De tempos em tempos na história da Fórmula 1, assim como em qualquer outro esporte, um piloto se destaca com uma sequência de conquistas impressionante. Ser o homem no lugar e momento certos cria uma vantagem numérica pra lá de respeitável. Há quem consiga repetir isso por uma, duas temporadas. Mas apenas três na história construíram ao menos quatro anos seguidos de vitórias nos 64 anos da categoria: Juan Manuel Fangio, entre 1953 e 1957, Michael Schumacher entre 2000 e 2003 e, desde 2010, Sebastian Vettel.
Dos três, apenas o argentino conseguiu o feito com equipes diferentes – três: Masserati, Ferrari e Mercedes – sempre procurando o melhor equipamento para continuar vencendo e contando com seu talento e o apoio do governo de Perón para tanto. Foi a estrela das imbatíveis Flechas de Prata em 54 e 55 (dividindo a equipe com outro grande da época, Stirling Moss, no último ano). Em 1956, viveu uma relação difícil com Enzo Ferrari no time italiano, mas venceu com uma bela ajuda do companheiro Peter Collins, que lhe cedeu o carro em quatro das sete etapas mesmo tendo chances de título. Sua última conquista (quinta da carreira e quarta em sequência) ficou marcada por aquela que é considerada uma das grandes performances de um piloto na Fórmula 1 quando, após um problema nos boxes, teve de se recuperar e chegou a virar 11s mais rápido que os rivais no velho Nurburgring (cuja volta tinha mais de 9min na época) para vencer.
Até pelo regulamento permitir a cessão de carros entre companheiros, Fangio tem a maior porcentagem de vitórias da história (46.15%), conquistando 24 das 52 provas que disputou. Isso praticamente anula o “efeito abandono” em suas estatísticas, o que seria esperado pela época em que competiu. Para se ter uma ideia, o argentino abandonou apenas 4 provas entre as 28 (14,2%) de seu tetra consecutivo.
Competindo em tempos mais próximos, Michael Schumacher e Sebastian Vettel têm uma trajetória mais parecida em seus tetras consecutivos. Houve campeonatos mais fáceis – 2002 e 2011 entraram para a história com recordes. Dois exemplos são decisão com maior número de etapas para o final, seis, para Schumacher; e maior número de voltas lideradas em um único ano, para Vettel, com 739. Em outros anos ambos usaram a vantagem de seu equipamento e também tiveram grandes performances individuais para bater rivais de qualidade com relativa folga, como 2000 para Schumi e esta temporada para Vettel. E ocasiões em que a decisão foi para a última etapa e detalhes decidiram a favor dos dois pragmáticos alemães: 2003 para Michael e 2010 e 2012 para Seb.
Porém, mesmo que os títulos de Schumacher e de Vettel tenham apenas 10 anos de diferença, a forma de dominar na Fórmula 1 mudou bastante. Uma série de restrições técnicas mirando a redução dos gastos e um regulamento praticamente congelado diminuiu as margens de manobra dos times e de certa forma valoriza o tetra de Vettel e da Red Bull, lembrando que Schumacher e a Ferrari conviviam com testes ilimitados e pneus feitos sob medida pela Bridgestone.
Da mesma forma, isso também explica como a atual estrela da F-1 é o “lanterninha” na maioria dos quesitos do gráfico abaixo. Comparações à parte, o que fica claro é que cada um desses conjuntos aproveitou da melhor maneira a realidade que lhes foi apresentada e merece os louros por uma conquista que, não coincidentemente, é para poucos.
28 Comments
Esqueceu do Prost? Ele foi o primeiro, após Fangio, a ser tetra campeão!
A comparação é entre os tetracampeonatos consecutivos, Maxwell.
Sensacional. Parabéns ao garoto prodígio Sebastian Vettel.
Um piloto rápido, constante e que sabe exatamente o que fazer para tirar do carro que tem.
Depois da era Schumacher e com alguns pilotos top no grip, era difícil imaginar que alguém conseguisse um domínio tão grande.
O cara é grande mesmo, assim como é costume em transmissões pegarem as melhores parciais para compor a “volta perfeita”, ele conseguiu reunir as melhores qualidades do “piloto perfeito”!!! Tetra campeonato merecido e de equipes também!!!
Excelente, como sempre.
Seu post está primoroso, Julianne. Permita-me sugerir-lhe apenas tirar as aspas de reais e grafar a palavra em caixa-alta. O Tetra de Vettel é um resultado lógico: o melhor piloto do momento, o melhor carro do momento e a melhor equipe do momento. O “problema” é que, também por dedução LÓGICA, esse resultado reúne todas as condições para se repetir no ano que vem: talento indiscutível de Vettel + competência indiscutível de Newey + longa expertise da Renault com turbos + eficácia da equipe Red Bull como um todo e trabalhando prioritariamente (claro) para o Tetracampeão + total disponibilidade de recursos financeiros necessários = PENTA (?). Acrescente-se a isso um companheiro de equipe fraco, que em nada atrapalhará. Não é um exercício de adivinhação, o quebra-cabeças está com o desenho já armado, quem quiser vê-lo com nitidez é só aproximar e encostar as peças. Isso não obstante mudar tecnicamente TUDO para 2014.
Se houver algo para tentar desfazer esse desenho, só poderá vir de Hamilton/Mercedes. A Mercedes por estar preparando um motor do qual só dizem maravilhas, e Lewis por ser ainda um grande piloto, não obstante vir “penando” com um surpreendente Rosberg. A Ferrari primeiro terá encontrar um rumo, ou reencontrá-lo – como quiserem -, o que se tornará ainda mais difícil com um Alonso insatisfeito fazendo cobranças, gerando tensões e pelo fato de que terá dois galos no mesmo poleiro. A McLaren terá que priorizar desenhar um carro para receber os motores Honda, em 2015. Acredito que não seja apenas uma simples questão de tirar um motor (Mercedes) do mesmo carro e encaixar outro no lugar (Honda).
Um dos desafios que todos terão de enfrentar (conforme li aqui no Totalrace) será conciliar a aerodinâmica com a necessidade de refrigeração dos novos motores (olha o Newey aí de novo, esse detalhe é importantíssimo para ser levado em consideração, ainda mais em se tratando de turbos). São DEDUÇÕES LÓGICAS feitas em cima da realidade que vivemos hoje. Qualquer resultado diferente poderá ser até considerado como zebra. Quem conseguirá parar Sebastian e sua Red Bull?
Vettel está de parabéns por mais um campeonato brilhante e merecido, ganho até aqui sem erros.
O mais interessante de todo caro Aucam, é ver como vão caindo os velos e cada vez mais gente se convence que o Vettel é atualmente o melhor e mais combativo piloto do Grid.
O chato do tetra, é que no final seus numeros absolutos vão refrendar um dominio total e facilerrimo, coisa que não foi real. A Red Bull não era a melhor equipe do começo do ano, e o Vettel mesmo assim deu um jeito de se manter perto. Isso foi salientado por Webber, quem não tem pq querer resaltar a Vettel, mais foi claro em dizer que viu a Vettel ganhar com carro bom e também com carro que não daria para fazer o que fez.
Não acho que mude muito pro ano que vem. Só a Williams que de repente sai desse já longo letargo.
Amigo Bruz,
Concordo plenamente com suas observações, já que nas primeiras provas a Red Bull ainda estava em desenvolvimento, mas mesmo assim Vettel sempre tirou o máximo dela, marcando os valiosos pontos que agora lhe garantiram o campeonato ganho por antecipação e merecidíssimo. Não obstante as mudanças que virão para 2014, MEU PALPITE é que será PENTA no ano que vem, todas as condições estão postas, ele estará cada vez mais experiente, inclusive. Aliás, Sebastian já traz o penta no próprio nome, hahahaha V ettel (muito interessantes as camisas da equipe IV ettel). É Bruz, mas o que ainda tem de cético por aí!!! Já andei percorrendo hoje muitos sites e fico impressionado de ver a quantidade de inconformados! Só rindo, mesmo. . .Se houver alguma reação a Vettel em 2014 ela só poderá vir de Hamilton/Mercedes, mas tenho muitas dúvidas.
E quanto a Williams, espero que recupere pelo menos parte da grandeza que já teve, mas olha, tá difícil. . . Não atrai bons técnicos porque não tem dinheiro e não atrai patrocínio porque não tem bons técnicos, um círculo vicioso difícil de romper. No entanto, dizem que suas instalações ainda são excelentes, o que dá alguma esperança.
Agora estou esperando a consagração de Márquez, o garoto não pode deixar escapar o título! Reconheço a grandeza de Lorenzo, mas quero que o estreante ganhe.
Bruz, entre neste site e verifique a pesquisa que está sendo feita lá:
http://www.planetf1.com/ Incrível!
Será que se Jim Clark tivesse vivido para vencer 7 campeonatos com a Lotus/Chapman precisaria passar por uma BRM (Graham Hill passou e ganhou) e vencer com ela para ter sua grandeza e excepcionalidade reconhecida? Considero isso que ocorre com Vettel um fenômeno, um “hulkenberguismo” às avessas, hahahaha!!!! Por essas e outras considero um equívoco não terem levado Kimi para correr ao lado dele, para servir de parâmetro. Agora, acho que Vettel não tem nada que sair da Red Bull, seria burrice. Os torcedores alemães com certeza estão adorando a supremacia e nada vejo de errado nisso. A Mercedes é que tem que se empenhar e Hamilton tratar de se acostumar ao novo carro para dar combate ao alemão; dentro do horizonte visível é o único que poderá fazê-lo. Newey já declarou hoje que a aerodinâmica continuará sendo importante em 2014.
Hehe, Vettel fez uma reverência ao carro, eu faço uma reverência ao trabalho da Ju, rsrsrsrs/
É o que todos os campeões deveriam fazer.
“Acho” que Vettel e Alonso, andando de Marussia, não disputariam título, e que outros Webber’s do grid não venceriam com a Red Bull.
Sagitário > Homem + Cavalo. Campeão de F1 > Homem + Máquina. (A reverência deveria ser obrigatória, rsrs)
Ooopsss /
Ótimo texto. Julliane, provavel que Vettel ja comece como favorito no próximo ano. Em 2005, houve uma mudança na categoria para tentar conter o dominio do Schumacher. Deu certo. Podemos esperar que 2014 aconteça algo parecido? Sera o “fim” da era Vettel?
Vou abordar isso mais adiante, Leonardo. Mas a princípio a Red Bull dá sinais de estar muito bem organizada para lidar com essa mudança.
Ju,o que o Honner quis dizer nessa declaração sobre o Vettel “Ele pilota como um piloto de motocross ou de ovais em termos de entrada de curva. Ele fica totalmente relaxado ao ter um carro que se movimenta quando ele aponta na curva, e nem poucos pilotos são assim”
Que ele entra forte na curva e “se vira” depois. Há quem prefira entrar forte e há quem sacrifique a entrada para acelerar antes na saída.
Entendi Ju;Nos tempos do Michael Schumacher na Ferrari lembro do Ross Brawn falando que o Schumacher quebrava essa regra ao ter entrada rápida e saída Rápida nas curvas isso realmente é possível ?
Imagino que, conseguindo “endireitar” o carro rapidamente, seja possível. Se o Brawn está falando…
Uma técnica apurada com um carro com estilo traseiro é possivel
Então se explica o “contra-intuitivo” ao qual se referia Mark em 2011.
E talvez também se explique só o Vettel virar absurdamente rápido em Cingapura.
Jú, adoro seus texos recheados de dados estatísticos… Faz um com os atuais 322 pts que se colocássemos Vettel como equipe ele ocuparia a vice liderança do mundial dos construtores.
Parabéns
Marcelo
Um outro fato interessante foi a de Alonso comemorar o record de pontos sem marcar nenhum ponto.
boa observação… mais um fato que passou batido devido ao título do Vettel.. se até o título de construtores está sendo muito pouco falado, o detalhe do capacete é que não seria mesmo.
A boa notícia é que Alonso vai poder usar esse capacete essa semana novamente. Hahaha!
Comecei a torcer pra ‘IVettel’ na última corrida de 2010. Foi ali, naquele fatídico GP, que constatei, enfim, o talento do ‘crash kid’. (independentemente do título conquistado)
Mas não sou cego. Digo que, nos últimos três anos, apesar dos títulos, o alemão deixou a desejar em alguns momentos. Não tirava tudo do carro (não estou falando em erros). Porém, nesta temporada de 2013 pilotou de maneira fenomenal. Tirou tudo e mais um pouco do equipamento.
Hoje, o nível que ‘IVettel’ apresenta é brilhante. É como disse Newey > Agora, pra criticar o alemão, tem que inventar fraquezas.
Infelizmente ou não, demorei muito pra enxergar o talento do ‘menino prodígio’. Foram 62 corridas. E mais outras 55 pra dizer que, HOJE, o ex-‘crash kid’ é o mais completo* da F1.
* Até 2012, colocava Alonso.
Que venha 2014.
Também comecei a torcer em Abu Dhabi 2010. Já admirava antes, mas torcer foi ali.
Porém discordo de sua afirmação. Ele sempre tirou tudo do carro. Ocorre que em 2009 e 2010 errou bastante (até natural, tinha 22/23 anos). Em 2011 foi quase perfeito, perdeu 7 pontos no Canadá pela poça d’água na última volta, mas fora isso, foi uma pilotagem fantástica.
Ano passado, com um carro que era melhor para o estilo do Webber (Vettel chegou a pedir para usar o RB7, o que a equipe negou), Vettel pontuou mais que o companheiro e chegou em posição de disputar o título quando o carro melhorou, em Cingapura. O que posso citar de erro dele em 2012 foi largar mal e querer ser cauteloso em Interlagos, o que ocasionou a perda de posições e a batida – só que aí veio uma das corridas de recuperação mais fantásticas da história.
Este ano, talvez muito pelo que passou em 2012, ele aprendeu a maximizar resultados. Acho que Vettel sempre disputará títulos, independente de ter o melhor carro, a exemplo do que Alonso fez ano passado e este ano.
Talvez, realmente, eu é que esteja querendo ver perfeição demais do Vettel, pois tal como você, Newey só citou 2009 e 2010.
Abs.
Ano 2.000 fácil para Schumacher? Melhor voltar e assistir Suzuka. Mika Hakkinen e Schumacher um dos maiores pegas por mim assistidos, superior inclusive ao Renè Arnoux x Gilles Villeneuve. Sim, era madrugada e me lembro que até o Reginaldo Leme não percebeu a grandeza do que estava assistindo! Ambos quebravam o recorde da pista (e ela estava úmida!) consecutivamente por mais de quarenta voltas. E o final? Schumacher com um segundo e pouco de vantagem!