F1 O estopim da guerra Senna x Prost - Julianne Cerasoli Skip to content

O estopim da guerra Senna x Prost

Quando passei mais de 20 minutos entrevistando Alain Prost ano passado, perguntei a ele em que momento a relação com Ayrton Senna estremeceu de vez. Afinal, pela narrativa que ele me contava, sempre houve uma competitividade muito grande entre os dois, que sabiam ser os melhores pilotos em atividade naquele momento, desde os primeiros testes da pré-temporada de 1988. Mas essa rivalidade era sadia e produtiva para a equipe inicialmente. Até que tudo mudou. Elegante, ele disse “não quero entrar nisso, vamos falar de coisas boas.”

Mas reza a lenda que havia uma tensão no ar, normal devido à rivalidade dos dois, e o estopim para que o clima azedasse de vez ocorreu há 30 anos, no GP de San Marino de 1989.

Devido ao amplo domínio da McLaren na época, Senna e Prost tinham uma série de acordos internos – provavelmente supervisionados por Ron Dennis, já que o mesmo aconteceu, e igualmente sem sucesso, na era Hamilton x Alonso – e um deles era de que não haveria tentativas de ultrapassagens entre os dois na primeira volta após a largada.

Naquela corrida em Imola, Senna largou da pole e manteve a posição inicialmente. Mas houve uma relargada após o fortíssimo acidente de Berger na Tamburello, que interrompeu a prova por uma hora. Desta vez, Prost largou melhor e assumiu a ponta. Mas, logo depois, Senna colocou de lado e o passou com facilidade. O brasileiro disse após a prova que o acordo não valia naquele momento porque aquela não era mais a primeira volta, devido à relargada, mas isso não convenceu Prost, que alegava não ter defendido justamente por não esperar a manobra.

“Eles quebraram a confiança um do outro”, disse Ron Dennis anos depois o ocorrido. “Eles fizeram acordos um com o outro várias vezes, e esse foi o que o público ficou sabendo. Havia uma tensão e raiva tremendas. Aqueles dois eram iguaizinhos em nível de desonestidade.”

Após a ultrapassagem, em momento algo Prost conseguiu ameaçar Senna naquela prova, e acabou chegando 40s atrás. A rodada a 12 voltas do final, ainda que o francês tenha tido sorte de não ter parado na brita, não ajudou.

O clima, é claro, ficou pesado no pódio, com Prost de cara amarrada. Mas a torcida italiana em Imola não se importou muito com a tensão: mesmo com o abandono duplo da Ferrari naquela prova, os tifosi puderam celebrar a presença de Alessandro Nanini, da Benetton, em terceiro. Ele chegou mais de uma volta atrás de Senna, lucrando com o acidente de Berger e as quebras de Patrese e Mansell.

Na McLaren, o clima passou de altíssima competitividade para altíssima desconfiança. E isso acabaria em uma das mais controversas decisões de título da história.

4 Comments

  1. A coisa começou a desandar já no GP de Portugal de 1988, no Estoril, quando Prost teria dado uma espremida no Senna ( as câmeras não mostraram), e dai Senna deu o troco na reta espremendo Prost contra o muro da reta de largada.

  2. Complementando o comentário do Paulo.

    Logo após o título, Prost deu uma cutucada: “Ayrton acha que não pode morrer porque acredita em Deus, e isso é perigoso para os outros pilotos”. A parte sensacionalista da mídia europeia aproveitou pra cair matando e Senna se defendeu: “Lógico que eu posso morrer numa batida. E esse conhecimento é natural pra se dar bem”.

    E sobre a controversa disputa, foram duas, né? Hehehehehehe… porque o Senna deu o troco explícito em 1990!!

  3. “Aqueles dois eram iguaizinhos em nível de desonestidade.”
    (Sem mais perguntas Senhor meritissímo.)

  4. Todos falam sobre os domínios de hoje em dia na F1, mas a frase:
    “O terceiro colocado chegou mais de uma volta atrás de Senna.”
    Deixa bem claro que nos anos 80/90 não era lá muito diferente de hoje.
    Ron Dennis não parece ser muito bom em gerenciar acordos internos.
    Hahahaha
    Grande abraço a todos do Blog!


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