O GP da Austrália marcou o início do que deve ser uma revolução em termos de estratégia. Quando utilizavam o pneu à prova de balas da Bridgestone, a tendência era o piloto esperar pela queda de rendimento, mas principalmente por uma brecha 20 a 25s atrás de si. Com a alta degradação dos pneus Pirelli – mesmo que em Melbourne não tenha sido tão acentuada como se esperava – a ordem era parar assim que o pneu se desgastasse.
Isso se tornou chave porque, além da degradação ser abrupta e definitiva, fazendo o piloto perder muito tempo quase que de uma volta para a outra, a diferença de rendimento dos pneus novos é tão grande que as ultrapassagens são bem mais facilitadas que num passado recente. Um bom exemplo disso foi a rapidez com que Vettel se livrou de Button logo após sua parada.
A prova da Austrália teve 3 tipos de estratégia: 1 parada (apenas com Perez, que fez impressionantes 35 voltas com o pneu macio), 2 (a maioria) e 3 (Ferrari, Webber, Barrichello e Alguersuari). O mexicano e Trulli foram os únicos que largaram com os compostos duros. É evidente que é uma característica específica da Sauber ser suave com os pneus, mas o sucesso do mexicano, que terminou 6 posições à frente do que largou, deve fazer algumas equipes repensarem suas decisões.
Falando em compostos, o grande erro do dia foi apostar nos pneus duros nos stints da metade da corrida – dependendo da estratégia adotada, 2º ou 3º. Foi isso que arruinou a prova de Massa e Webber, pois o ritmo caiu muito em relação aos rivais neste período. Quando os demais calçaram o duro, ao final da prova, a diferença não foi tão acentuada.
Tomando como exemplo os pilotos da Ferrari, Massa perdeu cerca de 10s para Vettel nas últimas 10 voltas com pneu duro antes de seu 3º pitstop (a diferença subiu de 48s6 para 57s5). Enquanto isso, de pneus macios, Alonso descontou de 50 para 41s a vantagem do líder. É fato que a performance do brasileiro também não ajudou: em seu último stint, se manteve entre 86 e 85s da liderança – ainda que Vettel calçasse pneus duros e ele, macios. Já Alonso, também de duros, porém mais novos que do alemão e com uma maior necessidade de forçar, pois brigava com Webber e tentava chegar em Petrov, descontou mais 11s.
Muitos criticaram a estratégia da Ferrari. De acordo com o comentário do piloto de testes Mark Gené durante a transmissão da TV espanhola, foi uma opção circunstancial pois seus carros se envolveram em várias disputas logo de cara e tiveram que ser mais agressivos. Originalmente, parariam 2 vezes, como os demais. Também pareceu uma tentativa de evitar o pneu duro, que deu trabalho para Alonso e Massa em mais um final de semana em que tinham dificuldade em aquecer o composto. É preciso esperar algumas corridas para ver se isso será uma tendência.
Os compostos escolhidos por cada piloto
(veja quem fez o pit em cada volta aqui)
Piloto | 1º trecho | 2º trecho | 3º trecho | 4º trecho |
Sebastian Vettel | Macio | Macio | Duro | |
Mark Webber | Macio | Duro | Macio | Macio |
Lewis Hamilton | Macio | Macio | Duro | |
Jenson Button | Macio | Macio | Duro | |
Fernando Alonso | Macio | Macio | Macio | Duro |
Felipe Massa | Macio | Macio | Duro | Macio |
Michael Schumacher | Macio | Macio | Macio | |
Nico Rosberg | Macio | Duro | ||
Nick Heidfeld | Macio | Macio | Duro | |
Vitaly Petrov | Macio | Macio | Duro | |
Rubens Barrichello | Macio | Macio | Macio | Duro |
Pastor Maldonado | Macio | |||
Adrian Sutil | Macio | Macio | Duro | |
Paul di Resta | Macio | Duro | Macio | |
Kamui Kobayashi | Macio | Macio | Duro | |
Sergio Perez | Duro | Macio | ||
Sebastien Buemi | Macio | Macio | Duro | |
Jaime Alguersuari | Macio | Macio | Duro | Duro |
Heikki Kovalainen | Macio | Macio | ||
Jarno Trulli | Duro | Macio | Macio | |
Timo Glock | Macio | Macio | Duro | |
Jerome d’Ambrosio | Macio | Duro | Duro |
O problema é que uma estratégia de 3 paradas só faz sentido se o piloto guiar no limite durante toda a prova, pois ele precisa descontar em tempo de volta cerca de 24s de perda por fazer uma parada a mais. E, para isso, quem planeja usar 4 jogos de pneu não se preocupa com economia. Porém, tanto Massa, quanto Webber pareceram ter tido dificuldade para fazê-lo.
Comparando as duas Red Bull, nas primeiras 9 voltas, Webber já perdeu exagerados 0s75 por volta. Naquele momento, após dois giros acima de 1min33 e um em 1min34s2 – no momento em que o companheiro fazia 1min32s5! – a equipe o chamou para os boxes, na volta 11. Assim que Vettel e Hamilton viraram acima de 1min33, pararam imediatamente. A diferença é que isso ocorreu 3 voltas depois para o líder, ou seja, Vettel teve cerca de 20% a mais de tempo de pista com o primeiro set que Webber.
Tentando evitar mais um stint curto devido à degradação que sentia, Webber optou pelo composto duro. Foram os tempos que fez durante esse período que o fizeram cair do 3º para o 5º lugar ao final da prova. Nas 15 voltas com o composto, viu a distância para Vettel aumentar de 16 para 25s5. Ao mesmo tempo, a diferença para o 4º colocado Petrov caiu de 5 para 2s e, para Alonso, de 13 para 3s da volta 10 à 25. Assim, perdeu a posição para o russo por fazer uma parada a mais, e para o espanhol, pelo ritmo ruim.
A tática só funcionou com Alonso: 9º ao final da 1º volta (o que deve ter sido fundamental para a escolha da estratégia, tendo em vista que o piloto teria que atacar), o espanhol fez 3 ultrapassagens cruciais em seu 1º stint, mas já perdia 10s em relação a Petrov antes da primeira parada. Logo que chegou num carro mais veloz que o seu, de Button, foi para o box. A demora da Renault chamar Petrov fez com que o russo perdesse sua vantagem em relação ao espanhol e saísse do pit bem a sua frente. Novamente preso, Alonso parou na volta 27 e, diferentemente do companheiro, optou por pneus macios, talvez para tentar passar Petrov, talvez já de olho em Webber, mesmo que isso significasse que fatalmente teria que fazer outra parada.
O bom rendimento dos 3 stints com pneu macio o colocou à frente de Petrov e na cola de Webber. Sua corrida, então, era com o australiano. A Ferrari marcou a parada da Red Bull e saiu na frente. O bicampeão ainda foi à caça do piloto da Renault, mas não chegou a tempo, cruzando a linha de chegada a 2s do russo. Levando em consideração o déficit inicial de 10s e os cerca de 24s de perda pelo pitstop a mais em relação a Petrov, não foi um mau negócio. Provavelmente, tivesse copiado a estratégia dos demais, chegaria em 5º.
5 Comments
Julianne,
Após perder a oportunidade de conquistar o título do ano passado devido a uma falha de estratégia na corrida de Abu Dhabi, a Ferrari havia anunciado no começo do ano que montaria uma estrutura em Maranello para montar suas estratégias de corrida como já fazia a McLaren.
Você tem mais detalhes de como é desenvolvido este trabalho?
Você sabe se a Ferrari já utilizou este recurso em Melbourne? Se sim, quem dá a resposta final durante a corrida? Pois onde muita gente dá palpite é difícil de chegar a um consenso…
Falei um pouco sobre o sistema da Ferrari aqui:
http://fasterf1.wordpress.com/2011/01/04/quem-sao-os-novos-recrutas-da-ferrari/
De la Rosa disse que a simulação da McLaren também apontava que 3 paradas seria melhor, mas dependia, nas palavras dele “que tudo desse certo”. Em outras palavras, o piloto teria que ser perfeito e não pegar tráfego. Por isso, a escolha mais segura, mesmo que um pouco mais lenta nas simulações, era 2 paradas.
Essa também era a ideia da Ferrari, mas as situações de corrida de Alonso fizeram com que arriscassem. Se ele tivesse uma corrida tranquila, como de Hamilton ou Vettel, certamente tinha feito 2.
Talvez o correto seria fazer 2 paradas com Massa, mas ele perdia 3s por volta para Alonso quando o espanhol colocou o 2º jogo de pneus. Tentaram colocá-lo com duros – se desse certo, talvez completasse a corrida, pois faltavam 27 voltas – mas o rendimento ainda não era bom. Faltando 10 voltas para o final, o ritmo de Massa era 6º, 1s, 1s30 mais lento que os 2 carros que o seguiam e estavam bem próximos. Fatalmente o passariam. Então resolveram fazer a parada para dar a chance dele recuperar o terreno. Do 8º lugar que deveria ocupar caso não parassem (nada garante que o pneu aguentaria tanto), chegou em 9º.
Ótima análise, Ju!
E o Trulli, mesmo começando a corrida de pneus duros, teve que fazer uma segunda parada…
O Webber fez o segundo stint com os duros e não conseguiu terminar com os moles do terceiro stint.
Incrível o carro da Sauber..
será que tem relação com a irregularidade?
A má largada de Alonso foi fundamental em seu resultado, mesmo após bela recuperação. Vc citando esses pneus, vemos que não há nem resquício de KERS e ATM, o que prova que os Pirelli têm luz própria. Sonhar não custa nada, mas imagina se durante uma nt mal dormida, Todt caísse da cama, e resolvesse liberar os pneus dessa obrigatoriedade de utilização de dois compostos e derivados da pole. Seria maravilhoso, aí sim, imagina um piloto querendo fazer apenas uma troca, chegando no final da prova com os pneus no osso, enquanto outro maluco resolvesse fazer, sei lá, três paradas (macios), e viesse detonando o tempo, que final de corrida maravilhoso! Pô, Todt, cai da cama!
Ju, esse seu post está parecendo uma caixa de surpresas, afinal, quanto mais se lê, mais desafiante fica. Quando vc citou as 3 paradas, como Shumacher fazia mt bem, além do problema dos pneus Pirelli menos duráveis, ainda temos, se compararmos com os anos do reabastecimento, a necessidade dos motores e câmbios terem que durar mais, e dependendo se o piloto andar toda corrida 100%, corre o risco de pane seca, afinal não temos mais “posto de gasolina”. Além é claro, dos carros hj serem mais pesados, do desgaste causado pelo KERS (motor, pneus e câmbio), da ATM, que aumenta a velocidade, mas negativamente, aumenta o esforço de frenagem, forçando o equipamento, e desgastando ainda mais fisicamente o piloto. Ufa, complexidade pouca é bobagem! Acredito que quando víamos Shumacher parando 4 vezes, e mesmo assim ganhando corridas, serão tempos passados.