Na sexta-feira depois dos treinos livres, o cenário era de um GP do Canadá completamente aberto, com vantagem para a estratégia de duas paradas, dando preferência aos hipermacios – justamente os pneus dos quais o time que tinha tido o melhor ritmo nas simulações de corrida, a Mercedes, queria fugir a todo custo. Como terminou sendo uma prova monótona, e com a Ferrari na frente?
Primeiro, algumas considerações sobre os pneus. Na sexta-feira, o supermacio era 0s5 mais lento que o ultramacio que, por sua vez, era 1s1 mais lento que o hiper. Mas o mais significativo era que o comportamento dos compostos rosa e roxos era bem distinto, dificultando o acerto: com o hiper, os traseiros logo tinham graining por conta dos vários trechos de tração do circuito Gilles Villeneuve; com o ultra, a traseira entrava na temperatura ideal e dava muita aderência, “jogando o carro para frente” e desgastando mais os dianteiros. Ou seja, seria difícil acertar o carro e a pilotagem para ambos ao mesmo tempo.
O ideal, portanto, seria esquecer a história das duas paradas e tentar fazer o Q2 com o ultramacio, fugindo do hiper na corrida. As únicas equipes que tinham ritmo para tanto, claro, eram Mercedes, Ferrari e Red Bull. As duas primeiras seguiram a cartilha. A terceira, sabendo que dificilmente conseguiria um lugar nas duas primeiras filas, muito em função do (ainda) deficitário modo de classificação do motor Renault, e teria que atacar no começo da prova, e apostando no seu bom trato com os hiper, optou pelo pneu rosa.
Enquanto isso, na briga entre Mercedes e Ferrari, o time italiano foi se encontrando ao longo do final de semana, algo muito comum nas últimas duas temporadas e que tem a ver com a boa compreensão da evolução da pista, algo fundamental em Montreal, circuito que não é usado no decorrer do ano.
Isso tornou a briga pela pole muito difícil para a Mercedes, que já tinha dois fatores jogando contra: a falta de atualização e o excesso de quilometragem de seus motores e o superaquecimento dos pneus hipermacios. Junte a isso o pássaro que entrou no duto de freio do carro de Hamilton – aquela fritada do hairpin já foi suficiente para lhe custar a pole – e temos Vettel em uma merecida pole, Bottas em segundo e Verstappen conseguindo mais do que a Red Bull imaginava em terceiro.
No domingo, com condições climáticas similares aos dias anteriores – uma queda de temperatura favoreceria o hipermacio, mas ela não veio – só havia um fator que poderia movimentar a prova: se Verstappen e Ricciardo conseguissem usar a aderência adicional para ganhar posição de pista logo de cara.
Isso não aconteceu, e a partir daí se tornou mais uma corrida de administração de combustível e unidade de potência do que de estratégia e pneus. Até porque ultrapassar se mostrou muito mais difícil do que o esperado, mesmo com três zonas de DRS. São três os fatores: perda de pressão aerodinâmica no tráfego, superaquecimento de freios, cada vez mais complexos, e dos próprios pneus. Isso gerou mais uma “não-corrida” e desestimulou a tradicional briga entre pilotos com uma e duas paradas em Montreal, pois desta vez não valia a pena parar duas vezes e ficar preso atrás de outro carro.
A única tática que funcionou foi o undercut, o que só evidencia a dificuldade de ultrapassar, pois quer dizer que o carro quem vem atrás tem mais ritmo e, mesmo potencialmente desgastando mais os pneus no trânsito, consegue usá-lo para passar no box. Foi o que aconteceu na briga entre Hamilton e Ricciardo (ajudado pelo erro do inglês), Hulkenberg e Ocon e Alonso, que depois abandonou, e Leclerc. Basicamente as trocas de posição após a primeira volta foram ou pilotos passando Sirotkin, ou Perez se recuperando da parada antecipada, ou por meio de undercut.
Talvez a única decisão estratégica que poderia ter sido diferente é em relação a Raikkonen, que passou algumas voltas na janela de undercut de Hamilton, mas a Ferrari optou por mantê-lo na pista e ele acabou perdendo essa vantagem. Isso foi entre as voltas 24 e 30 – o finlandês parou na 32 – mas a diferença nunca foi clara o bastante para que ele realmente voltasse à frente. Contudo, sabendo que os supermacios aguentariam sem problemas até o fim, valeria a pena arriscar antecipar o pit stop de Kimi.
Voltando à administração, chamou a atenção a declaração de Valtteri Bottas de que sua Mercedes chegou no limite de combustível, enquanto Vettel demonstrou todas as vezes que o finlandês apertou o passo que tinha ritmo sobrando. Mas isso pode ter a ver com o descompasso das atualizações. O que a Mercedes tem de ficar de olho é em seu rendimento com pneus mais macios: em uma temporada que cada vez mais se desenha para ser ditada pela posição de pista, e não durabilidade dos pneus ou estratégias mirabolantes, largar na frente se tornou mais importante do que nunca.
29 Comments
Julianne,
Mais uma vez parabéns pela análise sensacional!
Tento seguir a máxima de que não existem corridas chatas, mas a verdade é que ver um monte de carros se poupando, adotando um ritmo de cruzeiro e preferindo manter os pontinhos que estão na mão não é legal. O Canadá me assustou. Acho a etapa mais legal do campeonato e a corrida foi nota 4.
Três perguntas:
1. Você acha que o salto entre pneus vai conseguir maquiar ou salvar o que vem se mostrando uma temporada meia boca?
2. Por que não há nenhuma estratégia mirabolante/diferente de pitstop no caso da Mercedes no Canadá por exemplo ou Ferrari em Mónaco? Os softwares indicam que não há o que fazer, é se resignar que está atrás e pronto?
3. Temos outra Diva (Mercedes) esse ano? Ver o Hamilton, que sabemos que é um baita piloto, em 5º no Canadá que é a dele foi no mínimo estranho.
Abs
1. Se eles gerarem uma diferença de rendimento que promova ultrapassagens, sim.
2. Se não dá para passar na pista, não há estratégia que resolva a não ser aquela que garante posição de pista, ou seja, fazer uma parada.
3. O carro não é imprevisível, simplesmente a margem é menor que em anos anteriores e eles não estão encontrando a melhor forma de lidar com os pneus mais macios.
Não se engane, Leandro, essa análise que ela assina como autora é cópia descarada, um plágio, do trabalho do jornalista inglês Mark Hughrs, da Motorsport Magazine. Veja o link e compare: https://www.motorsportmagazine.com/reports/f1/2018-canadian-grand-prix-report
Curioso que uns 90% do que coloquei aqui falei ao vivo na transmissão, convido-o a acompanhar a próxima. Simplesmente foi uma corrida de leitura simples e é normal textos convergirem.
Fico na verdade lisonjeada porque o Mark faz essas análises desde os 80.
Riccardo não só passou o Hamilton como encostou no Verstappen o que mostra o quão foi vantagem parar depois, na largada teve duas atitudes opostas, Bottas resistiu numa belíssima disputa com Verstappen que largou muito bem, Raikkonen até teve uma vantagem inicial sobre Riccardo mas só faltou acenar com a mão para o australiano passar, mesmo com um carro favorável o filandes mostra errático e passivo em momentos chaves, na disputa entre os norticos, Bottas ganha fácil, saudades do Raikkonen da McLaren.
Riccardo não só passou o Hamilton como encostou no Verstappen o que mostra o quão foi vantagem parar depois, na largada teve duas atitudes opostas, Bottas resistiu numa belíssima disputa com Verstappen que largou muito bem, Raikkonen até teve uma vantagem inicial sobre Riccardo mas só faltou acenar com a mão para o australiano passar, mesmo com um carro favorável o filandes mostra errático e passivo em momentos chaves, na disputa entre os norticos, Bottas ganha fácil, saudades do Raikkonen da McLaren.
Vettel fez melhores voltas antes de parar, a dupla da Red Bull fez suas melhores voltas nas voltas finais, tenho certeza que se Vettel quisesse, baixaria esses tempos fácil, será que não é um indicativo de que os pneus poderiam durar a prova toda, lembro uma prova em Monza que Vettel só entrou nos box na penúltima volta apenas para cumprir o regulamento, a Pirelli pretende tomar alguma atitude com esse excesso de durabilidade e falta de diferença entre os pneus que estão estragando as provas.
Não é que os pneus duram demais, mas o ritmo lento é ditado pela economia de motor e administração de combustível e ele acaba não exigindo tanto do pneu. E, como é difícil utrapassar, ninguém pode arriscar outro tipo de estratégia, a não ser em caso de SC, como vimos na China e em Baku (que do nada se tornaram corridas ótimas). O salto que a Pirelli vai começar a dar a partir da Hungria pode mexer nisso. Por conta das regras, não se pode mexer em compostos, então não há muito o que a Pirelli possa fazer.
Sobre o acidente da largada, Stroll tentou ganhar algo no início com pneus frios e um carro sem nenhum equilíbrio, o Hartley pressionado, tentou ganhar posição num lugar perigoso ao lado de um carro que abanava para todo o lado, foi suicídio coletivo, como está a situação na Toro, a McLaren não vai ceder sua jóia, a Mercedes pode liberar o Wehlain que para mim é melhor que o Gasly ou terá que buscar algo sabe lá onde ou ficar com Hartley e rezar para que o tic tac seja uma aposta valida, ele tá tomando calor da molecada da F3.
Sobre a classificação, acredito que o formato pode ser melhorado, fazendo com que o tempo que define a posição seja a média de todas as etapas (Q1, Q2 e Q3), e “forçar” todos andarem no limite o em todas etapas da classificação. Porque é certo que Verstapem e Riccarado não andaram no limite no Q2, por optaram por estratégia de pneu diferente.
Tentar algo e acabar no muro ou fazer o que o carro permite e terminar em último, essa é a escolha de Sophia dos pilotos da Williams, sorte de Kubica e Massa que escaparam desse mico.
Algumas coisas me intrigam na F1:
1-Luciano Burti falou durante a transmissão do GP canadence, que o bico dos carros, esses que trocam toda hora, custava na época dele 120 mil dolares(450 mil reais). Como pode? Um automovel Porshe é vendido nos Estados Unidos por 80 mil dolares
2-Quem determina o regulamento? Essa aberração que impõe custos extratosféricos e matou tradicionais e vencedoras equipes (Brabham, Lotus, Ligier, Tyrrel, entre outras), afugentou gigantes, Toyota, BMW, Porshe, Ford. A próxima a desaparecer sera Willians, logo teremos no grid 16 carros, a Force India, lutou demais para permanecer este ano.
3-A Honda declarou não querer mudanças no regulamento, qual a influencia de Fiat e Mercedes, nas regras da F1.
4-Porque os carros evoluiram tão pouco em termos de velocidade, ex: o recorde de Montreal após a corrida ainda é de 2004. Rubinho com Ferrari.
Corroborando com seu ponto de vista, Antônio, na minha forma de pensar, o declínio da F-1 sobre essa aberração de poupança, começou se não me engano em 2007, com a adoção de 10 motores por temporada, ora, como sempre disse nosso saudoso amigo “aucam” ‘F-1 é os 100 metros rasos do esporte à motor’, enfim, mesmo poupando motor, ser o mais rápido andando feito uma vovozinha não lembra em nada a categoria alucinante e barulhenta, por muitas vezes mágica que gostamos!!!
Na verdade o regulamento tem vários fatores que seguram os gastos, o que tem a ver diretamente com o recorde de corrida em várias provas não terem sido quedrados (de classificação, esses carros detêm quase todos os recordes): como as regras limitam uso de motores, câmbio, etc. para diminuir os custos, logo não se pode forçar tanto o ritmo na corrida.
Grato pela resposta
https://www.youtube.com/watch?v=Jtm_R87bR7I Isso é música!!!
Os atuais “donos”da categoria deveriam ouvir mais os pilotos e fãs…a F-1 sempre foi uma excentricidade adorável!!! A F-1 não deveria ser a salvadora do mundo verde politicamente correto, sendo assim, deixem as soluções verdes nas mãos das montadoras e deem competitividade nua e crua, barata , barulhenta, simples e veloz aos fans. Essa última corrida no Canadá, com toda tecnologia embarcada parece filme de quinta categoria comparada com duelos plásticos , emocionantes e verdadeiros de um passado recente ;( https://www.youtube.com/watch?v=Xt_57kGnQzQ
Uma imagem diz mais do que mil palavras! Essência ! Som! Plasticidade! Velocidade real! https://www.youtube.com/watch?v=6GZ6-pGj1-Y
É nítido, gritante que você se “inspira” nas análises do Mark Hughes para “escrever” essas análises. Não são mais do mais que simples traduções. E você tem a cara de pau de assinaá-las como se fosse a autora. O nome disso é plágio,plágio descarado, sem-vergonhice…
Vide comentário acima.
Fernando, Julianne não precisa de defesa, o trabalho dela fala por si só…discordar é normal, mas seu tom grosseiro não condiz com a convivência amistosa do blog. Qual frase, assunto, idéia filosósfica ou pensamento nunca foi repetido na face da Terra? Seu sarcasmo gratuito demonstra o destempero com a sempre educada e receptiva autora do blog. Como diz o mestre Olavo de Carvalho: “O xingamento serve precisamente para aquelas ocasiões onde responder educadamente é compactuar com o imponderável.” Uma sugestão: guarde seus xingamentos para que merece: Karl Marx, Antônio Gramnsci, Mussolini, Hitler, Che Guevara, Lula, Dilma, Fidel, Collor, Maluf, Quercia, Sarney, Renan Calheiros, Temer, Aécio, Gilmar Mendes, Carmem Lucia, Raquel Dodge, esses realmente merecem um fuck u ;\
“O xingamento serve precisamente para aquelas ocasiões onde responder educadamente é compactuar com o INTOLERÁVEL.” (Olavo de Carvalho)
Ju, o desempenho patético do Kimi no Canadá teve alguma relação com problema mecânico?
Como a Ferrari ganhou na casa da Mercedes? Ué, o motor do Hamilton, principal competidor da equipe se mostrou falho e sem potência desde o sábado, me parece claro que foi por isso, foi superado até pela red Bull porque não podia dar tudo do carro.
Uma das poucas vozes que dá gosto de escutar em meio a uma grande mediocridades e consegue um inimigo.
Uma das poucas vozes que dá gosto de escutar em meio a uma grande mediocridades e consegue um inimigo.
Verdade, fez me lembrar Mike Vlcek que se encheu e nunca mais falou F1. Deus proteja a Julianene para não ficarmos órfãos outra vez
Digo Julianne
https://www.youtube.com/watch?v=8-91B8t_1Tk
Batida do Stroll pela camera onboard