É quase impossível escapar à tentação de especular sobre quem será o novo dono da vaga mais cobiçada da Fórmula 1 atualmente após o anúncio totalmente surpreendente de Nico Rosberg cinco dias após ser coroado campeão do mundo. Afinal, são vários os caminhos por que a Mercedes pode optar, desde fazer uma aposta no jovem Wehrlein pensando em garantir pontos para os construtores e tentar atrair um piloto de maior calibre quando todos estiverem soltos no mercado, passando pela negociação do passe de Valtteri Bottas com a cliente Williams e chegando até a um acordo com um campeão do mundo, na criação de um dream team que, apesar de parecer um tiro no pé num primeiro momento, é a cara de Toto Wolff.
Olha eu aqui dizendo que não ia especular mas já especulando…
Antes de qualquer projeção para 2017, a decisão de Rosberg mostra o quão singular foi o campeonato de 2016, daqueles que só com o distanciamento do tempo poderemos avaliar. Sem entrar nos pormenores de falhas técnicas, que sempre foram intrínsecas a este esporte, foi o ano em que um piloto tecnicamente inferior – longe de ser fraco, mas indiscutivelmente com menos repertório que Hamilton – e com uma mentalidade e atitude que o colocariam no rol dos ‘ótimos pilotos que não tinham aquele algo a mais dos grandes campeões’ conseguiu bater o favorito com o mesmo equipamento.
E isso ao mesmo tempo custou tanto e é tão difícil de se repetir que não sobrou outra alternativa a Rosberg senão hastear a bandeira branca. Lá do topo da montanha.
Foi uma decisão ao mesmo tempo corajosa e inteligente. Quem sonhou muito alto na vida e trabalhou muito duro e por muitos anos para chegar lá sabe o vazio que se sente depois da conquista tão desejada. E sabe que, quase automaticamente, a energia já não é a mesma.
Para quem as coisas vêm mais naturalmente, é quase instintivo continuar. Para quem tem a mentalidade predatória e impossível de se satisfazer inerente aos multicampeões, é estúpido parar no auge. Para quem reconhece que chegou ao limite do que tem a capacidade de fazer, é a única solução.
Chamou muito a atenção a reação de Rosberg após o título e só aí pudemos ter a dimensão do quanto toda essa montanha-russa de 2016 custou a ele mental e socialmente. Ao invés de tirar um peso das costas, parecia que o título fazia tudo doer ainda mais – ou que ele permitira demonstrar naquele momento a dor que carregava.
E então ficou claro que aquele cara que soava tão blasé nas entrevistas que parecia ser vazio por dentro devia explodir cada vez que Hamilton fazia tudo parecer tão simples; cada vez que ele se gabava de ter vencido uma prova depois de ficar gravando suas músicas madrugada adentro, enquanto Nico tinha que deixar até a família que quis tanto construir de lado.
É, pensando bem a decisão não surpreende em nada. Afinal, o título foi celebrado com a dor de quem não tinha mais nada para dar para realizar sonho de criança. E o adeus veio com a tranquilidade de quem pode começar a sonhar novamente.
21 Comments
“E o adeus veio com a tranquilidade de quem pode começar a sonhar novamente.” poucos tem esse luxo! De começar um sonho novo, após a conquista de um sonho cobiçado por muito tempo.
Quanto mais aprendo/conheço Rosberg, mais o admiro como ser-humano!
Concordo com o Mugello
Já tinha simpatia por ele por ser um “underdog”, e agora ainda mais, por saber colocar as conquistas pessoais em perspectiva com as escolhas futuras.
A gente tem sorte de contar com esse olhar da Julianne, do Ico, que têm sensibilidade de captar e tentar interpretar as decisões e comportamentos dos pilotos, dirigentes, técnicos da F1. Pra daí a gente poder dar nossa opinião, mesmo à distância.
Sair do maniqueísmo é sempre saudável.
Fenomenal seu texto!!!
A Mercedes deveria colocar Jenson Button nesta vaga por um ano e ai pensar em um novato para 2018. Bom, barato,não está oficialmente aposentado, não vai arranjar confusão com Hamilton podendo até rivalizar como aconteceu em 2011. Tenho a impressão que a Mercedes não vai colocar um peso morto para trabalhar por Hamilton até para mostrar para ele que a equipe é mais importante que os interesses do piloto. O único ponto negativo é ser mais um ingles na equipe. Mas como os alemães não dão bola para a F1 mesmo….
Acho que os alemães até dão bola.
O GP caseiro (que acabou de sair do calendário) passou a ser vazio porque é junto ao GP da Áustria, que é lá perto.
Acho que o GP da Alemanha, quando era bem frequentado só dava prejuízo por causa das altas taxas cobradas. E a bianualidade do mesmo, quando era realizado ajudou a “descativar” o público.
Se ficasse, tomaria pau de novo. Ele, melhor que ninguém, sabe que Lewis é osso e, na pista é complicado bate-lo. Se mudar de equipe, pior ainda. Aí não disputaria, só participaria.
Agora, um monte de coisa se encaixa. Nico chega pros “caras” da Mercedes, durante aquelas discussões sobre várias situações entre Nico e Lewis e diz; “Me faça campeão e eu aposento na mesma hora”.
Os caras concordam e Lewis começa a ter várias quebras inexplicáveis. Após o campeonato decidido a favor de Nico, Lewis voa na pista e nada de quebras.
Tomara que o companheiro de Lewis seja o Fernando pra provar pra um monte de gente e pros comentaristas e narradores de plantão que Fernando É muito bom, mas Lewis é melhor.
Power, com essa alcunha só podia falar isso que vc falou mesmo , “Agora, um monte de coisa se encaixa. Nico chega pros “caras” da Mercedes, durante aquelas discussões sobre várias situações entre Nico e Lewis e diz; “Me faça campeão e eu aposento na mesma hora”.
Socorro!!!
Caramba, até nos quadrinhos da Marvel temos enredos mais verossímeis e multidimensionais do que a teoria que o Power nos presenteou.
O raciocínio reducionista é mesmo um dos grandes males de hoje em dia…
Sem ofensas, cara, mas a vida é muitíssimo mais do que provar ser melhor do que quem quer que seja. Mesmo dentro de um ambiente “o filho chora mas a mãe não escuta” que é a F1.
O Rosberg percebeu isso.
(e eu achando que em 2016 já não tinha mais nada pra acontecer…)
Acho que a dedicação extrema é comum a todos os campeões, incluindo Hamilton. Prova disso foi a queda de rendimento do inglês imediatamente após a conquista do título de 2015. Não vejo a atitude de Rosberg como uma fuga ou medo de não conseguir repetir o feito. Mas vejo como atitude de um homem maduro que atinge seu objetivo e não vê mais o porque de se dedicar com tanto afinco e sacrifício a algo que para ele já não tem mais tanta importância, uma vez que outras prioridades se apresentam a ele, como a sua familia. Bater Hamilton é um feito e tanto que não pode ser diminuído pelos problemas técnicos enfrentados por ele. Faz parte do automobilismo e Rosberg já passou por isso também.
Com essa atitude Rosberg demonstra enorme grandeza, pois abre mão de coisas que outros não abririam em função de ego ou vaidade. Mostra-se superior a tudo isso por atingir um nível que outros não atingem jamais, independente do número de títulos.
I.e. Novak Djokovic circa 2016?
Belo ponto de vista !
Achei uma tremenda covardia de rosberg sair tão cedo da F1, tantos mais velhos do que ele ja foram campeões mundiais, mas por outro lado eu fiquei feliz porque agora posso talvez ver o meu sonho ser realizado que é ver um dream team formado por Fernando Alonso e Hamilton.
Excelente texto. Como sempre.
O cara tem uma família agora. Tem um pai que também já foi campeão de F1 e sabe o que é isso. O que para muitos que veem o esporte como uma arena romana, foi um ato de covardia. É uma atitude de audácia e têmpera que só as poucas pessoas que conseguem enxergar a vida com singular lucidez teriam a coragem de fazê-lo.
O rosberg fez bem em sair talvez ele tire um ano sabadico e retorne, ele ganhou esse título na raça afinal a mercedes gira ao redor de hamilton, o ingles é o queridinho de lauda e wolff eles nunca esconderam isso, quem prova melhor disso que a equipe nem se esforçou em segura lo, se fosse o hamilton a equipe daria os céus e a terra para ele não sair. Espero ver alonso ou button ao lado de hamilton, mas como sei que o cara nāo é bobo vai querer um segundāo que nāo atrapalhe ele em nada, duas otimas opçães seriam massa ou nascer. Com esses companheiros talvez ele até quebre o numero de vitórias do schumy, imaginem se o massa tivesse sido companheiro do hamilton, ele teria rapado todas as 19 que a equipe teve este ano, talvez 20 porque houve um incidente que eles bateram e verstapen herdou a vitória .
A equipe daria os céus e a terra para segura-lo porque ele é melhor que Rosberg.
Observe os GPs chuvosos da Inglaterra e do Brasil esse ano. Qual a coincidência de ambos?
Hamilton disparado na frente e Rosberg tendo dificuldades com Verstappen.
Não é condição normal na história da F1 uma equipe ter um carro tão superior quanto a Mercedes teve nos últimos anos. A tendência é que a situação volte a ser competitiva no ano que vem e numa situação competitiva as limitações de Rosberg ficam muito mais evidentes do que quando ele mesmo sem pilotar bem consegue chegar tranquilamente em segundo, o que aconteceu nos últimos anos.
Hamilton não é indispensável num cenário em que a Mercedes tem de longe o melhor carro, mas é em um que a Mercedes está no meio da briga e as outras equipes tem Vettel, Alonso, Ricciardo e Verstappen entre os seus.
Rosberg não é e nem nunca foi ruim prova disso que fez chover com o horrível carro da williams em 2009 , ganhou de schumacher e venceu hamilton na melhor fase de sua carreira, vettel quando foi campeão tinha um foguete nas mãos e não tinha rival na equipe, para mim o título de rosberg vale pelos quatro do vettel, e os 5 de schumacher na ferrari, imaginem se vettel ou schumy tivessem adversários fortes na mesma equipe jamais seriam multicampeões. Vettel perdeu para um novato e tomou um vareio de um piloto quase quarentão, perdeu na classificados e só não perdeu nos pontos porque a ferrari armou estratégias para favorece lo, e ainda digo mais a redbull tem um carro absurdamente bom , talvez tão bom quanto a mercedes, só falta pilotos de ponta, imagine se fosse o inverso verstapen e ricciardo na mercedes e hamilton e rosberg na redbull. Sera que hamilton ou rosberg nao seriam campeões ou talvez brigassem até o final pelo título? Ricciardo não é nem nunca foi grande coisa , perdeu para o patético kyviat ano passado, este ano terminou em terceiro mas ainda acho que a redbud merecia pilotos melhores , quem sabe alonso ou hamilton .
Bom, se pra você o título do Rosberg vale 4 do Vettel e 5 do Schumacher eu só posso dizer : OK.
Foi campeão com uo carro mais vencedor da história da F1, contra um companheiro que teve quebras. Ele também tem seus deméritos. Mas vou me abster de comparar.
Sabe que Hamilton viria mordido, se satisfez com pouco, é jovem, está na melhor equipe, melhor carro. Precisava de uma temporada arrasadora pra se garantir no rol dos grandes, mas se apequenou, sai pelas portas dos fundos, mas em nada desmerece o ano de 2016, Nico foi muito bem.
Ju, você não escreve o óbvio ululante, vai além…sem mais. Você é uma poetisa desse esporte, continue brilhando.
Qual a motivação de escalar o Everest por mais de uma vez? Rosberg respondeu.
Fraco!