F1 GP da Áustria por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Desajeitados” - Julianne Cerasoli Skip to content

GP da Áustria por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Desajeitados”

Motor Racing - Formula One World Championship - Austrian Grand Prix - Race Day - Spielberg, Austria

Já fazia tempo desde aquele GP do Brasil de 2009, última oportunidade em que um piloto brasileiro largara na pole na Fórmula 1. E o GP da Áustria começou bem, com uma “grande largada de Felipe Massa”, narrada pelo ‘pé quente’ Sergio Maurício, comandando a transmissão da Globo em tempos de Copa do Mundo. “Muito bem Rosberg, que já ganhou uma posição… mas atenção que Bottas já se recuperou”, diz Antonio Lobato, da espanhola Antena 3, acompanhando a briga pela segunda posição.

Mais atrás, “Hamilton está voando! Já está em quinto!”, surpreende-se o comentarista da Sky Sports britânica, Martin Brundle. “Fernando vai ter muitos problemas com Hamilton. Que vontade tem Hamilton. Que velocidade! Fernando não parece tão bem”, preocupa-se Lobato ao ver que Alonso está na mira do inglês. A ultrapassagem é questão de tempo – ou curvas. “Hamilton só não bateu em Fernando porque ele deu alguns metros. Jogou-se como um hooligan”, observa o comentarista Pedro de la Rosa. “É o que sempre acontece na Ferrari, eles sempre ficam lentos nas primeiras voltas e depois se recuperam”, justifica Jacobo Veja, enquanto o narrador britânico David Croft se empolga com o compatriota. “De nono para quarto em 2.6 milhas!”

Não demora para Sebastian Vettel aparecer lento, sem potência. “Vai dando pinta de abandono para o Vettel. Os problemas só acontecem no carro dele”, diz Sérgio Maurício. É o mesmo que nota Brundle. “Parece o carro do Webber. É sempre com Vettel e não era assim antes.” Para Lobato, o gestual do alemão é de desespero, “levantando as mãos como que pedindo clemência.” Não é para menos, como lembra Croft. “Ele liderou 2.173 voltas na temporada passada e nenhuma nessa. Parece que a má fase não passa.”

Com Massa em primeiro, Sérgio Maurício considera “bom ter o companheiro de equipe, é como se fosse um escudo”, enquanto Brundle vê a situação com a ótica da Mercedes. “Estamos vendo que, com supermacios, as Williams estão em pé de igualdade com as Mercedes. Veremos o que acontece com os macios.”

Motor Racing - Formula One World Championship - Austrian Grand Prix - Race Day - Spielberg, AustriaO comentarista acha que a Mercedes precisa estar mais perto para que o undercut funcione, mas uma estratégia conservadora da Williams facilita a vida do alemão, que para na volta 11. “Eles [a Williams] não responderam [à parada de Rosberg}. Isso significa que eles estão cientes de que o Rosberg vai voltar mais rápido, mas vão tentar fazer o menor número de paradas possível”, avalia o comentarista Rubens Barrichello. Ao seu lado, Luciano Burti é menos compreensivo. “A Williams tem seus especialistas, mas diria que é um erro eles esperarem tanto para parar. Pode ser que seja melhor para a Williams lá na frente, mas agora a Mercedes está levando vantagem.”

Os demais batem mais pesado no time de Grove. “É claro que a Williams está cometendo um erro”, julga Brundle. “O que não entendo é por que as Williams não param. Pelo menos um dos dois tinham de ter parado para cobrir posição”, De la Rosa não se conforma. “Se eu quiser ser bonzinho, vou dizer que eles só estavam correndo sua própria prova, não estão tentando ganhar a corrida”, avalia o repórter da Sky, Ted Kravitz.

Quando faz sua parada, Massa ainda consegue voltar à frente de Hamilton, entre as duas Mercedes, mas é logo superado pelo inglês. “Parece que Massa foi pego dormindo, não sei o que aconteceu com ele”, diz Brundle. “Hamilton roubou a carteira de Massa”, define Lobato. “Ele não deve estar entendendo por que perdeu duas posições de uma vez – pela estratégia e pela velocidade de Hamilton.” Para piorar a vida do brasileiro, Bottas faz a parada mais rápida da prova e volta na frente dele e de Hamilton. Os brasileiros não entendem nada pois, neste momento, era feita uma entrevista ao vivo com Felipe Nasr.

De la Rosa, por sua vez, ainda não se conforma com a tática da Williams. “Que falha da equipe. Se eu consigo ver com a tabela de tempos, imagine eles com todos os parâmetros que têm. Eles tinham os dois na frente, deveriam ter respondido apenas com um deles. Só se apenas estiverem focando o pódio.”

Os quatro ponteiros voltam atrás de Sergio Perez, que ainda não havia parado. Seria isso que permitia que as Williams continuassem andando junto mesmo com Rosberg na frente? Depois de ultrapassar o mexicano, o alemão chega a abrir, mas comete um erro e perde muito tempo, passando a ser pressionado por Bottas. Na Sky, mesmo antes do replay confirmar, acham que o tempo perdido vem de um erro, mas observam que sempre é no primeiro setor que ele é mais lento. “Ele está com muita dificuldade na freada, as temperaturas dos freios traseiros devem estar altas”, acerta Brundle.

(Bem) mais atrás, Vettel se toca com Gutierrez e gera algumas reflexões. “Sem querer desmerecer o talento do Vettel, dá para ver que andar atrás é difícil, é quando os erros acontecem”, diz Burti, enquanto Brundle considera a cena “um resumo de seu ano: perde a asa dianteira lutando pelo último lugar.”

Os britânicos também se entretêm quando é a vez de Felipe Massa passar Perez. “Felipe atrás de Perez. Soa familiar”, diz Brundle. “Cruzem os dedos. Façam suas preces”, emenda Croft, após a batida dos dois no Canadá.

A briga pelas posições do pódio também continuava quente. “Rosberg começou a forçar o ritmo e está abrindo de Bottas, enquanto Hamilton está perdendo a corrida aqui, precisa passar Bottas. Parece que a Williams tem mais degradação”, avalia De la Rosa. Vendo a janela, a Mercedes novamente faz um undercut – e a Williams novamente não responde. “Muito boa a decisão da Mercedes de parar Hamilton antes. É a última chance. O que eu não entendo é a Williams, novamente sem responder, ainda mais com sua velocidade de reta, que dificultaria uma ultrapassagem. Entendo que possam roubar sua carteira uma vez, mas duas…”, o comentarista espanhol não se conforma. E, como esperado, Hamilton rouba o segundo lugar de Bottas.

Na volta 43, Lobato e Brundle destacam a performance de Alonso, aproximando-se de Massa. “Esperamos que Perez, que está na frente de Massa, lhe atrapalhe o máximo possível para que Fernando chegue. É mais uma corrida em que ele não aparece, mas na qual segue fazendo mágica. Já não sei se dá 130%, acho que já é 140%. Felipe tem seu maior pesadelo em seu espelho retrovisor”, diz o narrador espanhol. “Só quero lembrar vocês que Raikkonen está em 11º.” Alonso chega a ficar em zona de DRS – momento em que os brasileiros percebem sua chegada, com cerca de 10 voltas para o fim –, mas a Ferrari não tem velocidade para brigar de igual para igual com a Williams e o asturiano logo tira o pé e passa a economizar combustível.

Quem também ensaia uma pressão, mas desiste, é Hamilton. “Ele pode Motor Racing - Formula One World Championship - Austrian Grand Prix - Race Day - Spielberg, Austriaarriscar ir para cima mesmo com problemas de freios?”, chega a perguntar Croft. A resposta é a manutenção de uma distância segura por parte de Rosberg até o final, para ganhar a terceira do ano e abrir 29 pontos na liderança do campeonato. “Lewis precisa refletir. É mais um final de semana em que perde terreno. Vou inevitavelmente ver no meu twitter reclamações sobre pit stops intencionalmente mais lentos, mas as coisas simplesmente não aconteceram para ele”, analisa Brundle, que escolhe Bottas como o melhor piloto do dia. “Hamilton não está contente porque fez uma corridaça, mas é Rosberg que sai fortalecido”, resume Lobato.

A Williams, por outro lado, chamada de “desajeitada” pelo narrador espanhol, não foi tão bem. Para Barrichello, por um pit stop lento. “Massa não deve estar muito feliz mesmo sendo seu melhor resultado do ano porque poderia ter sido melhor não fosse aquele pit stop ruim no começo.” Para De la Rosa, pela tática equivocada. “A Williams errou a maneira de planejar essa prova porque, se tivessem se colocado pelo menos entre as Mercedes, poderiam aproveitar-se dos problemas de freios deles.”

Um passo de cada vez, então. “Da pole Massa já não está mais com saudade, do pódio sim”, finaliza Sérgio Maurício.

Aproveito para avisar que este deve ser o último post das transmissões por um bom tempo, por questões técnicas/logísticas. Mas ele volta no GP do Japão com certeza!

15 Comments

  1. Parabéns! Excelente texto…

  2. parabéns JU pela belíssima matéria, mas vou ficar morrendo de saudade destas matérias são ótimas, a reflexão que trás de cada ponto de vista de quem esta vendo a mesma corrida. mas com certeza vc tem seus motivos e suas razões para dar um tempo nessa correria toda do dia a dia …sucesso sempre

  3. Ju sou fan numero 1 de seu blog, suas matérias são excelentes, gostaria de saber algumas estatística a respeito do seu blog, a posição que ele ocupa no ranking dos mais acessados do brasil, do mais comentado e o numero de acessos diários.

  4. Que pena,

    Principalmente para mim que vejo as corridas pelo canal FOX Sport e escuto aos Argentinos que torcem para os Latinos, que para eles sao o Maldanado, Perez e Gutiérrez e nao sabem nada de estrategia, nao falam nada de diferencas de tempo e soh vem a corrida dos queridinhos, uma pena.

    Ju, uma pregunta que eu ia fazer para o Ico mas vai pro c, os espacos do Autodromo sem arquibancada e com pura grama, sao abertos ou sao cobrados, ha uma infraestrutura para essa gente ?

    Muito obrigado,

    Fer

  5. Ju, que triste essa notícia de que este será o último post das transmissões.

    Sou fã de carteirinha deste post. Do blog então, nem se fala, sou fã número “zero”, porque o zero vem antes do um!!!

    Então fiquemos no aguardo para que logo você volte a nos brindar com este curioso e interessante post novamente.

    Abs!

  6. e tenha claro que nao só en Brasil se leen suas reflexions e opinioes…

    esperamos a sua volta…

    que aguante as transmiçoes do Lobato é para ganhar o ceu!!!!

  7. Que pena Ju, mas imagino o tempo que esse post deve lhe roubar, e nessa correria do dia dia, com certeza tempo é artigo de luxo.

    Até Suzuka com o post das transmissões…

  8. Me tornei fã de F1 há pouco tempo. Sempre assistia uma ou outra corrida mas ano passado acompanhei o campeonato e esse ano também. Por coincidência não pude assistir o GP da Áustria e baixei ontem. A transmissão era do skysport e simplesmente fiquei impressionado. É outra vibe. Já tinha tido um gostinho no filme Rush, mas pensava que era uma questão de época. Infelizmente não tenho TV a cabo pra acompanhar pelo Skysport. O que você acha de fazer um posto comparando os estilos de narração? Parabéns pelo site.

  9. Que pena o hiato nos posts das transmissões, Ju, tomara que volte o quanto antes.

    Falando na entrevista com Nasr, que falta de timing do pessoal da Globo! Idem com a utilização da tal câmera onboard no carro do Massa, que nos priva de lances importantes de outros pilotos e das informações gráficas da FOM. Acho bastante desnecessário, para não dizer irritante.

  10. A conclusão que se chega dos comentários referente a estratégia da Williams éh a seguinte: A Williams “arregou” porque a Mercedes estava também lutando pela vitória. Isto é bem claro nos comentários de De la Rosa e Brundle e também do Burti. Quem já teve lá não teve dúvidas de ser categórico em colocar em cheque a “estratégia” duvidosa da equipe do tio-Frank. Depois estas equipes reclamam por que éh difícil conseguir patrocínio para a F1 e por que a audiência cai ano a ano. Kda dia que passa aquilo ta parecendo um verdadeiro Circo.

    • David,

      Tambem fiquei com a impressão de que a Williams claramente errou a estratégia. Porem, fazendo o papel de advogado do diabo, Brundle, De La Rosa, e Burti são todos ex-pilotos. Entao temos o ponto de vista apenas dos pilotos… Eu gostaria de ouvir o ponto de vista de algum diretor de equipe. O do Smedley não conta. Mas se alguém tiver um link com Eddie Jordan ou outro ex-diretor/dono de equipe sobre o assunto, eu teria a curiosidade de ler-lo.

  11. Cara Julianne,

    Estava eu a acabar de ler mais um dos seus grandes artigos de comparação das transmissões quando li algo que me fez pensar que nem sempre o melhor fica para o fim. Afinal, neste caso, o fim foi muito indigesto.

    Estes seus posts são das coisas mais fantásticas que leio no que diz respeito à Fórmula 1. Era certo e sabido que, alguns dias depois do grande prémio, publicaria no seu blog mais um pouco de magia na forma de post. Agora vai deixar de ser assim. Com grande pena minha.

    Egoisticamente, vou sentir muito a falta. Realisticamente, compreendo que o seu tempo e a forma como o utiliza só a si lhe dizem respeito. Se não lhe é possível, se a logística é complicada, ou mesmo se já não lhe dá prazer, a Julianne saberá o que fazer, ou, neste caso, o que não fazer. Viva e divirta-se. A vida é feita de escolhas e prioridades, e cada um sabe de si.

    Resta-me agradecer os bons artigos que foi deixando, e esperar ansiosamente pelo Grande Prémio do Japão. Visitando sempre, é claro, o seu blog. Onde, certamente, como nos habitou, outros excelentes artigos irão aparecendo.

    Cumprimentos cordiais

  12. Eu também sou administrador de um blog que tem certo sucesso na web (clic ai no meu nome e terão acesso a uma cinemateca). Atualmente e por questões de logistica voltei a parar com ele. Sei o que é e imagino que não deve ser facil para você.
    Fazer o que… a gente termina voltando. Esperamos pelo Japão.

    Grande Abraço Julianne.

  13. Poxa, que pena. É a melhor coluna dentre todas as especializadas em F1, sentirei muita falta.

  14. Uma pena. É o texto mais interessante sobre a F1! Mas vale a pena esperar até o Japão!


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