F1 Os agressivos andam economizando pneus. Mas como explicar? - Julianne Cerasoli Skip to content

Os agressivos andam economizando pneus. Mas como explicar?

Um piloto mais agressivo desgasta mais o pneu e um com estilo mais leve o protege, certo? Nem mesmo o que parece lógico é uma verdade absoluta na F-1 hoje em dia. Quem explica é Bruno Senna, em entrevista publicada aqui no TotalRace e conduzida com as perguntas dos leitores:

“Meu estilo de pilotagem é mais parecido com o do Button. Tenho um estilo mais arredondado e suave nas curvas. Isso funcionava perfeitamente com os pneus da Bridgestone, só que com os pneus Pirelli, isso é um negócio que não funciona tão bem. Pode ver até que o Button perde um pouco. Se sua curva demora um segundo a mais do que os outros, você está ferrado. Você irá sofrer no ‘long run’. Gosto de um carro que é muito neutro, ou até um pouco saindo de traseira, mas com os pneus Pirelli você não pode fazer isso. Esses pneus favorecem os pilotos que têm um estilo de pilotagem mais agressivo como o Pastor, o Alonso e até mesmo o próprio Hamilton, que estão tendo vantagem com relação a seus companheiros de equipe, pois já têm naturalmente este tipo de pilotagem. Fazem o pneu durar mais e conseguem tirar o máximo. No da Bridgestone, qualquer tipo de pilotagem funcionava, e com esse pneu, diminuiu muito mais a janela.”

Afinal, o que é ser agressivo? Geralmente, usamos esse conceito para descrever um piloto que deixa para frear no limite, entra muito forte na curva e vira o volante de forma quase violenta. Nada disso combinaria com a ideia de pneus sensíveis que se tem dos Pirelli.

Mas, como de costume quando o assunto é F-1, a verdade é bem mais complicada do que esse pensamento superficial. Como Bruno explica, esse piloto que entra, digamos, mais ‘decidido’ na curva tende a sair dela mais rapidamente, ou seja, fica menos tempo virando o volante. E o pior que o piloto pode fazer para os pneus Pirelli é guiar de maneira que aumente o tempo em que a borracha sofra pressões laterais e longitudinais, ou seja, o pior cenário é uma condução na qual se vira demais o volante no meio da curva.

Vocês podem pensar: é claro que o piloto terá de virar o volante na curva! Mas esses pilotos chamados de agressivos por Bruno – lista que pode aumentar com nomes como Vettel, Grosjean e até mesmo Schumacher – tendem a virar violentamente o volante antes da curva e já entrar nela apontando para a saída. Assim, enquanto o carro a percorre, não mexem muito no volante. Ao mesmo tempo em que isso ajuda a retardar a degradação, acelera o processo de gerar temperatura nos pneus em classificação, ou seja, os coloca mais perto da tal janela de funcionamento, a grande chave da temporada.

É lógico que isso é apenas um dos fatores que degrada os pneus. Sabemos o quanto as características do carro podem ajudar e temos visto o quanto o acerto do carro influi. Mas, como Bruno também ensina, um estilo propício ao bom uso dos pneus ajuda também nisso, ao possibilitar um acerto que equilibre a necessidade de gerar temperatura rapidamente na classificação com a economia de pneus na corrida. Nada como falar com quem conhece para rever alguns conceitos.

14 Comments

  1. Ju…

    Quem entra na curva “leve”, fica mais tempo nela… Entretanto não ganha akele atrito todo com o asfalto, não escorrega e consequentemente não tem temperatura suficiente nos pneus. Aí como pode gastar mais? O Pirelli se esfarela mais numa temperatura menor? Se não for isso eu ainda não entendi como pode uma tocada mais leve gastar mais pneus.

    E o Button pelo que eu vejo tem mais problemas em aquecer os pneus do que com desgaste, propriamente dito. Engraçado que a mágica dele ano passado era justamente andar direto com pneu meio gasto e com bom ritmo de corrida.

    • Exato. Fala-se tanto em janela de temperatura justamente porque rodar abaixo e acima dessa janela prejudica demais o ritmo e os pneus. Nesse cenário que você citou, o carro fica desequilibrado e tende a escorregar mais. Assim, desgasta o pneu. Com a temperatura excessivamente alta, ocorre a degradação termal, que acaba levando basicamente ao mesmo tipo de comportamento. Lembrando sempre que a interação carro-piloto-acerto é fundamental para estes aspectos.

  2. Julianne,

    Interessante esse ponto de vista, de que o piloto mais agressivo nas curvas acaba tendo vantagem. Acredito que eles conseguem aquecer o pneu mais rápido e de forma mais uniforme, pois nas mudanças bruscas de direção, os pneus sofrem uma maior transferência de peso entre eixos, elevando a temperatura interna do pneu. É como se o aquecimento viesse de dentro do pneu para fora, ao contrário do aquecimento de fora para dentro gerado nas derrapagens e fritadas de pneu.

    Mas uma coisa interessante, é que esses pilotos que tem a característica de serem agressivos nas curvas, são os que mais sofrem acidentes também, vide as batidas provocadas pelos carros do Maldonado, Hamilton, Grosjean, Schumacher, Kobayashi e até mesmo o Vettel ( quando era o crash kid ou atropelando o carro do Karthikeyan). Acho que a única exceção é o Alonso mesmo.

    A mudança brusca de direção, além da limitada visibilidade lateral de um F1, acaba surpreendendo o piloto que está por perto e o choque às vezes é inevitável.

    Por um lado estes pilotos ganham no aquecimento do pneu, mas quando erram destroem a corrida deles e dos outros!

    Abs.

    • Observação interessante, Ricardo! É algo legar para ficarmos de olho ao longo dos anos, para ver quem consegue equilibrar essas duas coisas. O ex-Crash Kid, por exemplo, me parece em plena evolução nesse sentido.

  3. Mas… e o Massa? Ele também não tem estilo agressivo?

    • Massa é agressivo em saída de curva, ou seja, acaba entrando no grupo dos “suaves” nesse caso. Mais uma prova de que dizer apenas que piloto X é “agressivo” conta apenas parte da história!

  4. Agressivo: o olha pra uma curva e vê nela uma reta.

  5. *’o que olha’. rs

    • Perfeito!

  6. Oi Julianne,

    Nos anos 80, Ayrton Senna era mestre em cravar pole positions usanto uma tática que ele sabia mais que ninguém em colocar pneus mais duros de um lado e macios de outro, dependendo da quantidade de curvas para direita e esquerda em determinada pista.

    O regulamento de hoje não permite isso, mas se permitisse, na sua opinião, que beneficio isso traria nos carros de hoje e qual piloto teria maior facilidade em lhe dar com essa combinação de pneus mais duros de um lado e macios de outro?

    Um abraço e parabéns pela bela matéria.

    • Com as regras de parque fechado (sem poder mudar muita coisa no carro entre classificação e corrida), carros e pneus de hoje (os compostos são bem diferentes entre si), acredito que ninguém. Nas mesmas condições de antigamente acho muito difícil comparar – afinal, vemos os estilos deles com o que têm em mãos e não temos como saber como seria sua adaptação.

  7. Bruno falou algo interessante sobre os Bridgestone, afinal, o pneu aceitando “qualquer tocada”, significava que tinha atingido o ápice em construção, o chamado pneu perfeito, consequentemente nivelando por baixo, ótimos e bons pilotos

  8. Olá Julianne, existe algum gráfico, vídeo ou algo assim que mostre a linha que cada piloto toma em uma curva? Caso exista poderia ser uma forma de apresentar como pilotos com estilos diferentes contornam as curvas e gastam ou economizam pneus. Parabéns pelos posts.


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