Enquanto nenhuma equipe buscou performance ainda nos testes, algo que já seria normal nos quatro primeiros dias, mas acabou sendo uma marca ainda mais forte neste ano devido às péssimas condições do tempo no Circuito da Catalunha, foram outros assuntos que roubaram a cena nos bastidores.
Curiosamente, a dias do início de uma temporada com relativamente poucas diferenças em relação ao ano passado, fala-se muito da necessidade de mudanças. Afinal, em abril já devem ser definidos os conceitos dos carros e motores para 2021 e muitas preocupações estão em pauta.
Os engenheiros querem um carro mais leve. Já expliquei aqui como os vários dispositivos de segurança foram aumentando o peso mínimo e o F-1 nunca foi tão veloz e ao mesmo tempo tão pesado quanto hoje: eles vão alinhar na Austrália com quase 840kg!
O peso é visto como um dos fatores que atrapalham as ultrapassagens, outro foco dos estudos. Como esperado, a maior dependência aerodinâmica gerada pelo regulamento de 2017 fez com que as manobras se tornassem mais difíceis e estuda-se uma nova “limpeza” nos penduricalhos aerodinâmicos em um futuro próximo.
Limpeza essa que casa muito bem com outra preocupação: a falta de patrocinadores nos carros. Existe a avaliação dentro do paddock de que são dois fatores intimamente ligados, uma vez que as asas e laterais têm tantos elementos que a visibilidade das marcas fica prejudicada. Pensando nisso, Ross Brawn defende uma asa dianteira totalmente simples, ainda que esteja encontrando resistência de algumas equipes.
O que não faltou foi tempo para discutir tudo isso nesta semana em Montmeló. Uma onda de frio bastante atípica para esta época do ano limitou significativamente o tempo de pista nos primeiros testes e reabriu uma discussão que não é nova: o quanto vale a pena arriscar testar no inverno europeu?
Primeiramente, é preciso deixar claro que o frio desta semana não é a regra. Ano passado, por exemplo, as equipes estavam testando com 18ºC, e não temperaturas negativas como as observadas em 2018. Mas é claro que sempre existe esse risco. Dentro do continente europeu, a solução mais plausível seria Jerez, pista que foi recentemente recapeada e fica mais ao sul – enquanto toda a Europa praticamente congelava nos últimos dias, a temperatura lá ficou em cerca de 15ºC. Seria necessário, entretanto, um investimento local na estrutura para receber a F-1 e também o pagamento de uma taxa para tanto e isso seria um empecilho.
Outra solução seria ir para o Bahrein, o que resolveria a questão do clima, mas criaria outros obstáculos, com o aumento do custo e do tempo para novas peças irem chegando ao longo do teste – tanto pela distância em si, quanto pela necessidade de passar pela alfândega. Até a próxima nevasca, portanto, é bem provável que os testes fiquem onde estão.
Por fim, outro assunto que entrou na pauta da semana foi o anúncio da plataforma de streaming F1 Live, que estará disponível em pouco menos de 60 países a partir do GP da Austrália. Foi um projeto amarrado às pressas (essa história da assinatura do contrato com a ESPN em outubro explica por que) e que ainda não está em sua versão definitiva, mas ao que tudo indica será um produto atraente.
São 20 dólares anuais pelo pacote mais barato e 100 pelo pacote premium, com acesso a diferentes câmeras, corridas antigas, entrevistas e conteúdo exclusivo, e a meta da Liberty é fechar o primeiro ano com 5 milhões de assinantes premium. Pensando que a audiência é bem maior que isso, não parece ser uma meta irreal, ainda que difícil de ser batida de imediato, até porque os dois mercados com maior audiência de F-1, Brasil e Itália, ficaram de fora.
No caso brasileiro, isso parece ser uma questão de tempo, uma vez que a Globo está negociando a implantação com a Liberty. A narração, como ocorre com as plataformas em outras línguas, seria a mesma da TV. Em inglês eles usarão a Sky, em alemão a RTL e em francês o Canal Plus.
Pensando na meta, seria uma receita de 500 milhões de dólares a mais para a F-1, o que justifica as concessões financeiras que a Liberty tem feito nos novos contratos de TV. O que Bernie evitava por não saber monetizar os novos donos fizeram em poucos meses.
Mas o engraçado foi a coletiva com o diretor de mídias digitais da F-1, Frank Arthofer. Basicamente 90% das perguntas não foram sobre a plataforma em si, mas sobre os interesses das emissoras de TV. Ele respondia um pouco atônito com o anacronismo deste pensamento. Em um esporte que só tem falado em mudar, dá para entender por que não é nada fácil fazer isso.
9 Comments
“A narração será a mesma da TV”
E lá se foi a chance de não ouvir o Galvão Bueno falando tanta besteira.
Reconfortante saber que a Globo está negociando a implantação do F1Live. Como de costume, em língua portuguesa, é através do seu trabalho que a gente sabe dos bastidores primeiro, Ju.
Nada como estar presente e ter relação com as fontes, né?
Quanto aos testes em si: como foi praticamente impossível focar em performance, sabe se ao menos na questão dos pneus as equipes conseguiram fazer alguma avaliação?
O fato dos carros ficarem mais velozes compensou na maioria das pistas a diminuição das ultrapassagens, é lógico que em pistas onde é difícil, ficou impossível, sobre a questão dos patrocínios chamou bastante a atenção nas categorias de acesso não só a diminuição de grid, tanto na GP3 como principalmente na F3 que a poucos anos com uma Europa em recessão colocava até 30 carros, foi ter poucos pilotos com grandes patrocínios, a maioria com as corres da equipe e alguns sem nenhum nome no carro e poucos no macação, parece que o automobilismo perde espaço com os patrocinadores.
Poderia colocar qualquer um narrando mas se colocasse você para passar os detalhes seria uma grande alegria para nós que gostamos de informação de qualidade. Julianne na FIA TV já.
Cara Julianne
Quando refere Jerez como única alternativa na Europa, isso foi algo que foi comentado no paddock ou é uma opinião sua?
O Circuito do Algarve, onde decorreram testes, creio que em 2008 ou 2009, nunca é mencionado por lá?
Para o transporte de material em veículos pesados oriundos da Europa, a distância é apenas cerca de 130 kms a mais do que para Jerez. E existe um aeroporto internacional a 75 kms e muita capacidade hoteleira nos arredores.
Pergunto isto porque era algo que eu muito gostaria que acontecesse…
Cumprimentos
A europa (inglaterra tambem) e os ibericos estao ferrados com o aquecimento global que ira proporcionar mais gelo para eles, ironicamente. As previsoes meio antigas estao se concretizando, infelizmente.
Nos idos de 1980 e 90 havia testes la na terra do cabral (o marinheiro, nao o que pegava a zelia cardoso). Estoril pode ser uma boa…mas lembro o pessoal aqui que os testes deveriam tambem ser uteis no desenvolvimento total dos carros, includindo curvas de alta, baixa, e retas. Caso contrario poderiam fazer testes em monaco ou em phoenix.
Mercedes ja avisou que acabou o campeonato. Vamos brincar la fora.
Oi Plow,a quanto tempo hein! Como vai?tudo bem?
É meu caro, nós da área ambiental avisamos isso há décadas, mas ninguém nunca ligou e agora os efeitos começam a aparecer. Pior são os acéfalos (para usar uma palavra amena) como Donald Trump ironizando esse gelo e dizendo que é uma prova de que o aquecimento global não existe, desconhecendo totalmente qualquer equilíbrio ecológico. Pior mesmo é ver estudiosos que conhecem algo dizendo que o aquecimento global não existe, encontrei uma climatologista que dizia isso, mas a coitada era “profissional de araque”
Vamos acabar nos matando e levando alguns moradores desse belo planeta junto, mas felizmente o planeta fica para fazer a vida florescer novamente.
Bom, indo ao assunto do post, essa parte de perguntar sobre o assunto errado, não é exclusividade da F1 Julianne. O técnico José Mourinho ficou irritado com alguns colegas de profissão seus que perguntaram apenas do jogador (não lembro qual) que ele havia barrado no jogo e não fizeram uma única pergunta sobre o jogador (não lembro qual) que iria jogar.
Nem podemos culpar o titio Bernie por não saber capitalizar com as mídias digitais, o cara é um dinossauro das antigas, então não compreendia bem o mundo digital e capitalizava com o garantido, as TVs que ele conhecia bem e dominava.
Chega a ser natural que a Liberty capitalize tão bem e rápido com as mídias digitais, é a especialidade deles. Fico curioso no que isso muda para vocês da rádio e pros seus colegas de TV a longo prazo. E outra pergunta, alguma chance de no futuro a F1 migrar exclusivamente para a TV paga na área da TV?
O Bernie meio que já vinha os pauzinhos pra isso, a Liberty deu continuidade a isso?
Ah! A última vez que nevou em um treino foi em 2005 e a menos que o aquecimento global surpreenda de novo, os testes devem ficar um bom tempo na Europa.
Grande abraço a todos!
Um grande texto como sempre Julianne!
Aqui as coisas caminham, obrigado por perguntar. Trabalho diretamente com questoes climaticas e nao entro em politicagem nessas conversas. Com ou sem culpa do “seromano” ha mudanca pesada acontecendo agora e todos vamos senti-las.
Espero, desejo que o campeonato seja bem melhor que os ultimos 18. (1999 foi decente, 98 idem, 87, 86, 83, 82, 81, 76 foram os melhores que me lembro de ter visto mesmo).
Oi Plow!
Por gente boa sempre perguntamos, que bom que vai bem, então travalaha na área ambiental também? Essas politicagens são complexas e necessárias na área, embora também as deteste, mas se quiser me mande um email depois, para não desvirtuarmos o blog da Julianne e podermos conversar sobre.
natoj.velloso@hotmail.com
Como nasci em 87 fica impossível saber se os campeonatos anteriores foram bons, o primeiro campeonato do qual realmente me lembro é aquele fatídico 1994 em que perdemos um dos melhores pilotos da história da F1.
Campeinatos que me lembro de terem sido realmente bons foi de 1996, 2005, 2006, 2008 e 2017.
Os outros foram aoenas de hegemonia absoluta de Ferrari, Red Bull e Mercedes.
Julianne uma curiosidade que surgiu agora, existe alguma chance da Liberty fazer uma parceria com a Netflix? Ou será tudo produzido em um canal de Streaming próprio?
Grande abraços a todos!