F1 O confuso GP do Japão e o bicampeonato de Verstappen na F1 - Julianne Cerasoli Skip to content

O confuso GP do Japão e o bicampeonato de Verstappen na F1

Houve pilotos que fizeram poles inesperadas. Outros ganharam corridas que não esperavam ganhar. Mas e um título? Quando Max Verstappen cruzou a linha de chegada do GP do Japão, tinha certeza de que não tinha feito o suficiente para selar o bicampeonato em Suzuka. Quando Charles Leclerc estava se defendendo de Sergio Perez nas voltas finais, ele não achava que aquela disputa seria decisiva para o campeonato. Mas eles, suas equipes e a enorme maioria do paddock estava errada. Essa acabou sendo a história da corrida do bicampeonato de Verstappen.

A surpresa veio pela maneira como uma regra foi redigida. Foi a mudança feita em função de toda a polêmica do GP da Bélgica do ano passado. Toda aquela história de dar 25% para uma corrida que tem de três a 25% das voltas completadas e assim por diante deveria valer para qualquer situação. A regra foi pensada para isso e foi aprovada pelas equipes com essa premissa. Porém, no texto do regulamento, está escrito que isso só vale se a prova é suspensa.

E o GP do Japão não foi, sendo disputado até o limite de 3h de evento. Para este tipo de situação, não há nada previsto no regulamento. E a direção de prova não teve outra solução a não ser computar a pontuação integral. Mesmo que a corrida tenha tido só metade das voltas programadas.

Não dá para dizer que esse tipo de evento é raro se lembrarmos que essa é a segunda corrida que acaba no limite de 3h em menos de dois anos que essa regra existe. Então, como no caso daquelas punições fracionadas de motor e câmbio, eis outra falha no texto que tem de ser revista.

Bicampeonato de Verstappen veio com outra vitória incontestável

O título de Verstappen, é claro, não é surpresa nenhuma. O conjunto Max-Red Bull sobrou neste ano e novamente em uma tarde em que aconteceu um pouco de tudo em Suzuka. Largou mal na primeira tentativa, mas apostou que teria aderência no lado de fora da primeira curva, sob chuva, e defendeu a ponta do ataque de Leclerc. 

Atrás dos dois, pouco se via, mesmo com todos largando com os pneus intermediários, que escoam menos água. Nas voltas de reconhecimento, antes da largada, a chuva era bem mais fina, e apertou quando estávamos saindo do grid. Rapidamente, as condições mudaram do pneu intermediário para o de chuva intensa, como Carlos Sainz percebeu logo de cara, aquaplanando. Zhou rodou, Albon abandonou, e a direção de prova julgou que o nível de visibilidade era baixo demais para continuar correndo. Bandeira vermelha após duas voltas completadas.

Uma cena que ninguém gostaria de ver novamente

Ao retornar aos boxes, Pierre Gasly foi flagrado gesticulando, revoltado com algo. Logo, descobrimos o porquê. Depois de ter levado a placa de publicidade que foi parar no meio da pista devido à batida de Sainz, Gasly parou. Estava tentando chegar no pelotão, já lento devido ao SC, quando se viu passando em alta velocidade ao lado de uma grua que ajudava na retirada do carro do espanhol. Naquele momento, ele estava respeitando o limite de tempo que recebe no volante, e a bandeira vermelha tinha sido acionada apenas instantes antes.

Todos os pilotos passaram pela grua e, mesmo que estivessem em velocidade menor, ainda corriam o risco de aquaplanarem. E, mesmo em velocidade menor, isso já seria o suficiente para um acidente bastante feio. Some-se isso às condições semelhantes (e na mesma pista) do acidente fatal de Jules Bianchi há oito anos, e dá para entender porque os pilotos estavam enfurecidos após a prova.

Sim, eles sabem que pode haver veículos de resgate na pista assim que o SC é acionado. Não, não é razoável fazer isso com as condições de pista e visibilidade que eles tinham. Por sorte, e pura sorte, nada aconteceu.

Pneus largos e aerodinâmica são os “vilões” da F1 na chuva

O que se seguiu foi uma longa espera. A chuva não era forte, mas rios já tinham se formado numa pista cheia de sobe e desce a ponto do pneu de chuva ser necessário. Quando isso acontece, quer dizer que o spray afetará demais a visibilidade, o que também acontece porque o pneu traseiro é muito largo e a próxima aerodinâmica desses carros não ajuda. Agora no regulamento técnico, vemos dois exemplos de como a F1 faz regras sem avaliar todas as possíveis consequências. E também é verdade que os pilotos não gostam muito do full wet.

Uma corrida com cara de sprint

Na relargada após um longo período de bandeira vermelha, que significou que a corrida em si só teria 45 minutos, Verstappen teve vida mais fácil para se manter na frente, com uma largada lançada e muito spray na pista. Após duas voltas atrás do SC para limpar o trilho, a vontade de ir logo para os intermediários era tanta que Sebastian Vettel e Nicholas Latifi pararam antes mesmo da relargada, numa decisão que provou ser acertada.

Red Bull sai dos boxes com os pneus intermediários na corrida do bicampeonato de Verstappen

Não demorou para Vettel ser o mais rápido da pista e todos irem parando. Norris e Bottas no final da volta seguinte. E a maior parte do pelotão, incluindo os líderes, na seguinte. Curiosamente, os dois pilotos da Mercedes pediam para seguir na pista com os full wets, o que diz bastante sobre o carro deles. Mas o time chamou os dois pilotos, irritando George Russell, que perdeu tempo esperando a parada de Lewis Hamilton.

Fernando Alonso esperou mais uma volta para parar, como Daniel Ricciardo. Esperando mais chuva, o que não aconteceu, Guanyu Zhou e Mick Schumacher retardaram ainda mais suas paradas e perderam terreno, tamanha era a diferença entre os intermediários e os pneus de chuva.

Quando todos tinham feito sua visita aos boxes, Verstappen liderava com 4s de vantagem para Leclerc, seguido por Perez, Ocon, Hamilton, Vettel, Alonso, Latifi, Norris e Tsunoda.

Essa ordem acabou não se alterando muito até o final da prova. Era muito mais difícil seguir um rival de perto em Suzuka do que foi em outras pistas com curvas de alta, e com isso era muito difícil passar, a não ser que houvesse uma diferença muito grande de rendimento. Com isso, as estratégias também ficaram engessadas, até porque, com uma corrida de 45min, não havia tempo para recuperar a perda com uma parada adicional.

Dificuldade de ultrapassar travou as estratégias

A Alpine até tentou com Alonso, preso atrás de Vettel. Ele voltou atrás do único piloto que conseguiu “se infiltrar” no top 10, Russell, que passou Tsunoda e Norris. Ultrapassou o inglês e cruzou a linha de chegada incríveis 11 milésimos atrás de Vettel, fazendo a última curva lado a lado com o alemão, que teve uma despedida de sua querida Suzuka à altura de sua história com o circuito. Sexta colocação para o tetracampeão, sétima para o bi. E Latifi conquistou os primeiros pontos do ano, em nono, tendo feito a opção certa pelos intermediários logo no início.

Mais à frente, Hamilton esperou toda a prova por um erro de Ocon, que não veio, e ficou com o quinto. E a Alpine se recuperou bem de um abandono duplo em Singapura.

Os pneus de Leclerc selaram o bicampeonato de Verstappen

A dificuldade para se passar em Suzuka ficou bem evidenciada na briga entre Perez e Leclerc pelo segundo lugar. O monegasco muito provavelmente pediu muito de seus pneus intermediários logo no começo, quando teve de passar Schumacher, e esse ciclo mais intenso de calor fez com que eles se degradassem tão rapidamente que ele logo começou a pedir para a equipe pará-lo novamente, o que o jogaria atrás de Alonso. Também é verdade que a Ferrari já tinha visto na sexta-feira que teria problemas com as temperaturas dos pneus, e até por isso seus pilotos conseguiram ameaçar Verstappen na luta pela pole, já que eles conseguem colocar temperatura mais rapidamente no pneu.

Achando que ainda haveria uma volta a mais a fazer (outra informação truncada no regulamento), Leclerc travou seus pneus na chicane do que era, na verdade, a volta final. Em uma decisão bem mais rápida que o normal, os comissários entenderam que ele ganhou uma vantagem duradoura ao fazer isso (esse tipo de decisão, quando o piloto ganha vantagem estando na frente, é sempre uma loteria, pois não é consistência nesse tipo de julgamento, havendo exemplos dos dois lados). Foi punido com a perda de 5s, e terminou em terceiro.

Isso, e a pontuação total de uma corrida disputada pela metade, fizeram com que o campeonato fosse selado por Verstappen já no Japão. Não que ele tenha qualquer coisa a ver com isso. O holandês conseguiu abrir tanto 21s5 de vantagem sobre Leclerc em 17 voltas. Aí nessa conta você tem um carro com ritmo de corrida e trato com os pneus superior (e a maneira como Perez atacou Leclerc até fazê-lo errar é prova disso), tem a possibilidade de ditar o próprio ritmo andando sozinho na ponta, o que sempre ajuda, mas também é mais uma prova de como Verstappen se sente bem correndo no molhado. 

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