O plano de Bernie Ecclestone é claro: no que depender do chefão, o calendário da Fórmula 1 estará cada vez mais para Baku do que para Spielberg, etapa deste final de semana.
O palco do GP da Áustria, que voltou ao calendário em 2014 muito em função de ser de propriedade da Red Bull, vai totalmente na contramão de tudo o que o dirigente busca no momento: está na Europa, em uma região na qual a estrutura hoteleira não é das melhores – os pilotos costumam se hospedar em um hotel que foi usado como castelo no passado e que fica dentro do autódromo, enquanto vários jornalistas recorrem ao aluguel temporário de casas das cidades próximas – e em um autódromo de verdade. O público atraído pelo evento é composto basicamente daqueles europeus loucos por corridas e que aproveitam o verão para viajar pelo continente com seus trailers.
Dá para dizer sem erro que Áustria e Inglaterra, a próxima dobradinha do campeonato, são representantes da ‘F-1 roots’.
Não que Ecclestone se importe com os trailers ou tenha qualquer problema de hospedagem. Ele se importa em levar a F-1 para quem possa pagar a conta.
Nesse sentido, o modelo europeu de ‘corrida no campo’ está esgotado – e simplesmente não pode ser replicado fora do continente, onde a categoria não tem presença histórica tão forte. Na maior parte do mundo, onde o dinheiro está atualmente, tal presença é nula – e é inviável pensar em novas Spielbergs e Silverstones. Os exemplos recentes de corridas longe dos centros, como Coreia do Sul e Índia, mostram isso.
Não coincidentemente, vemos que todos os GPs fora da Europa ou são corridas de rua, ou têm circuitos pelo menos próximos a grandes cidades. Ou seja, é possível se hospedar em Xangai e ir para a corrida, o mesmo não ocorrendo com Viena ou Londres no caso dos dois próximos GPs. Mesmo assim, tirando exemplos como o Bahrein ou Abu Dhabi em que o dinheiro estatal parece inesgotável, não está sendo fácil para quem tem circuitos lucrar com as provas.
O fato é que, na realidade atual que tira a F-1 de uma Europa que ensaia recessão há alguns anos, são mais do que cenários diferentes com que a categoria vai ter de se acostumar.
A tendência é cada vez mais termos circuitos de rua que, mesmo causando grandes transtornos para as cidades e exigindo um investimento anual, com a colocação e retirada de toda a estrutura, representam uma economia de cerca de 50% em relação a construir um circuito do zero. E são menos arriscados uma vez que, dependendo de onde estiver, o autódromo pode passar dois ou três anos às moscas antes de ser retirado do calendário e virar um elefante branco.
Isso significa ou traçados lentos como Mônaco, ou uma série de chicanes como Montreal, ou grandes retas e curvas de 90 graus como Cingapura, Baku ou Sochi. Isso, sem falar nos asfaltos lisos que geralmente são encontrados nestes lugares. Para quem gosta de traçados mais variados – com ou sem o clima campestre – melhor curtir o ar puro da região da Estíria enquanto é tempo.
4 Comments
É, já não se fazem mais circuitos como o de Charade, em Clermont Ferrand, na bela Auvergne, montanhoso e sinuoso, onde até RINDT certa vez se queixou que lhe produzia tonturas.
Até precipício tinha. . . Em 1972, Clermont Ferrand já estava bem “civilizado”, não se viam mais as “hordas” de espectadores bem próximos da pista, no melhor estilo do Rally de Portugal, nos tempos insanos e heróicos do Group B (e seus pilotos inigualáveis, como ROHRL, ALLEN e outros). Para complicar, era cheio de pedriscos pelo caminho, um dos quais tirou a vista esquerda de HELMUT MARKO).
https://www.youtube.com/watch?v=NgPKzCJzdtY
Desculpem, esqueci de avisar que em 0.43s há uma falha na imagem, o melhor vem depois.
O Österreichring na versão Zeltweg, onde se disputou o GP da Áustria no período de 1970-1987, era um monumento à velocidade, com curvas rápidas, variações de altitude acentuadas, e uma paisagem incrível para um autódromo.
Em 1977 a chicane Hella-Licht substituiu a curva Vost-Hugel, que na F1 era feita a cerca de 280/290 km/hora, e falava-se na introdução de uma área de escape na Boschkurve, uma curva descendente de 180º à direita onde se chegava a cerca de 320/330 km/hora,
Mas não mexeram mais nada até 1995, quando o Tilkeísmo alterou por completo o traçado, reduziu a sua extensão, e trocou as curvas de alta velocidade por esquinas de quarteirão.
Assim desapareceu um dos mais espectaculares circuitos da Europa.
E vivam os Bakus da vida.