O GP da Hungria pode ter ficado famoso como mais uma oportunidade em que Jenson Button se deu bem em uma corrida com condições de chuva e seco. Mas a verdade é que a vitória do inglês nada teve a ver com as duas ou três voltas de água que levaram vários pilotos – inclusive seu companheiro, Lewis Hamilton – a colocar pneus intermediários. Button já havia ganhado a corrida antes, ao optar pelo pneu macio em sua terceira parada, ao contrário do que fez Hamilton.
Recapitulando: a prova começou com condições propícias para pneus intermediários e, apesar de um trilho seco ser claro já nas primeiras voltas, as paradas só começaram na 10ª por uma peculiaridade do circuito. Quem assistiu à corrida de 2006 sabe que o alfalto escorregadio de Hungaroring demora a secar por completo e, como disse Vettel após a prova, por ser muito escuro, é difícil o piloto ver onde está molhado. Logo, Ferrari e Red Bull usaram seus escudeiros para ‘estudar’ a pista e Massa e Webber foram os primeiros a parar.
Os setores roxos (mais rápidos da prova) de ambos no último setor indicaram que este era o caminho a seguir e Button, que perdia mais de meio segundo por volta para a outra McLaren, logo parou. Hamilton, Vettel e Alonso esperaram uma volta a mais, o que custou posições aos dois últimos.
Com os super macios que havia economizado na classificação, Hamilton chegou a abrir 9s para Button, mas tinha apenas 4s quando fez a segunda parada, agora uma volta antes do companheiro. Ao gerenciar melhor os pneus, o plano de Jenson era se aproximar cada vez mais para dar o bote no final, enquanto Lewis destroçava sua borracha.
Atrás dos dois, era claro que Vettel não tinha ritmo. Segurou Hamilton no início da corrida e, depois que foi superado por Button, perdeu 4s para o inglês. Com Alonso com dificuldades para manter sua Ferrari na pista e seguro por Webber, era uma corrida para salvar um pódio.
Nesse momento, Webber e Alonso eram os mais rápidos da pista, mas estavam fora da briga, mais de 15s atrás, após perderem contato em acidentadas primeiras voltas. A Ferrari ainda tomaria decisões arriscadas para tentar dar o pulo do gato – anteciparam duas vezes a parada do espanhol, que fez dois stints de apenas 11 voltas no super macio, uma pela probabilidade de um Safety Car no incêndio de Heidfeld e outra para tentar o undercut em Webber. Isso o obrigou a optar pela estratégia errada no final e nos deixou com a dúvida de qual seria o ritmo efetivo da Ferrari.
As voltas após a terceira parada de Alonso, na 36, quando o espanhol voltou à pista 2s6 mais rápido que os demais, foram decisivas: com esse ritmo, fazer quatro paradas seria mais lucrativo do que três. Esse foi o raciocínio da McLaren com Hamilton. A expectativa da equipe era de que Lewis fosse 0s8 mais rápido com o super macio do que com o macio. Como já tinha 6s de vantagem para Button, conseguiria os 18s necessários para voltar à frente após a quarta parada – que seria obrigatória, pois o super macio não aguentaria – em 15 voltas. Outro fator a ser observado é que, como Lewis estava acabando com seus pneus mais cedo que os rivais, seria possível que seus macios não aguentassem as 30 voltas que tinha de cumprir até o final.
Enquanto isso, Button colocava o macio, se prevenia em relação a quem tentaria fazer um pit stop a menos (quando parou, Vettel e Webber tinham optado pelo macio, indicando que iriam até o final) e torcia para que Hamilton acabasse com seus pneus antes de abrir a vantagem necessária. Ainda assim, correria o risco de ser ultrapassado no final, quando o companheiro teria pneus macios com metade do uso.
O problema é que, assim como Alonso logo percebeu, os super macios duraram muito pouco e tiveram uma queda ainda mais acentuada do que nos outros stints. Com os carros mais leves, o macio era o melhor pneu. Duas voltas depois de fazer sua parada, Button já era 1s por volta mais rápido que Hamilton, que estava condenado a perder a corrida. Sua rodada em nada ajudou e o colocou junto do companheiro, mas com um pit stop a mais por fazer.
Já 18s atrás na prática, a única chance de Hamilton era apostar na chuva. O que parece uma decisão boba agora foi tomada por nove dos 21 pilotos que estavam na pista. Afinal, os tempos subiram 8s por volta temporariamente.
É de se imaginar que a McLaren tomou a decisão mais ‘tudo ou nada’ porque o único objetivo em um campeonato como esse, com uma desvantagem grande, é a vitória. Tivesse colocado os macios, era um terceiro lugar certo, atrás de Vettel. Se continuasse a chover, era a decisão correta que faria Hamilton ganhar a corrida.
Button recebeu a mesma ordem de Hamilton, não respondeu porque não queria entrar, e logo depois a equipe o instruiu a continuar na pista. Afinal, caso estivessem errados, ao menos venceria e tiraria pontos de Vettel.
Essa não é a primeira vez que o pneu mais duro usado no final de semana funciona melhor que o esperado com base nos treinos de sexta-feira. Pode ter a ver com o frio ou com a impressão de que a Pirelli vem fazendo pneus melhores, temendo o efeito da borracha que esfarela para seu marketing. O fato é que, seja qual for a combinação, isso aconteceu nas últimas duas provas, com o médio da Alemanha e o macio na Hungria. Quase tão rápidos quanto os macios e mais duráveis, fazem com que a vantagem de fazer um pit stop a mais seja anulada.
6 Comments
Excelente post!
Que prova que o verdadeiro motivo da competitividade atual da F1 está em compreender e usar corretamente os pneus Pirelli.
Abs.
Concordo.
Julianne parabens nao soh por esse mas por todo os seus post interessantes o o seu excelente trabalho, jah me arrisco dizer que vc esta dando baile em muitos Marmanjos ¨entendidos em F1¨,
Parabens,
Fernando
Nossa Julianne, vc manja demais….ganhou um fã…….agora só falta chamar o galvão de burro que vc ganha 5 milhões de fãs…ahahahaha
Julianne é impressionante a sua capacidade de “ler” uma corrida. Ótimo post!
Eddie Jordan disse (não lembro se foi em Nürburgring ou Hungaroring) que conversou com o pessoal da Pirelli e esses lhe afirmaram categoricamente que os pneus são os mesmos do início do campeonato.
Podem estar mentindo mas na Hungria o que se viu foi uma farofa gigantesca!
julianne vc é o melhor comentarista de f1 que eu vi, absolutamente incrivel sua capacidade de ler uma corrida, eu simplesmente concordo com tudo que vc escreve e olha que parei de ler o que muitos comentaristas renomados escreviam porque cheguei a conclusao de que eles nao acompanhavam o meu raciocinio, porem vc é tudo que eu esperava e mais um pouco, continue este trabalho pois ele é espetacular.