veremos, nesse ano todo, corridas de carrinhos de controle remoto. Explico: a condução será totalmente ditada pelos engenheiros a partir do pitwall. Por sorte, os motores estão menos barulhentos e ficará mais fácil a comunicação. Como teremos muitos safety-car na pista para poderem recolher carros parados em pontos perigosos, a sorte tb vai predominar. Enfim, vai se dar bem os pilotos que possuem os melhores engenheiros analisando a corrida e o carro.
Acredito que inicialmente a Mercedes e Williams dominem seguidas de perto pela Ferrari,logo mais a frente a Redbull se recupera e Vettel sera campeão novamente,a Redbull ao que parece tem uma aerodinâmica refinada e bem superior aos demais concorrente sendo assim,quando a Renault acertar o motos veremos a velha Redbull novamente com vettel tendo uma vantagem ainda maior do que os anos anteriores,bom é apenas um mero palpite pessoal meu rs.
Olá Julline!
Recentemente comecei a acompanhar o Total Race, estou surpreso! Parabéns pela qualidade apresentada e pelo acesso que você dá as pessoas interessadas, não deixando ninguém sem atenção, uma resposta, formidável! Acompanho F-1 desde a década de 70, como aficionado e tenho dificuldades em achar em nossa língua, matérias com um tom mais técnico, digo, detalhes. Gostei do nível das perguntas e do conhecimento dos frequentadores no geral. Parabéns. Vamos a uma temporada de muitas novidades e viradas ao longo dela. Espero voltar a este espaço sempre, curtindo muito. Abraços a todos!