“A grande mudança no campeonato está prestes a começar”, anuncia Antonio Lobato na La Sexta, esperando, enfim, a ‘remontada’ que a Ferrari ensaia há mais de 1 mês. A expectativa é a mesma na Globo e na BBC, que vê a prova como um duelo direto entre Alonso e Vettel.
Provavelmente, era isso que estava na cabeça do alemão quando espremeu o espanhol na largada. Na La Sexta, queriam punição. “Mais uma bobagem de Vettel. Ele se preocupou demais com a largada de Alonso do que com a dele mesmo e deixou o caminho livre para Massa”, observa Reginaldo Leme.
“Os 5 primeiros colocados no campeonato estão nas 6 primeiras colocações. O convidado é Massa”, define Lobato. “A Ferrari está feliz com os carros na liderança. O problema é que, com Massa 31 pontos atrás de Alonso no campeonato, é a Ferrari errada que está na frente”, Brundle prevê, ainda na 5ª volta, que o time italiano estava entre a cruz e a espada. “E agora? O que fazemos? Deve ser na parada”, especula Lobato. Em nenhum momento os espanhóis citam o que deve ser feito, como se ordem de equipe fosse um termo proibido. “É difícil ultrapassar porque não há uma diferença grande de ritmo, e é lógico que Massa quer ganhar. A não ser que Vettel comece a pressionar”, o comentarista e piloto de testes da Ferrari, Marc Gené, deixa no ar. Mas uma coisa é clara: “É o melhor rendimento de Massa desde o acidente”, destaca Brundle.
Volta 13 e Vettel antecipa a parada. É sua única chance contra as Ferrari, que contra-atacam. “Eles não podem permitir que ele passe Alonso”, avisa o repórter Ted Kravitz desde o pitwall. Não o fazem e as posições se mantêm. “A questão é o problema que a Ferrari tem com o pneu duro”, aponta Luis Roberto. A Ferrari não, Felipe, que começa, aí sim, a frear Alonso. “Isso eles não vão deixar acontecer”, garante Gené. “Lembrem-se que Alonso já foi seguro por Massa na Austrália. Os engenheiros têm que falar alguma coisa, do tipo ‘Fernando é mais rápido que você’, alguma mensagem codificada porque não podem arriscar essa dobradinha”, se adianta Brundle. “Mas não pode ser explícito. Massa tem que se tocar. Querer ficar na frente do companheiro é uma coisa, mas Massa está colocando ambos em risco agindo assim”, Lobato está impaciente.
Alonso também. Diz no rádio que a situação é ridícula, declaração salientada, embora com muito cuidado, na Globo. “Se é uma reclamação em relação a Massa, ele perdeu completamente a cabeça. Depois de tudo o que ele fez na China e na Inglaterra…”, Reginaldo puxa a ‘ficha criminal’ do espanhol. “Ele está mal acostumado com a Renault”, diz Luciano Burti.
Ted Kravitz descreve o clima no pitwall da Ferrari. “Há fortes discussões. Domenicalli questiona Chris Dyer, que leva as mãos ao alto e diz ‘ainda não’.” Alonso se distancia de Massa e todos crêem que ele esteja preparando o bote para o final da prova. Luis Roberto pergunta sobre o ‘tragam as crianças para casa’. “Não vale mais porque a 2ª parte da corrida é muito grande”, responde Burti. “O problema da Ferrari é se pensa na corrida ou no campeonato, porque 7 pontos é bastante”, define Gené.
Alonso volta a encostar. Toda vez que o faz, Vettel também acelera, como se pressionasse a Ferrari a fazer a troca. Na volta 44, Alonso está a 1s de Massa e o alemão faz a volta mais rápida. Enquanto isso, Lobato resume o pensamento ferrarista. “Já perdemos pontos demais, seja por falhas de uns, de outros, da FIA. Estes 7 pontos podem fazer diferença. Sei que Fernando sabe disso. A Ferrari sabe disso. O único que parece não perceber é Felipe.”
Não demoraria muito. Justo quando Brundle falava que o desempenho na prova seria importante para a confiança do brasileiro, vem a mensagem atrapalhada de Rod Smedley. Burti é político, dando a entender que o time não tinha saída e os ingleses têm uma visão pragmática. “Está claro que Smedley não queria falar. Eles nunca deveriam deixar o engenheiro de pista fazer isso, porque o piloto tem que acreditar que ele está lá lutando por seus interesses. Sempre que me pediam para deixar o Mika passar na McLaren, era o team manager Dave Ryan (aquele que foi demitido depois de instruir Hamilton a mentir na Austrália-09)”, David Coulthard diz com naturalidade.
Pouco antes da ordem, Vettel tirou 0.5s. Alonso tirava 1, 2 décimos por volta de Felipe, certamente não o suficiente para ultrapassar. “Ele foi meio segundo mais rápido na classificação, mas na corrida não conseguiria passar em condições normais”, observa Reginaldo. “Se a situação fosse inversa, seria normal Fernando deixar Felipe passar. Ficaríamos muito tristes, mas é assim que funciona”, garante Lobato.
É assim que funciona, mas não é assim, à maneira de Smedley e Massa, que praticamente estendeu o tapete vermelho para o companheiro, que se faz. Todos se perguntam se a FIA vai deixar barato dessa vez. “Ele deixou muito claro, para que todos vejam”, reclama Lobato. “Assim ele vai trazer problemas para a equipe”, completa o comentarista Jacobo Vega. “Olhando o lado da equipe, eles podem falar que Alonso estava mais rápido e Vettel chegando”, acredita Burti.
“Acho que o ‘sorry’ foi um pouco demais, não?”, pergunta o narrador da BBC, Jonathan Legard. “Estou pensando 2 coisas: 1º, deve ter sido uma decisão muito difícil porque Massa ainda tem chances matemáticas de título; 2º, o público não vai gostar disso”, Brundle foi preciso novamente. “Alguns vão lembrar Áustria 2002, mas não tem nada a ver. Naquela ocasião, Michael não precisava. Agora eles precisam de pontos desesperadamente.” E insiste algumas vezes: “não sabemos o que o contrato diz.”
Ingleses e espanhóis aparentemente esquecem da troca nas voltas finais e valorizam a dobradinha ferrarista. “A virada começou!”, vibra Lobato. “Se Alonso dominou aqui, imagine em Budapeste, um circuito parecido, onde ele fez a pole com uma Renault defasada ano passado. Estamos vendo o ressurgimento de um campeão que está de volta à luta”, fecha Legard.
Mas os brasileiros, mesmo que Gené não entenda – “Massa parece um pouco bravo, mas fez o que tinha que fazer. Ajudou a equipe” –, estão machucados. “O grande vencedor foi Massa, lembrando que faz um ano daquele acidente em que tudo poderia ter acabado.”
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