F1 Quilômetros e mais quilômetros - Julianne Cerasoli Skip to content

Quilômetros e mais quilômetros

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Quando se está preparando para a temporada que promete ser a mais longa da história, com 21 corridas, e se sabe que terminou o ano anterior com uma vantagem de performance importante e que não há grandes mudanças no regulamento para a temporada atual, é mais que justificável que a grande preocupação seja a confiabilidade. Afinal, saber exatamente quanto as peças do carro duram ou qual o impacto do desgaste de cada uma delas é importante para um time que quer manter sua hegemonia.

Porém, ainda que os mais de 1000km obtidos pela Mercedes apenas nos dois primeiros dias de testes e nas duas primeiras horas da terceira sessão certamente impressionem, não deixa de ser incrível observar a evolução da tecnologia dos V6 turbo híbridos desde os líderes, até o fundo do pelotão.

Voltemos a 2014, quando todos tateavam com uma tecnologia que provou ser mais complexa do que qualquer um antecipava na temporada anterior: em 12 dias de teste, quem mais andou foi a Mercedes, totalizando 4973km. Lewis Hamilton deu 18 voltas no primeiro dia, no qual quem andou mais foi Kimi Raikkonen, com 31. A primeira vez que um piloto ultrapassou 100 voltas foi apenas no sexto dia, quando Valtteri Bottas fez 115 com a Williams, mas isso foi raro: só se repetiu outras 13 vezes até o final do teste.

O cenário melhorou 12 meses depois, com Nico Rosberg sendo o piloto que mais andou, tendo dado 759 voltas também em 12 dias de testes. E o sofrimento da Honda escancarou a dificuldade em lidar com a tecnologia do V6 turbo híbrido: enquanto a Mercedes somava 1340 voltas, a McLaren não passava das 380.

Porém, o salto que tem sido observado neste terceiro ano da tecnologia é assombroso. Nada menos que oito dos 11 pilotos que estiveram na pista no segundo dia de testes de 2016 ultrapassaram as 100 voltas. E isso inclui a própria Honda, ‘caçula’ da turma. Mesmo tendo coletado menos informações ao longo de todo ano passado por ter apenas uma equipe, a montadora iniciou os testes com um nível de quilometragem semelhante ao de Ferrari e Mercedes.

Dados como estes só atestam a qualidade da engenharia da Fórmula 1 e sua valia para o mercado automobilístico. Quando ressaltamos isso, não quer dizer que veremos motores equipados com sistemas complicados como o MGU-H nas ruas amanhã, mas o laboratório que é a categoria acaba acelerando o processo de evolução de tecnologias como esta. Segundo dados da própria Mercedes, a eficiência do motor aumentou em 50% desde o início de 2014, enquanto, na indústria automotiva, o crescimento havia sido de 29% nos 130 anos em que tem se tentado fazer os carros andarem mais, consumindo menos.

O destaque nesse quesito vem justamente de um ponto forçado pelo regulamento, a combustão: como as regras da F-1 limitam o fluxo de combutível a 100 kg/hora, os esforços foram centrados no uso eficiente do combustível e, nos últimos três anos, isso melhorou em 37%. Dentro da indústria automotiva, os alemães calculam que os ganhos anuais girem em torno de 1,5%. Isso sem contar na redução significativa do peso dos sistemas híbridos desde sua introdução na F-1, em 2009.

Curiosamente, a Mercedes acabou evoluindo tanto que acabou com um problema nesta primeira semana de testes: faltou um ‘upgrade’ na pecinha que fica entre o assento e o volante. Depois do ‘batismo de choque’ dos dois primeiros dias, Rosberg e, principalmente, Hamilton, reclamaram de dores musculares e a equipe teve de repensar seus planos iniciais. Afinal, mesmo com toda a preparação física, nada consegue reproduzir exatamente o esforço de se pilotar um F-1 do ponto de vista muscular. E não há engenheiro que possa dar um jeito nisso.

14 Comments

  1. Bom dia Julianne!
    Estou simplesmente viciado no seu blog, todos os dias de manhã venho olhar a novidades que você posta por aqui.
    Gostaria de fazer-lhe um pedido peculiar:
    Fiz uma monografia de pós-graduação com base nos regulamentos da F1 (pelo menos até alguns pontos centrais dele caírem por terra) e gostaria de publicar aqui no blog o trabalho, se você permitir e for possível para os amigos interessados em ler, gostaria que algumas ideias dali se propagassem bem.
    Um grande bjo e até!

    • NATO, parabéns pela sua tese. Já vi – pelo tema que escolheu – que você gosta mesmo de F 1. Muito bacana.

  2. Sobre outra coisa. Alguém aí sabe por que as equipes pintam de preto as partes visíveis próximas ao assoalho

    • Elas não pintam para não adicionar peso, já que não compromete o visual. Aquilo é fibra de carbono.

      • Obrigado pela atenção!

  3. No tocante ao regulamento que limita o fluxo de combutível a 100 kg/hora, o tal do Grupo de Estratégia proporá dentre outras coisas, o fim do limite de combustível. Acho eu que dificilmente isto terá aprovação porque isto “mataria” exatamente o propósito dos chamados motores híbridos. E certamente Mercedes, Ferrari e Honda deixariam até a categoria caso esta proposta fosse aprovada.

    http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2016/02/em-busca-carros-mais-agressivos-f1-deve-ter-mudancas-drasticas-em-2017.html

  4. Bom Dia, Jú.

    Parabéns mais uma vez pelo post.
    Desculpe se estiver falando besteira, mas essa confiabilidade não aumentou pela abolição dos famigerados “tokens”? Não sei se ainda aboliram, mas é assombroso mesmo a evolução da F1, nesse período sem corridas passo horas e horas no youtube vendo corridas antigas e é muito legal ver inovações da época como por exemplo o câmbio borboleta da Ferrari hoje nos carros de hoje.
    Jú não sei se você vai abordar esse assunto futuramente, mas o que você apurou e o que você acha sobre o novo sistema de classificação? Eu sinceramente acho um tiro no pé, por ser mais complicado o que afasta mais ainda o público em geral, não os fãs e uma coisa meio bizarra de vídeo game com os engenheiros calculando com o piloto pra passar na linha de chegada nos 90 segundos.
    Um abraço
    Daniel

    • Os tokens não foram liberados ainda, isso seria para 2017 mas não foi publicado oficialmente.

      Quanto à classificação, à primeira vista parece complicar ainda mais o sistema, mas acho que depende muito de como serão os gráficos. Um lado positivo que vejo é a definição do top 8 um por um até chegar ao ápice do 1min30 pela pole. E do ponto de vista do desafio para os engenheiros de pista é uma ideia ótima.

    • DANIEL, a propósito de sua pergunta sobre o novo critério dos treinos de classificação, não sei se você leu, mas alguém postou por aí uma frase que é bem emblemática dos rumos da F 1, cada vez mais complicados para os “não iniciados”, e que resume bem a coisa toda, hahahaha:

      “e na corrida quem chegar em primeiro ainda ganha a corrida?”

      Foi o melhor comentário que vi até agora sobre o assunto, hahahaha!!!

      E cabe ainda a pergunta: como fica essa questão do desgaste dos pneus? Se idealmente duram apenas 1 ou 2 voltas. . . Com trânsito, a coisa talvez fique lotérica.

      Abs.

  5. Ju, como vc avalia os testes até o momento? Minha impressão inicial é que com pneus médios Ferrari e Mercedes pareceram próximas. Só eu tive essa impressão? Gente mais um ano sem disputas eu não aguento. O Rosberg pra mim não conta. Abraços a todos!

  6. Existem algumas concepcoes meio equivocadas sobre F-1. Como gostamos disso bastante, achamos que realmente sao o pinaculo da tecnologia e tudo vem depois deles. Nao o sao, mas certamente otimos profissionais e os melhores pilotos estao la. Da ultima parte nao resta duvida.

    Tecnologia do futuro esta em MIT, Stanford, Cambrige, Oxoford.. ate na Uspinha ou alguma federal brasileira tem gente boa para falar do futuro. O futuro dos carros nao he muito secreto.

    Acontece que as montadoras tambem tem tecnologias muito mais avancadas que o que vimos nas ruas e nas pistas. Por que os carros entao nao sao muito mais eficientes que hoje, e os motores tem somente 1.5% de ganho de eficiencia ao ano?

    Perguntem ao consumidor se ele pagaria para ter um carro com motor quase adiabatico e que fizesse 100lm/litro de gasolina a 120km/h.

    A chave esta na mentalidade e no bolso de quem paga a conta.
    Ainda temos o motor de combustao interna e hidrogenio continua a ser um sonho. Por que? Custo.

    Obama aprovou leis extramente importantes no governo dele. Em 20 anos veremos uma baita revolucao nas ruas. Pela forca dos governos as vezes vem coisas boas.


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