Demorou mais de 3h, sabe-se lá por que, mas a mesma Fórmula 1 que só viu o próprio umbigo das letras frias e distantes do que acontece na pista de seu regulamento três semanas atrás, desta vez foi na direção contrária e se encontrou com o bom senso. Hoje a categoria não foi o que é, mas sim o que precisa ser.
Até porque muita coisa aconteceu desde aquele GP do Canadá. Os pilotos pediram em uníssono para que o regulamento fosse mais interpretativo, pois nem todas as batalhas e nem mesmo os “campos de jogo” são iguais. Dias depois, houve mais uma reunião dos chefe sobre as regras de 2021 que acabou apenas em mais um adiamento e só escanrou o fato de que, se FIA ou FOM não tomarem a dianteira, os times vão ficar jogando com seus interesses até ficar tarde demais para mudar qualquer coisa. Para piorar, veio o banho de água fria do GP da França e a F1 chegou na Áustria em plena crise existencial, querendo até mudar as regras (digo, os pneus) no meio do jogo.
E então o combo altitude + calor derruba as Mercedes, a Red Bull (ou pelo menos uma delas) encontra um ritmo que nem mesmo o time consegue explicar, a Ferrari finalmente acerta na estratégia, e temos uma corrida aberta até o final. Até o resultado ficar sob suspeição por mais uma investigação que envolvia os dois primeiros colocados.
Não era a mesma regra que puniu Vettel, mas é o mesmo problema: pela letra fria escrita por quem nunca sentou num carro de corrida, o piloto tem de deixar o espaço de um carro entre ele e a linha branca que delimita a pista durante uma disputa. Verstappen fez isso com três voltas para o fim, e não o fez no giro seguinte. Espalhou Leclerc para fora da pista e fez a ultrapassagem. A manobra seria lance de corrida sob qualquer perspectiva, menos no livro de regras da F-1. Acho que está claro onde está o problema.
Voltando ao que interessa: que corrida foi essa? Foram muitas variáveis que ajudam a explicar a falta de velocidade da Mercedes e o ritmo superior de Ferrari e Red Bull. O time prateado teve que “abrir” mais seu carro para não arriscar no arrefecimento, e com isso perdeu pontos de aerodinâmica, mas o principal problema foi o motor, que não pôde trabalhar em seu regime máximo mesmo com todo esse cuidado, obrigando os pilotos a usar modos de motor mais conservadores e tirar o pé antes das curvas. Isso não apareceu na sexta-feira porque as temperaturas eram cerca de 5ºC mais baixas, para dar a noção de como detalhes são decisivos na F-1.
O motor da Ferrari, como já tinha sido o caso no Bahrein e no Canadá, parecia em casa no calor e pôde mostrar sua força em uma pista com apenas 10 curvas. Além disso, como é um carro que gera menos pressão aerodinâmica, ele também é mais gentil com os pneus e, no calor, teve a chance de mostrar isso.
Já do lado da Red Bull, certamente os engenheiros vão estudar muito de perto os dados para entender qual foi a mágica. Se, no primeiro stint, Verstappen sofreu por ter fritado o pneu na primeira volta, assim que ele colocou os pneus duros, o carro ficou perfeito. E ainda por cima cuidou muito bem dos pneus. Tanto que, horas depois da corrida, Christian Horner ainda não sabia explicar o que tinha acontecido, mas o fato é que uma combinação do spec 3 da Honda, as atualizações que a Red Bull trouxe para a Áustria, o acerto e as condições de pista criaram uma condição toda especial.
Passado o temor de ter uma temporada com 100% de vitórias da Mercedes, resta aprender as lições. A Mercedes estará de olho nas provas quentes que vêm por aí – Silverstone sempre uma incógnita, mas Hockenheim e Budapeste sempre com altas temperaturas – enquanto a Ferrari pelo menos agora tem mais dados para entender o que funciona no carro e a Red Bull ganha a esperança de estar indo na direção certa. Assim como a F1.
14 Comments
Certa a decisão de não punir Verstappen pelos motivos já ditos mas a Ferrari tem razão em reclamar. O incidente de hj é cópia fiel do incidente de 2016 entre Hamilton e Rosberg, Na ocasião Rosberg foi punido em 10 segundos mesmo se dando mal na manobra, quebrando asa e perdendo a corrida, o q não aconteceu hj com Verstappen. Dois pesos, duas medidas para punir tb irrita tanto quanto comissário tirando a graça das corridas.
O caso do Rosberg foi bem mais grave. Ele deliberadamente não tentou fazer a curva. Verstappen a fez corretamente e colocou meio carro a mais pra esquerda do que anteriormente, Muito mais sutil e difícil de analisar.
Não vejo desta forma , ele tb deixou passar o ponto onde deveria virar para justamente bloquear a Ferrari. O caso dele é ainda mais difícil de defender pq na volta anterior ele fez o correto , deixando espaço. É só comparar as suas duas manobras para notar como ele fez exatamente como Rosberg.
Usando uma linguagem futebolista, o Rosberg naquela ocasião parecia um zagueiro mau intencionado.
Esqueçeu a bola (no caso a curva) e foi no adversário.
Já o Verstappen foi o zagueiro malandro.
“Espalhou” sem querer querendo.
O Leclerc deveria ter sido um pouco mais sagaz e mudado a trajetória e se defendido.
Um piloto mais vivido como o Raikkonen, Hamilton ou mesmo o Vettel se defenderia ainda mais conhecendo o modo Verstappen de decidir as disputas.
Mas tudo bem.
Ele é jovem e experiência só se adquire com o tempo.
O lado bom é que de certa forma o futuro está bem encaminhado com esses dois moços Verstappen e Leclerc.
Transbordam talento e estilos completamente opostos um mais agressivo e outro mais limpo.
É aquela, aos amigos tudo, aos inimigos a lei. Ou seja, eu só aplico a lei onde é mais conveniente. Hoje não era conveniente tirar a vitoria do Verstappen. Mas que ele jogou o Lec pra fora, isso jogou. Mas tenho certeza que depois que esfriar a cabeça, o Lec vai tirar lições importantes dessa corrida, como não oferecer a linha de dentro das curvas para pilotos sujos.
…e nas duas decisões, Maranello levou um “martelo”!!!!
Sabemos que já foram muito “auxiliados” no passado….
Corrida fantástica, absolutamente fantástica! Verstappen é gênio!!!
Julianne, não sei se já tem esse texto mas, se possível, escreve sobre essas especificações do motor. Um abraço!
A Ferrari brigou tanto para não punirem o Betel e acabou chamando a atenção. Resultou em ter que admitir a não punição a Verstapen kkkkkk. Corrida fantástica!!!
Foi uma corrida marcante por todos os motivos apresentados neste post.
Verstappen foi senacional em todos os aspectos. Leclerc, ainda que tenha vacilado naquele lance, também fez um bom trabalho. Norris foi muito bem, também.
A Mercedes desta vez não pode fazer nada e a Ferrari errou de novo, duas vezes:
na primeira durante a parada do Vettel e na segunda na falta do gerenciamento na corrida do Leclerc, que ficou com os pneus em fragalhos no fim, tornando-se presa fácil para o holandês.
Sobre a manobra em questão, não cabia punição mesmo. Agora, a FIA não deveria demorar três horas para dar o veredito. Se era pra punir, que fosse durante a corrida, e não depois.
Achei a manobra do versttapado normal, famoso fazer a curva espalhando, só que deu uma esbarrada no Leclercq legal . Coisa de corrida 🏁 o cara fez uma corridaça. Depois do pit andou muito forte e constante, ultrapassou quem tinha que ultrapassar. Mereceu a vitória ✌, ponto positivo para versttapado, ta se mostrando um futuro campeão da F1 o que está faltando para ele um carro mais competitivo.
A melhor corrida do ano.
Se não tivessem inventado a punição ao Vettel e Riccardo, ninguém iria questionar a ultrapassagem do Verstappen.
Tomara que as corridas continuem sendo decididas na pista.
Esta temporada, como outras, parece aquela série de TV que você acompanha por 16 ou 20 episódios e sabe que muitos é apenas para encher linguiça, mas você acaba assistindo pelo poucos episódios excepcionais que você não quer deixar de assistir.
Max puro talento já com experiência e Leclerc puro talento ainda por lapidar…agora: o que significa esse motor Honda, hein??!!
Os japoneses não cabiam em si de tanta alegria e satisfação.
Um Honda que foi um verdadeiro “petardo” com confiabilidade; incrível!!
Rodneyrace- Sorocaba/SP
“Além disso, como é um carro que gera menos pressão aerodinâmica, ele também é mais gentil com os pneus e, no calor, teve a chance de mostrar isso”.
Como vc mesmo disse os detalhes são decisivos na F-1, numa pista com menos retas e mais curvas a maior pressão aerodinâmica já cuida melhor dos pneus ao evitar as escorregadas nas muitas curvas. Essa especificamente foi a menor pressão aerodinâmica que cuidou melhor dos pneus.
“Encontra um ritmo que nem mesmo o time consegue explicar”, foi sensacional. Quando tudo encaixa a sensação do piloto deve ser a que pode tudo, Senna viu até Deus numa corrida.