De 15km/h a menos em 2014 para 4km/h a mais que as Mercedes nas longas retas de Sepang em 2015. Não dá dúvidas de que a unidade de potência é a grande responsável – ainda que não a única, certamente – pelo crescimento da Ferrari nesta temporada. E os italianos conseguiram isso ao mesmo tempo em que economizaram 12 dos 32 tokens aos quais têm direito para desenvolver seu equipamento até o final do ano. Mas como eles conseguiram?
Desde o ano passado, venho explicando por aqui que os problemas que a Ferrari teve com sua unidade de potência, pensada para se submeter à aerodinâmica, em um erro de leitura grosseiro da equipe, não eram difíceis de resolver. Soluções que alongavam demais os escapes – diminuindo, assim, a potência – e afetavam o funcionamento do MGU-H, que não tirava energia calorífica suficiente do turbo, impedindo o uso da potência máxima em todas as voltas da prova e, consequentemente, prejudicando o ritmo de corrida, não poderiam ser retificadas ao longo do ano. Mas seriam facilmente alteradas no próximo projeto. Por isso, esperava-se uma evolução natural da Ferrari no segundo ano de uma tecnologia que ela não soube ler muito bem logo de cara.
Era necessário fazer um motor mais leve e mais potente, e que tivesse uma entrega de potência mais linear. A primeira parte era uma questão de desenho, e um dos pontos melhorados na unidade de potência é o escapamento, que possui um conceito totalmente diferente e está localizado mais abaixo no carro, além de terem um melhor isolamento térmico. Tudo isso resulta em mais potência. Já a questão de entrega de potência é mais relacionada à parte de software e claramente evoluiu em 2015. Prova disso é a imediata melhora do rendimento de Kimi Raikkonen, conhecido pela sua sensibilidade ao volante.
O mais importante, contudo, era fazer os setores de motor e aerodinâmico trabalharem mais próximos. Afinal, a questão que todas as equipes têm de responder a cada mudança que fazem em seus carros atualmente é: essa alteração na carenagem vai compensar do ponto de vista aerodinâmico e não vai me tirar potência? Ou seria melhor fazer uma aerodinâmica menos agressiva e dar mais chance de ganhar rendimento com o motor? Não é uma fórmula 1 motores em si, mas sim de comprometimentos e integração.
E era esse um dos erros da Ferrari, que focou demasiadamente na aerodinâmica e fez com que o departamento de motores se adequasse. O carro do ano passado, inclusive, era eficiente do ponto de vista aerodinâmico, como ficou bastante claro na Hungria, mas não é assim que se ganha campeonatos hoje em dia.
22 Comments
Bela matéria, Ju. A qualidade do motor Ferrari se reflete claramente na Sauber, pífia ano passado e promissora este ano. Será que estão no nível da Mercedes?
A pergunta de um milhão de dólares é: por que o Allison manteve o pull-rod?
Aerodinamicamente é melhor. Provavelmente ele teria que fazer um novo conceito aerodinâmico para o fluxo da parte dianteira, fundamental para todo o projeto, e não compensava.
O ponto negativo é o acesso na hora de fazer alguma alteração, mas os mecânicos da Ferrari já tiveram tempo para encontrar soluções para isso.
Ju , parabens novamente pela materia
Teria alguma relaçao a melhora do motor em harmonia com a aerodinamica , numa melhor conservaçao dos pneus ? Ou foi só uma questao de acerto em Sepang ?
Claro, um motor com uma resposta mais linear ajuda a conservar os pneus. E a aerodinâmica também ajuda nisso. A melhor conservação dos pneus ficou mais evidenciada na Malásia porque lá estava muito quente e a pista é muito abrasiva, mas ainda assim deve ser a marca do campeonato ferrarista.
Isso me lembra muito a questão explicada pelo demitido Luca Marmorini, o chefe anterior do departamento de motores: fizeram um bom projeto aerodinâmico ano passado e, segundo ele explica na entrevista, pediram um motor específico para se adequar àquele projeto. Ele disse ter avisado que isso comprometeria seriamente a potência, mas o preveriam que os ganhos aerodinâmicos compensariam. O motor saiu fraco, os ditos ganhos foram insuficientes, e ele pagou o pato dizendo que o erro foi da gestão do projeto, que a Ferrari tinha know-how suficiente pra fazer um motor turbo híbrido de alto nível. Tenho a impressão de que ele tinha razão, pela sua explicação e por toda a reestruturação da equipe do ano passado pra cá.
Isso me lembra muito a questão explicada pelo demitido Luca Marmorini, o chefe anterior do departamento de motores: fizeram um bom projeto aerodinâmico ano passado e, segundo ele explica na entrevista, pediram um motor específico para se adequar àquele projeto. Ele disse ter avisado que isso comprometeria seriamente a potência, mas o preveriam que os ganhos aerodinâmicos compensariam. O motor saiu fraco, os ditos ganhos foram insuficientes, e ele pagou o pato dizendo que o erro foi da gestão do projeto, que a Ferrari tinha know-how suficiente pra fazer um motor turbo híbrido de alto nível, e que apenas fez o que pediram a ele que fizesse. Tenho a impressão de que ele tinha razão, pela sua explicação e por toda a reestruturação da equipe do ano passado pra cá.
Você sabe se a Ferrari adotou a tecnologia de “turbo separado” da Mercedes para 2015?
Não adotou, Alfredo.
Renault ainda vai sofrer, os carros do Newey não são conhecidos por fazerem concessões aerodinâmicas.
Na classificação da Malásia os carros empurrados por motores ferrari foram em média 0.7 Km/H mais rápidos que o impulsionados por unidades da Mercedes. Ainda que a Williams do Massa tenha conseguido a mais alta velocidade do final de semana.
Carros Ferrari
Raikkonen: 325.4
Ericsson: 324.1
Vettel: 322.6
Nasr: 321.3
Média de velocidade final Ferrari : 323.4km/h
Carros Mercedes
Massa: 326.8
Maldonado: 325.4
Bottas: 325.2
Grosjean: 323.3
Perez: 322.0
Hulkenberg: 321.9
Rosberg: 318.4
Hamilton: 318.3
Média de velocidade final Mercedes : 322.7km/h
Os carros da Manor não contam por usarem motores de 2014
Fonte: reddit.com/r/formula1/
Ju, você já tinha me falado que as equipes ainda trabalham com seus motores abaixo do que podem render. Você saber o quanto abaixo eles estão trabalhando e se existe a possibilidade de tiram toda a potência até o fim da temporada? Ou o limite de motores impede o seu uso em 100%?
O limite de quatro motores dificulta, até por isso estão tentando voltar para cinco. Já ouvi dizer que a Mercedes está em 80% e a Honda não passa de 60% ainda. Mas acredito que no primeiro caso eles usem tudo em determinados momentos. O fato é que é uma informação que ninguém entrega.
Então boa parte do chororô com a velocidade de volta dos carros poderia ser resolvido com um limite maior de motores, menor restrição de combustível e um limite maior de RPM, certo?
Juntando esses fatores, acredito que potencial dos V6 híbridos deve ser absurdo.
Sim. E também é preciso dar tempo a essa tecnologia. Tem muita coisa nova e a possibilidade de crescimento é enorme.
excelente post, e excelentes comentários.
realmente esse blog é o de mais alto nível dentre os nacionais de F1…
Julianne,
Então, méritos também para a empresa austríaca AVL que ajudou a Ferrari no desenvolvimento da versão 2015 do V6 Turbo.
Ju, na China não terá o calor extremo da Malásia. Em compensação haverá as grandes retas do circuito chines. Com a melhora do motor, a Ferrari poderá levar alguma vantagem sobre as demais?
São vários os fatores. É um circuito muito diferente porque o desgaste de pneus é alto, mas é diferente: não é térmico, como na Malásia, e ocorre mais nos pneus dianteiros. A velocidade de reta também depende do acerto (Xangai é daqueles circuitos de comprometimento, dependendo do nível geral de downforce do carro, você pode tirar menos ou mais asa para andar bem na reta). São outras variáveis em relação a Austrália e Malásia, então veremos como os carros se comportam.
Em 2013, a Lotus do Kimi (e do Alisson) terminou em segundo, com duas paradas contra 3 da Ferrari de Alonso. Sera interessante ver o comportamento do time italiano nesta etapa.
Julianne, sei que nao eh o tema do POST , mas como vc tem visto a Mclaren ?
VC acredita que podemos ver a equipe entre as TOP 10 até a Espanha e ainda chegar as TOP 5 antes da primeira metade do ano ?
Obrigado
Acho que são previsões bem otimistas. É como se eles estivessem na pré-temporada ainda, eles têm 9 tokens, menos apenas que a Mercedes, e a diferença é grande. Top 5 em condições normais neste ano me surpreenderia.
Obrigado