F1 Mais que três pontos - Julianne Cerasoli Skip to content

Mais que três pontos

Foi interessante ficar cara a cara com Lewis Hamilton logo depois da bandeirada do GP da Hungria: o inglês não tinha lá muita convicção de que tinha feito a coisa certa ao devolver a posição a Valtteri Bottas nos metros finais da prova, como se tivesse agido mais pela razão do que por seu instinto. Não era só ele: no próprio mundo da Fórmula 1, o ato gerou certa perplexidade.

A cobrança foi mais para cima da Mercedes, que optou não privilegiar o piloto mais bem colocado no campeonato, do que do piloto, que já desobedeceu regras internas antes, mas desta vez percebeu que ganharia muito mais do que três pontos caso cumprisse o combinado. Ainda bem que foi assim.

Talvez pela obsessão pela competição, a F-1 tem algumas lógicas meio tortas às vezes. O ganhar a qualquer custo, aproveitando qualquer brecha, se torna regra e acaba fazendo com que o próprio objetivo de competir se perca. Ao primeiro dar a chance de Hamilton tentar ultrapassar as Ferrari e depois voltar a dar prioridade ao piloto que foi mais rápido na classificação e que se manteve à frente na largada, a Mercedes mostrou como se joga o jogo.

As cartas do outro lado, contudo, estavam mais fortes neste final de semana, o que não deixa de ser uma boa notícia para o campeonato. Ainda que a Mercedes tenha evoluído no entendimento dos pneus  e esteja ligeiramente superior na maioria dos circuitos, a Ferrari mantém a maior eficiência em circuitos travados. Por outro lado, eles são minoria daqui em diante e muito do que vai acontecer nos próximos capítulos desse campeonato depende do salto que cada um conseguir dar neste mês de agosto.

A corrida em si deixou a desejar pela clara dificuldade dos pilotos seguirem um ao outro no circuito de Hungaroring, bem maior neste ano. Após a prova, Hamilton explicou que o delta necessário para uma ultrapassagem em Budapeste – ou seja, o quão mais veloz um piloto tem de ser para superar o outro – é de 1s6, sendo que raramente é superior a 1s. Foi o que vimos no caso de Fernando Alonso, muito mais rápido que Carlos Sainz, mas que precisou arriscar muito, depois de várias tentativas, para superar o compatriota. “Coloquei toda a carne na churrasqueira”, foi a expressão usada pelo espanhol para descrever aquela que foi uma das melhores manobras da temporada.

Uma briga como a dos espanhóis só é possível quando há respeito entre os pilotos, algo que Kevin Magnussen não costuma demonstrar. Ele está entre os pilotos que não são muito populares entre os demais pela maneira como disputa posições em um meio de pelotão que anda mais “vale-tudo” do que o normal. Tanto, que não é coincidência o aumento do número de punições nas últimas corridas, uma vez que existe uma cobrança por parte dos pilotos para que sejam estabelecidos limites mais claros.

Limites que um certo Daniil Kvyat não gosta muito de cumprir. Na Hungria, o russo levou um ponto por atrapalhar Lance Stroll durante a classificação e está a dois de ser o primeiro a levar um gancho por somar 12 pontos na carteira. Até já comecei o bolão com os colegas jornalistas para apostar em qual corrida isso vai acontecer, mas isso é assunto para os drops…

21 Comments

  1. Perfeita observação sua, Julianne. Este ano, a Hungria me lembrou o final dos anos 1990 e anos 2000: uma corrida com ultrapassagens raríssimas.
    Nos últimos anos, a bem da verdade, graças ao regulamento tivemos mais disputas, embora bem menos que a média dos demais circuitos da temporada.

    Eu particularmente prefiro assim. Quanto mais difícil, melhor.

  2. Ju, Kimi esteve muito competitivo nas duas ultimas corridas. Seria em razão da bronca publica do chefed, das atualizações da equipe que acabaram o ajudando ou teria mais relação com os circuitos? Inclusive, ele se tornou o o piloto com mais pódios na Hungria.

    • Ele não estava muito mais lento, era uma questão de acertar todo o final de semana e ele tem ficado mais perto disso. Por outro lado Vettel tem cometido alguns erros em classificação

  3. Ju, boa análise. Gostaria de saber o seguinte:

    você conseguiu entender exatamente qual o problema técnico que teve o carro do Vettel, que o fizesse adotar esse ritmo mais lento ? É um problema de suspensão, mas qual o problema exato ?

    Hamilton fez com Bottas o mesmo que Felipe fez com Raikkonen no Brasil em 2007 (favorecendo o Kimi) e em 2008 (Favorecendo o Massa na China). A RedBull já havia feito essa inversão de posições e depois desfeito, mas não me recordo da corrida.

    Abraços pra todos.

    • Ele teve um problema no alinhamento do volante. Confesso que é a primeira vez que ouço falar nisso na F-1 e a equipe não explicou mais do que isso. A conversa no paddock era de que foi um problema de origem mecânica.

    • Foi em Mônaco, 2015, entre Kyvat e Ricciardo. No fim, o australiano devolveu a posição ao torpedo

  4. Julianne… ótimo texto, como sempre!

    Eu vejo (e todo mundo também) que a Ferrari já priorizou Vettel na luta pelo título de pilotos. Essa inversão de posições entre Hamilton e Bottas é sinal de que tanto o inglês quanto a equipe enxergam em Valtteri um postulante ao título? Você o vê como candidato ao caneco?

    • Esse campeonato está tendo muitas reviravoltas e não existe um padrão claro nem dentro das equipes, nem na briga entre uma e outra. Então não dá para descartá-lo

  5. Três pontos é exatamente a diferença entre Kvyat e Vandoorne. O russo esta em outra categoria, o Putin deve estar colocando muita grana nos cofres taurinos para ele ainda estar ali (já vimos eles mandarem pilotos embora por muito menos).

    E eu vejo o Bottas correndo por fora na briga pelo título, mas com chances de levar, já vimos essa história a exatos 10 anos, guardadas as devidas proporções para a pontuação e para o número de corridas na temporada, o cenário era bem parecido.

    Inclusive Ju, você vai ficar para acompanhar os testes?

    • Não vou ficar, um outro dever bem diferente me chama: vou aproveitar as férias da F1 para cobrir o Mundial de Atletismo!

    • O Kyvat é o caso mais anormal de toda a história da Red Bull/Toro Rosso: subiu bem cedo, tirando a vaga do Vergne — que até hoje considero um tremendo injustiçado, disputava e até tinha mais pontos que o Ricciardo quando ele subiu pra Red Bull —, subiu logo depois pra Milton Keynes, foi rebaixado, e goza de uma paciência única na história da marca das latinhas. É, na minha opinião, um piloto que tem potencial, mas parece um ímã de situações bizarras e que não consegue manter um mindset constante. Enquanto isso, o Gasly vai se tornando um novo Félix da Costa

  6. Grande texto como sempre Julianne!
    Sobre precisar de 1s6 para ultrapassar, então isso quer dizer que Kimi não poderia ter ultrapassado o Vettel, mesmo com o alemão tendo problemas no carro?
    O que pareceu, foi que o finlandês só não passou pq a Ferrari já tem o seu campeão mundial.
    Leonardo,
    Muito legal essa informação, o finlandês inclusive é um dos pilotos (se não O piloto) que tem o maior número de voltas rápidas, não fosse esse jeito despreocupado dele, meio James Hunt, seria um multicampeão também.
    Abraços pros meninos e beijos pras meninas!

    • Acredito que ele não tenha passado porque ficou algumas voltas mais perto e acabou com os pneus. Por isso que o Alonso “colocou toda a carne na churrasqueira” logo que saiu do box. Era a única chance.

    • Nato Velloso, Kimi é o segundo piloto com voltas mais rápidas na história da F1. Fica atrás apenas do Schumacher, que provavelmente nunca será superado.

  7. Devolver a posição para o Bottas significa ter outras oportunidades de inversão de posição, e em circuitos de mais fácil ultrapassagem.
    E manter o Bottas vivo no campeonato e motivado, pode cobrir algum problema do Hamilton.
    Ju, na globo falaram que o Sains estaria indo para a Renault. O que você ouviu a respeito? Nem vão esperar o teste do Kubica?
    Aonde você vai postar sobre.o mundial de atletismo?

  8. Quando me perguntam qual a graça em ver carros enfileirados em voltas lançadas, sempre fazendo as mesmas manobras, digo para os desavisados de plantão: “sabem de nada inocentes”, kkkkk. No meu ponto de vista, a F-1, guardada as devidas proporções, encena a vida em muitas nuances. É posto a prova a todo momento os anseios e vivências, e conhecemos o lado sombrio dos atores, que querem ganhar, mesmo que seja passando de forma ilegal por cima do adversário. O modos operandi da Ferrari é conhecido, e mesmo assim é venerada quando, de forma contratual escolhe 1 e 2. Em 1982 vimos como Villeneuve sucumbiu ao circo ferrarista; quando Shumacher quebrou a perna, restou Irvine lutar contra Hakkinen, mas o irlandês, derrotado psicologicamente e em pontos, foi presa fácil. A atitude da Mercedes foi um soco na cara dessa F-1 ao mesmo tempo esplendida e baixa, não torço por Hamilton, mas sem essa de bom mocismo, politicamente carreto, nada disso, o inglês fez o certo, foi leal, fez justiça. Justiça esquecida pela manobra idiota de Vertappen, que jogou fora a corrida de Ricciardo por não aceitar ser ultrapassado por fora…enfim, por essa , manobra leal de Hamilton torcerei pelo triunfo do inglês! A justiça deve ser buscada em todos os setores da vida! Ps: boicotar o campeonato de Raikkonen contribui para sua desmotivação, e se algo acontecer com Vettel, um tornozelo quebrado jogando futebol, um braço quebrado quando tomava banho, coisas triviais na vida, adeus campeonato, e assim caminha a vida.

  9. Ju você acha que Mercedes e Ferrari vão trazer grandes novidades para Spa ? E a punição do Vettel vem em Spa ou Monza?

  10. Na minha visão lewis quiz bancar o bichão vamos assim dizer, lewis sabia q kimi tinha ritmo e q estava preso atras de vettel q tinha problemas ,mas q se precisa de fato forçar teria como, foi prudente evitando as zebras pq tinha escudeiro kimi, lewis mais rapido q bottas e não conseguiria passar bottas pq achava q iria passar kimi q tinha mas ritmo q bottas? Achei desnecessário essa tentativa da mercedes, se fosse em outra pista tuo bem. mas ai q é quase impossível passar…se lewis faz o q Alonso fez …kimi poderia jogar duro e fim de prova pra lewis e ai a vantagem iria pra 26pontos… acho q lewis devolveu visando mas a frente bottas ajudalo de fato…se num devolve agora bottas talvez num ajudase mas a frente…

  11. Fato curioso: desde que foi para a Toro Rosso, Kvyat acumulou mais “pontos na carteira” do que no campeonato…

  12. Ju, por qual razão exatamente a Ferrari mandou o Giovinazzi de volta ao simulador na fábrica ainda na sexta-feira? Uma coisa eu tenho percebido: a Ferrari tem sempre começado mal os fins de semana, com acertos meio equivocados.

    • Para trabalhar no acerto e deu muito certo, o salto foi significativo. É difícil prever o acerto dos carros nesse ano por serem projetos diferentes (e compostos tb) e esse é um dos motivos que explica o sobe e desce de performances.


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