F1 Erros e acertos da estratégia do GP de Cingapura - Julianne Cerasoli Skip to content

Erros e acertos da estratégia do GP de Cingapura

Se não fosse por Ricciardo...

Um Safety Car no meio de um stint em um circuito no qual o pit stop representa uma das maiores perdas no campeonato, entre 28 e 30s. O GP de Cingapura teve dois elementos daqueles que fazem ou destroem a fama de qualquer estrategista. No final das contas, a maioria apostou – e apenas dois pilotos ganharam.

Em especial McLaren e Ferrari, que por algum motivo não conseguiam fazer o pneu médio funcionar – foram para a corrida com a ideia de fazer 3 paradas e usar os supermacios o maior tempo possível. Mas isso era flexível, pois não se sabia o quanto o composto mais rápido duraria, e também dependia de quando o Safety Car aparecesse. Pela estratégia de Vettel de arriscar a pole para guardar um jogo de supermacios novos, parece que a Red Bull também acreditava que os pneus de marca vermelha seriam os melhores para o domingo.

Mas vamos esquecer o alemão, que pôde adotar a estratégia mais lenta e ainda terminar com uma troca de pneus de vantagem para os demais. Houve três tipos de personagens durante a prova: Alonso e Raikkonen, cuja aposta deu certo; McLarens e Saubers, que fizeram a mesma aposta, mas saíram perdendo; e as Mercedes, que tiveram um resultado aquém do que seu ritmo permitia por serem conservadores na estratégia.

O momento decisivo foi a volta 25, quando o Safety Car entrou na pista. Faltavam 36 voltas para o final e as equipes tinham uma série de informações: na sexta-feira, ninguém passou de 26 voltas no pneu médio. Porém, Cingapura é uma pista que tende a evoluir muito, tende a ter SC demorados e, naquele momento (antes de Vettel mostrar seu real ritmo), a matemática apontava que a prova terminaria por tempo, e não nas 61 voltas programadas. Além disso, quem parasse com o SC teria algo crucial em provas de rua: track position, ou seja, só perderiam a posição para quem não resolvesse parar naquele momento caso fossem ultrapassados na pista. Todos, menos Mercedes e Red Bull, assumiram o risco.

A Mercedes errou?

O W04 foi o segundo carro mais rápido do final de semana e tinha a segunda e sexta posições quando o SC foi à pista. Terminaram em quarto e quinto, ajudados pelos abandonos de Webber e Grosjean. Segundo a equipe, eles não acreditavam que seu carro aguentaria permanecer tanto tempo com os pneus médios quanto a Ferrari de Alonso ou a Lotus de Raikkonen, algo que faz sentido levando em consideração seu histórico.

Mas talvez eles pudessem, ao menos, variar as estratégias. Como Hamilton estava atrás de Alonso, primeiro que aproveitou o SC para parar, podiam usar o inglês para marcar a estratégia do espanhol, atirando em todas as frentes.

Colocando Rosberg e Hamilton na mesma estratégia, eles não apenas jogaram sua dupla no tráfego, como os colocaram juntos na pista, numa briga interna que agradou os fãs, mas não foi produtiva para o time.

E Massa?

A Ferrari, sim, jogou em duas frentes, mas é de se questionar por que a opção de Massa foi pelos supermacios quando o brasileiro parou durante o SC. Antes da prova, havia a expectativa de que o rendimento de ambos os compostos fosse muito distinto, mas isso não se confirmou e àquela altura, a equipe já sabia disso, pois, poucas voltas antes, Grosjean havia feito a mesma opção e não conseguira ganhar terreno sobre quem andava de médios. Após a corrida, Massa argumentou que apenas Alonso e Raikkonen conseguiram fazer a tática de colocar médios e ir até o final funcionar, mas o problema de sua escolha é que ficou no meio do caminho entre usar a estratégia “normal” de Mercedes e Red Bull e o risco que a maioria assumiu.

Dois acertos da Lotus

Quem frequenta o blog sabe da “marcação cerrada” com as estratégias da Lotus. Agora chegou a hora de elogiar. O terceiro lugar de Raikkonen não é apenas explicado pela aposta durante o SC, mas também por outra anterior, na volta 10, quando o finlandês foi o primeiro a fazer seu pit. Quando parou, estava em 11º, sendo alçado a nono após a primeira rodada de paradas por ter andando num ritmo bastante forte fora do tráfego. Se há uma equipe que pode fazer algo assim, sem se preocupar tanto com a durabilidade, é a Lotus.

21 Comments

  1. Ju, no campo hipotético, “se não fosse por Ricciardo”, kkkk, levando-se em conta o longo pit lane, a diferença de Vettel para Alonso poderia se aproximar de 60 segundos? Fiquei em dúvida…;-)

    • Arrisco dizer que, sem SC, a diferença seria menor. Parece estranho, não? Mas vamos lá:
      – A diferença antes do SC, com 25 voltas completadas, era de 10s. Claramente, Vettel tinha ritmo para mais, mas estava sendo seguro por seu engenheiro, como de praxe.
      – Ele só começou a mostrar seu verdadeiro ritmo quando a Red Bull percebeu que Alonso e companhia não iriam mais parar. Foi nesse momento que ele abriu 30s em 13 voltas, o suficiente para descontar essa vantagem dos demais.
      – É nesse momento que aparecem os tais 2s/volta que impressionaram tanto, mas vamos lembrar de alguns fatores: a maior parte do pelotão estava cuidando do ritmo pq iria até o fim e o único que tinha pista livre e estava na mesma estratégia de Vettel, Rosberg, tinha um pedaço de borracha na asa dianteira, o que comprometia seu funcionamento e desgastava mais os pneus. São fatores que ampliaram uma vantagem que, claro, havia.
      – Depois que Vettel para, volta 4s8 na frente de Alonso, que já tinha nove voltas no pneu médio e faria outras 17 – ou seja, seu ritmo já seria pior pelo fator carro e pelo fator pneu. Para ampliar a vantagem, Vettel estava de supermacios zerados. Foi então que surgiu a diferença de 33s6 no final.
      – Resumindo, com todos na mesma estratégia, Vettel não seria obrigado a mostrar seu ritmo, que foi amplificado ainda pelos desdobramentos da corrida.

  2. Eu fiquei curioso para saber o que teria acontecido na prova “se” o Vettel tivesse voltado atrás do Alonso após seu último pit-stop. Passaria?

    • A gente sabe que o circuito é relativamente travado e o Red Bull não é um carro tão bom com tráfego, mas a diferença de ritmo era muito grande, principalmente com supermacios novos.

      • Julianne, na sua opiniao, o fato da Red Bull nao ser tao bom no trafego, pode isso ter influenciado no estouro do motor do Webber ??
        Abrcs

        • Não sou a Ju, mas li ontem (não me pergunte onde) que o carro da RB, como de praxe nos projetos do Newey, trabalha no limite da aerodinâmica. As entradas de ar para o radiador são menores, e andar no tráfego prejudica muito o arrefecimento. Não sei se foi o caso do estouro da mangueira que provocou aquele fogo, mas faz sentido.

        • Perfeito, Eric. Essa “família” de carros da Red Bull de 2009 para cá tem como característica fundamental a prioridade dada à aerodinâmica. Isso “sacrifica” os sistemas do carro, algo salientado quando eles andam no ar turbulento (sem estar na ponta). Então, o que muita gente vê como “azar” do Webber na verdade está relacionado a isso: ele costuma se meter no tráfego e o carro não aguenta porque ele não foi pensado para isso. Não é coincidência que tenham pedido a ele desde o início da corrida para se manter a 2s do carro da frente “for cooling” e, no final, câmbio e motor falhem.

          • Então, diante de tão convincentes e competentes explicações, pode-se concluir que Alonso não tiraria desse Red Bull as mesmas performances que Vettel tira? Creio que cabe a pergunta, porque Alonso – dos três gênios (ALO/VET/HAM) – parece ser o menos rápido deles. E classificar-se na pole, ou pelo menos na primeira fila, é essencial. A especulação é um terreno fértil para as mais variadas conclusões. . .

          • Só para colocar mais tempero: a Red Bull não precisa se classificar em primeiro para ter essa vantagem, mas sim estar em primeiro na primeira volta…

          • Bom, já que é pra carregar a mão na pimenta, Alonso sai de terceiro para trás (às vezes até de nono), mas só fecha em segundo na primeira volta, rsrsrs. . .

          • Hehe, Aucam, Alonso tem fama de “lento” por causa desses anos de Ferrada, mas na época de Renault e Mclaren, era figurinha carimbada nas primeiras filas…Se o Canguru Desolado consegue largar nas primeiras filas de aviso prévio, kkkk, imagina Alonso nessa RBR, sabendo que o carro italiano é melhor de ritmo de corrida. Entre Alonso, Hamilton e Vetttel, o espanhol possui o carro mais lento no sábado.

          • Mas Wagner, admita que a velocidade não é a melhor das excepcionais qualidades que Alonso, ele a tem, sem dúvida, mas Vettel e Hamilton são superiores nesse quesito. Veja que em 2007 Hamilton – em sua primeira temporada ainda, mas enfrentando um bicampeão já consagrado – obteve 6 pole positions contra apenas 2 do espanhol. NO MESMO CARRO, NA McLAREN. Alonso não é um piloto lento – de jeito algum – mas é MENOS rápido que Vettel. Alonso não é um piloto cerebral, ao contrário, é agressivo (vide a bela ultrapassagem que fez de uma só vez pouco após a largada sobre Hamilton e Button no ano passado, não recordo o GP), mas é mais cerebral que Hamilton, não tem o mesmo ímpeto do inglês – para o bem ou para o mal – observe como demorou a ultrapassar o pachorrento Di Resta neste último GP de Cingapura. Não precisa argumentar que Hamilton não ultrapassou Rosberg, estamos falando do asturiano, mas ressalvo desde já que a Force India é um carro inferior à Ferrari e Rosberg é um piloto muitíssimo mais forte que Di Resta, correndo no mesmo carro que Hamilton.

            É aquilo que eu digo, são três superpilotos excepcionais, cujas diferenças são muito pequenas entre si. Cada um deles apresenta características ligeiramente mais fortes e melhores que os outros dois. Veja, pela sua impetuosidade e ousadia, pelo seu arrojo, DOS TRÊS (VET/HAM/ALO) a tocada que MAIS aprecio é a de Hamilton, porque valorizo mais estes aspectos – ele é o molho, a pimenta e o sal das corridas, pela sua combatividade. No entanto, neste exato momento, creio que se analisarmos a coisa toda à luz das explicações da Julianne (feitas acima e em outras ocasiões) chegaremos à conclusão de que Vettel é hoje um piloto melhor que Alonso. Veja – especificamente nesse quesito, velocidade – como o espanhol desde o terço final do campeonato passado está sempre precisando de uma ajudinha aqui e acolá do Massa – quebra de lacre, reboque – isto quando não é superado pura e simplesmente por Felipe. Acresça a isso aquele arranca-rabo que Fernando teve com Pat Fry, quando o engenheiro ex-McLaren reclamou da falta de velocidade de Alonso nos treinos. Fernando tem muitíssimas qualidades excepcionais, mas a velocidade não é a melhor delas.

            Grande abraço.

          • não é a melhor das excepcionais qualidades DE (ao invés de QUE) etc. etc.

          • Hehe, caro, Aucam, vou dar meio braço a torcer, kkkkk, afinal a Ferrada, oops, Ferrari com toda pompa e dinheiro, não possui um túnel de vento que funcione em 4 anos, além de carros deficitários…Nesse quesito, nem Pat Fritas, nem Ferrari podem cobrar “velocidade” de Alonso, pois podemos ver que o segundo melhor carro da temporada é a Mercedes, e esse 2º lugar da Ferrari nos construtores deve-se em parte ao desempenho de Alonso. A Ferrari é tão incompetente, que pode ser notado que em 2010, a perda do campeonato tem grande parcela do time, afinal como foi tocado no credencial, Alonso chegou a questionar a “marcação” a Webber, enquanto tinha um time “lento” do lado de fora “pensando”…

    • Só sei que seria uma briga linda, que infelizmente não aconteceu. Alonso jogou tudo para vencer daquele jeito e não entregaria fácil.

      Mas Vettel resolveu imitar seu ídolo Schumi com o tal stint em ritmo de classificação.

      • Escrevendo essas respostas, estava pensando por que mesmo em 2011, quando o domínio do conjunto Vettel-Red Bull era absoluto, as diferenças nas corridas não eram tão grandes como na era Schumacher, nas provas da Williams do começo dos 1990 ou da McLaren no final dos 1980, para ficar em alguns exemplos. Hoje é preciso pensar nos motores e câmbio, que têm limitações que não existiam antes. Então ganhar por 60s só para mostrar sua eficiência não é tão inteligente. Então o “pobre” Vettel não vai ter tantas chances de imitar Schumacher 🙂

  3. Ju,

    Mas o Vettel tem grande chance de bater os recordes do Schumacher. Afinal tem um carro eficiente/dominador e mais importante: os campeonatos atuais tem mais GPs por ano do que no passado.

  4. Meu comentário vai pro Aucam.
    Perfeito, cara! Divido o mesmo pensamento, mas estava meio assim de escrever porque ainda estou conhecendo o Total.
    Eu também me identifico mais com o estilo Ha-milton por hora de pilotar e, em uma avaliação dos 3 Top Drivers citados, VET e HAM nunca tomaram pau de companheiro de equipe, o que já aconteceu com ALO.
    Valeu.

    • Caro Power,

      Já percebi pelos seus comentários que, como eu, você também aprecia o automobilismo no que ele tem de mais essencial: a emoção, a velocidade extrema, a pura adrenalina, a subjugação da máquina contra as Leis da Física. Na minha simples opinião, esse é o melhor automobilismo. Obrigado, valeu.

  5. Aucam, perfeito. Ou melhor quase tão perfeito quanto a Ju.

    • Valeu, obrigado, Alexandre. Quero aproveitar pra acrescentar que a Julianne é, dentre TODOS os profissionais que se dedicam ao automobilismo, um dos nomes que eu mais reverencio, pelos seus conhecimentos, por suas explicações abalizadas, pela sua dedicação, pela sua isenção, pela sua perspicácia e pela atenção com que trata todos nós. É fácil perceber que ela AMA de verdade o que faz. Como apaixonado por automobilismo, leio muitos blogs e sites por aí, mas o único em que eu REALMENTE gosto de postar meus pitacos é este da Julianne, pois, como disse alguém aqui cujo nome infelizmente não recordo e a quem credito o copyright, “aqui todos nos sentimos em casa”. Divergindo ou concordando, mas sempre em alto nível e sempre com argumentos, todos aprendemos uns com os outros e muitíssimo com ela.


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