O GP do Canadá foi uma prova do quanto a choradeira a respeito do exagero no número de paradas e as queixas de quem acreditava que os pilotos não podiam mais buscar o limite do carro nas provas desconsideravam um princípio básico do campeonato de Fórmula 1: o fator circuito.
Clima, asfalto, tipo de curva, tudo afeta a relação entre carros e pneus. E dão valor àquele que é mais constante durante a temporada. É essa mudança de “campo de jogo” uma das grandes virtudes do esporte – e quando a Pirelli falava que havia passado pelos testes mais duros, do calor malaio e barenita às curvas de alta de Barcelona, nem todos deram ouvidos.
Quem está passando com louvor por todas essas nuances é Sebastian Vettel. Mesmo reclamando dos pneus, se mostrando frustrado por sentir que não conseguiu tirar o máximo do carro por conta do desgaste em algumas provas, o alemão tem, após sete etapas apenas 29 pontos a menos do que somava neste mesmo ponto do campeonato na dominante campanha de 2011.
O piloto da Red Bull já abriu 36 para o segundo colocado, que agora é Alonso. O espanhol tem sido 8 ou 80 nesse campeonato: dois segundos lugares e duas vitórias nas provas ímpares; duas decisões erradas após apostas em conjunto com a equipe (Malásia, por não trocar a asa danificada e Bahrein por abrir novamente o DRS quando este já apresentava um problema) e uma prova apagada em Mônaco nas pares.
Mas o final de semana do Canadá deu um alento à Ferrari: Bahrein e Mônaco eram pistas em que a tração era muito importante, assim como em Montreal. O segundo lugar, com quatro ultrapassagens feitas na pista, mostra que a equipe evoluiu nesse sentido. Agora, falta fazer o carro funcionar melhor sob baixas temperaturas, o que deve ser importante nas duas próximas provas.
Essa é a mesma dificuldade da Lotus de Kimi Raikkonen, a grande decepção do final de semana. A falha de freio não permitiu vermos o ritmo de corrida do finlandês, que acabou brilhando menos que o compatriota Bottas e sua fantástica classificação. Na corrida, pelo menos não fez besteira, tendo em vista que tinha um ritmo muito pior. Outro que brilhou sob condições difíceis no sábado foi Vergne, que se manteve à frente de Lotus e McLaren no domingo, na segunda boa prova seguida, só para embolar a briga interna da Toro Rosso.
Quem vem impressionando nesta primeira metade de ano é a Force India. Apesar dos dois erros estratégicos que acabaram com as últimas classificações de Di Resta, o carro tem um ritmo tão bom mesmo com pneus usados que permitiu que o escocês chegasse a 54 voltas com o pneu médio e ganhasse 10 posições na corrida. Sutil rodou, mudou de estratégia, recebeu um drive through e ainda pontuou.
A ascensão do time é um paralelo interessante com a queda da McLaren, que mais uma vez levou peças que não funcionaram, escancarando os problemas de correlação com o túnel de vento. O fim da sequência de 64 provas nos pontos era uma questão de tempo e é doloroso para a equipe que tenha vindo não por quebras ou acidentes, mas por pura falta de ritmo, ainda mais em um circuito que fora território McLaren nos últimos anos.
9 Comments
Globo colocou corrida completa na Globo.com:
http://globotv.globo.com/rede-globo/formula-1/t/principais-equipes/v/grande-premio-do-canada-de-formula-1/2624875/
Vejam logo antes que tirem do site…
Pois é, ninguém toca mais nesse assunto de pneus, por favor. 🙂
Fico impressionado com a decadência da McLaren, na primeira provada temporada eles estavam mal e pensei que, se existe uma equipe que tem o poder de se recuperar rapidamente, é a McLaren. Imaginei que no máximo em três provas eles estariam na frente.
Mas agora, sete provas depois eles ainda estão patinando. Isso é um sinal claro de que as coisas não vão bem.
Depois do escândalo do spy-gate, a multa de 100 milhões de $$$, a posterior e compulsória saída de Ron Dennis, parece que nada dá certo pro time de Woking. Já se ouve falar que eles vão pelo mesmo caminho que a Williams.
É possível que esses eventos que mencionei tenham sido realmente determinantes pra essa fase ruim?
Dá pra traçar um paralelo entre essas duas equipes, Jú?
Escrevi sobre isso há algumas semanas, Dé: http://www.totalrace.com.br/blog/juliannecerasoli/2013/05/10/ainda-nao-da-para-a-mclaren-jogar-a-toalha/
Só para ficar nos últimos 10 anos, é bem verdade que a McLaren já teve anos horríveis antes. Começou bem para trás em 2009; caiu drasticamente em 2006 em relação ao ano anterior; teve aquele carro (do Newey, inclusive) de 2003 que foi um fiasco e nunca correu. Enfim, o buraco em que a Williams começou a entrar em 98 é bem mais fundo e vimos a McLaren se recuperar de momentos tão difíceis quanto o de hoje.
Mas o problema é que o momento financeiro não é favorável, há uma grande mudança de regulamento pela frente e tenho visto o carro da McLaren muito “pelado”. Uma consequência disso é a saída de vários membros do corpo técnico de uns 3 anos para cá. A McLaren precisa
do dinheiro mexicano no momento, mas quanto tempo vai demorar para o Perez amadurecer? Será que ele vai virar um piloto de ponta? E se a Honda fizer um motor ruim, logo no momento em que a unidade de potência será tão importante? Essa queda me parece mais séria que as anteriores, vamos ver como a equipe reage.
Sem duvida a Lotus foi um grande fiasco. Não entendo porque estavam tão lentos com as temperaturas baixas no Canadá, visto que na Austrália e na China, onde venceram e fizeram segundo, as temperaturas, se não estou enganado, também estavam baixas. Vejo que para Kimi pensar em titulo ja é quase utupia. O que acha Julianne?
Não é só temperatura, tem a ver com o rendimento do carro com intermediários, que já não foi bom (assim como a Ferrari) naquele início de prova na Malásia. As temperaturas também estavam mais baixas, com 16ºC na pista (na classificação) – na Austrália ficou de 25 a 19ºC com o cair da tarde e na China, por volta de 25ºC. Na corrida, Kimi teve um sério problema de freio e não pôde mostrar seu ritmo.
Mônaco/Canadá é uma dupla pouco representativa em termos de campeonato, são pistas muito específicas, que trabalham nos dois limites do espectro de downforce. Queria esperar mais um pouco para ver se o Kimi saiu mesmo da jogada, mas está mais que claro que eles precisam classificar melhor.
Interessante que apesar de um inicio excelente em 2013, Raikkonen repetiu em Monaco/Canada/2013 os resultados ruins que obteve nas mesmas pistas em 2012, na época, 9º e 8º.
Vencedores: Vettel, Hamilton, Vergne, Di Resta e Sutil;
Perdedores: McLaren & Button, Webber e Grosjean;
Sinal amarelo: Alonso e Ferrari.
Destaco Button e McLaren em especial porque em 2012 havia fins de semana em que Button estava perdido e Hamilton andava bem (basicamente da Espanha até Hungria). A McLaren pelo menos sabia que o carro tinha potencial a ser explorado. Agora, além do carro ruim, eles tem um líder que, francamente, não é inteiramente confiável. Difícil saber onde terminam os problemas do MP4-28 e onde começam as limitações do Button. Isso porque o Perez ainda é muito inconstante e não serve de referência. Estão no mato sem cachorro.
Sinal amarelo para Ferrari e Alonso. Para quem começou o ano com expectativas de domínio e a certeza de terem feito um carro mais competitivo que o anterior, os resultados estão fracos. Vettel tem sido cirúrgico enquanto a cada fim de semana sem vitória Alonso e Ferrari ensaiam desculpas e “what ifs”. Daqui a pouco Vettel coloca uns 50 pontos de vantagem e só um desastre para impedir o 4o título.
Ah sim, Webber não serve para muito a não ser conseguir os pontos necessários para ajudar a Red Bull a assegurar o WCC. Vergne e/ou Ricciardo provavelmente poderiam fazer o mesmo por um salário muito menor e sem dar metade do trabalho à direção enquanto haveria uma vaga aberta para experimentarem algum piloto na STR.
Oi Julianne,
É aquela história: com muitos pit stops muitos reclamavam de corridas confusas. Mas ontem até senti saudade das confusões. Porque fazia tempo que não víamos o 5º colocado tomar uma volta.
O passeio de Vettel assombrou. Se daqui pra frente ele fizer isso, o campeonato acaba bem antes de Interlagos.
Quanto à McLaren, eu não acredito que eles entrem numa espiral como a Williams. O que cortou as asas da Williams tem muito a ver com as teimosias de Frank Williams quando disse “não, obrigado” à BMW e fechou com a Cosworth. Essa falta de comprometimento mais duradouro com um fornecedor de motor tem contribuído para a equipe ficar no pelotão intermediário.
Já a McLaren tem potencial para dar a volta por cima. Não sei se com a Mercedes ainda voltará a ser competitiva, mas quando a Honda chegar terá melhores chances. Daqui até 2015 será um período de transição, tanto para a F-1 quanto para a McLaren. Depois disso, acredito no potencial da equipe. E com certeza o time sentiu a saída de Hamilton.
Abraço Julianne!