F1 GP do Japão por espanhóis, brasileiros e britânicos: “Vettel roubou o pó mágico do Alonso” - Julianne Cerasoli Skip to content

GP do Japão por espanhóis, brasileiros e britânicos: “Vettel roubou o pó mágico do Alonso”

Os pilotos se tornam samurais na metáfora do narrador espanhol Antonio Lobato antes da largada. A inspiração, claro, é a adoração de Alonso pelos guerreiros japoneses, que inclusive virou tatuagem. O asturiano, lembra Reginaldo Leme na Globo, diz liderar o campeonato por milagre, que tem nome e sobrenome para o comentarista. “Para mim, o milagre chama Alonso. Porém, ainda que sempre tenha considerado a McLaren como grande rival, agora tem de temer Vettel. Parece que a Red Bull se encontrou.”

Os espanhóis sabem disso muito bem e buscam explicação para renascimento de Vettel e companhia. “Se realmente têm um DRS duplo, veremos hoje, porque a vantagem deve ser em classificação”, aponta Marc Gené. “O problema da McLaren foi a punição de Button e o acerto ruim de Hamilton”, completa Jacobo Vega.

Enquanto isso, os britânicos da Sky se preocupam com peça que caiu do carro de Webber na in lap e com a estratégia. “Os pneus macios estão com bolhas e os duros estão funcionando melhor. Há muitas equipes torcendo para ser uma corrida de duas paradas, mas não têm certeza. Verão como será o rendimento no primeiro stint”, resume Martin Brundle.

O temor de Lobato é outro. “Vou dar uma má notícia: 75% das corridas do último ano aqui foram vencidas pelo pole, mais do que Mônaco.”

Corroborando, de certa forma, com o narrador espanhol, Luciano Burti não espera uma largada complicada “porque a primeira curva é rápida. A Ferrari vai muito melhor em corrida e Alonso mesmo disse que, nessa situação, não deve para ninguém. Ele vai para cima.”

De fato, foi, até demais, ainda que apenas seu conterrâneo ovetense Lobato tenha percebido de cara. “Fernando entra em uma zona perigosa. Rodou! Fernando rodou! Cuidado que alguém pode acertá-lo! Webber está fora, Rosberg também e não sei onde está Fernando”, se desespera. Luis Roberto, na Globo, não arrisca dizer qual o “carro vermelho” que escapou e é socorrido após meia volta por Reginaldo. “E olha que disse que a largada aqui não era complicada”, ironiza Burti. “Ainda mais Alonso, que não costuma cometer erros.”

O que ninguém acerta é de onde veio o toque que furou o pneu da Ferrari. O primeiro suspeito – talvez, mesmo se largasse em 20º seria ele – é Grosjean. Na Globo, inclusive, seguem convencidos disso mesmo após o replay. Na Sky, o narrador David Croft é o único a ver que Grosjean se enrosca com Webber, mas o comentarista Martin Brundle o ignora. “Lá vai a Ferrari fora da pista! Uma péssima largada! E Webber fica também, rodando após um toque de Grosjean. Faltou espaço para a Ferrari, a Red Bull e a Mercedes de Rosberg”, berra o narrador. Após o primeiro setor, veem que é Alonso. “Pela segunda vez na temporada, ele não passa da primeira volta e sua liderança vai ser demolida por Vettel”, prevê, enquanto Brundle emenda. “Imagino se não houve contato entre Alonso e Grosjean, pois eles estavam muito próximos no grid.”

Croft repete com toda a fleuma britânica. “Imagino se Grosjean não causou rodada de Webber. Foi Raikkonen que tirou Alonso” e Brundle se rende. “Raikkonen não fez nada de errado. Foi Alonso que, reagindo à McLaren, foi para a esquerda e o apertou. É esse tipo de coisa que acontece na primeira volta de um GP. Já Grosjean estava muito ocupado vendo a Sauber e encheu a Red Bull”. Em outra confusão, acham que comissários estão investigando Raikkonen, e não Grosjean, mas logo são avisados de que é o contrário. “O erro foi meu, desculpe”, diz Croft.

Gené concorda na Antena 3. “Não foi culpa de Kimi. Ele não sabia que Kimi estava do lado. Não o tinha visto”, praticamente as mesmas palavras de Burti na Globo. Antes disso, os espanhóis também culparam Grosjean. “Não queria falar antes, mas com Kobayashi e Grosjean próximos, é complicado”, Vega opina tarde demais. “Madre mia, Grosjean novamente”, Lobato não se conforma e, mesmo que Vega lembre que “Mark é último”, diz que “isso não importa. Vettel é primeiro.”

Antes do replay, provavelmente avisado por alguém em Madri, Lobato volta atrás. “A confusão foi com Kimi, mas Grosjean se enroscou com alguém. Como se complica o Mundial, senhores”. Enquanto isso, Gené não para de repetir. “Por isso, dá ainda mais raiva da má sorte da classificação, porque complica a largada e te obriga a arriscar”. E o narrador faz uma pergunta, para a qual não ouve resposta. “Felipe Massa está em quarto. Podemos esperar algo dele?”

Luis Roberto foca no brasileiro, “ótimo de largada. A Ferrari tem de trabalhar bem, pois essa é a corrida para Massa tirar pontos de Vettel e cair de vez nas graças da equipe.”

Na relargada, Raikkonen não se intimida com a pressão de Perez e o mexicano vai para fora da pista. “Havia um momento em que Perez tinha de ceder, quando Kimi começou a virar. Uma coragem que virou estupidez”, avalia Brundle. Para Luis Roberto, o piloto da Sauber “é arrojado e está em momento que lhe favorece.”

O piloto de 22 anos segue como protagonista algumas voltas depois. “Perez faz uma grande manobra no homem que está substituindo na McLaren”, narra Croft. “Fez o truque do Kobayashi e pegou Lewis dormindo”, vê Brundle. “Whitmarsh deve estar falando no pitwall que foi uma boa troca”, completa o narrador. Para Burti, Hamilton, “sabendo que carro está mal acertado, deixou passar.”

Lobato, por sua vez, está em tom fúnebre, avisando a quem acordou atrasado (a prova começou às 8h da manhã na Espanha e a transmissão, às 6h) que Alonso está fora e não vê que Perez ultrapassou Hamilton. “Como freou dentro”, Vega chama a atenção. “Ele passou?” pergunta o narrador. “E parece que Hamilton deixou passar”, Gené concorda com os brasileiros.

Logo depois, sai a punição a Grosjean. “Aconteceu vezes demais para ser coincidência para ele. Acho que ele não tem do que reclamar. Eles poderiam dar um drive through, mas deram um stop and go. Estão punindo-o da maneira mais dura possível porque acreditam que ele não está aprendendo”, defende Brundle. “Ele cometeu alguns erros na GP2, mas tinha melhorado”, estranha Croft quando perguntado pelo comentarista se o francês sempre fora tão errático.

Raikkonen é o primeiro que para e mostra que o tráfego pode ser decisivo. Os espanhóis não falam de Kimi sem lembrar que “o homem que arruinou a classificação de Fernando também foi o que arruinou sua corrida” – não no sentido de culpá-lo, mas salientando a coincidência infeliz. De qualquer maneira, observam que o finlandês perde tempo ao voltar à pista e acreditam que quem pode lucrar é Perez – até com Button, que é o próximo a parar. “Agora quem está bem é Massa, mais rápido que Vettel. É a chance dele mostrar para a equipe que deve mantê-lo. Esse tráfego está sendo decisivo. Acho que Massa pode passar os dois”, destaca Brundle. O bom rendimento tem outro efeito em Gené. “Quando vejo o ritmo de Felipe me dá uma raiva…”

Reginaldo e Burti acham que Felipe pode passar Button se ficar mais tempo na pista, mas duvidam quanto a Kobayashi. “Vai que acontece alguma coisinha e ele volta na frente dos dois, né?”, seca Luis Roberto.

Mas não precisa: só a soma de tráfego e do ritmo do brasileiro são suficientes e Massa volta em segundo. “Fantástico o ritmo de corrida de Massa, que superou pilotos que voltavam com pneu novo”, aponta Burti. “O pit stop nem foi tão bom, passou pelo ritmo”, completa Reginaldo.

Mais uma vez as atenções se voltam a Perez, que agora erra ao tentar passar Hamilton novamente. “Ele ficou confiante demais com esse contrato com a McLaren. Tinha se perdido na curva 5 e tentou mais evitar um acidente do que ultrapassar”, vê Brundle. “Confiança é tudo mas, se exagera, é quando começam os erros”, concorda Reginaldo. “Na McLaren, não vai poder cometer esse tipo de erro”, engata Burti.

Os brasileiros se empolgam com o ritmo de Massa – “Alonso está torcendo para ele desde garotinho!”, diz Luis Roberto –, mas todos vêem que a aproximação em relação a Vettel tem data para acabar. “Massa está mais rápido, mas sabemos que Vettel está controlando”, Brundle acaba com a esperança de quem quer ver uma luta pela vitória, enquanto Lobato acredita que, caso a outra Ferrari estivesse em segundo, o cenário seria outro.  “Não queria fazer comentários maldosos, mas geralmente o ritmo de Fernando é muito melhor que o de Massa. Ele estaria pressionando mais Vettel, que teria de forçar muito mais do que está fazendo agora, tanto o carro, quanto ele mesmo, para não cometer um erro”, observação semelhante à de Ted Kravitz na Sky. O narrador espanhol lembra que “não há nenhum piloto da Ferrari que tenha ficado tanto tempo sem subir ao pódio. E também há poucos que duraram por tantas corridas” e ri nervosamente quando percebe que “o carro de Vettel soa fantástico”. Parece esperar que o raio do alternador caia três vezes no mesmo lugar…

Lobato se perde quando vê a ultrapassagem de Hamilton em cima de Raikkonen, pois, em um primeiro momento, não acredita que a luta é por posição e diz que “isso vai prejudicar muito o Kimi”. “Esse é o estilo Hamilton. Raikkonen tirou para não bater”, celebra Reginaldo. “Corajoso. Ele sabia que tinha de conseguir. Este é o Lewis que esperamos ver, ele forçou Kimi a tirar o pé. Não é com muitos pilotos que você consegue dividir uma curva assim”, diz Brundle.

Ao contrário de Gené, que acredita que a melhor chance de Button passar Kobayashi e subir ao pódio é permanecendo na pista e esperando ter pneus mais novos no final, os britânicos acreditam ser possível uma inversão ainda na parada. Quando isso não acontece, a explicação do repórter Ted Kravitz é de que o inglês “não passou por dois motivos: Button parou fora da marca e a dianteira direita demorou para entrar”.

Na briga entre Button e Koba nas voltas finais, até mesmo os britânicos o abandonam. “Mesmo que eu ame o Jenson, estou torcendo por Kobayashi”, diz Brundle, que é acompanhado por Burti. Todos lembram da namorada japonesa do inglês e Brundle afirma que “seria legal se aparecesse ela torcendo para o piloto japonês agora.”

Croft observa que “Button chega perto no primeiro setor, mas não onde precisa para ultrapassar. Precisaria de mais duas ou três voltas” e brinca com a animação da torcida “A velocidade das bandeirinhas cresce 5km/h cada vez que Kobayashi passa na reta”. Luis Roberto também vai na onda do bom humor. “Será que o Button vai colocar água no saquê do Koba?”

Quem não está para brincadeira são os espanhóis, preocupados com o campeonato. “Dá para ver que a Ferrari é melhor em ritmo de corrida e consegue superar a McLaren, o que não pensávamos ser possível antes de chegar aqui. Mas, quando o Vettel aperta, é 0s8 melhor que Massa. Não é uma diferença que dá para tirar de uma corrida para a outra”, avalia Gené. “Mas o próximo GP é na Coreia, com retas longas, o que pode prejudicá-los”, Lobato busca um consolo. “Até isso conseguiram melhorar aqui, estão indo bem na reta. E eu confiava muito nesta corrida. Temos peças para a Coreia, mas é que a superioridade da Red Bull aqui foi insultante”, Gené finaliza o papo.

Os britânicos também se agitam. “Como Alonso vai parar esse cara agora? Mesmo com Massa fazendo um grande trabalho, vejo mais Webber tirando pontos de Alonso do que Massa de Vettel. Seja lá o que eles colocaram neste carro, está funcionando. E ouvi dizer que a Red Bull virá com muitas novidades para a Coreia. Se a Ferrari não se mexer, ele vai conquistar três títulos em sequência”. Croft completa: “Alonso vinha lucrando com os erros dos outros, mas, para ganhar o campeonato, é necessário ser dominante em algum momento. E Alonso não lidera uma volta sequer desde o GP da Alemanha.”

Lobato ainda tenta secar Vettel e suas tentativas de buscar a volta mais rápida. “Se acaba cometendo um erro e perde a vitória, isso se torna uma besteira”. Mas o alemão tem tudo sob controle e vence a terceira prova do ano, colocando-se a quatro pontos de Alonso. “Ele roubou o pó mágico de Alonso e jogou em cima de si”, define Croft. “Imagino o que teria acontecido sem os problemas de alternador. Teria uma grande liderança.”

Mas o segundo e terceiro colocados acabam roubando a cena. “Algumas vezes vemos pilotos no pódio que não estão contentes. Hoje, os três estão cheios de alegria”, observa Lobato. Também, pudera. Massa volta à festa do champanhe após quase dois anos e Kobayashi estreia entre os três primeiros, para delírio da torcida local. “O Brasil não vence há pouco mais de 50 corridas e já dá uma saudade danada… olha o carinho com o esporte. Parece vitória brasileira em Interlagos”, diz Luis Roberto.

O resultado também é importante para o futuro do japonês, chamado de “tufão” pelos espanhóis. “Kamui não deu apenas um pódio à Sauber, como também um grande problema. Não acho que eles esperavam”, vê Brundle.

É tanta felicidade que Massa até tropeça no champanhe. “Tá um pouquinho enferrujado, mas tá valendo. É bom para a confiança e ele vai andar mais no resto do campeonato”, sentencia Burti, enquanto Lobato espera novidades em breve. “Vamos ver se, depois disso aqui, há algum anúncio, pois creio que a Ferrari está esperando coisas como essa para fechar a renovação de Massa”. Isso, após uma atuação que lembrou seu companheiro, para Croft. “Massa largou em 10º e chegou em segundo. Fez o que é especialidade de Alonso.”

Mas o narrador espanhol não se conforma. Nada contra os alemães, só contra um deles. “Tudo bem ouvir o hino da Alemanha, mas que seja com Hulkenberg, Glock, até com Michael, como uma vitória de despedida!”

10 Comments

  1. Ótimo, como sempre. Parabéns, Ju!

  2. Ju, sobre o duplo DRS da RBR, vejo com bons olhos, afinal pegando retardatários, ou perseguindo os ponteiros, serão rápidos, além de poderem ganhar mais velocidade no sábado com o DRS liberado. Penso que a Ferrari se quiser lutar pelo título, terá que desenvolver rapidamente seu DRS duplo. Sobre Perez e Hamilton, acho que o inglês retardou muito a freada, com o intúito de forçar um erro do mexicano, afinal se não fosse para fora, encheria a traseira da Mclaren.

  3. Julianne, boa noite!

    Passando só pra te parabenizar pelo trabalho sensacional! Não sou muito de postar comentários, mas sempre espero ansioso por teus trabalhos!

    Paz!

  4. Os posts da Ju são os melhores. Impressionante a sensibilidade e percepção de cada transmissão. Fico aguardando ansiosamente cada post seu. Parabéns! Espero um dia te ver comentando ao vivo na TV!

  5. Otimo como sempre!!!! super super, amo este post!
    Parabéns!

  6. Texto fantástico, sempre espero esse post ansiosamente. Parabéns!

  7. Gosto muito desse seu comparativo, contando uma história única a partir de 3 transmissões essencialmente diferentes. Você já teve oportunidade de acompanhar transmissões de outros países? Se sim, alguma que te chama a atenção? Sou muito curioso para acompanhar também a alemã, apesar do idioma ser uma barreira daquelas…
    Parabéns, seu trabalho é muito bom!

    • Obrigado, Guilherme.
      Gosto muito da transmissão italiana, mais voltada à parte técnica e que, inclusive, tem um engenheiro como comentarista. O mesmo vem ocorrendo na BBC, com a Gary Anderson, um diferencial importante em relação à Sky. O Speed, dos EUA, também é interessante porque, como é feito em sua maioria por ingleses, fica em um meio do caminho entre a abordagem esportiva britânica e comercial americana. Considero um bom exemplo para o Brasil.
      A referência que eu tenho dos países que falam alemão é o Ico, que gosta dos comentários do Wurz na TV austríaca. Mas, para chegar lá, deveria ter me aplicado mais nos meus estudos de alemão!

  8. Juliane, parabéns pelo trabalho fantástico. É mais fácil eu cochilar no meio da corrida do que deixar de ler a sua coluna =)

  9. Muito bacana! Tufão levou o pódio mais que merecido e a torcida japonesa vibrou muito (aliás, mantiveram-se nas arquibancadas até bem tarde, conforme visto na transmissão da Sky Sports). Imagino como não foi a festa na transmissão japonesa =P


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