F1 O que esperar de 2024? - Julianne Cerasoli Skip to content

O que esperar de 2024?

Entrando na reta final do Blog Takeover 2023, deixo vocês com o único que arriscou uma abordagem mais técnica e também alguns palpites para a próxima temporada. Tem alguns pontos com os quais eu não concordo. Se a suspensão da Red Bull não fosse tão dura, eles não sofreriam em pistas onduladas. E a Ferrari sofreu, sim, com porpoising e andou mais alta do que podia em várias pistas. De qualquer maneira, é válida a análise.

Por Ney Meirelles

O próximo ano será o terceiro campeonato disputado com as novas regras introduzidas em 2022. Essas duas temporadas permitiram ter uma visão geral da evolução dos projetos de cada equipe. Algumas soluções ficaram óbvias e outras ainda são difíceis de converter em performance nas pistas. O que já sabemos até agora?

O fluxo de ar por baixo do carro segue duas linhas: primeiro receber o ar da dianteira e fazê-lo escoar pelas laterais do fundo, logo abaixo das tomadas de ar de refrigeração. Segundo, distribuir o fluxo de ar pelo fundo na traseira para ganhar downforce com o efeito-solo. Adrian Newey, o maior vencedor da história da F1, descobriu logo cedo esse caminho e as suas armadilhas.

O carro deve ficar o mais baixo possível para otimizar o efeito-solo, mas a suspensão não pode ser muito dura para lidar com as imperfeições da pista. Carros mais altos perdem muito downforce, mas não passam por porpoising. Em 2023 a Red Bull criou uma suspensão que não é tão dura, mas consegue manter uma distância constante ao solo, mesmo na zona de frenagem ou nas curvas.

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O gerenciamento dos pneus em ritmo de corrida tem relação com uma boa distribuição de peso do carro. Mas para poder trabalhar nessa distribuição, primeiro o carro precisa ser “magro”. Ano passado somente a Alfa Romeo conseguiu iniciar a temporada com o peso mínimo permitido. E não se trata de atingir o peso mínimo, mas de ser menor ainda. Só assim a equipe pode distribuir lastro no carro de maneira a equilibrar o desgaste de pneus. Essa distribuição muda muito de pista para pista. Freadas muito fortes, curvas de alta, média ou baixa velocidades pedem arranjos diferentes. Aparentemente a Red Bull foi a que mais evoluiu nesse aspecto. Por outro lado, a Ferrari ainda está pesada.

Ferrari e Mercedes sofreram muito com porpoising no ano passado. A Ferrari conseguiu resolver esse problema para a temporada de 2023, mas a Mercedes ainda é atormentada.

Com esse quadro, o que esperar de 2024?

As equipes que têm um bom projeto esse ano vão buscar uma melhor distribuição de peso do carro. Esse balanço é a próxima etapa de desenvolvimento com um objetivo claro: extrair a melhor performance dos pneus em ritmo de corrida.

Red Bull

O projeto deste ano apenas evoluiu do que era muito bom. Mudou um pouco as tomadas de ar da refrigeração melhorando o fluxo por cima da carenagem para diminuir o arrasto. Também refinou os fluxos do assoalho na traseira para melhorar a distribuição do efeito-solo. Mas o grande salto do RB19 desse ano foi com a suspensão: macia na medida, sem alterar a altura do carro em freadas e curvas. O resultado, todos viram.

Para o ano que vem, a Red Bull já testa componentes desde Austin. Sistema de freios, eletrônica e diminuição de peso serão o foco. Lembrando que Verstappen teve alguns problemas com controle de troca de marchas em algumas corridas. Hamilton choramingou que a Red Bull não traz atualizações desde agosto. Sim, a equipe já trabalha no carro do ano que vem desde o meio do ano! E tem o Max Verstappen.

Mercedes

Insistiu no projeto zero-pod para esse ano. Esse conceito reduz muito o arrasto na parte superior do carro, mas é limitado na tarefa de escoar o ar frontal pelas laterais. Essa descoberta só veio após os resultados da pista. Foi quando Toto Wolff disse: “o conceito zero-pod nos levou a uma rua sem saída”. Depois disso iniciaram os pacotes de atualização que só chegaram às pistas em Mônaco. Então podemos dizer que a Mercedes iniciou a temporada 2022 em maio de 2023. Para aumentar o inferno astral da equipe, o efeito-solo do carro só se mostrou eficiente com altura muito baixa.

O time levou o restante da temporada tentando entender a relação entre a altura e o acerto de suspensão. Nesse martírio até o purposing reapareceu em algumas etapas. Em outras o desempenho só aparecia com a suspensão muito baixa (lembra da desclassificação sofrida em Austin por ter um carro muito baixo?).

A equipe tem uma grande estrutura, mas perdeu muitos profissionais para a Red Bull e Aston Martin. O clima de Hamilton é de ceticismo e o rádio de Russell durante as provas mostra que ele está visivelmente irritado. Toto Wolff declarou que vai apostar alto no projeto do ano que vem e que vai fazer mudanças radicais para compensar o atraso de um ano e meio – mesmo que isso seja um risco.

Traduzindo: Toto perdeu 999.950 dólares na roleta e sobrou umas fichas que somam 50 dólares. Ele vai apostar todas as fichas em um número só. Por isso entendo a desolação de Hamilton. Os anos de 2022 e 2023 foram os únicos nos quais ele não ganhou ao menos um GP.

McLaren

Outra equipe que enfrentou “crises de projeto”, mas reagiu de forma completamente diferente. Logo nos testes da pré-temporada Zak Brown disse que seu carro era ruim e que o projeto tinha ido na direção errada. Pior, disse que atualizações profundas só chegariam no GP do Azerbaijão. É preciso muita coragem para um dirigente ser tão sincero sobre um projeto ruim. Imagine enfrentar a insatisfação dos sócios da equipe e dos patrocinadores. Por outro lado, colocando o peso nas suas costas, Zak aliviou a pressão sobre a sua equipe técnica.

E os resultados começaram a aparecer no meio do ano, no GP da Áustria. Daí para frente foi só alegria. Curioso ver como eles encararam um fracasso inicial e como viraram protagonistas de vitórias no fim do ano. A maneira de administrar a equipe se mostrou mais reativa e eficiente do que a Mercedes – lembrando que as duas equipes têm o mesmo motor. A McLaren teve um bom carro e adquiriu muito conhecimento com ele esse ano. Além disso, seu projeto de 2024 já vai nascer no novo túnel de vento da equipe. Vai evoluir e pode ser a segunda força ano que vem.

Aston Martin

Começou muito bem, mas decaiu muito após as novas diretrizes da FIA para impedir a flexibilidade das asas. Apesar de ser um projeto bom, talvez esse fosse o ponto chave do bom desempenho. O investimento que está sendo feito na equipe ainda vai levar tempo para refletir nos projetos. Como exemplo, o novo túnel de vento será um dos melhores da F1, mas só ficará pronto no fim do ano que vem. A equipe tem excelentes profissionais e deve dar um passo. E tem o Fernando Alonso.

Ferrari

Ah, a Ferrari… Administrada com toda a frieza dos italianos… Parece que o destino da Ferrari é apresentar drama e emoção. Será rápida? Será eficiente? Vai melhorar ou piorar? Não importa. Só nos emocionem. A F\errari tem um pacote muito bom – carro e motor. No começo do ano tinha velocidade, mas não conseguia transmitir confiança para os pilotos. As atualizações contornaram o comportamento arisco e deixaram o acerto mais previsível. Agora só falta um item: fazer com que o carro não torture os pneus em ritmo de corrida.

Acho que ela projetou um bom conjunto para uma volta lançada, mas ainda não sabe como extrair o melhor na relação entre desempenho e endurance. Se ela conseguir entender como gerenciar o desgaste de pneus, seu projeto pode ser refinado e chegar perto da Red Bull. Ironicamente, os maiores problemas da Ferrari não vem dos carros. A estratégia da equipe pareceu perdida às vezes. Chegaram a perguntar a opinião dos pilotos durante as provas. Também não é fácil administrar dois pilotos igualmente bons. A Ferrari deve apresentar um carro melhor, mas numa temporada tão longa, não pode cometer erros administrativos.

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