F1 Fácil para Verstappen, divertido para Alonso, um desafio para Mercedes e Ferrari: Análise do GP do Bahrein - Julianne Cerasoli Skip to content

Fácil para Verstappen, divertido para Alonso, um desafio para Mercedes e Ferrari: Análise do GP do Bahrein

O GP do Bahrein costuma ser vencido por quem cuida melhor de seus pneus. E se cuidar bem de seus pneus é sua grande vantagem, aí a vitória toma ares de lavada, como a que vimos Max Verstappen e a Red Bull darem em seus rivais na primeira corrida do ano da Fórmula 1 em 2023. 

Prova dessa vantagem foi o fato de o bicampeão e seu companheiro Sergio Perez terem usado por duas vezes o composto macio. Isso não só era impensável para Ferrari, Aston Martin e Mercedes por conta do desgaste, como também exacerbou a vantagem da Red Bull, pois possibilitou que eles ficassem mais tempo com o composto mais macio.

Também há outro fator. Para proteger os pneus traseiros na corrida no Bahrein, os carros têm de ter um acerto com a dianteira um pouco mais solta. Isso faz o carro sair um pouco de frente em uma volta lançada, mas é melhor para a corrida. A Red Bull consegue fazer isso com menos comprometimento que os outros. Mas essa é uma característica quase única de Sakhir ao longo do campeonato. Então, sim, eles tinham uma vantagem gigante, mas há fatores relacionados à pista que exacerbaram isso.

Leclerc tirou qualquer chance de Perez pensar em vitória no GP do Bahrein

Verstappen e Perez eram, claro, os únicos candidatos à vitória. Não vimos, contudo, o que Perez poderia fazer. Quando perdeu a posição para Charles Leclerc nos primeiros metros, suas chances de vitória acabaram. Isso porque ele não poderia trabalhar os pneus da maneira que Verstappen fazia na ponta, só controlando o ritmo, e isso, como sabemos, é decisivo no Bahrein.

Leclerc conseguiu dividir os dois por uma opção feita pela Ferrari na classificação, sabendo que precisava tentar algo diferente. No mano a mano, não tinha chances. Leclerc guardou um pneu macio para ter mais aderência na largada, conseguiu segurar uma Red Bull, mas quando parou já na volta 13, inclusive junto de Carlos Sainz, era um sinal do alto desgaste da Ferrari.

O time tem alguma ideia de onde vem esse desgaste. Fred Vasseur comentou que o acerto contribuiu. Para chegar na velocidade de reta da Red Bull, eles comprometeram sua pressão aerodinâmica. E Leclerc, que bloqueou o pneu algumas vezes na curva 1, problemática para a Ferrari neste fim de semana, indicou que eles são lentos, precisam forçar mais para andar em um ritmo forte, e isso gera mais degradação. O que também tem a ver com a pressão aerodinâmica. 

Perez só passou no segundo stint

Com um pouco menos de velocidade de reta, Perez só tinha ficado perto de Leclerc esperando sua parada para conseguir ficar mais algumas voltas na pista e criar uma diferença de performance no stint seguinte para passar sem sofrer. Ele parou quatro voltas depois, colocou os macios, e não demorou para estar 0s7 por volta mais veloz que Leclerc, passando-o com facilidade na volta 25.

Nesse momento, Verstappen já estava totalmente focado em administrar seus pneus. Em uma pista como no Bahrein, o melhor a fazer é abrir os 15s de vantagem que permitem parar e voltar na frente no caso de Safety Car ou VSC. Mas sem tirar muito de seus pneus para não ficar exposto se o SC vier antes disso. Neste ponto da prova, antes mesmo da metade, ele já tinha conseguido isso.

O pódio também parecia estar decidido. Mesmo sofrendo com os pneus, Leclerc tinha um ritmo muito melhor que Sainz e abriu 13s em relação ao companheiro em 27 voltas. A diferença de rendimento entre os dois diminuiu com os pneus duros, e Leclerc estava 9s à frente de Sainz quando seu motor apagou, na volta 39 de 57.

Alonso mostra força da Aston Martin, com a ajuda de Stroll

A segunda parada de Stroll foi um momento capital na corrida de Hamilton

É aí que se abre uma vaga no pódio, que acabou sendo o alvo da grande briga do GP.

Fernando Alonso pregou a cautela por todo o fim de semana. Repetiu diversas vezes que tudo parecia ser “bom demais para ser verdade” no seu atual conto de fadas com a Aston Martin. Ele liderou duas sessões de treinos livres, mesmo não estando 100% contente com o carro. Depois foi quinto no grid, sabendo que o ponto forte do AMR23 é a corrida.

Ele sabia que, para o GP, seria importante ter o companheiro por perto para poder jogar com a estratégia. E Lance Stroll tinha sido bem lento na simulação de corrida na sexta-feira. Mas o canadense foi pegando o jeito do carro e confiança nos punhos, machucados em acidente sofrido 15 dias antes do GP, e surpreendentemente estava lá para ajudar a equipe.

A presença de Stroll se tornou ainda mais importante quando Alonso perdeu posição para as duas Mercedes. Isso significava que ele só chegaria no pódio se conseguisse um overcut ou criasse um offset de pneus (ter pneus mais novos mais adiante na prova). Como a briga era com os dois carros da Mercedes, se torna muito importante também ter os dois carros para deixar o rival na dúvida de qual carro vai tentar o que.

Dito e feito. 

Em uma corrida de duas paradas e de alto desgaste, como no Bahrein, esse é um trabalho de formiguinha. A recuperação de Alonso começou quando Hamilton passou a sofrer com os pneus bem cedo no primeiro stint, segurou Russell e isso permitiu que o espanhol se aproximasse.

https://juliannecerasoli.com.br/2022/03/17/gp-do-bahrein-ao-vivo-turistando-f1/

Aston Martin deixou Mercedes na defensiva

A Aston Martin demonstrou gerar muito mais pressão aerodinâmica do que a Mercedes durante a corrida, pela maneira como Alonso conseguia proteger os pneus traseiros e como passou ambos os carros mesmo com menos velocidade de reta. É claro que a asa traseira de menos downforce dos carros pretos pode ter piorado a situação dos pneus de Russell e Hamilton, mas foi uma opção necessária para que eles não fossem parar mais atrás na classificação.

Quando abriu a janela para o primeiro pit stop, Alonso estava perto o suficiente para fazer o undercut em ambas as Mercedes, então o time escolheu defender a posição de Hamilton, que estava à frente, o que é o natural. Você defende os pontos da equipe. Mas isso deixou Russell exposto ao ataque e Alonso o passou na mesma volta em que Hamilton parou, 12, bem cedo. E George o seguiu no giro seguinte para não ficar exposto também a Stroll.

Alonso parou na volta 14, e voltou bem mais atrás de Hamilton, tendo de remar. Depois que colocou o pneu duro, o inglês fez uma ótima prova levando em consideração as limitações da Mercedes, andando junto com Sainz, vendendo caro a posição para Alonso, mas sem acabar com seus pneus, e depois colocando pressão no espanhol no final.

Duas ultrapassagens no último stint para Alonso

Alonso foi diminuindo a diferença aos poucos. E, quando ele chegou a menos de 2s de Hamilton, a Mercedes decidiu chamar o inglês aos boxes para evitar um undercut. Naquele momento, a Aston Martin estava pronta, mas para servir Lance Stroll, que também estava na zona de undercut de Russell. Isso foi na volta 30. É possível que a Aston tivesse feito a jogada contrária se a Mercedes não chamasse Hamilton. Com mais degradação e na luta de 2 pilotos contra 2, eles estavam encurralados.

A Mercedes parou Russell na volta seguinte, mas não conseguiu evitar o undercut e perdeu a posição. Alonso permaneceu na pista por mais quatro voltas e criou o tal do offset, a diferença de voltas que faria com que seu rendimento fosse melhor que o de Hamilton no stint final. Três giros após a parada, ele passou Hamilton, na curva 10, uma das mais técnicas da temporada.

Um ponto importante para isso dar certo logo de cara foi o ritmo forte de Alonso com pneus usados antes da parada, que permitiu que ele não voltasse longe de Hamilton e pudesse passá-lo rapidamente. Assim, ele ainda conseguiu ir à caça de outro que estava sofrendo, Sainz. A ultrapassagem só não saiu antes da volta 44 pelo VSC causado por Leclerc.

A história do GP do Bahrein no pelotão de trás (ou nem tanto)

Outra grande história da corrida foi o quão próximo o pelotão estava, tirando os dois carros da frente. Valtteri Bottas fez estratégia semelhante à de Russell e estava a 15s da Mercedes no final. É bem verdade que ele estava olhando mais seus retrovisores, depois que Gasly, Albon, Tsunoda e De Vries aproveitaram o VSC para colocar pneus macios.

Gasly largou em último e era 18º quando antecipou sua primeira parada nos boxes, ainda na volta 10. Com isso, ele surgiu em 12º quando todos trocaram os pneus pela primeira vez. Um segundo undercut o colocou à frente de Tsunoda, e depois o francês superou Alex Albon na pista para ser nono. Seria uma recuperação apenas pautada pela estratégia?

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Não, isso só foi possível porque a Alpine foi bem consistente na corrida, algo que seu companheiro Ocon não pôde mostrar com sequência bizarra de punições que tomou. A primeira por parar à frente da marca na largada, a segunda por não pagar a primeira direito, e a terceira por exceder o limite de velocidade nos boxes (o que também aconteceu com Gasly na classificação).

Por outro lado, a Haas teve uma noite muito ruim, com Hulkenberg tendo o carro danificado na primeira volta e Magnussen apagado por todo o fim de semana. E a McLaren até teve um ritmo decente, no nível da Williams (pouco pensando em onde o time estava ano passado, mas bem razoável em comparação com a pré-temporada) nas poucas voltas em que Lando Norris não teve problemas. Precisando repor o ar comprimido, ele foi aos boxes seis vezes. Mas coletou informações importantes para o time.

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