Há quem explique a posição de Alonso no campeonato apenas pelo seu próprio braço. “É 90% mérito dele e 10% da equipe”. Concordo que um piloto possa fazer a diferença em determinados momentos, mas durante um ano inteiro? A campanha da Ferrari em 2012 não vem mostrando apenas as qualidades do espanhol, mas principalmente que não é só de carro imbatível que se faz um belo campeonato.
A maneira de se vencer na F-1 mudou muito de 2008, quando a Ferrari conquistou seu último título, para cá. A restrição nos testes fez com que as simulações se tornassem fundamentais e o fato de termos basicamente o mesmo regulamento técnico desde 2009 torna os ganhos de performance, hoje, mais tímidos, pois essas regras já foram bastante exploradas. Paralelamente a isso, o pacote de mudanças para melhorar o espetáculo – Pirelli, Kers e DRS – torna mais complexa a estratégia durante o final de semana e mais difícil enxergar avanços.
É com essas mudanças que a Ferrari vem tentando lidar. E com sucesso, reconhecido pelo próprio Alonso: “Quando cheguei aqui, esse não era um time vencedor. Agora evoluímos em diversas áreas, nas estratégias, nos pit stops, na preparação para as corridas. Para o ano que vem, só falta o carro. Assim, teremos condições de lutar pelo título”, disse, ao final de 2011.
É verdade que o carro ainda não veio. Em termos de performance, a Ferrari teve um início desastroso. Não passou para o Q3 na Austrália, ficando a 1s do melhor tempo no Q2 e a 21s5 da ponta na corrida mesmo com um SC a 17 voltas do final. Após o teste de Mugello, o time se reencontrou, finalmente conseguiu instalar o escapamento original e teve uma boa sequência da Espanha à Alemanha. Em nenhum momento, porém, chegou a dominar um final de semana, sendo as duas poles de Alonso dependentes da chuva. Sem colocar o carro na pista para testar fora dos finais de semana de corrida, caiu de produção e agora depende de uma adaptação melhor ou pior a cada pista.
Então como explicar que seu piloto foi líder por 8 das 10 etapas? Seria fácil colocar tudo na conta de Alonso. É inegável a grande parcela do espanhol, reconhecida a cada prova pela própria equipe, mas isso não explica tudo. A Ferrari, hoje, está no nível da Red Bull no que costumo chamar de “execução”, que envolve preparação e decisões ao longo do final de semana.
As duas têm seus pontos fracos: a Red Bull teve problemas de confiabilidade, enquanto a Ferrari faz belas estratégias defensivas, mas peca na hora de atacar. Porém, são raros os finais de semana, nos últimos dois anos, em que o conjunto Ferrari/Alonso tenha deixado de maximizar o resultado que o carro permitia.
São fatores como acerto visando a melhor equação entre velocidade e consumo de pneus – e a regra na Ferrari é sempre priorizar a corrida, como temos visto especialmente nas últimas duas provas, em que a velocidade de reta foi fundamental para seus pilotos. Para isso, o simulador, entregue ano passado, é fundamental. Os carros também são muito bem regulados para as largadas e os pit stops são consistentemente rápidos, após a equipe ter desenvolvido equipamentos que foram copiados pelo resto do grid.
Nada disso é por acaso e a figura central nessa repaginada geral é Pat Fry, que veio da McLaren na metade de 2010 para supervisionar as operações de pista e hoje é diretor técnico.
“Não é só uma questão de tentar fazer um carro mais rápido, precisamos fundamentalmente mudar as metodologias que usamos para selecionar, desenhar e fabricar peças para que sejamos competitivos a longo prazo. Há trabalho em todas as frentes para que não deixemos pedra sobre pedra.”
Falta um deles, é claro. A aerodinâmica segue sendo o calcanhar-de-Aquiles e a equipe vem acelerando suas mudanças internas para usar do mesmo expediente da Red Bull em 2009 e aproveitar a revolução nas regras de 2014 e dar esse último passo. Não dá para apostar se dará certo, mas é fato que hoje a Ferrari é uma equipe muito mais bem preparada para vencer dentro dessa nova realidade da F-1 do que há quatro anos.
11 Comments
Alem de tudo isso que está no texto um carro que não quebra e o Alonso que esse ano só cometeu um erro naquela batida com Kimi ele naturalmente não assume e culpa o outro, se a mclaren tivesse um carro que não quebra e tivesse ritmo de corrida com a equipe não errando, como a ferrari o hamilton ja era o campeão de 2012, o Alonso tem toda a equipe e como bom piloto está onde está, só que embora a maioria ache ele o melhor eu só faço comparações entre piloto quandos disputam na mesma equipe e com condiçoes iguais e nessas condições o Hamilton foi melhor que o Alonso.
Quero aproveitar para parabenizar seu blog acho um dos melhores sobre formula 1 e vc é totalmente imparcial.
Ju, tudo de irretocável que vc disse fica o acréscimo: é inconcebível uma fábricante de carros não possuir um túnel de vento calibrado…Erro grotesco!!!
É justamente essa a parte da aerodinâmica que falta: o túnel é de 97, mas fazer um do zero não é nada simples, por isso a insistência em tentar recalibrar esse. Pode ser um erro não abandoná-lo? Claro, mas seria leviano falar sem saber exatamente quais as variáveis que estão sendo observadas.
Se o resultado dessa calibração for mais uma vez negativo, a equipe irá começar a construção de outro túnel em 2013, com previsão de término em 2015. Mas é como você falou, a equipe é muito mais competitiva do que em 2009, e também, em relação a 2010 onde perdeu o título de construtores. Pat Fry está fazendo um excelente trabalho na parte de estruturação da parte técnica. E ano que vem, novos engenheiros chegarão para compor essa parte primordial hoje na F1 moderna.
O que Fernando vem fazendo nos últimos anos não é brincadeira.
Em 2008, guiando aquela carroça da Renault, ele terminou 10 corridas entre os seis primeiros colocados. Vencendo os Gps de Singapura e do Japão.
(OK,Ok,OK, tirem a vitória em Singapura da lista.)
Em 2009, numa Renault já bem decadente e com um carro ainda pior, foram 5 corridas entre os seis primeiros.
Esse ano, com um carro que começou o ano muito mal, ele conseguiu se colocar entre os seis primeiros em 14 Gps.
Podemos ver que, ‘consistência’ tem sido a palavra chave de Alonso já há alguns anos.
É claro que equipamento confiável é um fator importante nessa análise, e nisso o F2012 apesar de feio e desequilibrado tem seu mérito.
Mas tenho pra mim que o ‘braço’ e principalmente a cabeça de Alonso, é o que tem feito a diferença.
Tanto Fernando quanto Vettel merecem esse título. Os dois foram incríveis à sua maneira.
Julianne, acho que vc foi muito feliz ao dizer das estrategias da Ferrari e vc tem alguma ideia por que eles tem essa postura ?
Acho que muita gente fala que o Alonso leva o carro nas costas por que no inicio do ano a Ferrari era uma draga, mas entendo que eles correram atras do prejuizo e souberam identificar as fraquezas do carro, depois disso o desenvolvivento toma seu curso normal e acho que ahi mora o perigo por que eles estao meio que andando em circulos , bom eh o que parece jah que tudo tem sido muito lento , como conseguir melhor em velocidade final e trato dos pneus.
Bom , que te digo , vc sempre escrevendo con una pluma de oro !!! Felicidades
FP
Fernando é um excelente piloto, mas supervaloriza seus feitos e só chora, nunca vimos ele reconhecer que outro piloto foi melhor que ele. Acho que por ele não acreditar nisso mesmo. Muito prepotente e estrela demais. Prefiro mil vezes pilotos fantásticos como Hamilton, Vettel… Que além de super competidores são mais humildes e humanos… Fernando se coloca como um Semi-Deus.
E como pude esquecer do Iceman…
Engraçado isso, terminei de digitar e fiquei com aquela sensação de queria ter colocado o nome do Felipe. Mas sem chance em outrora sempre colocava, embora com uma certa desconfiança se ele era mesmo do mesmo nível dos outros, mas como diz minha sabia vovó: O tempo nos mostra e coloca tudo em seu devido lugar.
Sei que o Felipe ganha muito dinheiro, que corre na equipe mais tradicional da F-1 e blá blá blá, que não tenho pq sentir pena dele, mas confesso que toda vez que olho para ele sinto pena, Felipe mudou muito, ou melhor deixou que o mudassem, não se vê mais brilho em seu olhar, não vejo mais o tal do sangue nos olhos, a tal da autoconfiança… Hoje embora relativamente “bem sucedido” a imagem que passa é de perdedor, que se conformou com tal situação… E acredito não ser só nos Brasileiros não gostarmos disso. Não queremos só vencer como muitos dizem, mas se for para perder, que perca lutando, dando o sangue como ele fez em 2008. Embora tivesse perdido o campeonato, mas não deixou de ser aplaudido por todos… É isso que queremos… Não um capacho. Torço muito pelo Bruno, embora ache que ele não tem muito o espirito da luta, da competição em si… Acho que ao evoluir bastante chegaria no máximo a um Button. Oque já seria muito bom…
Ju,
Parabéns pelo seu trabalho, confesso que fiquei bem impressionado, com seus comentários, e como você os coloca.
Sou novo no blog, mas ele já esta entre meus favoritos.
Abraço