F1 GP da Hungria: Análise de como Leclerc perdeu (e Verstappen venceu) - Julianne Cerasoli Skip to content

GP da Hungria: Análise de como Leclerc perdeu (e Verstappen venceu)

A Ferrari jamais foi tão dominante na temporada quanto na sexta-feira do GP da Hungria. Só se muita coisa desse errado Charles Leclerc e Carlos Sainz perderiam a corrida. E tudo deu. A configuração do carro não acompanhou a mudança climática da sexta para o domingo, com a temperatura da pista diminuindo em 23 graus. E a estratégia também não levou em conta o efeito que essa queda brusca de temperatura geraria no rendimento dos pneus. 

Ainda assim, eles poderiam ter vencido. Leclerc foi tão rápido quando estava com os pneus médios e macios que, na média da corrida, teve o conjunto mais veloz da pista no domingo. Mas do outro lado estava uma Red Bull com uma execução perfeita de corrida, e um Max Verstappen que, mesmo rodando, foi como de costume decidido nas ultrapassagens e manteve um ritmo forte quando a pista ficou escorregadia com a garoa insistente. 

A impressão que ficou é que, enquanto a Ferrari ficou mergulhada nos próprios dados, a Red Bull olhou ao redor e se preparou para as condições que, efetivamente, encontraria na corrida.

As decisões acertadas da Red Bull começaram no grid do GP da Hungria

O plano era colocar Max Verstappen, décimo, e Sergio Perez, 11º, nos pneus duros, uma estratégia comum para quem está largando fora de posição (Verstappen errou na primeira tentativa no Q3 e depois teve um problema no motor). Mas os pilotos foram para o grid com o pneu macio e relataram que a pista tinha pouca aderência. A temperatura tinha caído bastante e o asfalto estava relativamente verde, depois da chuva do sábado e da madrugada de domingo. Com essa nova informação, eles inverteram a lógica da estratégia, largando com os macios para que os pilotos atacassem desde o começo.

Isso foi possível porque o acerto do carro tinha sido modificado em comparação ao usado na sexta-feira, quando eles eram pelo menos três décimos por volta mais lentos que a Ferrari. O mesmo tinha acontecido na Mercedes, também muito fraca no calor dos treinos livres. O rendimento no domingo provou que ambos estavam certos, enquanto a Ferrari não previu corretamente a perda drástica de aderência com o asfalto mais frio.

E não dá para dizer que foi uma questão de sorte. Desde antes do início dos treinos livres, sabia-se que a condição de pista estaria muito diferente no domingo. E que haveria uma pancada de chuva no sábado, lavando a borracha.

O primeiro sinal de que o carro da Ferrari estava colocando pouca carga no pneu para o nível de aderência da pista mais fria foi na classificação, quando eles foram superados por George Russell. E até tiveram sorte que Lewis Hamilton teve um problema no DRS e só fez o sétimo melhor tempo.

Faltou comprometimento no ataque da Ferrari

Mesmo assim, a vantagem da Ferrari era tão grande na sexta no ritmo de corrida que eles seguiam como favoritos, podendo fazer um ataque 2 x 1 em Russell. Os pilotos poderiam largar com pneus diferentes, um tentando um undercut antecipando a parada e outro ficando mais tempo na pista e tentando criar um offset de pneus, ou seja, buscando ter mais borracha para passar Russell no final.

Mas eles não fizeram exatamente isso. Os dois pilotos largaram com os médios. Sainz parou primeiro, mas uma volta depois de Russell, ou seja, a chance de um undercut não foi aproveitada. Na verdade, é bem provável que a Ferrari tenha parado-o porque o pitstop de Russell foi ruim, mas o da Scuderia também foi. E é bem verdade que Leclerc ficou cinco voltas a mais na pista com um bom ritmo, passou Sainz com isso e depois superou Russell na pista.

Nesse momento, Verstappen já estava em quarto. Ele passou dois carros na largada, as duas Alpine e Lando Norris. Na sua primeira parada, fez o undercut em Hamilton, que optou por permanecer mais tempo na pista no início da prova para ter pneus mais novos no final. E, mais importante, o holandês estava a apenas 7s de Leclerc.

Nesse momento na corrida, após a volta 35, as Alpine já tinham colocado o composto duro e estavam tendo dificuldade. O mesmo acontecia com as Alfa Romeo, com as Haas. A Ferrari não tinha testado com os duros na sexta-feira, mas acreditava que, com seu carro, as primeiras 10 voltas seriam difíceis, mas depois o carro começaria a funcionar bem. Dentro do carro, sabendo o nível de aderência, Leclerc dizia que preferia ficar com os médios mais tempo e colocar os macios no final. Mas a equipe decidiu chamá-lo aos boxes.

Por que a Ferrari escolheu o composto duro para Leclerc?

A justificativa da Ferrari era que Leclerc tinha que parar cedo para defender sua posição de pista. E isso também é um julgamento pré-concebido e não algo que estávamos observando na corrida: com esses carros, era muito mais fácil ultrapassar. O melhor seria estar com os pneus certos.

A Ferrari entendeu que precisava defender a posição de pista por conta de uma segunda boa jogada da Red Bull, de antecipar a segunda parada de Verstappen quando ele entrou no trenzinho de DRS de Sainz e Russell, segundo e terceiro colocados naquele momento. Com isso, ele conseguiu o undercut nos dois.

A jogada era para deixar Verstappen em segundo. Era o máximo que a Red Bull julgou que poderia no GP da Hungria. Mas a Ferrari daria uma ajuda ao colocar os pneus duros em Leclerc. O ritmo dele caiu tanto, pois não conseguia colocar temperatura nos pneus, que aqueles 7s de vantagem acabaram rapidamente. Quando Verstappen chegou, passou facilmente. Rodou. Perdeu a liderança. E passou Leclerc mais uma vez. Colocar o pneu duro tinha sido uma escolha desastrosa para a Ferrari.

Enquanto Verstappen escapava na frente, os pneus de Leclerc não entravam na zona de funcionamento porque, para completar, a garoa ficou mais intensa, deixando a pista mais fria. E o holandês já podia comemorar sua oitava vitória do ano.

O calvário de Leclerc não terminaria por aí. O rendimento era tão ruim que a Ferrari decidiu colocá-lo no pneu macio, e a terceira parada significou que ele caiu para sexto.

Hamilton poderia vencer sem o problema do DRS?

Nesta fase da prova, perto da volta 50, Lewis Hamilton era o líder. Sua tática era estender ao máximo os dois primeiros stints para colocar os pneus macios no final. Basicamente, o que Leclerc teve a chance de fazer. A leitura da Mercedes de que os pneus duros não eram uma opção, seria uma prova de duas paradas, e seria possível ultrapassar foi perfeita. O inglês parou na volta 51, passou Sainz e Russell na pista e foi segundo. Com tantas oportunidades dadas pela Ferrari, faz sentido a teoria do heptacampeão que ele poderia ter vencido.

Russell acabou sendo outra vítima do undercut de Verstappen, antecipando sua segunda parada e ficando sem pneus para defender o segundo posto no final. E Sainz em momento algum teve o mesmo ritmo de Leclerc e parou um pouco cedo demais para aproveitar a aderência extra do pneu macio, na volta 47.

E foi assim que mais uma vitória que era dada como certa pela Ferrari ficou nas mãos de Max Verstappen e da Red Bull, em uma fascinante demonstração de como vários fatores atuam dentro da uma corrida de Fórmula 1.

6 Comments

  1. Max é mais piloto.
    Res Bull é mais equipe.

  2. Você é a única jornalista brasileira que sabe o que está falando, tendo inclusive conhecimento da parte técnica. Os demais são apenas comentaristas de resultados ou fofoqueiros. Parabéns!


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