F1 Os pneus e a emoção do Q3 - Julianne Cerasoli Skip to content

Os pneus e a emoção do Q3

Treino é para andar, não para assistir

A falta de emoção da parte que deveria ser a mais nobre da classificação gerou muitas críticas ano passado. Houve ocasiões em que apenas quatro pilotos fizeram duas tentativas no Q3, algo que tornou o ápice da tomada de tempos sonolento. Essa tendência é cada vez menor em 2012 por dois fatores: como as equipes estão mais próximas umas das outras, há a esperança de ganhar tempo ao fazer ao menos uma tentativa; e como os pneus mais duros estão se mostrando os preferidos nas corridas – resultado da mudança promovida pela Pirelli, que aproximou o rendimento dos compostos – a necessidade de topar tudo para guardar os macios diminuiu.

Mesmo assim, ainda se discute maneiras de melhorar a classificação: Um composto só para isso? O fim da necessidade dos 10 primeiros usarem o mesmo pneu na classificação e no início da corrida? Alguma regra que desestimule as equipes a deixarem seus carros nos boxes no Q3 – como obrigá-los a largar com o pneu do melhor tempo do Q2?

Essa mudança no panorama de um ano para o outro apenas pela alteração no composto mostra a necessidade de pensar bem antes de mudar qualquer regra na F-1. A tendência é sempre os engenheiros encontrarem uma maneira de tirar vantagem e há um prejuízo do ponto de vista do grande público ao mexer continuamente na fórmula. Convenhamos, não há muito que reclamar deste campeonato até aqui.

A possibilidade de um pneu especial para a classificação vai contra a imagem que a categoria vem tentando promover nos últimos anos. Não que 11 jogos de pneus para menos de 600km encha qualquer ambientalista de orgulho, mas a ideia de jogar fora quatro pedaços de borracha após 3 voltas é difícil de justificar.

Recentemente, quando no GP da Grã-Bretanha muita gente bateu em cima do baixo número de pneus de chuva, tido como motivo para a pouca atividade na sexta-feira, Adrian Newey falou que, mesmo com toda a borracha do mundo, as equipes não colocariam os carros na pista. Afinal, não havia muito que aprender, o risco de batidas e da perda de peças novas – como aconteceu com a asa dianteira da Ferrari – é muito grande e não são apenas os pneus que são limitados – motores e câmbio também precisam ser usados com equilíbrio.

Portanto, aumentar o número de pneus vai manter a economia na classificação e apenas fazer com que todos larguem em igualdade de condições, com pneus novos. Isso seria o mais justo olhando pela competição em si, mas vai contra o atual espírito que reina na maioria dos esportes, de privilegiar o espetáculo. E é inegável que o desafio de saber até quanto vale comprometer a classificação para não sair perdendo na corrida é interessante, assim como a necessidade de equilibrar o carro e a estratégia para o uso de dois compostos diferentes.

O que me parece difícil de justificar é a regra dos 10 primeiros largarem com os pneus com que fizeram seus melhores tempos no Q3. Quando isso foi criado, ocupou o lugar de um sistema sem sentido de “vales combustível”, coisas dos tempos de reabastecimento, complicadas e desinteressantes. Naquela época, a expectativa era dar mais chance às equipes médias. Porém, grande parte da diferença entre esses times e os grandes diminuiu. Quando se tem três ou quatro décimos separando os 15 primeiros, como em várias corridas deste ano, essa regra ganha um elemento aleatório: pode beneficiar um piloto de time grande que ficou pelo caminho por algum detalhe e larga perto do 11º lugar, como já perceberam Raikkonen e Alonso.

A F-1 já não é a mesma e, quanto maior a possibilidade de carros bons ocuparem essas posições chave e terem a chance de guardar pneus por não participar do Q3, maior a “tentação” de times que sabem que não podem almejar por mais do que a quarta ou quinta filas não marcarem tempo na última parte da classificação. Além disso, ao não precisar largar com o pneu com que classifica, carros dentro do top 10, mas longe da pole podem iniciar a prova com pneus mais resistentes visando fazer uma parada a menos que os ponteiros e se colocar na luta pela vitória. Talvez essa pequena mudança na regra, a exemplo da alteração no composto, possa fazer um mundo de diferença.

6 Comments

  1. Ju, acredito que um dos grandes problemas dos pneus exclusivos para a pole, seria uma deturpação de rendimento, pois com a necessidade de adotar os dois compostos na corrida, o embasamento para regulagem do carro para o sábado, aliado a negativa em se mudar a regulagem para o domingo, criaria um abismo na preparação para a corrida. Parece que o término da obrigatoriedade seria o melhor passo, como vimos Alonso e Hamilton que largaram com pneus duros entre os ponteiros, trazendo emoções distintas para a corrida inglesa.

  2. Muito bom Jú, vc explica a F1 de uma maneira que eu não vi ninguém fazer.

  3. Eu não mudaria nada nas regras, pois treino é treino e o que vale mesmo é o resultado final da corrida, após as apelações. Se cada equipe estivesse livre da obrigatoriedade do uso do pneu da classificação ou mesmo do uso dos dois compostos, as melhores equipes iriam abrir um caminhão de vantagem e se perderia a graça atual.

    Julianne,

    Quando você preparou o post transmissões, você percebeu que o Alonso fritou pneu propositalmente várias vezes durante a volta de apresentação? Ele estava procurando aquecer rapidamente os pneus médios para não perder posição para o Webber que largava de macios. No começo a tática deu certo só que o 1º stint ficou mais curto e no final ele teve que ficar mais tempo com os macios, perdendo a 1ª posição para o Webber.

    Ou seja, quanto maior o leque de possibilidades, mais imprevisível o resultado final e mais interessante o campeonato.

    Abs.

    • Acredito que foi o próprio Lobato que chamou a atenção para a ritmo forte dele na volta de apresentação. É possível que o fato dele, como pole, poder ditar o ritmo naquele momento foi um dos motivos que incentivou a Ferrari a tomar aquela decisão. Quanto mais a gente se aprofunda, mais detalhes interessantes aparecem.

  4. Eu pensaria em proibir o DRS e talvez, também o Kers na classificação. Talvez radicalizando muito, disponibilizar para cada piloto a pista exclusiva, sem outros pilotos para atrapalhar, podendo dar x voltas e valeria o melhor tempo. A ordem de saida do Box seria por sorteio.

  5. Pq não dar pontos ao pole? Por exemplo: 3 pontos ao pole, 2 ao segundo e 1 ao terceiro.


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