Era um duelo esperado e que, curiosamente, nunca tinha acontecido. Hamilton chegou a liderar o campeonato de 2010 , mas cometeu erros bobos em duas provas seguidas e perdeu contato com os líderes. Em 2012, foi a McLaren que pisou na bola algumas vezes, embora tivesse feito seu último grande carro. Mas desta vez o embate estava claro desde o início.
De cara, o inglês não foi bem em corridas nas quais a Mercedes esteve perdida no acerto, como na Rússia e especialmente em Mônaco, enquanto o alemão maximizou todas as oportunidades e, assim, manteve-se na liderança do campeonato até além de sua metade.
Isso até chegar ao Azerbaijão. Antes da prova, era grande a expectativa em relação ao rendimento de Hamilton, justamente por se tratar de uma pista de asfalto bastante liso e disputada sob calor forte, algo que vinha se mostrando prejudicial ao W08. E o inglês, ajudado pela longuíssima reta (na qual o motor Mercedes sofria menos de-rating que os rivais e as Ferrari sofriam por terem um carro que gera mais pressão aerodinâmica e, consequentemente, mais arrasto), parecia ter a corrida sob controle até uma reação infeliz de Vettel, provocando um toque, criar a grande crise entre os dois.
A maneira como ambos lidaram com aquele momento acabou sendo decisiva. Vettel ficou por semanas fugindo das perguntas sobre o toque obviamente proposital – na verdade, só admitiu mesmo o erro em Abu Dhabi – e de certa forma a Ferrari vestiu sua carapuça. A cada derrota que se seguida, como as lavadas de Silverstone e de Monza, esbanjava confiança, assim como sua equipe, sempre negando que trabalhava com o motor no limite. Até que esse limite ficou claro.
Foi até cruel a maneira como Vettel e a Ferrari afundaram no campeonato, com uma sequência que mais pareceu roteiro de filme. Uma largada mais agressiva no molhado em Cingapura e um strike que tirou os três rivais mais fortes de Hamilton de seu caminho em uma prova em que ele sequer sonhava com o pódio, seguido pela quebra na classificação na Malásia e a vela de ignição (!) não trocada antes do GP do Japão. Talvez, assim como para Vettel em Baku, tenha faltado à própria Ferrari olhar um pouco mais para dentro.
Isso não tira o brilho de uma equipe que cresceu quando todos duvidavam e que continuou desenvolvendo seu carro mesmo tendo alguns ‘truques’ bloqueados pela FIA no meio do caminho. Também não tira os méritos de um piloto que andou em um nível muito forte, por mais um ano. Mas tirou o campeonato.
Enquanto isso, do outro lado, Hamilton viu em Baku a oportunidade de crescer e a partir daí focou em fazer Vettel sentir golpe atrás de golpe. Para a equipe, o efeito foi o mesmo: Baku foi o início da virada para entender a “diva” e fazer suas vontades.
Mas o efeito de tudo isso começou a ficar claro em Spa. Hamilton na quinta-feira disse que tinha ido para a segunda parte da temporada “para ver sangue”. E mesmo com o sorriso no rosto, dava para entender o que ele queria dizer. Depois de anos de certa forma acomodado ao lado de Rosberg, tinha percebido que era necessário dar um passo adiante.
Juntamente com o crescimento da Mercedes, Hamilton também se agigantou e fez poles incríveis em cinco das seis provas seguintes, colocando-se em posição de aproveitar-se dos infortúnios do rival e liquidar a fatura com sobras.
O título de 2017 foi inquestionável, mas o que vem adiante? Por quanto tempo Hamilton consegue se manter em um nível tão alto? E o que Vettel pode fazer com uma equipe mais afiada? Ainda bem que 2018 está logo aí.
16 Comments
É engrassado que a falta de um carro competitivo impede o duelo de grandes pilotos. E vai ficar faltando o duelo destes dois com o Alonso.
Muito legal ver dois excelentes pilotos indo ao limite. Um Hamilton maduro e mostrando que saber administrar uma corrida e usando sua velocidade pura para fazer poles, inevitável não lembrar do Senna.
E um Vettel, menosprezado por alguns, mostrando porque é tetra campeão. E em uma equipe que não era tão dominante quanto a Mercedes foi.
Vai fazer falta o Alonso no duelos contra eles. Mas que venha o Ricciardo e o Verstappen.
O quanto um clima melhor dentro da equipe sem um piloto que apesar de um nível menor sabe usar as deficiencias de Hamilton como Rosberg, Hamilton teve a equipe toda a seu dispor e uma saudável disputa interna e isso teve grande influencia.
O grande ponto que pesou contra Vettel é a vontade de fazer a Ferrari ganhar, talvez isso muito mais que o Hamilton fez que ele cometesse os poucos mas decisivos erros.
Tenho um pouco de dúvida se foi tão inquestionável assim esse título, Hamilton aproveitou os erros da Ferrari? Sim. Amadureceu como piloto e ser humano durante o campeonato? Sim.
Só que Vettel zerou três provas seguidas e isso que permitiu a virada do inglês, não vou entrar em “se” Pq não convém, mas esses erros facilitaram (bastante) a virada do Hamilton, esses são os fatos.
Claro que isso é apenas ponto de vista, e pontos de vista não servem para muita coisa além de uma troca de opiniões saudável.
Ótimo texto como sempre Julianne!
Agora uma curiosidade, como ficou o clima entre os dois pilotos após o toque no Azerbaijão?
Grande abraço abraço a todos.
Nato, o Vettel e a Ferrari só “zeraram” três provas por que o Hamilton deu uma de “Piquet vs. Mansell”, com suas devidas proporções. Ele conseguiu desestabilizar a Ferrari e Vettel, que tem pavio curto na pista e como Já disse Julianne, menor racecraft.
Ele zerou em duas, certo? Uma por acidente e outra por quebra.
Ops!
Falha minha Julianne, acabei errando e colocando três abandonos na conta de Vettel/Ferrari.
Rs
Oi Muguelo,
Fiz uma contas rápidas aqui, e se acertei na conta, no momento do primeiro abandono de Vettel ele tinha 235 pontos. Já o Lewis tinha 218 pontos, se a corrida ocorresse na normalidade, com Vettel em primeiro e Lewis em quarto, no final da corrida o planar estaria 260 pro alemão contra 230 pro inglês.
Ainda seria possível de Hamilton virar o placar? Claro, ainda mais que viriam provas com vantagem pro carro da Mercedes.
Não estou dizendo que o título não foi merecido, que não foi um grande campeonato por parte do Lewis, estou apenas dizendo que ele teve a vida facilitada pelos abandonos de Sebastião e sendo o melhor piloto no melhor carro, tinha a obrigação de virar o campeonato a seu favor. Salvo é claro se o motor quebrasse, mas a Mercedes também fez um trabalho impecável diferente da Ferrari que pagou caro por não ser perfeita e deixar uma vela de ignição entregar o campeonato de pilotos de vez.
Fora esse ponto de vista o texto da Julianne é mesmo excelente!
Como disse antes, estou expressando de forma educada para termos o espaço de troca.
🙂
Grande abraço a todos.
Mas pera, o primeiro abandono do Vettel não foi em Cingapura? E nessa corrida o Hamilton já liderava o campeonato por três pontos. O inglês possuía 238 e o Vettel 235. Com o Vettel vencendo ele iria a 260 pontos, e Hamilton, caso ficasse em 4° teria 350, uma diferença de 10 pontos, apenas.
Em tempo,
Claro que o que escrevi antes não tira o brilhantismo da dupla Hamilton/Mercedes que terminaram todas a provas do ano sem um único abandono.
Grande abraço a todos!
Julianne, desculpe fugir do tema, mas tenho algumas questões específicas sobre o trabalho de vocês e algumas coisas que vejo nas transmissões, se você puder responder, ou quem sabe ser um post para as férias, ficaria muito grato.
1 – No cercadinho na hora da entrevista que os pilotos são obrigados a passar, eles tem um número mínimo de perguntas pra responder? Exemplo num dia que estão p. da vida.
2 – Ainda no cercadinho os pilotos são sempre obrigados a ter o assessor da equipe ao lado?
3 – Você conseguiu uma exclusiva com o Alonso, isso você consegue diretamente com a assessoria do piloto ou necessita da autorização da equipe? Isso tem alguma ordem, por exemplo, os jornalistas dos país do piloto tem alguma preferencia?
4 – Você assiste a corrida do cercadinho, da sala de imprensa ou depende de GP para GP?
5 – De todos os GPs qual o melhor recebe a imprensa nos seguintes itens? Estrutura de paddock, facilidade de acesso para o cumprimento do seu trabalho e tranqulidade para trabalhar? E o pior nesses 3 itens.
Acho que é só….rs
Um ótimo final de ano, muita paz e alegrias e muitos Km de corrida e de GPs
Vamos lá, Daniel.
1 e 2. Não existe número mínimo, mas é até por isso que o assessor está lá: eles sabem que a exposição das marcas é importante, mesmo se o piloto não está em um bom dia, mas também têm de saber dosar quando é melhor falar o mínimo possível. Nesse sentido cada um trabalha de um jeito. O Hamilton pode estar irritado que fala com todo mundo. Dá respostas curtas e sem conteúdo, mas fala. Vettel, que é sempre muito mais prolixo, faz o mínimo (alemães e italianos).
3. É com a assessoria da equipe. Geralmente os jornalistas mais conhecidos, que vão a muitas corridas, têm preferência.
4. Geralmente da sala de imprensa, mas em corridas com figuras importantes abandonando, como foi Baku e Suzuka, fui para o cercadinho e acabei vendo de lá, o que é sempre pior pq não dá para acompanhar tão bem.
5. Acho que as provas mais fáceis para se trabalhar são Bahrein e Cingapura. Abu Dhabi e Suzuka também são bons. As piores têm que ser Brasil, Mônaco e Silverstone. Nas duas primeiras a sala de imprensa é fora do paddock e na última não tem janela, comida, o paddock é imenso e fica tudo muito espalhado.
Um ótimo final de ano para você tb!
Jú, muito obrigado pelas respostas e pela atenção.
Na segunda metade do campeonato Hamilton e a Mercedes cresceram muito. Mesmo que tivesse vencido em Cingapura não acredito que o Vettel conseguisse vencer o campeonato. Também acho que o Hamilton é muito bom em volta lançada mas a Mercedes é disparada a melhor equipe em treino classificatório há anos. E neste caso o crédito vai mais para o carro do que para o piloto. No final achei merecido o título do Hamilton que foi um piloto melhor dirigindo um carro melhor na maioria das corridas. Sobre a Ferrari eu fiquei satisfeita em ver a forma como a equipe conseguiu manter o bom desenvolvimento do carro durante o ano. Quanto ao Vettel excelente piloto fez um bom campeonato mas precisa ser mais calmo e reflexivo. Parece mais italiano do que alemão como o próprio presidente da Ferrari já comentou.
Alison com o projeto total na prateada e nem resquícios do vermelho bem nascido feito por ele.
Escrevam, Hamilton vencerá com muito mais facilidade o campeonato de 18.
O mais importante não é o carro ser bem nascido, mas a equipe manter seu desenvolvimento durante toda a temporada. E isso a Ferrari fez bem, sem qualquer resquício de Allison, que deixou a equipe há um ano e meio.
Entendo os argumentos da Julianne sobre o crescimento do Hamilton na 2ª metade do campeonato, mas não dá para desconsiderar os efeitos da fase asiática na disputa pelo título. Hamilton pontuou em todas, tendo só um problema de confiabilidade: a troca do câmbio na Áustria; já Vettel zerou duas e largou do fundo do grid na Malásia. Em um campeonato disputado ponto a ponto como levava a crer, ficou claro que isso foi determinante. Fora que a Ferrari “queimou” dois turbocompressores ainda no início da temporada e esteve “pendurada” por todo o restante da temporada.
No mais, honestamente, acho que os acontecimentos de Baku foram se diluindo ao longo do tempo. Lógico que foi um momento marcante, mas não decisivo para o rumo do campeonato.