Os dois primeiros colocados na tabela são Alonso e Webber, mas nem parece. Não há a rivalidade de anos anteriores, a troca de farpas, as provocações. O espanhol está no lucro, e sabe disso. Já o australiano conhece bem quem são seus verdadeiros rivais.
Na prévia do GP Brasil, não mediu palavras para demonstrar seu descontentamento. “Não deveria estar na posição que estou e isso tem sido inconveniente”, Webber escancarou o que todos suspeitavam a respeito do tratamento que recebe na Red Bull. “Tecnicamente, tudo é muito bom, mas emocionalmente…” Nem precisou completar a frase.
É impossível não lembrar de 2007. Justamente de Alonso, enfrentando Hamilton, outra cria de um programa de desenvolvimento de pilotos, com a mesma postura “contra tudo e contra todos”, batendo de frente com uma administração que negava a existência de um favorecimento claro – se não técnico, pelo menos de suporte, como frisou Webber –, lidou mal com a situação e perdeu um campeonato ganho.
Nada disso é coincidência. Alonso e Webber têm muito em comum. Ambos vêm de países pouco tradicionais no automobilismo, tiveram que sair de casa cedo para conseguir o que queriam. Isso em parte explica uma tendência em encarnar o espírito de lutador, de franco-atirador, que ambos têm – assim como um certo desprezo por quem teve um caminho mais fácil para chegar onde está.
Entraram na F1 pela mesma porta: uma vaga na Minardi sob contrato de Flávio Briatore, a quem são leais até hoje. E não por acaso. Quem, no início dos anos 2000, estenderia a mão a um espanhol de 19 anos, que havia conquistado tudo no kart, mas tinha pouquíssima experiência em carros? E um australiano que tinha começado na F-Ford ainda em 94 e tentou até andar de turismo?
Com a ajuda do italiano, testaram os Benetton, que viriam a ser a Renault. Webber, cinco anos mais velho, foi o piloto reserva em 2001. Alonso, em 2002. E daí em diante suas carreiras tomaram rumos diferentes.
Webber assinou com a Jaguar. Curiosamente, a equipe que hoje é a Red Bull. Relegado ao meio do pelotão, ficou conhecido como um piloto veloz em treinos, inconstante em corridas, fama que carregou pelos anos de Williams (2005 e 2006). No ano seguinte, foi para a Red Bull “por causa do Flávio. Ele parece que tem uma bola de cristal. Estava certo sobre a Williams e eu não ia discutir com ele.” Os frutos começaram a surgir a partir do ano passado e, aos 34 anos, está finalmente no lugar certo e na hora exata para ser campeão.
Mas, como sempre, há um Alonso no caminho. O espanhol foi promovido a titular na Renault em 2003, ano de seu pior acidente na categoria, no Brasil, quando bateu nos detritos do carro de… Webber. Dois anos depois, a Renault aproveitou-se de uma grande mudança nas regras e tornou-se grande (como a Red Bull hoje?), permitindo o bicampeonato ao asturiano.
Depois de um ano desastroso na McLaren, Alonso voltou à equipe francesa, já em decadência e, no final de 2008, esteve próximo de ser companheiro de Webber na Red Bull. Pelo menos dessa vez, não era para ser. Agora, a julgar pela trajetória do “espelho” espanhol, talvez seja melhor o australiano procurar outra casa.
15 Comments
Lu, ótima análise. E não é que dá para fazer várias analogias entre os dois postualntes ao título? Também acho que já está na hora de Weber repensar sua permanência na equipe energética. Alonso aturou só um ano. Nelson Piquet dois. Prost dois, Mas, se ele for o campeão? Apesar de ser torcedora do Alonso e querer muito o Tri se o título ficar com o Weber não vou achar tão ruim.
Se ele não ganhar nesse ano fica meio difícil, você não acha? Ano que vem eles colocam os pingos nos is logo no início do ano na Red Bull e o clima pra ele vai ficar pesado.
Mas gosto da atitude dele. Dá a cara a tapa mesmo estando na frente.
Acho sim. Eu também gosto da atitude dele. Nunca achei Webber um piloto brilhante, mas essa temporada ele está muito aguerrido e também estou gostando de suas atitudes.
ops… Lu não. Esse meu teclado novo é uma porcaria. Eu não consigo me acostumar com ele. Juuuu, sorry.
Ju, estava aqui pensando. Nelson Piquet e Alain Prost saíram das suas respectivas equipes como campeões. Uma vez li uma entrevista do Prost em 2007 na época do pega entre Alonso e Hamilton e ele disse que o fator psicológico/emocional faz uma grande diferença na conquista de um campeonato. Vamos ver quanto tempo Mark Webber irá agüentar isso tudo.
P.S.: fico pensando no meu Max Weber e sempre escrevo o nome do Webber de forma errada…
No nível de competitividade deles, qualquer detalhe faz diferença. Imagine pro Webber (muito culta você confundindo com o Weber) ver o Marko recebendo o Vettel com um abraço depois da quebra do motor. Ele, que já é meio “endurecido” pela vida de uma certa maneira, se sente acuado. Daí a importância de se trabalhar politicamente dentro da equipe, o que muita gente despreza.
O Alonso saiu de uma equipe veloz e foi para uma Renault da vida, foi “macho”… Mas era jovem, 26 anos, e ainda tinha na bagagem dois títulos mundiais, ou seja, qualquer equipe grande, na primeira oportunidade que tivesse, iria contratá-lo sem medo.
Agora vamos ao Webber…
34 anos, nenhum título na bagagem, e está em um carro de ponta, como ele nunca antes possuiu na F1, “coitado”.
Caso saia da Red Bull, qual equipe grande irá contratá-lo?! Não vejo isso acontecer.
Se ficar, por exemplo, “mofando” dois anos em uma equipe média, assim como fez Fernando Alonso, ele ficaria com 36 anos e sem título no currículo, enfim… As portas estariam chumbadas para o Australiano.
Por isso, acho que ele tem que ficar, agarrar com todos os dedos a oportunidade que está tendo na RBR, nem pensar em querer sair, brigar com a equipe e/ou brigar com o Vettel, enfim, fazer a parte dele, ganhar corridas e liderar o campeonato, assim como fez o “ano inteiro”.
ELE mostrou que PODE, mesmo sendo o “patinho feio” da equipe, ganhar do “preferido”.
PS: Não gostei nenhum pouco das insinuações que ele deu aqui no Brasil, isso só atrapalha a ele próprio, e ainda por cima, cria um clima pesado dentro da equipe, acabando por favorecer os rivais.
Se não está contente, se vai querer ficar insinuado eternamente que o favorecido é o Alemão, então que saia, vá pra Pu…(Censurado), vá correr, quem sabe… em uma Hispania da vida.
Falar não resolve, tampouco insinuar, por isso exponho a Premissa >>> Quando as suas opiniões/desejos se perdem em meio ao favoritismo, o melhor que se tem a fazer é ficar calado e pisar no acelerador… Isso sim, mais do que qualquer outra coisa, cala a equipe, e acaba por mostrar que estão com o “preferido” errado.
GN’R
Gosto da atitude dele porque ele só começou a reclamar quando venceu. Achei perfeito.
Mas, como você, não tenho certeza se, no caso dele (que é diferente do Alonso pelos motivos que você citou, idade e talento) vai funcionar.
O que imagino (de longe, é sempre difícil saber) é que ele vê essa como a única oportunidade dele. Se ficasse quieto, iriam deitar e rolar em cima dele. Se falasse, talvez tivesse uma chance, pela pressão externa para que a equipe (que, lembre-se, é de uma marca de energéticos e está, ainda mais que as outras, preocupada com sua imagem) tomasse decisões mais parciais.
Muitos jornalistas estrageiros muito bem informados (cito e recomendo aqui Leo Turrini e James Allen) dizem que a situação dele lá é insustentável e que ele não fica. E apontam a Ferrari como alternativa, o que explicaria a frequente ida de Briatore a Maranello nos últimos meses. Acho difícil, mas eles certamente sabem muito mais que eu!
Estou com você nessa, só não concordo com a citação: “eles certamente sabem muito mais que eu”… Pois às vezes, boatos não passam de boatos.
Digo hoje >>> O Webber jamais irá pra Ferrari. (Poderia enumerar os meus “porque”)
* Pode dar um “Print Screen” e me cobrar depois.
GN’R
Boa Análise Ju..
Só o ano desastroso..Vice-Campeão do Mundo em igualdade pontual com o “Minino” a quem papai adoptivo para ajudar disse “.. não corremos contra a Ferrari corremos contra o Fernando..”(sic)
Bacci
Muito interessante essa comparação, Julianne. Mas apesar das aproximações das trajetórias, pelo que você expõe, parece que a opção de cada um em momentos-chave tem sido decisiva! Fico imaginando se eles têm plena consciência desses momentos, se conseguem ter clareza do que fazer antes de… fazer! Acho que o mais “consciente” no momento “exato” fará a diferença…
Parabéns pelo belo blog,
Josianne
Bem-vinda! A próxima decisão do Webber talvez seja a mais decisiva delas…
E tem gente que ainda acredita que a McLaren não faz jogo de equipe…
Quem procura acha! Achei seu espaço, Ju. Vou fazer meu primeiro comentário. Já deixo avisado que acompanho F-1 há anos e penso diferente de um monte de gente e do Galvão também. Olha só, tanto Alonso quanto Webber tem em comum ter “trombado” com o Briatore. Além disso, Webber, estando com o melhor carro, tem tudo pra ser campeão, caso contrário, eu também acho que em 2011 fica difícil. Outros pilotos (?) como rubinho e massa já tiveram por anos o melhor carro e… nada. Por ex.: rubinho é o mais experiente, segundo Galvão é habilidoso na chuva (discordo totalmente), só de F-1 já correu 18 vezes em Interlagos. Aí vem o Hulk. Nunca pisou em Interlagos. Tido por Galvão como mais um, digamos, no máximo mediano e… faz a pole. Mais uma prova que rubinho não é de nada.
Nem sempre ter o melhor carro resolve. É uma questão de aproveitar a oportunidade, e Rubinho e Massa não o fizeram. Rubens, acredito eu, só teve a chance da Brawn, porque o Schumacher sempre foi muito melhor que ele, dentro e fora da pista. Em 2009, a péssima 1ª parte do campeonato acabou com a chance dele.
Massa tinha tudo a seu favor em 2008. A equipe mudou o carro para se adaptar ao estilo dele mesmo quando Kimi liderava o campeonato, antes do Canadá. Mas ele cometeu muitos erros – Malásia, Inglaterra, Japão -, assim como a equipe, e perdeu com o melhor carro.
Já o Hulkenberg tem um currículo melhor que ambos os brasileiros nas categorias de base e vem fazendo uma brilhante 2ª parte da temporada. Seria um absurdo ele não conseguir uma vaga ano que vem.
E esqueça o Galvão. O julgamento dele é deturpado pelo produto que ele vende.