F1 GP da Austrália por brasileiros, espanhóis e norte-americanos: “Esses pneus deveriam estar acabados!” - Julianne Cerasoli Skip to content

GP da Austrália por brasileiros, espanhóis e norte-americanos: “Esses pneus deveriam estar acabados!”

Ano novo, emissora nova. O primeiro texto da quarta temporada do post das transmissões tem uma substituição momentânea: aproveitando a estreia da F-1 na NBC, resolvi assistir aos norte-americanos neste GP da Austrália. Norte-americanos em termos, é verdade, pois o narrador Leigh Diffey é australiano, os comentaristas David Hobbs e Steve Matchett e o repórter Will Buxton são ingleses, um time que já atuou junto nos anos de Speed Channel. Mas vou chamá-los de norte-americanos para facilitar!

Hobbs espera problemas na primeira curva e até sabe onde olhar. “Massa e Hamilton lado a lado na primeira curva na Austrália não é uma boa combinação.” O brasileiro também ganha amplo destaque na Globo, principalmente por ter se classificado à frente de Alonso. “Vamos ver até quando continua essa história do Alonso ser boa gente se o Felipe continuar andando mais que ele”, diz Galvão Bueno. Já Antonio Lobato, na Antena 3, da Espanha, espera ver “o que Massa vai inventar.”

Os pilotos passam sem grandes incidentes pela primeira curva e as Ferrari pulam para segundo e terceiro. “Bonita a largada do Felipe! Os dois pilotos da Ferrari largaram bem e já vai vir pressão porque o Alonso é muito agressivo.” Os norte-americanos destacam Webber, que “nunca consegue uma largada decente”, Raikkonen, que também ganha menção de Reginaldo Leme na Globo, e Vettel, “que mais uma vez escapa na frente, numa cena familiar.”

O ritmo do alemão deixa os espanhóis inquietos. “Agora Fernando vai para cima de Massa. Muito agressivo nestes primeiros metros. As Ferrari têm de entrar no ritmo porque não interessa que Vettel se vá. Ele quer se livrar rapidamente porque vê que Massa é mais lento”, crê Lobato. O narrador e Jacobo Vega fazem planos sobre como Alonso vai passar Massa na primeira zona de DRS para ter direito ao apetrecho na segunda e se aproximar de Vettel: “Calma, primeiro Massa”, avisa Pedro De la Rosa.

Hobbs aposta mais em Raikkonen. “Se ele passar Hamilton, vai dar trabalho.” Leigh Diffey concorda: “É seu segundo ano, agora não tem nada mais a se acostumar e vai para cima.” Will Buxton acredita que o início lento do inglês tem a ver com o terceiro lugar no grid. “Sabemos que Hamilton sabe extrair muito dos pneus, mas talvez tenha tirado demais na classificação para ficar em terceiro e está pagando agora.” Enquanto isso, Steve Matchett acredita que quem está exagerando no ritmo nas voltas iniciais da corrida é Massa.

Button surpreende parando com a McLaren na quarta volta. Ao ver o estado de seus pneus, os norte-americanos se impressionam e duvidam que seja possível fazer apenas três paradas. De la Rosa discorda. “A janela da primeira troca se abre na volta 5, mas vão tentar ficar na pista para evitar o tráfego. Por isso Vettel segue mesmo estando lento. É uma corrida típica de três paradas, com supermacio, médio, médio, médio.”

Galvão faz seu ataque costumeiro à “escolha prematura da McLaren com Perez, porque é fácil impressionar com time pequeno”, e destaca o ritmo de Vettel, que “não é o esperado e está segurando as Ferrari”, enquanto os espanhóis celebram que o alemão esteja “nas cordas, como não estamos acostumados a vê-lo”, mas estão mais preocupados com Raikkonen. E os norte-americanos chamam a atenção para a performance de Sutil. “Essa Force India parece conservar melhor os pneus do que ninguém”, diz Hobbs. “É uma performance incrível para Sutil. Entrando nos ‘se’, caso comece a chover e os pilotos tiverem de colocar os intermediários, o regulamento o livraria de colocar os supermacios e isso poderia funcionar muito bem”, completa Matchett.

Como Sutil segue na pista e prende Vettel, Massa e Alonso, que já haviam feito sua primeira troca, De la Rosa começa a analisar as saídas. “O normal é que, quem está primeiro, tome a decisão [referindo-se a Massa e Alonso]. Porém, também é certo que parar mais tarde pode não ser rentável agora, mas pode fazer a diferença no final da corrida, em que você terá pneus mais frescos. O tráfego e as decisões diferentes que ele pode trazer que vão decidir essa prova, porque as diferenças são mínimas.”

Os norte-americanos não acreditam que esse é o ritmo real de Vettel. Ora creem que o alemão está preservando os pneus, ora veem uma reação à informação que recebeu via rádio de que a equipe perdeu a telemetria de seu carro. Para os espanhóis, o tricampeão não passa Sutil por falta de velocidade de reta. “Os long runs do Sutil foram os melhores dos treinos livres, não é uma surpresa. Vai fazer duas paradas”, lembra De la Rosa. “É preciso lembrar que as Mercedes vão fazer uma parada a menos e estão na briga. Por isso é tão ruim esse trem com o Sutil.”

Alonso decide se desgarrar do grupo e para com apenas 11 voltas no pneu médio, surpreendendo a todos. Os norte-americanos não entendem a tática de cara a creem que “esses pneus não estão aguentando mesmo”, duvidando, até, que o espanhol consiga se manter na estratégia de três paradas. Para Galvão, o ferrarista parou porque “não tem velocidade para passar Felipe e tentou um plano B.”

Todos só percebem a aposta por antecipar a parada para sair do ‘trenzinho’ quando Vettel e Sutil respondem e voltam atrás do espanhol, para a irritação de Reginaldo. “Aí não dá, né? Já foi feita a inversão de posição com o Alonso”, referindo-se a Massa, que segue na pista.

O brasileiro pergunta ao engenheiro Rob Smedley o que fazer. “Essa mensagem mostra bem a relação de Massa e Smedley: ele só pergunta ‘o que a gente faz?’”, aponta Matchett. “Ele espera que o engenheiro lhe indique o que fazer”, critica Hobbs. E vão ao comercial – um dos oito durante a prova – antes da parada do brasileiro.

Enquanto isso, na Antena 3: “Vamos aos primeiros comerciais, antes de Sutil. É que já ficamos sem pneu”, diz Lobato. Eram as últimas curvas da volta 19, logo antes de Alonso fazer o pit stop que mudaria sua prova. Quando a transmissão volta, o narrador tenta inteirar o público. “Vamos ver como explicar isso: Massa está liderando, Alonso saiu da estratégia prevista, deixando de seguir Massa, Vettel e Sutil. Na volta seguinte, Vettel e Sutil responderam e Fernando ultrapassou Vettel no box e Sutil na pista, em uma manobra incrível. Agora Fernando está muito bem posicionado e Massa está perguntando o que está fazendo na pista, porque está rodando muito mais lento.”

Os brasileiros não param de reclamar. “A Ferrari sabe que sacrificou o Massa. Felipe continua sendo mais rápido que Alonso, mas deram um jeito dele ficar para trás. Vai ter de remar tudo de novo. Ficou feio para a Ferrari”, vê Galvão.

Vega também acredita que “Massa deve estar irritado”, mas De la Rosa explica. “Quem arriscou foi Fernando. No final, terá um pneu mais velho e pode acabar sofrendo. A questão de Massa era decidir se mantinha a estratégia original.”

Sem atentar-se aos pilotos que tentavam fazer duas paradas, Galvão acredita que “a corrida vai caindo no colo do Alonso”, já que Vettel não tem ritmo. Porém, na Espanha, não cantam vitória. “Estou começando a ficar preocupado com Raikkonen, porque o ritmo segue bom e pode ser que só tenha de parar uma vez”, diz Lobato na volta 27. As Mercedes e até Sutil também preocupam. Ou preocupavam, até a quebra de Rosberg e o fim prematuro do segundo jogo de Hamilton, que para a 27 voltas para o final. “Duvido que ele vá até o fim”, sentencia De la Rosa, enquanto Vega se irrita com a defesa do inglês quando lutava com Alonso, que vinha bem mais rápido. “Foi absurdo defender tanto porque ele perdeu muito tempo”, afirma. “Certamente só entrou porque travou o pneu”, completa De la Rosa. Mesmo com a intervenção de Lobato, que lembra Jacobo que “é Fernando e é Lewis. Sabe como é?”, o comentarista não se rende. “Seria mais inteligente o engenheiro falar para deixar passar porque ele ia perder muito tempo.”

Voltas depois, os brasileiros continuam na bronca com a Ferrari. “Não se pode questionar a capacidade do Alonso e pode ter sido um erro do Felipe com o Smedley, mas a estratégia é pensada por alguém acima deles”, explica Galvão.

A corrida já está em sua segunda metade quando Diffey diz sentir-se “um pouco culpado de não termos falado tanto de Kimi Raikkonen.” Ainda assim, se mostram mais empolgados com a corrida de Sutil do que do finlandês. “Se ele tiver de fazer só mais uma parada, os outros também vão parar e ele poderia vencer isso”, diz Buxton. Mas Matchett acredita que “depois de seis voltas, o supermacio vai acabar e ele vai perder terreno.”

Após a segunda parada do alemão, a previsão do comentarista se confirma e começam a focar na luta direta entre Raikkonen e Alonso, mas duvidam que o espanhol chegue. “Há uma faixa muito escura nos pneus esquerdos desse F138, o que é indicativo de muito desgaste”, vê Matchett.

Mesmo com Alonso na liderança, os espanhóis não se animam. “O problema é que os pneus de Kimi não acabaram no final do último stint. Sabemos que os pneus dele vão durar. Por isso, Alonso está forçando como um animal, mas é difícil”, aponta De la Rosa. Algumas voltas à frente, inclusive contanto com torcida para que Sutil segurasse Kimi, o que não acontece, Lobato se rende. “Fernando não pode com o ritmo de Kimi. Pelo menos temos de ficar felizes pelo resultado e por Vettel estar atrás. Massa que poderia atacar a Red Bull para colocar duas Ferrari no pódio.”

O ritmo, ou a falta dele, na Red Bull também chama a atenção dos norte-americanos. “A Red Bull não está tendo o dia que pensei que teriam”, diz Matchett, impressionado “porque Raikkonen fez a melhor volta com duas para o final, quando os pneus deveriam estar acabados! Alonso parece estar apenas administrando as voltas finais e tenho certeza de que os engenheiros da Lotus gostariam que Kimi estivesse fazendo o mesmo: ‘eu sei que você sabe o que faz, mas tome cuidado por favor!’”

De la Rosa chama a atenção para a diferença que a combinação Lotus/Raikkonen fez na corrida. “Estamos falando de como o carro cuida dos pneus, mas o piloto também está indo muito bem, cuidando dos pneus o tempo todo, não indo muito rápido no início. É o único que largou com supermacio e está conseguindo fazer isso. Só há dois pilotos que estão gerindo bem os pneus: é só olhar o ritmo de Alonso e de Kimi em relação a seus companheiros.” Mas Lobato trata de evitar preocupações dos espanhóis quanto às chances de Alonso frente ao finlandês. “Todos sabíamos que a Lotus seria uma rival importante, mas será muito mais difícil para eles desenvolver o carro para lutar pelo título.”

Os norte-americanos salientam a evolução da Ferrari em um ano, inclusive do próprio Massa. “Ano passado, Massa se classificou em 16º e abandonou, então terminar com um quarto lugar é fantástico. É o que ele precisava”, diz Hobbs, enquanto Diffey lembra que Sutil “teve um momento na vida em que pensou que nunca mais pilotaria um F-1.”

Para Galvão, “ficou claro que a Red Bull não é tudo isso e que Ferrari, Mercedes e Lotus vêm forte”, ainda que Reginaldo volte a lembrar que “aquela atitude da Ferrari prejudicou a luta do Felipe pela vitória e pelo menos o colocou atrás de Vettel.” Galvão concorda e prevê mais problemas no futuro. “O Felipe forte de cabeça vai dar muito trabalho para o Alonso. A Ferrari vai ter de inventar muita coisa.”

Sobre o vencedor, De la Rosa acredita que Kimi ganhou a corrida nas primeiras 15 voltas, “porque ele não se meteu nas batalhas dos outros, até por não precisar já que faria uma parada a menos. Aí pôde cuidar dos pneus e fazer sua corrida.”

25 Comments

  1. Parabéns pelo post. Fantástico! O nível de “Pachequismo” chega a irritar nas transmissões.

  2. Parabéns menina, adoro ler esta coluna. Torço para que o Massa continue bem, quero que os espanhões se explodam.

  3. chega a ser estranho nao ter o que ler sobre a mclaren numa reportagem de corrida

    • Ótima observação!

  4. muito bem escrito, como sempre Julianne! 😉

  5. tinha até esquecido destes posts…que saudades

    ótimo como sempre!!

    realmente é difícil de aturar a babação de ovo do galvão

  6. Julianne, o grande problema da Lotus ano passado era a demora no aquecimento dos pneus, tanto que nas corridas de temperatudas baixas, a equipe não foi bem, caso da China por exemplo. Nessa primeira corrida, tiveram um ótimo ritmo, em temperatura baixa. Pode-se dizer que se, como em 2012, continuarem rapidos em pistas quentes, entrarão fortes na luta pelo titulo?

    • Impossível responder isso antes deste final de semana começar. O carro do ano passado tinha essa tendência realmente, mas a equipe evoluiu no sentido de fazer o pneu trabalhar bem no frio. Se isso prejudicou o rendimento no calor? Veremos em Sepang

  7. Grande sacada. Jamais vi igual…salvo por alguma coisa de Mike Lawrence (que ja esta meio aposentado). Parabens.

    Nelson Piquet dizia (se referiu ao G. Bueno, mas serve para quase todos) que o problema dessa gente é querer adivinhar o que pensa o piloto, a equipe, o que acontece com motor, peças, pneus…etc etc. E a mula do telespectador (passivamente) nao processa o que esta sendo falado, “informado”….

    Se ficassem mais calados por mais tempos as tranmissoes seriam bem melhores. Facam como alguns narradores de tenis e outros esportes; repitam o que a imagem mostrou e tchau. Nada mais.

  8. Agora sim a F1 voltou de verdade… Bem vindo de volta posts das transmissões feitos pela Jú… Senti sua falta… o/

  9. Deeixa ver se eu entendi, você assiste à transmissão da corrida em 3 ou 4 canais de Tv simultaneamente e em linguas diferentes? E ainda tem tempo de comentar?
    Como é possível isto?
    De qualquer forma adorei este post

    • Assisto à Globo ao vivo e aos demais depois.

  10. Outra publicação magnífica Juliane. Esperava mais dos comentários estrangeiros sobre os novatos principalmente sobre o Perez e o Bottas (ambos de equipes inglesas )

  11. O grande problema da transmissão”Bobal” é o famoso “brasilcentrismo”, se esquecendo de outras nuances da disputa. Imagino que para um trabalho em equipe dar certo, tem que haver um sintônia entre agentes, mas a relação entre Smedley e Massa pra mim é muito estilo “brother”, muito dependente. Ora, o piloto tem que assumir mais a corrida, simples assim…

  12. Ótima coluna! Muito interessante saber o que passa em outras transmissões. Parabéns!

  13. Caramba, só percebi que era uma mulher que tinha escrito a matéria quando fui ler os comentários, me impressionei bastante com a matéria, parabéns! Já acho raro minha namorada que faz jornalismo por amar futebol e escrever em um blog sobre isso, agora uma mulher escrevendo assim sobre F1 fiquei muito feliz, tomara que apareçam mais mulheres interessadas assim em automobilismo! 😀

  14. Como consegue obter a transmissão de outros países ? Algum torrent ? Principalmente o da BBC/SKY. Obrigado.

    • Há sites que disponibilizam torrents de várias categorias. O que eu uso é o racingfor.me Porém, é preciso ter convite para entrar.

      • Julianne,
        Conhece algum que transmite a GP2?

        • A Sky Sports britânica transmite

      • Valeu Julianne pelo site…já mandei meu pedido de invite code…agora é só esperar 🙂
        Abrçs

  15. Eu tento, mas não consigo definir quem que torce mais narrando, se são os brasileiros ou os espanhóis…

    • Quem torce mais eu não sei, porém a espanhola “torce” a bem menos temporadas, ainda dá para deixar passar.

  16. Ju, eu normalmente vejo a transmissao pela FOX no Mexico, mas estou no Brasil essa semana e eh impressionante como o Galvao Bueno continua mala e eu fiquei triste vendo que o Reginaldo Leme vai na dele e quer fazer o telespectador creditar que a Ferrari eh a favor do Alonso e sempre contra o Massa. Que pena que a Mclaren nao esta entre os primeiros, mas vale a pena lembrar que a ferrari pastou o ano passado e conseguiu , com o Alonso, ir bem, agora sim poderemos ver se o Button vale o qto eles pensaram que valia ou será que ele e o Perez serao a dupla mais ¨Ze Ruela ¨da F1.
    Parabens mais uma vez pelo texto e pelos seus comentarios muto lucidos,

    FP

  17. Beleza de post, Jú. Obrigado.


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