F1 O que travou o GP da Arábia Saudita - Julianne Cerasoli Skip to content

Como escolha conservadora e SC travaram o GP da Arábia Saudita

Red Bull à parte, a F1 está vivendo uma época de altíssima competitividade no restante do pelotão, com pilotos de equipes diferentes embolados após 40, 50 voltas. Mas mesmo assim, o GP da Arábia Saudita não empolgou. A grande maioria fez a mesma estratégia. Quem tentou algo diferente, não conseguiu fazer isso funcionar. Tudo por um motivo, que volta e meia aparece e “congela” a corrida. O baixo desgaste de pneus.

É bem verdade que a Ferrari deste ano não é a mesma de 12 meses atrás, longe disso. Mas Charles Leclerc fez a volta mais rápida no último giro, ajudado pelo DRS, como ele mesmo explicou, mas, de qualquer maneira, batendo a tentativa do próprio Max Verstappen ter outro resultado perfeito.

Um pouco mais atrás, um estreante de 18 anos, a bordo da outra Ferrari, conseguia fazer volta de classificação atrás de volta de classificação com pneus duros de mais de 40 voltas. Ele era obrigado a isso porque Lando Norris e Lewis Hamilton estavam com pneus macios novos. Em outras condições, eles seriam facilmente mais de 1s mais velozes por volta. No sábado em Jeddah, tiravam no máximo 0s3, outras vezes nem isso.

É verdade que não dá para jogar só nos pneus o marasmo de Jeddah. Quando Kevin Magnussen segurou o pelotão para fazer a estratégia de Nico Hulkenberg funcionar, ele obrigou todos atrás dele a serem até 1s5 por volta mais lentos. Isso dá a medida da diferença de rendimento que é necessária para um piloto conseguir a manobra nesta pista.

Pirelli poderia tratar Jeddah como pista de rua

Jeddah é uma pista de alta velocidade, perigosa até, com seus pontos cegos e muros próximos. Talvez venha daí a cautela da Pirelli com sua escolha de compostos, mais duros do que em outras pistas de rua. O normal é que estejam à disposição o C3, C4 e C5. E, na Arábia Saudita, a Pirelli opta pelo C2, C3 e C4.

Mas Jeddah segue sendo uma pista de rua. O asdalto é muito liso, as curvas são, em sua maioria, pequenas mudanças de direção, que não estressam tanto o pneu. Esses exemplos de quanto pilotos que não têm um carro equilibrado como a Red Bull puderam forçar tanto até o final mostram que é possível levar pneus mais macios.

E isso faria toda a diferença.

Safety Car na volta 7 ajuda a congelar as estratégias

Porque, se estivessem preocupados com o desgaste, os pilotos ficariam mais divididos entre parar ou não quando Lance Stroll repetiu o que já tinha “ensaiado” nos treinos livres, quebrou a suspensão em um toque na primeira perna da chicane e estampou o muro, trazendo um SC à pista na volta 7.

Antes disso, Verstappen tinha aberto mais de 1s já na primeira volta, e já tinha 2s6 de vantagem em cima de Sergio Perez, que havia superado Charles Leclerc na quarta volta. O monegasco já vinha abrindo do quarto colocado Oscar Piastri, que havia passado Fernando Alonso. Norris vinha logo atrás, com os dois pilotos da Mercedes, sempre com George Russell à frente, separados por pouco mais de 1s.

Mais atrás, o estreante Oliver Bearman, correndo no lugar de Carlos Sainz, que fez uma cirurgia de emergência para retirar o apêndice, tinha largado com o pneu macio, buscando mais aderência no começo e torcendo para um SC para não ter que antecipar sua parada em relação aos outros. Ele vinha em uma briga acirrada com Yuki Tsunoda, mais uma vez bem mais forte que Daniel Ricciardo.

Só Hulkenberg lucrou com algo diferente

O desgaste de pneus era tão baixo que somente quatro pilotos decidiram ficar na pista quando esse SC apareceu. Norris, Hamilton, Hulkenberg e Zhou estavam perto de seus companheiros na pista, então perderiam tempo no box se parassem junto deles. E também houve um elemento de tentar algo diferente.

Até porque, quando você tem um pelotão muito compacto em termos de desempenho somado a pneus que duram muito, não há a diferença de velocidade que permite ultrapassagens. Mesmo as três zonas de DRS de Jeddah não são suficientes para gerar essa diferença em um cenário como esse.

Muito menos quando quase todo mundo resolve fazer a mesma estratégia: colocar pneu duro na volta 7 e ir até o final. Em outras circunstâncias, os pilotos teriam de trabalhar duro para fazer esse pneu durar. Alguns carros o desgastariam muito mais e essa diferença que gera a ação na pista voltaria a acontecer. Sem desgaste, fica tudo até um pouco nivelado por baixo.

Norris líder por duas voltas

Por ter decidido ficar na pista, Norris foi alçado à liderança. Mas sabia que sua briga não era com os pilotos da frente e não dificultou quando Verstappen o passou na volta 12, Perez o fez na 17 e Leclerc também conseguiu na 26.

Mais atrás, Hamilton tinha um carro com ritmo mais semelhante ao dele pressionando-o e com pouca velocidade de reta. Piastri tentou um pouco de tudo, mas o heptacampeão se defendeu bem. 

Em outra prova de que os pneus estavam durando demais da conta, essas duas abordagens diferentes de Norris e Hamilton resultaram no mesmo: depois de esperarem o tempo que dava para um outro SC que não apareceu, eles pararam nas voltas 37 e 36, respectivamente.

O único que lucrou com a estratégia alternativa foi Hulkenberg, com uma ajuda fundamental do companheiro Kevin Magnussen. O dinamarquês tinha levado duas punições. Uma por causar uma colisão e outra por ter saído da pista e levado vantagem. 

Sabendo que não tinha chance alguma de pontuar, passou a segurar o pelotão para que Hulkenberg conseguisse abrir o suficiente para fazer seu pitstop na volta 33. Antes do SC, ele era 14º. Com o sucesso da estratégia, fez o primeiro ponto da Haas no campeonato.

Vantagem da Red Bull é maior que no final de 2023

Lá na frente, Verstappen fez o de sempre. Abriu rapidamente a diferença suficiente para se proteger de um SC, desta vez ajudado por uma punição a Perez após o mexicano ter sido liberado do pit stop em cima de Alonso, depois adotou um ritmo mais conservador e mesmo assim seguiu abrindo.

Perez não conseguiu o mesmo tipo de folga em relação a Leclerc, o que indica que a diferença não é TÃO absurda. Com sua punição, ele precisaria de uns 16s em relação à Ferrari para poder escolher ficar ou não na pista no caso de um SC, e abriu 10s. Ainda assim, a impressão é de que a vantagem da Red Bull aumentou em relação ao final do ano passado.

Piastri foi o quarto colocado, mesmo com uma configuração de mais pressão aerodinâmica, o que prejudicou sua velocidade de reta e não ajudou na saída das lentas 1-2. Alonso foi o quinto, mesmo que o ritmo de corrida da Aston Martin não fosse tão bom.

Problemas para a Mercedes

E isso diz muito sobre a Mercedes. 

Eles eram mais lentos nos trechos de alta velocidade até que a Alpine. E isso depois de testarem uma série de acertos diferentes. O carro parece baixo demais e isso está gerando a volta dos saltos, que os demais já superaram.

Hamilton tende a sofrer mais com isso porque perde a confiança na traseira. Ele novamente foi mais lento que Russell e, também com uma estratégia pior, terminou só em nono. Ele e Norris tentaram, em vão, chegar com pneus macios em Bearman nas voltas finais. 

Tiveram 13 giros para tirar uma diferença de 6s, e não conseguiram nem pressionar o britânico, que foi muito consistente em sua corrida de estreia, em um circuito complicado, tendo feito apenas uma sessão de treinos livres. E se tornou praticamente o único motivo para lembrarmos do que aconteceu em um GP pouco memorável na Arábia Saudita.

3 Comments

  1. Foi um GP bem chato mesmo. Disparado o pior dos 4 realizados na Arábia Saudita.

    Temo que essa primeira parte do campeonato lembre o início de 2004 e 2019, com resultados previsíveis e corridas pouco empolgantes.

  2. Infelizmente a vantagem da RedBull é muito grande e isso prejudica o espetáculo, prejudica o engajamento dos fãs, prejudica até em audiência, pois um fator importante no automobilismo não acontece: a imprevisibilidade. Parte disso é culpa das outras equipes, que se mostram incapazes de concorrer com a RedBull (que só tem méritos nisso) e a outra parte é culpa da FIA que vê isso logo em 2022 e não muda nada no regulamento, a fim de tentar equilibrar. Palmas para Max e Redbull, mas a F1 merece muito mais.

  3. Ótima análise.
    Já que ia pneus deveriam servir para movimentar as corridas, a Pirelli deveria sempre levar pneus que proporcinassem 2 ou 3 paradas. E até se possível. Como foi no Catar.
    E continua a sensação que o Max dirige no modo econômico.


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