F1 Os dois Massas da Ferrari - Julianne Cerasoli Skip to content

Os dois Massas da Ferrari

O piloto mais vencedor da história da Ferrari entre os que não foram campeões. Certamente, não é o título que Felipe Massa gostaria depois de oito temporadas pela equipe de Maranello, mas está longe de ser a carreira de um derrotado.

É claro que a má impressão destes últimos quatro anos sem vitórias e com um sem-número de decepções pode deturpar a visão de qualquer um, mas Massa também foi um piloto combativo e capaz de feitos como a grande volta da pole postion para o GP de Cingapura de 2008, a corrida controlada sob condições difíceis no Brasil meses depois ou o duelo com Robert Kubica no Japão, no ano anterior.

O que existe, então, entre aquele Massa que não foi campeão por detalhes e este que se despede da Ferrari no final da temporada? Uma mola, diriam alguns. Mas muita água passou por debaixo da ponte desde aquele treino classificatório do GP da Hungria de 2009.

Largadas na Ferrari

1º Michael Schumacher 179
2º Felipe Massa 132
3º Rubens Barrichello 102
4º Gerhard Berger 96
5º Michele Alboreto 80

Vitórias na Ferrari

1º Michael Schumacher 72
2º Niki Lauda 15
3º Alberto Ascari 13
4º Felipe Massa 11
5º Fernando Alonso 11
6º Rubens Barrichello/Kimi Raikkonen 9

Pole positions na Ferrari

1º Michael Schumacher 58
2º Niki Lauda 23
3º Felipe Massa 15
4º Alberto Ascari 13
5º Jacky Ickx 11
6º Rubens Barrichello 11

Primeiro, a Ferrari. Imagine que você inicia sua carreira ao lado de um dos maiores de sua área, quase como um aprendiz. Ele se aposenta e, ao invés de acreditarem no seu potencial, sentem-se obrigados a contratar outro grande. Mas tudo bem, você é jovem e chegará lá. Em três anos juntos, você faz um trabalho, no mínimo, tão bom quanto ele.  E o que sua empresa faz? Manda esse cara embora para contratar outro gigante. É uma forte mensagem de que não lhe veem como um líder. Com ou sem acidente, ver Alonso chegar para comandar uma equipe que defendera por quatro anos – e fazer isso de maneira tão incisiva – não deve ter feito bem à confiança de Massa.

Segundo, o modelo de disputa. Massa sempre foi agressivo e sua necessidade de ser guiado pelo engenheiro Rob Smedley é conhecida. Não é um piloto cerebral, qualidade que vem sendo privilegiada desde o fim do reabastecimento e, principalmente, com a chegada dos pneus Pirelli, DRS, Kers. Ou seja, de 2010 para cá. São muitas variáveis a serem geridas ao mesmo tempo e houve pilotos que se adaptaram melhor a isso.

Terceiro, os próprios carros da Ferrari, cuja tendência de sair de frente vem sendo atenuada, mas ainda incomoda o piloto brasileiro, que prefere carros mais traseiros. Sua dificuldade em aquecer os pneus, que o atormentou principalmente nas três últimas temporadas, está ligada a isso.

Como sempre na Fórmula 1, uma soma de fatores quebrou aquela espiral de confiança que marcou seus primeiros anos de Ferrari. Os últimos anos foram realmente ruins e só o respeito do brasileiro à política interna da equipe, interesses econômicos e uma boa relação podem explicar sua longevidade. Mas nada disso apaga a carreira digna que Felipe teve no time.

E daqui para frente? A vantagem para pilotos cerebrais até aumenta ano que vem, porém fora da Ferrari Massa se livra de alguns destes “demônios” que vem enfrentando de 2010 para cá.

Mas há espaço para Massa no grid? Há o interesse de manter um brasileiro, reconhecido pelo próprio Ecclestone, por ser o maior país em número absoluto de espectadores e interessante para várias marcas. Há, também, sua experiência. Veremos o quanto isso – frente à má impressão dos últimos anos – vai pesar.

21 Comments

  1. Paixões à parte, “Ju Raio X”, 😉

  2. Aah, Julianne, você é magistral, como sempre! Disse tudo. A meu ver, a Ferrari foi ao mesmo tempo mãe extremosa e madrasta malvada com Massa, ao longo de toda a sua passagem por lá. Uma relação de enlouquecer e confundir até os aficionados, quanto mais o próprio. Felipe teve suas culpas, e foram muitas, mas a Ferrari também as tem, e não foram poucas. O que tinha a equipe de dar aquela ordem para Alonso passar, quando Massa estava na frente, lutando, naquele momento, contra um gênio e para se recuperar de um trauma tão grande! Ficou feio para o espanhol, que em absoluto não precisava disso (mas a solicitou). Ali Felipe teve um imenso abalo psicológico em um momento crucial para recuperar sua confiança em pilotar em alto nível. Felipe escreveu uma das histórias mais desconcertantes da F 1, com glórias e essa saída tão melancólica.

    E, por favor Julianne, nem me dê uma notícia dessas, de que os pilotos cerebrais estarão com tudo em 2014. Respeito os que pensam diferente, Nelson Rodrigues observou com muita propriedade que toda unanimidade é burra, mas eu abomino a F 1 cabeça, entediante, insossa, sem tempero, sem graça e sem emoção, alguns pilotos dando tudo de si, “se matando lá frente”, enquanto outros ficam só à espera para se apresentarem como “heróis”. Isso é indispensável e até desejável para o WEC, mas a natureza da F 1 é outra: deve ser velocidade e ímpeto, a subjugação da máquina em seus limites extremos pelo homem.

  3. “Massa sempre foi agressivo e sua necessidade de ser guiado pelo engenheiro Rob Smedley é conhecida.”

    Autêntico taurino 😛

  4. Muito boa análise.

    Além de ter sido desprestigiado pela Ferrari, Felipe é um piloto que não se adaptou às novas demandas.

    Penso que a mesma coisa aconteceu com Michael Schumacher na Mercedes: não se adaptou à essa F1 um segundo mais lenta do que na sua época, sem testes e tendo que administrar pneus…

    Nelson Piquet sempre fala que é preciso ser o piloto certo na época certa.

    Mas ainda acho que o acidente de Massa teve consequência direta no seu declínio.
    Não sou médico e nem tenho como provar isso mas não há como não haver uma conexão entre as duas coisas.

    O desprestígio, a dificuldade em adaptar-se… tudo isso explica muita coisa.
    Mas não explica tudo.

  5. Que vá logo da Ferrari, uma grande equipe e que arrume uma equipe em que possa fazer o que sabe: correr. Felipe corria pela Ferrari, por Alonso, para ajudar Alonso e depois, se desse tempo, para si próprio. Força, Massa e ótima análise, Ju. parabéns!

  6. Ju,

    Sua visão do lado técnico e os embasamentos sobre o pontos são sempre perfeitos.
    Agora vamos ver o quanto o Alonso continua firme psicologicamente com este provável retorno do Kimi a Ferrari, um pilota apolitico.

  7. Na minha opinião, massa deveria ter saído da Ferrari quando soube que Alonso seria contratado. Sairia por cima, sem passar os vexames que passou tendo que abrir as pernas pro Fernando e é perigoso de nem molada no zóio ele ter levado.

    Mas, como rubinho, ele é piloto prostituto, que aceita várias coisas que pra um piloto de verdade não tem como. Por isso penso que, por conta desse perfil, tanto ele quanto rubinho não tem como ser campeão na F-1. Não precisa nem torcer, quem pode ser campeão na F-1 tem um estilo de pilotar e de se portar na pista totalmente diferente.

    Me corrija se estiver errado: massa nunca foi campeão nas categorias que participou. Ele vai pra Sauber, aí é porque a Sauber não anda, vai pra Lotus, aí toma pau do NicoHulk, vai pra McLaren, aí toma pau do Perez. Enfim…

    • Massa foi campeão da formula Chevrolet no brasil em 1999.
      Campeão da formula Renault Italiana e Européia em 2000.
      Campeão da Formula 3000 européia em 2001 (vencendo 6 de 8 corridas).

    • Piloto Prostituto, hahahahahahahaha, o pior é que eu carimbo y assino. O cara que se prestou a esse trato na Ferrari não merece nenhuma chance. Menos ainda quando se trata da possibilidade de tirar o Hulk (que é um piloto de combate) da parada. Vai cuidar dos filhos Massa. Vai tarde!!!

  8. Aqueles que torceram, hoje criticam. Massa não foi campeão, mas disputou o título e quase ganhou. Ganhou corridas, fez poles, muito mais que a maioria que passou pela F1. O acidente foi um divisor em sua carreira. Voltar com o Alonso de companheiro foi uma tarefa muito dura, se voltasse como primeiro piloto a confiança aumentaria rápido. E entregar a vitória na Alemanha foi a pá de cal.
    A F1 é o gargalo apertado do funil. Muitos poucos se consagram. Não ser campeão não é sinal de fracasso. E ficamos mal acostumados após 3 campeões num intervalo pequeno.
    Tomara que consiga pelo menos mais uma temporada. E se não acontecer, existe vida fora da F1.

  9. Ju,agora que o massa não continuara mais na Ferrari ele pode dificultar a vida do alonso a partir de agora,pois já não tem a obrigação de ser capacho do alonso ?

    • Posso estar errada, claro, mas acho que isso tem mais a ver com a personalidade do Rubens do que do Felipe.

  10. Como você escreve bem, Juliana. Este artigo deveria ser usado em aula de redação para o vestibular.

  11. Ju,sera que o Alonso vai reagir bem com o Raikkonen como companheiro de equipe,o que vc pensa sobre isso ?

  12. Torço que o Massa consiga um carro para o ano que vem, com um mínimo de competitividade. Seria interessante ver se ele – livre das amarras da Ferrari – consegue ter bons resultados. Ou se o tempo dele, realmente já passou…

  13. Eu acho que o Massa vai ser tão prestigiado quanto o Sir Stirling Moss que também nunca foi campeão.

    • Hoje, sem dúvida, Alonso é o melhor do grid, mas temos de dar uma colher de chá ao Schumacher.

      Em 2006, ele já tinha 37 anos. Começou seu reinado na F1 aos 31. Alonso tem 32. Será que estará em alto nível aos 37? (Espero que sim, mas ultimamente, os F1 se aposentam na casa dos 37)

      (Fangio foi campeão aos 46 anos. Algo “impensável” hoje em dia)

      • Prost foi campeão com 38 anos, Mansell com 39 anos…Piquet fez disparado a sua melhor temporada em 1987 com 35 anos… foram 7 segundos lugares e 3 vitórias. Na fórmula Indy vários foram campeões com idade acima de 40 anos. Acredito que houve uma grande evolução dos pilotos do anos 90 em diante…


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