F1 Estratégia do GP e os milagres de Mônaco - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP e os milagres de Mônaco

O momento em que a vitória fácil de Hamilton se tornou um desafio

Quando um “kamikaze” Charles Leclerc, como definiu Romain Grosjean, causou um Safety Car na volta 11 das 78 do GP de Mônaco, as equipes ficaram com uma decisão difícil de ser tomada: a aposta mais segura seria colocar os pneus duros e ir até o final; a mais arriscada, de permanecer na pista com os macios, ganhar posição de pista e apostar em uma parada mais tardia; ou acreditar que seria possível administrar o ritmo para levar os médios até o final.

A Mercedes escolheu a terceira opção porque estava na frente e porque havia a previsão de uma garoa (com a qual o composto médio lidaria melhor porque tem uma janela de temperatura de funcionamento menor que o duro). Em outras pistas, eles também poderiam estar de olho a ficarem expostos a um possível ataque se optassem pelos duros, especialmente se os rivais fizessem o contrário, mas não em um circuito tão difícil de se ultrapassar e com a vantagem que eles tinham em Mônaco.

Ao fazer isso, contudo, o time ignorou a recomendação da Pirelli, de não passar de 50 voltas com o composto médio. A estratégia de Valtteri Bottas acabou sendo corrigida ‘na marra’ devido a um furo no pneu no enrosco com Max Verstappen nos boxes, mas Lewis Hamilton teria que lidar com o composto errado por 68 voltas. “Precisamos de um milagre!”, dizia o inglês.

Nas contas do time, isso seria possível porque era só ele ditar um ritmo mais lento. E ele o fez: em determinado momento da corrida, a Toro Rosso parou e virou em 1min15, com pista livre, enquanto Hamilton andava em 1min17, com um carro muito mais veloz.

Percebido o erro, coube ao engenheiro ouvir todas as reclamações do mundo por mais de 40 voltas, mas não havia o que fazer: Hamilton voltaria em quinto se parasse, então caberia a ele não bater.

Ao mesmo tempo em que ouvíamos as reclamações de Hamilton, as equipes que escolheram a segunda opção no SC, ou seja, seguir com os macios, conseguiam se manter na pista até pra lá da volta 50. Como explicar isso? Seria choradeira do inglês?

É preciso entender que os pneus de 2019 têm uma particularidade que está dando muito trabalho para as equipes: como a construção mudou para evitar superaquecimento, é mais difícil mantê-los na temperatura correta e, quanto mais duro o composto, mais difícil isso se torna. E o resultado é o graining que era visível nos pneus de Hamilton e estava lá em menor escala na borracha de Verstappen.

Muitas vezes usamos o termo degradação para falar, na verdade, de desgaste (em inglês, os termos são degradation e wear). Quase não há desgaste no circuito de Mônaco, mas há degradação. A degradação tem a ver com a temperatura (superaquecimento causa blistering e pouco aquecimento gera graining, como expliquei melhor aqui).

Por conta disso, ficar com o macio, algo que a Red Bull optou com Gasly, a Haas com Grosjean e a Toro Rosso fez com ambos os carros, foi a melhor estratégia do dia. Afinal é um composto que precisa de menos temperatura para funcionar bem.

Mas então o duro não seria o pior em termos de temperatura? Aí entra toda a administração que Hamilton tinha que fazer para fazer o pneu durar além das 50 voltas recomendadas pela Pirelli, além de manter seus pneus na temperatura certa.

Além de Hamilton, outra performance que chamou a atenção foi de Carlos Sainz. Ele basicamente facilitou sua vida com uma primeira volta excelente, passando as duas Toro Rosso na subida do Cassino. E conseguiu manter seus 100% de corridas nos pontos em Mônaco. Aliás, lembro de estar na beirada da pista, nos esses da piscina quando ele era companheiro de Verstappen, e me impressionar com a tocada do espanhol por lá. É um daqueles que dá gosto de ver.

Seu companheiro, Lando Norris, estava com dificuldade com seus médios na primeira parte da prova e, no final das contas, acabou com a corrida de todos os pilotos do meio do pelotão que pararam no SC, incluindo Daniel Ricciardo, que era quinto antes da interrupção, mas optou por fazer a parada. Foi por isso, também, que Kimi Raikkonen não conseguiu avançar: a Alfa escolheu a estratégia certa, de não parar no SC, mas ele já estava atrás do trem gerado por Norris e não conseguiu se beneficiar. Foi esse trem, também, que permitiu a George Russell lutar de verdade com outros carros. Milagres de Mônaco!

2 Comments

  1. Depois do SC, achei que Hamilton iria ter um respiro por algumas voltas ja que seu pneu, na teoria, seria mais fácil de aquecer. Mas como ele tinha que poupar, indo devagar, não conseguiu abrir nada. Vc acredita que, por isso, por estar lento, ele favoreceu o surgimento do graining? Se for o caso, se fosse no ritmo que seria capaz, o graining poderia nem ter surgido? Ai provavelmente o desgaste mesmo que iria atormentar no fim da corrida ?

  2. Clap clap clap
    (Som de aplausos…)
    Que falta faz esse seu olhar clinico na transmissão da TV.
    Mesmo em uma corrida monotona você daria um colorido especial.


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