Ela é irmã da DRS, prima dos pneus Pirelli e conhecida do acordo de restrição de gastos. A regra que permite que os retardatários retornem à volta do líder pode fazer muita gente torcer o nariz, mas é um passo inevitável na direção que a F-1 vem tomando nos últimos anos.
A regra não é exclusividade da categoria e retornou ao regulamento em 2012. No passado recente, a reclamação era de que o reinício das corridas após períodos com Safety Car era prejudicado pelos retardatários, que inibiam a disputa direta por posição. Agora, a bronca é com a demora para a relargada e a falta de justiça com aquele que já teve o trabalho de deixar os retardatários para trás.
Mas o grande motivo do retorno da regra não tem nada a ver com a justiça. Depois de viver 20 anos de domínios, ora dos McLaren, ora dos Williams, ora das Ferrari e de estourar todos os orçamentos imagináveis, a F-1 tomou outro rumo a partir do final da última década e passou a pautar suas decisões sob dois princípios: tornar a categoria mais barata e mais atrativa.
Aquela ideia de gastar os tubos para desenvolver a tecnologia mais avançada de que se tem notícia e os princípios esportivos a la Pierre de Coubertin deram lugar à busca por eficiência, o termo da moda deste mundo ‘verde’, e pelo favorecimento do espetáculo.
Nesse contexto, fatores que aproximam os rendimentos e propiciam disputas ganham espaço, sejam eles justos ou não. Isso justifica, por exemplo, um apetrecho como a DRS, da mesma forma que a tal regra dos retardatários. A ideia, aqui, é beneficiar a disputa, o espetáculo. E não há quem diga que não vem dando certo.
F1 Valencia 2012 – Onboard Alonso vs. Grosjean
Mas é um ponto polêmico. Se a reclamação for de que a demora no reinício pode causar problemas técnicos nos carros, não procede, pois isso deveria ser algo previsto por todos. Além disso, no caso de Valência, esse período a mais foi de duas voltas, nada catastrófico para a corrida.
Se a questão for o prejuízo daquele carro que superou os retardatários, entramos em outra questão: o Safety Car é justo? Nunca foi e a FIA tem trabalhado continuamente, especialmente após o GP de Cingapura de 2008, para assegurar que as posições se invertam o mínimo possível por conta da intervenção, necessária por óbvias questões de segurança. Hoje, os pilotos têm de manter um mínimo e máximo de velocidade e o SC sempre espera o líder.
Nada disso, no entanto, tira o senso de injustiça do Safety Car, algo que só seria resolvido se as diferenças fossem mantidas (por exemplo, Vettel tem 20s de diferença, então para ganhar dele é necessário ultrapassá-lo e abrir 20s). Uma ideia maluca e impraticável para algo que não é apenas um esporte, mas sim um produto consumido avidamente por milhões. Sim, voltamos à questão do espetáculo e ao difícil equilíbrio que todos os esportes buscam – o que nos leva a lembrar da FIFA e de sua relutância em adotar a tecnologia, ou seja, de arriscar tirar um pouco da graça de seu produto.
Tendo isso em vista, a regra dos retardatários é um avanço. Ou alguém preferia ver uma HRT botando de lado a assistir às manobras de Alonso sobre Grosjean pelo segundo posto e Hamilton sobre Raikkonen pelo quarto na relargada?
2 Comments
Ju, tendo em vista as abobrinhas faladas pela RBR sobre o safety car, acho um exagero, pois se formos cair no senso de justo/injusto, fica a dúvida: é justo um piloto vencer com uma escapada do concorrente, um pneu estourado, um erro de pit, uma manobra irregular, enfim, acho preciosismo demais dos taurinos, afinal, justiça por justiça, sabemos que o acaso faz parte da disputa, pois, a falha de um, é a vitória do outro. Agora, foi dureza ouvir que os detritos não punham em risco a corrida! Sinceramente, gostaria de saber qual seria a reação da RBR, se os tais detritos furassem o pneu dos dois carros! Será que dariam piti??? Ps: os caras dominam a categoria há pelo menos três anos, e ainda reclamam? Menos!
Manter a diferença obtida antes do período do SC seria a forma mais justa, mas acho que seria confuso para quem acompanha a corrida nas arquibancadas, pois nem sempre as posições de pista iriam corresponder as posições reais.
Mas isso já foi usado na Formula 1, porém em situação de bandeira vermelha, no GP do Japão de 1994. Que eu me lembre, foi a única vez que vi essa forma de cronometragem em uso. Durante o GP caiu um temporal que obrigou a parada da corrida e na segunda parte os pilotos tinham que “fazer a conta” para saber o qto deveriam abrir para ultrapassar de fato.