Muito tem se falado na janela de temperatura de pneus nesta temporada, mas tudo indica que o fato da Mercedes ter melhorado neste aspecto não explica totalmente por que Hamilton e Bottas tiveram uma diferença tão considerável para a Ferrari na classificação do GP do Azerbaijão.
A Federação Internacional de Automobilismo respondeu, por meio de uma diretiva técnica, a um questionamento da Red Bull sobre a permissão do uso de óleo no processo de combustão. Tais questionamentos são uma das formas das equipes acusarem rivais de estarem fora do regulamento sem protestar os resultados, pois a partir do momento que a diretiva é publicada, ou seja, que o esclarecimento fica público, fecha-se a brecha que o rival está tentando aproveitar.
A primeira diretiva técnica foi publicada ainda durante os testes de pré-temporada, mas a Red Bull insistia que havia algo de errado com alguns rivais. Depois do GP do Canadá, foram encontradas anomalias no combustível de determinados carros, então uma nova TD foi encaminhada aos times, com os seguintes dizeres.
“Gostaríamos de relembrar que, como foi dito em várias reuniões e enfatizado na TD/004-17, consideramos o uso de óleo como combustível proibido pelo Regulamento Técnico. Para que não haja dúvida, o único combustível que pode ser usado para combustão é gasolina, e as únicas características permitidas desta gasolina estão claramente determinadas pelo Artigo 19 do Regulamento Técnico. Mesmo que o Regulamento técnico não especifique diretamente as características do óleo usado na F-1, consideramos que qualquer tentativa de usar outros componentes ou substâncias no óleo para melhorar a combustão como uma violação ao Regulamento Técnico.”
LEIA MAIS: Por que o combustível virou protagonista?
Em outras palavras, podem usar o que quiserem nos lubrificantes, mas deixem eles longe do processo de combustão. E havia uma fornecedora, a Ferrari, que não estava fazendo isso. Pelo menos até essa lacuna fechar-se antes de Baku.
O processo seria o seguinte: em pistões estavam colocados de maneira que deixavam o óleo longe da câmara de combustão, mas não tão longe assim: quando o piloto tirava o pé do acelerador, o vácuo criado sugava esse oléo. Isso serve para lubrificar e esfriar a câmara de combustão, ao mesmo tempo que permite o uso de uma mistura mais agressiva de combustível quando é necessário ter mais potência por um curto período de tempo, ou seja, na classificação. E, na corrida, isso também ajuda na economia de combustível.
Isso, contudo, não explica sozinho o 1s de diferença. Um dos motivos que fizeram os Mercedes usarem melhor os pneus em Baku tem a ver com a própria característica do circuito. A reta é Baku é longa demais para que os sistemas híbridos funcionem o tempo todo, então a maior eficiência da Mercedes nesse quesito pode ser sentida, pois o de-rate custa mais a aparecer.
Isso não dá apenas mais velocidade de reta, mas também influencia na escolha do acerto, pois Ferrari e Red Bull se viram obrigadas a usar asas mais baixas, o que acaba melhorando a performance nas retas, mas tirando downforce, o que implica negativamente no aquecimento de pneus.
Na Inglaterra, a Ferrari deve estrear novas partes em seu motor – tudo menos o MGU-H e o turbocompressor – e veremos se a atualização já vem com um novo jeitinho para voltar a encostar na Mercedes.
21 Comments
Otima matéria Julianne, conteudo de primeira parabens!
Julianne, você entende muito da parte técnica dos carros. Fez algum curso relacionado a área ou foi apenas pesquisando sozinha mesmo?
Obrigada, Leonardo. Nunca fiz nenhum curso, importante é ler boas fontes e saber interpretar para tentar passar ao público em geral.
Julianne é engenheira rsrs. Estava convencido de que você era engenheira.
Desde a época do Faster é que acompanho o trabalho da Julianne. E naquele tempo, ela já fazia um trabalho fabuloso nesta área técnica trazendo informações de primeira qualidade e muito bem explicada.
E como sempre, te digo: parabéns por este sucesso que tem conquistado. Merece! 🙂
Okay Ju. Desculpa. Só não entendi o título más noticias para a Ferrari!?!?
Se eu entendi corretamente, a Ferrari estava usando um artifício p/ adicionar oleo no combustível. Desde de a corrida de Baku, a Ferrari não pode mais usar esse artifício sob risco de desclassificação. Então a perda p/ a Mercedes na classificação não deve-se apenas ao melhor entendimento dos pneus por parte da equipe alemã. A Ferrari tem mais “trabalho” p/ fazer…
Exato
Opa! Valeu Mugello! E valu Ju por esse conteúdo de altíssimo nível!
Pois é, também não entendi esta parte. A Ferrari está usando óleo no combustível e, por isso, pode ser má notícia? Ou a Mercedes é quem e teve maior vantagem em Baku, junto com a longa reta?
São duas coisas diferentes
A má noticia é que a FIA proibiu essa malandragem que a Ferrari estava praticando, por consequência, ela irá perder desempenho. Má notícia para ela, pois.
Obrigada Julianne pelas informações. Eu como torcedora da Ferrari vou torcer para que que as novidades em Silverstone ajudem a melhorar o carro.
Mas em corrida a diferença não foi tão grande. O Hamilton não conseguiu passar o Vettel, mesmo com a reta gigante. Porém, largando atrás da Mercedes, fica difícil para a Ferrari ultrapassar.
Vamos aguardar domingo.
Como explicado, é algo que faz mais diferença em classificação, que vinha sendo o grande alvo da Ferrari devido ao modo poderoso de motor que a Mercedes consegue usar.
Lembrando que o carro do Hamilton teve a parte traseira danificada com a batida, pode ter perdido desempenho por isso e não conseguiu se aproximar do Vettel.
Ju, elogiar seu trabalho é chover no molhado, rsrsrsrs. Acompanho seu trabalho desde os tempos do Faster, e só tenho a agradecer o quanto você e os participantes em todos esses anos abriram minha mente em relação a esse esporte tão complexo e apaixonante…a profundidade de sua escrita deveria ser veiculada por toda imprensa automobilística nacional. O tema F-1 é tratado no Brasil com uma superficialidade bestializante. Muitos anos vendo F-1 apenas pela rede bobo deixam sequelas, kkkk, graças ao seu trabalho evolui muito, rsrsrs. A complexidade das informações do post de hoje corroboram com o argumento que a F-1 é sim, um esporte coletivo! Sempre tivemos a bíblia do gavião, falando do piloto carregando carro nas costas e tal; do piloto acertador de carro, mas vendo como o pessoal que trabalha fora das pistas e tão importante quanto quem guia o carro, ou será que algum lunático vai falar que essa idéia da melhora de performance do motor adicionada pelo óleo lubrificante foi idéia de Vettel? Esse texto corrobora para jogar por terra aquela estorinha de que piloto x ou y faz a equipe crescer, desenvolve carro, ora,existe sim o trabalho de toda uma equipe, todos querem ganhar, com x,y ou z, e no fim das contas, o cara que fixa o protetor do capacete também merece os créditos, que o diga Hamilton 😉
Meio off topic, mas, lendo hoje o maior site de notícias científicas do Brasil, fiquei a par de uma pesquisa (brasileira!) que pode acrescentar mais um elemento na disputa tecnológica travada pelas montadoras na F1. Trata-se de uma descoberta que pode possibilitar a redução do desgaste do equipamento por atrito! Parece óbvio que o atrito das engrenagens tenha influência na performance do carro, mas nunca havia pensado nisso!
Ops, faltou o link:
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=como-experimento-atrito-escala-atomica-ir-parar-formula-1&id=010170170704#.WVvoGFGQzIU
O conhecimento é algo memorável Armínio, e se pensarmos no país corrupto e leniente com a verdadeira educação no qual vivemos, é prazeroso ver que pessoas procuram uma solução…
hmmmmm, mas noticias para ferrari ou mas noticias para ferrari e a turma que usa motores ferrari? ou os motores da Haas nao usam oleo na combustao?
Austria, pais do alemao mais agradavel de ouvir, peixes gostosos, fazendas com zimmer frei a Eur 30.00 mitt bett und fruschtuck espetacular…divirta-se!