(Abro o parênteses aqui para dizer que não esqueci de vocês durante essa semana! Estou passando por alguns problemas de saúde e espero voltar a postar com mais frequência em breve)
Para uns, o GP da Inglaterra foi a evidência de que a Fórmula 1 pode ser emocionante, mesmo com o domínio da equipe Mercedes. Para outros, foi a prova cabal de como a categoria está previsível, dada a dificuldade dos carros mais rápidos de Hamilton e Rosberg em ultrapassar as Williams de Bottas e Massa. Mesmo nas primeiras voltas da prova, quando o brasileiro e o finlandês lideravam, era claro que a Mercedes tentaria antecipar a parada e usar seu ritmo com pista limpa para superá-los. E, chuva à parte, foi o que aconteceu.
Mas essa segunda visão carrega a onda de pessimismo que vem corroendo o esporte nos últimos meses. É fato que a maneira como a Mercedes se organizou, tendo uma equipe afinadíssima com o melhor motor do grid, que ela mesma produz, cria um desânimo a longo prazo. Afinal, a vantagem que eles conquistaram é mais difícil de tirar do que a da Red Bull nos últimos anos ou mesmo da Ferrari de Schumacher. Em ambos os casos, a FIA adotou a tática de mudar as regras justamente nos pontos que lhes davam vantagem. Se resolver mudar os motores agora, corre o risco de quebrar a F-1.
Contudo, se em um plano mais amplo fica difícil imaginar o que tiraria a Mercedes de seu – merecido, por sinal – trono, tornar as corridas em si mais disputadas e imprevisíveis é bem mais simples.
Mesmo com chuva, que sempre movimenta os GPs, o GP da Inglaterra teve 21 ultrapassagens, abaixo da média da temporada , de 30,5. Vale lembrar que, por ter muitas curvas de alta velocidade, é normal Silverstone ser palco de poucas manobras.
Ainda assim, os números estão bem menores do que pouco tempo atrás. O recorde da história foi alcançado em 2011, com 59,06 ultrapassagens por GP. A média de 2011 a 2013 ficou em 53.
A grande influência na queda em relação a hoje não é o motor em si e os carros atuais são até menos dependentes da aerodinâmica do que eram há 4 anos. A diferença está, em grande parte, nos pneus. Pressionada pelos engenheiros, que reclamavam da falta de consistência de performance da borracha fornecida entre o início de 2011 e meados de 2013, a Pirelli vem adotando cada vez mais uma postura conservadora. Isso faz com que tenhamos tido, em sua maioria neste ano, provas com apenas uma parada nos boxes e com pouca degradação, diminuindo as possibilidades estratégicas e as chances de ultrapassagens.
As corridas monótonas, portanto, são de pleno interesse dos engenheiros, que preferem pneus e carros extremamente previsíveis. Como se não houvesse um público também interessado, mas em emoção.
23 Comments
Acho que com as regras bem restritivas do regulamento da F1 vai ser difìcil ver uma mudança de forças num futuro próximo. A Mercedes não vai fazer um carro ruim pois sempre vai partir de uma base do ano anterior vencedora. A Ferrari não vai tb fazer um motor melhor do que o Mercedes a ponto de dominar, pode tentar brigar no máximo. Então obviamente uma mudança brusca deste panorama atual só pode vir mesmo com uma grande novidade em termos de pneus, eletrônica ou aerodinámica, já q não acredito que vão mudar os motores tão cedo. A F1 sempre cai nesta indefinição do tipo “como mudar isso?” quando um fator (atualmente o “conjunto” motor) se torna muito mais importante que todos os outros fatores em um carro. Deveriam buscar um equilibrio.
Comentei exatamente isso a um tempo atrás, o dominio da Mercedes é muito maior que o da Redbull. Acredito que o comentário do Montoya também ajudaria. Retirar a previsibilidade da situação e mão dos engenheiros e deixar na mão dos pilotos, onde começaria a se destacar os melhores naturalmente. Como? Retirando os sensores que demonstram como está o carro na corrida, ou proibindo a transmissão dessas informações aos engenheiros, deixando o piloto decidir.
Bom, melhorar Julianne
Como sempre, ótima análise!
Curiosidade: Por que você e o Luis Fernando Ramos sairam do TotalRace? Tem a ver com a chegada da motorsport?
Ambos continuam afiadíssimos na análise das corridas e dos fatores técnicos.
No mais, estimo melhoras!
I wish you feel better!!!
estimamos melhora, julianne…
se cuida!
Melhoras pra você, suas análises fazem muita falta pós GP’s. Bom, com certeza seria uma rápida alternativa pra tornar as corridas bem mais agitadas, mas acho que o melhor conjunto, que hoje é bem mais eficiente, continuaria bem melhor. Abs
Melhoras, Julianne!
Julianne, estimo suas melhoras e plena recuperação de sua saúde, no mais curto prazo. Parafraseando Bertold Brecht, alguns blogueiros/jornalistas especializados são muito bons durante um certo tempo; há outros que são muito bons quase sempre; mas há outros que são MELHORES SEMPRE e esses são imprescindíveis. VOCÊ SIMPLESMENTE É IMPRESCINDÍVEL, JULIANNE.
Um carinhoso abraço.
Primeiro a pessoa, portanto, melhoras Ju! 😉
Julianne, que fique bem o mais rápido possível… Para os que pensam que atualmente a categoria está muito chata, lembram a Ferrari dos anos 2000?
Aqui Schumacher em mais uma pole na Malasia no ano de 2004:
https://www.youtube.com/watch?v=PqPrYFuqCBQ
Obrigado e melhoras Julianne.
Melhoras pra vc JU , saúde é tudo na vida e como sempre seus textos são brilhantes
Loira, se cuida, hein. Preciso de você 100%. Lendo seus post aumento meus conhecimentos. Melhoras.
Acompanho F-1 desde sempre e sempre teve um carro pouco ou muito dominante. Rebobinando, o que me vem de mais dominante, são as Lotus JPS de Andretti e Peterson do gênio Chapman.
Só que, pra mim, que tem gasolina (premium) nas veias, SEMPRE é emocionante uma corrida de F-1, até um GP da Hungria, tem graça.
A frase mais tosca que ouço é que “eu acompanhava F-1, mas depois que Senna morreu….”.
Logo, o cara não gostava de F-1 e sim do cidadão Ayrton Senna da Silva.
Torço pro Lewis e, com muita satisfação, acompanho ele rumo ao tri. Só que em anos que ele esteve lá atrás eu não ficava revoltado porque ele não ganhava. Como em Silverstone que Lewis perdeu a largada pra massa (um piloto que eu não simpatizo), não vou desligar a TV por conta disso.
Petrolhead Power, concordo com praticamente tudo o que você disse (só não chego a antipatizar com Massa, apenas não o acho e nunca o achei excepcional, porém sempre foi rápido, mas depois da molada infelizmente ficou errático; no entanto está lutando bem com Bottas, que surpreendentemente – para um finlandês – mostrou uma certa deficiência na chuva: talvez ele devesse tomar umas aulas de pilotagem em pisos escorregadios com seus compatriotas Jari-Matti Latvala e Esappekka Lappi; ou se matricular na High Performance Ice Driving School do jurássico Rauno Aaltonen (também finlandês).
E sim, sempre houve e sempre haverá dominâncias no AUTOMOBILISMO (quaisquer que sejam as categorias) em maior ou menor escala. Como na história da Humanidade, isso é cíclico e vem desde os tempos da Peugeot lá bem no início do século XX, com o arrojadíssimo piloto de corridas e aviador de combate da Primeira Guerra Mundial Georges Boillot. Já houve dominâncias (só para citar algumas) – em priscas eras – da Bentley, Alfa Romeo, Auto Union, da própria Mercedes, Lotus de Chapman (como você citou), motores Ford-Cosworth DFV (quem não queria ter um?) e mais recentemente, da McLaren-Honda de Senna/Prost, Ferrari (5 anos de Schumacher), Red Bull/Newey/Vettel – 9 vitórias seguidas – e agora dos prateados de novo (com regulamento devidamente acordado, assinado e com firma reconhecida de todos: na ocasião não havia Polianas, ao contrário, todo mundo queria se dar bem, essa é a verdade; agora é essa choradeira). Ao contrário de muitos que apedrejam LewIIs e a Mercedes, e embora sendo do torcedor do Hamilton, também curti e apreciei muitíssimo a excelência de Vettel/Red Bull, assim como vibrei com o bicampeonato de Alonso derrotando um heptacampeão mundial no auge de sua forma. É preciso ver e apreciar a F 1 com os olhos, e não com o FÍGADO. E ela continuará existindo – não tenho a menor dúvida – até mesmo com outro nome, pois sempre haverá uma categoria top: isso é inexorável, quer haja ou não uma debandada dos descontentes, que talvez não amem tanto assim o esporte, como proclamam. Por último, Power, tudo indica que sim, vamos escrever LewIIIs ao final do ano.
Um abraço!
Julianne, sei que o assunto é um tanto quanto nebuloso, mas o que exatamente configura um “token”? Quais os limites de seus contornos? Podem ser elásticos quanto à interpretação? São aplicáveis em todas essas letrinhas que compõem a sopa da PU?
Francamente, estou abismado com o que se passa com a Honda.
Aucam a honda esta mais perdida q a rennault pelo incrivel q pareça, e eu num duvida nada da honda pular fora ou a mclarem dar as contas delas no meio da proxima temporada, esse ano ja foi e se no proximo num melhorar pra esta ali brigando com lotus , force india, toro rosso e red bull, vai pegar bicho entre honda,mclarem e alonso q ficou sen ter pra onde ir e pegou esse abacaxi ,tudo q ele e ninguem queria andar la no fundão brigando com sauber e manor.
Meu caro Chrystian, concordo com você. Aliás, estou até achando mais fácil a McLaren mandar a Honda “passear” no fim do ano que vem, se a coisa continuar desse jeito. Com que motor a McLaren andaria é que são elas, mas na F 1 as coisas se arranjam surpreendentemente. Lembra que a Williams rescindiu com a BMW e logo arranjou a Renault? Ross Brawn conseguiu um motor Mercedes rapidinho quando comprou a Honda. E não é impossível que a Honda se retire: já o fez algumas vezes, inclusive quando chegou a ter equipe própria nas décadas de 60 (quando venceu corridas) e 2000 (com Richie Ginther e John Surtees e depois com Button e Barrichello, respectivamente). Também se retiraram a Toyota (depois de muitos murros em ponta de faca) e a BMW (como equipe também). Portanto, a “jurisprudência” é farta. . . Na Fórmula Indy a Honda também está em baixa, com a Chevrolet dando as cartas (se bem me lembro, a recente vitória do vaca braba Graham Rahal foi a primeira da Honda este ano). Até na MotoGP a Honda perdeu o padrão que exibiu no ano passado. Acho lamentável o calvário vivido por Alonso e Button. Ainda bem que o espanhol tem ao seu lado Button como parâmetro, um piloto ótimo e veloz, para que não pairem dúvidas de que Alonso não ficou com sequelas de seu estranhíssimo acidente na pré-temporada.
Um abraço!
Te desejo pronta recuperação, Ju, você não tem ideia do quanto é importante e do quanto sua falta é sentida.
Boa recuperação!
Melhoras Ju, no sentimos órfãos sem seus posts.
Grande Aucan, muito bom ler seus comentários novamente. Acho que vc não resistiu ficar só lendo. Na motogp a Honda foi bemhoje, quem sabe não levem bons fluídos para a divisão de F1.
Concordo que a F1, bem ou mal, continuará existindo. E nós continuaremos assistindo. Ainda bem que temos a Julianne que trás com suas análises a emoção que muitas vezes falta nas pistas.
É verdade, caro Alexandre. Não poderia deixar de expressar meus votos de plena recuperação a essa admirável, atenciosa, competente e especial jornalista que é a nossa querida Julianne, e que nos presenteia sobretudo com imparcialidade em suas acuradas análises. Também não resisti ao comentário lúcido do Power: não é porque não gostemos do piloto X ou Y estar ganhando muito que vamos deixar de assistir a F1, eis que não há novidade alguma em dominâncias – que são cíclicas (e acabam se exaurindo naturalmente).
Mas respeite-se o que foi acordado, para a categoria não virar esculacho – por mais ABSURDO que tenha sido esse engessamento (e todos esses cavalheiros que o aprovaram sabiam desse risco previamente, ainda mais diante de uma tecnologia nova). Não gostei da puxada de tapete artificial que fizeram com Newey/Red Bull (e por tabela com Vettel) só porque estavam ganhando muito. No que tange a equipes, dominâncias de A ou B têm que ser enfrentadas com todo mundo que ficou pra trás voltando às pranchetas e queimando a mufa para se superar. Tipo assim o que o Arrivabene está tentando fazer na Ferrari (neste caso infelizmente com todas as limitações de uma estreita margem de permissão). Nada de constantes trocas radicais de regulamentos. Isso dificulta a compreensão do esporte até para os aficionados. A Mercedes trabalhou muitíssimo bem com essas novas regras e seu carro vencedor não o é apenas pelo motor, mas também pela aerodinâmica – que é produto de uma equipe liderada por alguém que foi refugado pela Ferrari como conservador: Aldo Costa. E dizia-se (muitíssimos) que não havia vida fora do mago Newey, inclusive desmerecendo-se injustamente toda a genialidade de Vettel, atribuindo-se apenas ao talento de Adrian as façanhas de SebVet. Pois o resultado está aí: Costa e SebVet provando o seu imenso valor nas equipes para onde se transferiram. É preciso que se aprenda a conviver com alternâncias, mas que não se as busque de maneira artificial ou forçada, com mudanças de regras em meio ao jogo. E que se reconheça a excelência da Mercedes.
Nessa questão de previsibilidade e dominância, apenas como exemplo, aqui no Brasil eu saía de casa cedinho para ver a vitória de ANTEMÃO SABIDA das fabulosas/lindas berlinetas da Willys de Greco – e tempos depois, dos poderosos Karmann-Ghias-Porsche da DACON de Goulart, ambas com pilotos maravilhosos, como Bird Clemente, Luís Pereira Bueno (WILLYS), Wilson Fittipaldi Jr., Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace (DACON). Cada uma a seu tempo, não tinham adversários. Nem por isso eu deixava de amar o automobilismo. Ao contrário, curtia demais suas performances.
Sempre leio com prazer seus comentários, Alexandre. Creio que temos visões bastante convergentes sobre equipes e pilotos, bem como sobre o automobilismo em geral. Ontem Márquez detonou geral. No entanto, acho que Valentino merece como nunca este campeonato.
Forte abraço.
Julianne
Antes de tudo, melhoras! Não nos abandone, já que lá no Uol onde vc posta suas matérias é impossível interagir.
Pegando o gancho da pergunta do aucam ali em cima sobre os tokens, também tenho uma dúvida e não sei se vc saberia me dizer:
A vantagem que a Mercedes impõe na classificação é muito maior do que aparenta nas corridas, então tudo me leva a crer que eles tem um configuração de motor para classificação e outra para a corrida, algo que as clientes dela ( Williams, Force India e Lotus) não tem. É possível isso? Algo relacionado ao software?
Porque o GP de Silverstone mostrou um caminho alternativo para dar um pouco de imprevisibilidade as provas. Se alguem roubasse a primeira fila das Mercedes, com uma estratégia adequada ou até mesmo um jogo de equipe, em algumas corridas como Mônaco, Silverstone e até mesmo Hungria, palco do próximo GP, as Mercedes poderiam ser desafiadas.
Vai acabar a primeira metade da temporada e o domínio da Mercedes é avassalador. Se a Ferrari pudesse ter um “motor de classificação” mais potente, claro que Vettel faria sua parte e roubaria a pole das Mercedes.
Abraço
P.S. que bom ler seus comentários novamente aucam!
Valeu, obrigado, Alex. Tenho notado que você também tem estado mais como leitor. Grande abraço.
As clientes também se beneficiam disso, vide o constante crescimento da Williams da sexta para o sábado. O motor Mercedes está desenvolvido em um nível que não precisa ser usado em sua configuração máxima o tempo. Perguntei exatamente o que era ao Nasr e ele disse que não é nada específico, eles simplesmente são mais potentes e isso é mostrado na hora que importa.
Bom dia Julianne,
Melhoras para você e primeiro lugar, é interessante lembrar também que os pneus tinham uma influência tão grande na performance que os carros até algum tempo atrás eram construídas exclusivamente em cima dos pneus (não sei se ainda é assim), por isso, entre outro motivos, que a FIA pediu a Pirelli para fazer esses pneus que desgastam rápido.
Gostaria de te enviar um email, mas não encontro o endereço no blog, como faço?
Um grande beijo para você.