A receita para vencer em Mônaco e em Singapura nos últimos anos tem sido adotar o ritmo mais lento possível e não deixar nenhum espaço abrir no pelotão para que os rivais parem. Com a obrigatoriedade do uso de três jogos de pneus na corrida deste ano, isso teria que ser feito duas vezes, o que significava andar tão lentamente que foi uma fórmula que nem todo mundo seguiu.
O ponto central para entender a cara da corrida de Mônaco é a diferença necessária para que se tenha uma ultrapassagem, muito maior do que em outras pistas: os cálculos das equipes são de que, se um carro for 4s5 mais rápido que o rival que está à frente, ainda assim ele tem 50% de chance de passar.
É por isso que você consegue adotar um ritmo tão absurdamente lento e mesmo assim um trenzinho formar atrás de você.
É claro que o tamanho dos carros atuais não ajuda em nada, mas vamos lembrar que não é um problema novo. Um caso famoso foi quando Enrique Bernoldi segurou o então vice-líder do mundial David Coulthard por metade da corrida em 2001.
Mônaco precisa de aditivos
Mônaco deve ser apreciada no sábado. No domingo, é uma corrida que precisa de aditivos. SC, bandeira vermelha, chuva. Essa regra nova demonstrou não ser um aditivo suficiente, mas também não comprometeu o resultado.
Até porque o piloto que foi o mais rápido quando importava venceu a prova. Lando Norris teve um fim de semana importante, retomando a confiança no carro na classificação, enquanto o ainda líder do mundial Oscar Piastri nunca pareceu à vontade com o carro e só chegou em terceiro porque a McLaren é muito forte em curvas de velocidade média.
E Charles Leclerc se colocou entre eles – e teria vencido se tivesse feito a pole – porque o problema da Ferrari em extrair rendimento de pneus novos na classificação não é algo tão importante em Mônaco, e também porque ele é um especialista nesta pista.
Os três fizeram basicamente a mesma estratégia, largando com pneus médios e depois fazendo dois stints nos duros no caso da McLaren, um com duro e um com médio para Leclerc. As paradas foram mais para cobrir um ao outro, aproveitando os espaços no pelotão deixados pelo que estava acontecendo mais atrás.
Max Verstappen tinha que tentar algo diferente

A Red Bull sempre fica devendo nessas pistas mais lentas e eles tentaram de tudo com a alocação de pneus mais voltada à classificação (o que fez com que ele fosse para a prova com um jogo de médios e um de duros, o que significava que teria que usar macios na corrida.
A ideia era largar com duros e fazer dois stints bem longos para conseguir lucrar com algum SC ou especialmente bandeira vermelha no final. Com isso, ele usaria os três jogos regulamentares economizando tempo em uma das trocas. Por isso, Verstappen esperou até o finalzinho para parar, e poderia ter vencido a prova se uma bandeira vermelha tivesse aparecido.
LAP 70/78
— Formula 1 (@F1) May 25, 2025
Our top three are so close!
Verstappen has to pit one more time#F1 #MonacoGP pic.twitter.com/uStWvi4eL2
Mais atrás, os jogos estavam bem mais extremos
Isack Hadjar tinha largado em quinto, de médios, e tendo também que usar os macios em algum momento. Sem um SC, ele precisava de pista livre para parar duas vezes perdendo o mínimo possível de posição de pista. Seu companheiro, Liam Lawson, estava quatro posições atrás, e teria a missão de criar esse espaço.
A corrida de Hamilton
Hadjar sabia que sua corrida não seria com Alonso e Hamilton, que largavam com duros e não iam tocar nos macios na prova. A presença de Alonso à frente de Hamilton (após uma punição de três posições sofrida pelo inglês por atrapalhar Verstappen na classificação) foi o primeiro golpe na corrida do piloto da Ferrari.
Antes da parada antecipada para fazer o undercut na Aston Martin, Hamilton já tinha perdido 15s em relação aos líderes. Depois, perdeu quase 20s no trânsito a mais que Norris dos retardatários. Para piorar, ele pegaria a turma toda de novo após sua última parada, o que não aconteceu com os ponteiros. Cruzou a linha de chegada 51s atrás, sem entender muito bem o porquê.
Alonso abandonaria, deixando mais cinco posições em aberto nos pontos. Esteban Ocon se deu bem: ele se aproveitou do espaço aberto por Lawson para Hadjar e fez suas duas paradas logo no começo, entre as voltas 16 e 28, e chegou em sétimo, entre o francês e o neozelandês.
Qual foi o jogo de Lawson?
Liam Lawson is playing the ultimate team game for Racing Bulls 💪#F1 #MonacoGP pic.twitter.com/txPCmC79JF
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O piloto da Red Bull tinha a missão de andar 40s mais lento do que poderia, para que seu companheiro fizesse duas paradas e usasse os três jogos de pneus regulamentares sem perder posições. Dito e feito: Hadjar parou na volta 14 e logo depois na 19, e foi até o fim.
A partir da volta 20, Lawson aumentou o ritmo (ele foi 2s mais rápido que na volta anterior assim que o companheiro parou) porque agora ele precisava abrir espaço para ele mesmo parar, o que foi facilitado porque outra equipe adotaria a mesma tática: a Williams.
Hora da Williams jogar
Na volta 19, Albon era décimo com o pneu médio e Sainz era 11º com o pneu duro e eles tinham duas paradas ainda pela frente. Demorou um pouco para eles perceberem o que tinham que fazer porque é só na volta 25 que Sainz começa a virar 3s por volta mais lento, abrindo espaço entre ele e o companheiro.
Albon faz duas paradas em oito voltas, na 32 e 40, e volta logo à frente de Sainz. É a hora de retribuir o favor: ele deixa o companheiro passar e começa a andar bem lento. Sainz para na volta 48 e depois na 54, e não perde posição nenhuma. Os dois pontuam porque, a essa altura, Alonso já tinha abandonado.
Mercedes na terra de ninguém e a corrida de Bortoleto
À Mercedes, restou esperar por alguma bandeira vermelha ou algo do tipo. Eles já estavam tão longe dos pontos porque seus pilotos, que largavam fora do top 10, tinham perdido tempo com a tática dos demais e não tinham parado. Eles estavam na pior situação possível porque, se estivessem entre os últimos poderiam ter feito as paradas cedo, como fez Bortoleto, e depois lucrado com quem ficou apostando em algum “aditivo” para a corrida.
Bortoleto se complica na primeira volta
A corrida de Bortoleto tinha se complicado na primeira volta. Ele passou Antonelli por fora no hairpin e depois foi surpreendido por como o italiano mergulhou por dentro na Portier, não conseguiu fazer a curva e tocou a asa dianteira no guard rail.
Bortoleto foi outro que focou na classificação, então só tinha um médio e um duro guardados para a corrida. E a Sauber aproveitou que o ritmo lento de Lawson significava que ele conseguia voltar rapidamente ao pelotão para cumprir o regulamento dos três jogos de pneus com paradas na 26 e 35, quando ele voltou para o mesmo jogo de médios do início da corrida para fechar em 14º.
No final das contas, talvez a gente não lembre do GP de Mônaco por nada disso. E, sim, como o início de uma nova fase para Norris no campeonato.
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