F1 Mercedes cor-de-rosa - Julianne Cerasoli Skip to content

Mercedes cor-de-rosa

Era o ano dos sonhos para a Racing Point. Depois de anos, ainda como Force India, sendo a equipe mais eficiente do grid. Ou seja, quem vinha gastando menos por cada ponto conquistado, trabalhando com uma estrutura menor até que as rivais do meio do pelotão e beliscando pódios mesmo assim. Porém, depois que o bilionário Lawrence Stroll comprou o time, em meados de 2018, os problemas financeiros ficaram para trás. Finalmente, o diretor técnico Andrew Green e sua equipe poderiam trabalhar com os recursos que quisessem.

Mas havia um porém: o regulamento da F-1 ficaria estável entre 2019 e 2020, então não valeria a pena gastar os tubos para rever completamente o carro e fazer isso novamente em 2021, quando há uma importantíssima mudança de regulamento. Qual foi a saída (vamos descobrir se eficiente ou não) da Racing Point então? Copiar o carro que venceu com sobras o campeonato do ano passado.

Não é de hoje que existe uma forte parceria entre as equipes: motor, transmissão e sistema hidráulico já eram comprados. E agora as suspensões também. E mais: eles estão usando o túnel de vento da Mercedes desde o ano passado. Isso significa que está tudo calibrado de uma forma que fez com que o time alemão tomasse as decisões que tomou em termos de design. Pode parecer o caminho mais fácil para escolher, não? Mas Green defende que, na verdade, a Racing Point está correndo um grande risco.

Pensando mais adiante, perguntei a Andy o que isso significa para 2021. Imaginem que, mesmo copiando algo que deu certo, eles mudaram completamente o conceito do carro de um ano para o outro. E ele disse algo interessante: a ideia é só fazer um grande upgrade, antes da Austrália, e torcer para o melhor, focando totalmente no carro do ano que vem. É algo que pode dar muito certo, ou tremendamente errado. 

E disse mais: eles só não fizeram isso antes porque não tinham dinheiro. 

“Não acho que o que fizemos seja algo novo em termos de copiar conceitos. Só não fizemos antes porque não tínhamos recursos. Mas entender a filosofia por trás do carro de uma outra equipe é um grande desafio. E um risco imenso. Porque não temos as mesmas ferramentas, as mesmas pessoas. Eles tiveram anos de dados para chegar no projeto que têm hoje. O que fizemos é o mais perto de jogar tudo o que tínhamos no lixo e começar com uma folha em branco.”

De fato, quando postei as fotos comparativas dos carros da Racing Point deste ano e da Mercedes do ano passado, muita gente já assumiu que o carro de Perez e Stroll vai lutar por vitórias por ser tão parecido ao dos campeões de 2019. Mas não é bem assim. Primeiro, eles não têm um conhecimento minimamente comparável sobre o funcionamento deste carro, não usam as mesmas configurações de software do motor, e não terão a mesma capacidade de desenvolvimento. Fora isso, aquele projeto já está obsoleto, pois a cópia, que se iniciou, por decisão de Green, em julho, é do ano passado.

 

Qual o problema do ctrl C + ctrl V?

Copiar soluções uns dos outros pela observação é algo totalmente normal e incontrolável. A questão é comprovar troca de projetos, algo que se desconfia que tenha acontecido outras vezes recentemente, como entre Toro Rosso (agora AlphaTauri) e Red Bull, e entre Ferrari e Haas. Em todos esses casos, há relações comerciais entre as equipes.

Para a Fórmula 1, o problema está nos limites de algo que diferencia a categoria de qualquer outra no automobilismo. Trata-se de um campeonato de construtores, em que cada equipe é obrigada, por regulamento, a fazer seu próprio carro.

Os fãs das antigas relativizam a situação dizendo que “a Ligier de 85 era a cópia da sabe-se lá o que” e isso nunca foi problema. Primeiro, isso sempre foi um problema. Segundo, a questão é que o tema da propriedade intelectual na Fórmula 1 nunca foi tão discutido como agora, e por questões comerciais. A brincadeira acabou ficando tão cara e sotisficada que, a não ser que você tenha a possibilidade de comprar o máximo possível de um equipamento já desenvolvido por quem tem dinheiro, é impossível ter qualquer chance de competir. Isso ficou claro à medida que as três equipes que estrearam em 2010 – Hispania, Caterham e Virgin – foram desaparecendo aos poucos e, desde então, somente a Haas estreou (e justamente com um modelo de negócio que explora todas as brechas do regulamento que permitem a terceirização de peças) e vem conseguindo andar no meio do pelotão.

Quando o regulamento de 2021 estava sendo discutido, houve uma grande briga porque a F1 queria ver mais peças padronizadas tanto para diminuir os gastos, quanto para que o grid ficasse mais competitivo. Nem é preciso dizer que a chiadeira foi tão grande que, embora mais peças sejam iguais no novo regulamento, a quantidade foi muito menor do que se previa.

E o mais curioso dessa história toda é que veio do próprio Green uma proposta para criar uma espécie de banco de dados open source para diminuir os gastos com pesquisa e desenvolvimento de peças. De certa forma, parece até o revanchismo: sem conseguir passar o que queria, Green resolveu puxar todos os limites possíveis.

E também foi esperto, convenhamos. Esse carro de 2020 vai ser jogado no lixo em poucos meses. Então é difícil que alguém proteste. E isso pode abrir um precedente interessante para um futuro que não está muito longe.

3 Comments

  1. Ótima análise.

  2. Excelente reportagem, mas acho que o foco da Racing Point e tentar brigar pela 4 posição no campeonato de construtores e levar uma boa bolada de prêmio para o ano de 2021. Assim, mesmo o projeto sendo obsoleto, talvez com algum desenvolvimento poderá brigar por esta posição no campeonato.

  3. Teorias minha cara, só vamos saber se deu certo ou não quando começa após o q3 e a corrida
    agora tudo que for falado é pura especulação e mi mi mi


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