F1 GP de Cingapura por brasileiros, espanhóis e britânicos: “E a bateria do capacete não acabou!” - Julianne Cerasoli Skip to content

GP de Cingapura por brasileiros, espanhóis e britânicos: “E a bateria do capacete não acabou!”

“Isso é Cingapura”, não se cansa de repetir Galvão Bueno, na Globo, impressionado com o espetáculo montado na Ásia. Não é o único deslumbrado. “Depois dos astros que apareceram no grid, 24 atores que vão protagonizar duas horas de infarto”, antecipa Antonio Lobato, da Antena 3, na Espanha. “A única corrida noturna se tornou a Mônaco da Ásia e ainda por cima é um grande desafio físico para os pilotos”, destaca o narrador da BBC, Ben Edwards.

A questão do desgaste físico é salientada pelos britânicos. : “É difícil explicar como pilotar um carro pode ser fisicamente difícil, mas uma boa comparação com Cingapura seria pedalar pesado em uma sauna com roupa de ski”, David Coulthard tenta explicar.

Mas, voltando à corrida, a expectativa é de que Lewis Hamilton se firme como o grande rival de Fernando Alonso pelo campeonato. “Não há dúvidas de que Lewis Hamilton é o perseguidor mais próximo de Alonso e ele vai atrás da vitória em Cingapura para diminuir essa diferença”, diz Edwards, enquanto Luciano Burti vê uma corrida “quase impossível de perder se Hamilton mantiver a ponta na largada. Se for ultrapassado por Maldonado, fica difícil.”

A presença do venezuelano na primeira fila dá o que falar na Globo. “O risco Maldonado existe, mas acho que até o Bernie pediu para ele ter juízo nessa largada”, aposta Reginaldo Leme. De fato, o piloto da Williams pega leve até demais na largada. “Ele teve tanto cuidado que caiu de segundo para quarto. É melhor assim”, diz Galvão.

Quem arriscou foi Alonso, para desespero dos espanhóis. O asturiano saiu mal e teve de se virar para manter a quinta posição. “Como se arriscou Fernando. Ele quase perdeu quatro posições na largada e se arriscou muito nas duas primeiras curvas”, observa Marc Gené.

Coulthard vê uma “grande largada de Vettel” e quer esperar o replay para observar “se Rosberg e Grosjean ganharam vantagem ao passar reto na curva”. O escocês ainda destaca como “Senna evitou muito bem ser tirado da prova pela Toro Rosso. Ele não tinha escolha a não ser sair da pista.” Todos demoram a perceber que Massa se perdeu no meio do bolo, menos os brasileiros. “Petrov vem como um pombo sem asa e pega o Felipe e mais um”, narra Galvão. Para Gené, é positivo que o brasileiro tenha de parar nos boxes já na primeira volta porque “dá informações à equipe sobre o pneu macio.”

Após a troca, o ritmo do piloto da Ferrari impressiona Galvão, mas Burti acredita que é um misto de “comportamento melhor do carro do que na classificação e pista livre”.

A corrida entra numa fase de economia de pneus e todos começam a elucubrar a respeito das estratégias. “O caminho mais rápido é fazer duas paradas, mas o problema é a degradação termal no pneu traseiro. Poucos sabem exatamente quantas voltas o pneu vai durar. Acho que fazer três paradas é o mais seguro”, aponta o comentarista técnico Gary Anderson na BBC. “Quem vai fazer três paradas, vai parar entre as voltas 10 e 14. O problema é que vão voltar na zona de tráfego. Essa corrida é muito difícil em termos de estratégia”, reconhece Gené. “A estratégia será interessante. O que eles sabem é que sempre há SC aqui, com duração de pelo menos 4 voltas, então talvez não estejam prevendo uma prova de 62 voltas”, Coulthard acerta na mosca.

Reginaldo desconfia do ritmo lento de Alonso. “Sabendo que não tem carro e inteligente como é, já deve estar poupando pneus.” Todos estão levando o primeiro stint em banho-maria, até que Webber para. Os britânicos desconfiam. “Imagino se estão parando Webber para olhar os pneus e ter informações para a estratégia de Vettel”, Edwards chama a atenção. “Não entendo essa parada. Ele estava fazendo seus melhores tempos.”

Mas logo os demais também param. Quem continua por mais tempo na pista é Button, que impressiona pelo ritmo. “Cuidado porque Button está tirando muito”, aponta Lobato. “É um piloto historicamente muito fino com o volante”, completa Gené. Tanto, que os britânicos começam a achar que o inglês pode superar Vettel após a parada.

“Não é só uma corrida de carro contra carro. É de quem consegue lidar melhor como tráfego”, define Coulthard, enquanto os brasileiros se impressionam pela maneira como Alonso vai para cima de Perez após seu pit. “A diferença de Alonso é essa. Ele não perde tempo. Decide logo as ultrapassagens”, destaca Galvão. “Sabe o timing de ultrapassar. Não arrisca. E ainda deve ter uma calculadora na cabeça porque sua visão de corrida impressiona”, Burti segue na mesma linha, ainda que Gené veja risco demais na manobra do compatriota para cima de Perez. “Checo não deve ter gostado. Ele foi bruto, forçou passagem.”

Os britânicos observam a ordem de equipe na Force India para que Di Resta não perdesse tempo e Coulthard destaca que “Hulkenberg mostrou saber jogar em equipe.”

Na segunda fase da prova, Alonso e Maldonado voltam andando bem mais rápidos que os ponteiros. Para Burti, “Hamilton está economizando pneu para forçar na hora certa. E estou de olho em Button porque, com esse tipo de degradação, ele tende a se sobressair.” Já para Gené, “tomara que isso signifique que o pneu macio vai muito melhor para a Ferrari. O problema é que será muito difícil superar Maldonado, mas pelo menos eles estão se aproximando de Button.”

O espanhol não acredita que Hulkenberg e Perez, que pararam na volta 19, conseguirão fazer apenas duas trocas. Já os britânicos têm contas um pouco diferentes. “Acho que Button, que parou na volta 15, está numa janela para fazer duas paradas. Vettel fará três com certeza. Hamilton está no meio, acho que eles anteciparam a parada dele temendo Vettel, porque ele estava andando muito rápido”, avalia Anderson.

Os cálculos são interrompidos pela quebra de Hamilton. “Eu disse que ele estava muito lento. Alonso é um grande piloto, mas tem muita sorte. Hamilton parece que não está acreditando”, diz Galvão. “Não acredito, David”, Edwards dá a palavra ao comentarista. “Ele tinha feito tudo certo até agora no final de semana. Temos de ter pena dele. Com essa fumaça, parece puramente uma falha mecânica”, diz Coulthard. Para Lobato, trata-se de uma pane hidráulica. “Isso é básico: confiabilidade. Isso é básico. O perseguidor mais próximo de Fernando está fora! Está se cumprindo o que ele disse, que a corrida é longa e poderiam acontecer problemas.”

A mensagem que o inglês recebe via rádio após a quebra deixa uma pulga atrás da orelha de Gené e de Coulthard. “A mensagem de ‘fizemos tudo o que podíamos ontem’ diz que eles sabiam que havia um problema”, diz o escocês.

Edwards destaca o ritmo da Lotus, que “parece ganhar vida nas corridas e é isso que está acontecendo com Raikkonen”. Para Coulthard, uma explicação é de que “os finlandeses são famosos por gostar de sauna.”

Alonso e Maldonado param juntos. O espanhol opta por mais um jogo de macios e a Williams aposta nos supermacios. Porém, ambos saem no tráfego de Rosberg e Grosjean. O espanhóis acham que o piloto da Ferrari tem ritmo para chegar na ponta, mas “tem de pensar curto em Maldonado” que, para eles, o está atrapalhando porque “não tem ritmo para passar Rosberg e Grosjean” com os supermacios. Na briga, Coulthard até precisa “recuperar o fôlego porque esses caras estão muito próximos”. Lobato está tenso. “Cuidado, porque não precisamos terminar com um zero aqui. Cuidado, porque é Maldonado.”

Quando Karthikeyan causa o primeiro Safety Car, os espanhóis lamentam “porque é uma pena que Fernando não tenha conseguido passar Maldonado”, mas comemoram pois “agora Rosberg e Grosjean devem parar”. Porém, logo depois, voltam a se animar, já que o venezuelano faz nova parada, reconhecendo, como Reginaldo havia apontado, o erro na estratégia. “Voltando no tráfego, a possibilidade de usar os pneus supermacios ficou menor.”

Anderson já achava que Alonso havia feito sua última parada antes mesmo do Safety Car. “Ele está com pneus novos e, no último stint, foi muito bem fazendo 18 voltas. Terá 32 até o final, mas o carro estará mais leve e, a pista, mais emborrachada.” Mas Gené, tendo acesso aos dados da Ferrari, duvida até que Maldonado, que parou cinco voltas depois, consiga ir até o final. “Com 27 voltas, não vejo como. Mas fez um favor a Fernando.”

Depois das voltas atrás do Safety Car, Gené acredita que fazer duas paradas é “difícil, mas possível”, porém salienta que “Fernando está em uma situação mais difícil, porque seus pneus têm quatro voltas a mais.”

O comentarista e seus compatriotas, entretanto, já não precisam se preocupar com Maldonado, que abandona. “Foi bonzinho o tempo todo. Não teve culpa”, salienta Galvão.

Logo antes da relargada, Vettel freia forte, surpreende Button e assusta a todos. “Button achou que Vettel já estava acelerando e quase bateu em Vettel. Acho que não prejudicou seus pneus”, preocupa-se Coulthard. “Vettel já foi punido por não se comportar bem atrás do SC. Fernando poderia ter ganhado essa corrida com isso”, suspira Lobato.

Algumas curvas depois, Schumacher enche a traseira de Vergne, praticamente um replay do que acontecera com o alemão e Perez no ano anterior. “Schumacher atropela um carro pela segunda vez seguida. Será que tem a ver com as temperaturas de freio?”, pergunta Edwards. “Na curva 14, podemos dizer que ele já devia ter aquecido. Claramente eles frearam muito cedo e ele foi pego de surpresa.”

Não tão cedo, argumenta Gené. “Tinha tanto tráfego que ele não viu a referência de freada e demorou para perceber. Eles frearam um pouco antes, mas não tanto para explicar que ele acertado por trás desse jeito”. Galvão questiona se a perda de reflexos com a idade já não faz necessária uma nova aposentadoria por parte de Schumacher.

A teoria nem tem tempo de ser lapidada pois Massa vai para cima de Senna. “A briga mais dura foi entre os brasileiros. Amigos, amigos, negócios à parte”, diz Galvão. Ninguém acredita que a disputa não terminou com um dos dois no muro. “Muita coragem de Massa. Não acho que passou pela cabeça de Senna que ele tentaria passar ali. Se alguém duvida do comprometimento de Massa, aí está a resposta. Só precisa de um pouco mais de velocidade em relação ao companheiro e terá seu contrato renovado. Pareceu MotoGP. Ninguém ultrapassa ali. Ótimo controle”, destaca Coulthard. “Ele não precisava ter feito isso, poderia ter esperado na outra reta. A não ser que saiba que vai parar de novo”, acredita Gené. “E Bruno não virou porque Massa estava ali, mas sim porque era a trajetória.”

Ambos falam em acidente de corrida, mas o assunto dá pano pra manga na Globo. “Quero ver a conversa depois”, Galvão coloca lenha na fogueira. “Olhando aqui de fora, parece que o Bruno jogou pesado, mas às vezes dentro do carro não dá para ter noção”, argumenta Burti. Reginaldo acredita que Senna será apenas repreendido pelos comissários.

A corrida ainda teria uma batalha final, entre as Sauber, Webber e Hulkenberg. Ambos os carros do time suíço acabaram com as asas danificadas. “Peter Sauber, que tem fama de pão duro, deve estar fazendo do prejuízo que Kobayashi e Perez estão causando.” Para Gené, Webber não deveria ser punido por manobra com japonês “porque já estava do lado quando Kobayashi lhe tirou o espaço.”

Lá na frente, Vettel conquista sua segunda vitória do ano, que, para Lobato, “caiu do céu com o problema de Hamilton”. Mas os espanhóis não reclamam. “É um resultado muito bom para Fernando”, destaca Gené.

O comentarista ainda brinca com o capacete usado pelo alemão, lembrando que as baterias que alimentavam as luzes “aguentaram até o final”. O modelo criativo também ganhou destaque entre os britânicos. “O capacete de Vettel tem luzes mostrando as constelações dos signos de sua família. Estamos em quarto crescente. Talvez esteja tudo alinhado, não sei”, Coulthard tenta uma explicação mística.

“Vettel controlou Button, mas lucrou com a quebra de Hamilton. Está de volta na luta pelo campeonato. Cingapura é a melhor corrida do campeonato, a mais emocionante”, Galvão volta a se derreter. “Alonso não tem mais em segundo o piloto que mais teme na luta pelo título. Vettel tem um carro que precisa provar seu valor em circuitos rápidos”, avalia Reginaldo.

Os britânicos destacam a recuperação do alemão para conquistar seu primeiro título. “Quando Vettel saiu de Cingapura em 2010, tinha 31 pontos de desvantagem para o líder e faltavam ainda menos corridas do que agora. Não há motivo pelo qual ele não pode repetir isso. Alonso sabe disso”, lembra Edwards, enquanto Coulthard dá seu apoio a Hamilton após o abandono. “Mesmo o piloto mais vencedor da história da F-1 perdeu mais do que ganhou em sua carreira. Não é o tipo de placar que quer ter se for um boxeador, mas nas corridas é assim.”

Os espanhóis é que levantam a questão que fica após Cingapura. “Disseram a Vettel pelo rádio que ele tinha voltado para o campeonato. Mas nunca deixou de ser um sério candidato, mesmo depois de Monza”, acredita Jacobo Vega. “Agora a questão é se Hamilton ainda está no campeonato”, fecha Gené.

12 Comments

  1. Julianne, o que aconteceu com a Lotus nas 2 ultimas corridas? Eles vinham de pódios seguidos com o Kimi, e, aparentemente, tiveram um queda brusca de desempenho.

    • Spa (sem o DRS duplo) e Monza seriam realmente difíceis para o carro, mas era de se esperar um crescimento em Cingapura. Eles dizem que foi um erro de acerto na classificação que os prejudicou em Marina Bay. Comenta-se, no entanto, que eles teriam desviado muito o foco para o DRS duplo e acabaram ficando para trás em termos de desenvolvimento. Teoricamente, Suzuka deve ser uma pista boa para a Lotus – pois dialoga de certa forma com Barcelona e Silverstone – então será uma boa prova para vermos se é uma queda de fato ou foi algo momentâneo.

      • Me parece que, caso consiguam utilizar o DRS duplo, esse mecanismo chegara tarde demais.

  2. Ju, assisti a transmissão espanhola e fiquei (negativamente) impressionado com a quantidade de propagandas. Perde-se, aproximadamente, 10 a 12 voltas da corrida para os reclames.

    Tiro no pé?

    Pelo menos eu nunca mais vou assistir à transmissão da Antena 3.

    • Ainda que neste ano eles não têm dado tanto azar quanto ano passado, quando sempre acontecia algo importante durante o comercial! Na verdade, o raro é termos uma TV privada como a Globo que não interrompe a programação esportiva. É algo a que estamos acostumados, mas não é regra.

  3. Ju, detalhes muito interessantes. No caso do abandono de Hamilton, me parece que aquele toque no muro fez muito estrago, diga-se de passagem desnecessário, afinal a Mclaren sobrava…Senna também tocou nos muros, o que corrobora com os problemas de câmbio, além das palavras da Mclaren que diziam ter feito o que podia…Fica no campo da especulação, afinal, com os up dates da Alemanha, será que inovaram tanto nos materiais, nas composições, que criaram um carro muito rápido, mas frágil? Acho que um dos pontos altos da corrida, foi o controle extraordinário de Massa, quando escorregou nas quatro rodas, sensacional! A diferença que vejo de 2010 para 2012, é que Vettel não possui um carro tão bom quanto antes, além de mais concorrentes para tirar pontos preciosos. Ju, não sei se estou pensando demais, mas conhecendo o gênio de Dennis, será que trabalharão com tanto afinco, afinal por mais que briguem por pilotos e construtores, será que a Mclaren entregaria de mão beijada o “número um ” para a Mercedes ano que vem? Sinceramente, não digo que sabotarão o carro de Hamilton, mas Button trabalharia para um piloto de saída? O mesmo Button, antes mesmo do anuncio da saída, já colocava Hamilton como fora da disputa…Seria capaz Mr Dennis de puxar o tapete do pupílo, como fez com Alonso em 2007? Cenas dos próximos capítulos…

    • Sobre o abandono de Hamilton, apesar da frase soar estranha, considero difícil que eles tenham escolhido correr o risco, haja vista o desempenho do carro – e o fato dele ter feito a pole, ou seja, cairia apenas para sexto.
      Sobre o segundo ponto, temos de separar a quebra de Monza – em um sistema que não muda desde 2007 – com essas duas de câmbio. É possível, sim, que tenham mudado algo no câmbio, mas isso não provocaria tamanha mudança no desempenho do carro.
      Sobre Hamilton, esse será um capítulo muito interessante das próximas seis etapas e, enfim, a respeito do campeonato, farei um post na quarta com algumas observações.

  4. Sobre o abandono de Hamilton, me parece que a Mclaren, ciente do problema do câmbio, e como a consequente troca acarretaria em perda de 5 posições, preferiram arriscar, devido a dificuldade de ultrapassagem, jogando com a sorte da durabilidade…Pra mim, mesmo Hamilton não largando na pole, e com o carro que possuia, poderia brigar pela vitória, mesmo vindo de trás, nesse caso, aposta errada de Woking.

  5. Dúvida, quais serão os pneus que a Pirelli levará para Suzuka? Torço por uma escolha menos conservadora para mudar um pouco as estratégias, por exemplo: Supermacio e médio.

    • Serão os macios e duros. Ano passado, foram macios e médios. É um circuito de grande carga no pneu pela quantidade de curvas de alta, portanto, um acerto neutro será importante para não acabar com o pneu na corrida.

  6. Como você faz este tipo de coisa? Grava as três corridas em separado e seleciona as pérolas de cada uma?

    • Sim, assisto às três transmissões e separo o que cada um disse em momentos-chave.


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