F1 O escolhido - Julianne Cerasoli Skip to content

O escolhido

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Fui sentindo uma mudança importante quanto mais corridas ia cobrindo in loco: passei a entender por que alguns pilotos nos quais eu, de longe, não ‘botava fé’ eram tão respeitados por quem estava por lá. É uma imagem construída não apenas pelos resultados em si, mas pela postura e clareza em enxergar pontos a serem melhorados. E não cometer os mesmos erros.

Dentre eles, está Valtteri Bottas. É claro que a complexidade e a rapidez dos julgamentos do mundo da Fórmula 1 às vezes prega peças em todos nós, mas seria uma surpresa se o finlandês não der conta do recado na Mercedes. Isso, mesmo pegando uma bela pedreira como Lewis Hamilton correndo em casa e tendo de tirar o atraso por entrar no emprego novo pouco mais de um mês antes dos testes.

Bottas não é daqueles pilotos que roubam a cena. Não tem lampejos impressionantes de velocidade, nem faz ultrapassagens inacreditáveis. Ao mesmo tempo, não é de perder oportunidades ou de cometer erros e acabar no muro. Com estas qualidades especialmente importantes ao longo de um campeonato, também teve suas corridas marcantes, desde o terceiro lugar no grid GP do Canadá com a fraca Williams de 2013, até um quinto lugar bastante improvável na Malásia ano passado, quando o time novamente perdeu rendimento. Isso sem contar, claro, nos nove pódios.

Qualquer um que tenha visto a carreira de Massa por perto aponta a maneira como Fernando Alonso tomou conta da Ferrari enquanto o brasileiro se preparava para retornar em 2010 como o golpe que o fez ir de protagonista a coadjuvante. Não coincidentemente, um novo Massa surgiu após 2013 – sem as vitórias de antes, claro, mas também sem a vantagem de equipamento do período pré-acidente – e mesmo assim não conseguiu bater Valtteri. Foram três anos com menos pontos e com desvantagem de 3 a 4 décimos em classificação.

O grande motivo para isso é que o finlandês é consistentemente bom. Conviveu com um carro muito ruim no primeiro ano e só passou a ter a oportunidade de mostrar serviço a partir do segundo, quando já era companheiro de Massa. Nos três anos em que esteve ao lado do brasileiro, sempre admitiu estar aprendendo. Mas nunca perdeu o duelo interno, chegando a ficar em quarto em 2014.

Isso é possível ver de fora. Mais de perto, Bottas aparenta ser aquele profissional desejado por qualquer equipe, que entende a importância de trabalhar em grupo, sem precisar exercer uma influência tóxica para o ambiente interno. E também sempre demonstrou muita clareza e estudo para entender o que está errado, lavando a roupa suja em casa.

É um CDF, isso é fato, mas que por trás do ar tranquilo esconde aquela disposição de fazer o que for preciso para atingir seus objetivos.

Nada veio de mão beijada para ele. Na época de kart, era rápido, mas considerado pesado demais para seguir adiante. Cavou uma porta de entrada pela Williams, ajudado por Toto Wolff e vindo da (improvável) GP3, e quando ninguém apostava no time inglês. E agora entra em um duelo, à primeira vista, desigual com um dos pilotos mais vitoriosos da história e que se prepara para sua quinta temporada na Mercedes. Mas o pior erro de Lewis, que acabou perder um campeonato para um piloto trabalhador, seria acreditar que seu novo companheiro é só mais um operário.

13 Comments

  1. Texto esclarecedor como sempre Julianne!
    Como você mesma disse, acompanhar as corridas In Loco, dá uma grande diferença para se observar as coisas, sendo assim aproveito para fazer uma pergunta:
    Nesses três é bem verdade que o Valteri Bottas bateu o Felipe Massa, mas nunca foi com a vantagem com que se esperava (li inclusive que isso teria “diminuído o passe dele no padock, mas não sei se é verdade). Então quer dizer que o Felipe é muito melhor do se pensa correto?
    Sobre não fazer grandes ultrapassagens, podemos dizer a mesma de dois grandes pilotos:
    Emerson Fitipaldi e Allain Prost.
    Eu pelo menos não me lembro de uma grande ultrapassagem de nenhum desses dois.
    Beijos pras meninas e abraços pros meninos!

      • Os brasileiros em geral, não gostam do esporte em si, gostam de ganhar (por assim dizer), um exemplo foi o estouro do MMA no Brasil quando o Anderson Silva e o José Aldo eram campeões e depois das derrotas deles o esporte foi “abandonado” no país.
        Seguindo essa linha, o Felipe Massa sempre foi tido como um piloto “fraco” aqui no Brasil, mas quem gosta realmente do esporte, sabe que alguns fatores dificultaram (e muito) a carreira dele.
        Em 2009 o Kimi Raikkonen estava para se aposentar.
        Ele sofreu o acidente e ninguém sabia se ele voltaria a correr.
        Assim o Fernando Alonso ficou livre para negociar com a Ferrari como quisesse, sendo primeiro piloto, tendo privilégios, etc…
        Então se com tudo isso e com os seus 30 e tantos anos (não lembro ao certo a idade dele) ele conseguiu conseguiu dificultar a vida do Valteri Bottas, ele seria pelo menos acima da média não? Pelo menos é a noção que tenho daqui.
        Abraços pros meninos e beijos pras meninas!

    • Nato,

      O Ratto e o Prost sempre tiveram bons carros na F-1 quando eram campeoes. Tira Coopersucar do pensamento no caso do Ratto. Prost sempre foi consistente, rapido, preciso… segundo F. Williams o melhor piloto que ele teve. Ate mais que o Piquet.

      Naquela epoca podiam esperar algo acontecer com os carros a frente…nao havia motivos riscos muito altos, e isso encaixava bem com a personalidade deles. Por outro lado o Ratto teve alguns momentos bem diferentes na indy, onde se mostrou bem mais corajoso e agressivo (mas nunca sujo como um Regazzoni). Quem cobriu a carreira dele de perto durante muitos anos me confirmou que era mais rapido que a lenda diz. Atrapalha que boa parte da curta carreira dele na F-1 nao teve cobertura total e depois foi aquela tristeza com coopersucar.

      Deixou a F-1 com apenas dois titulos. Assim como Alonso algo bem ”injusto”.

  2. Oi, boa tarde. Uma questão: um “operário” não poderia ser campeão?

  3. Amei o texto, acho que o Bottas vai ser o nome da temporada 2017!!

  4. Eu sempre imaginei que Bottas poderia estar na Mercedes desde o ano passado, se Rosberg não tivesse lutado pelo título de 2015. Como “cria” do Wolff, acho até que isso deve ter sido considerado por lá, já bem antes…
    Mas acho que ele vai dar muito trabalho para o Hamilton. Tenho até o palpite de que a tensão interna que a equipe sempre tem de administrar, pode ocorrer novamente em 2017 por conta de possíveis boas performances de Bottas. Acredito que ele não sai mais de lá.

  5. Para mim a escolha por Bottas tem ligação direta com o desejo da Mercedes en tentar diminuir a soberba de Hamilton. Um piloto como Wehrlein não seria o suficiente para isso. Vejo o perfil de Bottas muito proximo ao de Rosberg. Para ganhar ele deverá trabalhar da mesma forma, tirando o máximo possível de vantagem nos erros de Hamilton.

  6. Bottas vai ter que cumprir um bom papel na equipe Mercedes nessa temporada, pois seu contrato é de somente 1 ano e vejo um mercado mais extenso de pilotos top livres em 18, como Fernando Alonso e Sebastian Vettel , cujo seus ” casamentos com suas equipes” andam ” abalados” e se faltarem resultados e bem possivel que queriam outros ares em 18.
    Mas Bottas sim é um bom piloto, andam bem em classificações e é muito consistente em corridas, não quero classifica-lo como segundo piloto da Mercedes, mas não vejo nele condições de bater de frente com Lewis

  7. Não sei, acho que o Bottas tem um algo a mais que Rosberg.
    Era incrível ele estar nos top 5 com a Williams, enquanto Massa em 10º, lutando com Force India, Haas, Toro Rosso e McLaren.
    Hamilton que se cuide!

  8. Não sei o que esperar, como Kimi Raikkonen gosta de dizer, vamos esperar e ver… (Esse não sofre por antecipação)… Acho o Bottas muito consistente mas algo me diz que ele deveria ter sido um pouco mais rápido que o Massa no geral para bater de frente com o Hamilton… Vamos ver, esse ano com pneus mais largos e mudanças de regras promete ser interessante!!!

  9. Eu não sei…
    Acho que com esses carros em nova configuração, caso se confirme que são uns “monstros”, talvez o Hamilton faça valer o seu talento, que sempre combinou com uma direção agressiva.
    O começo do ano vai dar o tom, mas não espero um Bottas submisso, tendo em vista seu histórico de divisão de curvas com Kimi.


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