Os pilotos têm seus motivos para reclamar. Afinal, são vários os sinais de que os dirigentes da F-1 estão completamente perdidos e desconectados em relação ao que eles mesmos querem para o futuro da categoria, o que só é amplificado por um sistema decisório arcaico e autoritário. Mas também têm de aceitar sua parcela de culpa.
Há anos cobra-se uma postura mais incisiva dos pilotos e tudo o que se ouve é que “é mesmo para todos”. Agora que todos se deram conta de que aquela categoria com a qual sonharam desde pequenos está perdendo a mão, iniciaram uma chuva de críticas, lideradas, até que enfim, pelos campeões do mundo.
Mas ainda é pouco. É evidente que o discurso dos pilotos é tão difuso quanto dos dirigentes. O próprio Lewis Hamilton disse que não atende aos pedidos do diretor de provas Charlie Whiting para discutir saídas para a categoria porque sabe que “Vettel é quem vai ficar falando o tempo todo na reunião”. Isso pouco depois de reclamar que a classe não é ouvida.
Outro problema é a falta de uma pauta clara. Parece existir apenas um consenso entre os pilotos, de que os carros precisam de mais aderência mecânica, preferivelmente vinda de pneus melhores. Afinal, eles querem sentir que estão acelerando ao máximo do começo ao final da prova.
É o ideal para eles dentro do carro, sem dúvida. Mas e para a Fórmula 1? Até que ponto isso apenas reforçaria a supremacia do equipamento em detrimento do fator humano?
Para completar o cenário delicado, nem mesmo quem tem a incumbência de estabelecer as novas diretrizes da categoria consegue entrar em consenso. A ideia de ter carros mais rápidos em 2017 – como se esse, aliás, fosse um problema essencial – tem esbarrado em duas frentes: há engenheiros que acreditam que se isso vier da aerodinâmica, ficará ainda mais difícil ultrapassar, enquanto a Pirelli já avisou que pode fazer um pneu melhor – ou seja, com a tal aderência mecânica pedida pelos pilotos – mas seus estudos também indicam uma queda no número de manobras.
O fato é que, como o diretor técnico da Williams, Pat Symonds, atestou, a F-1 não entende desse fenômeno chamado ultrapassagem. E, partindo desse pressuposto, qualquer mudança é um risco.
Com o desespero batendo à porta, a FIA mexe nas regras esportivas advertidamente, como no caso da nova classificação, que sofreu mais reviravoltas em um mês do que o campeonato do ano passado inteiro teve dentro da pista. Por essas e outras, não é tempo de apenas cobrar mudanças, mas também de saber onde a F-1 quer chegar.
5 Comments
Excelente, Julianne. É comum ver muitas sugestões de fãs, pilotos, colunistas que, no fundo, não sabem o que querem. Ora, tanto se reclamava das dificuldades de ultrapassagem no passado, do excesso de importância da aerodinâmica nos projetos e, menos de 3 anos depois, todos reclamam das mudanças que a categoria como um todo aprovou! A F1 hoje é mais lenta (e pra muitos, pior) muito por culpa das decisões tomadas pelos dirigentes, que agora se arrependem e criticam o produto. Nunca vai ser possível agradar a todos, mas toma decisões tendo um norte pode ajudar a categoria a se reencontrar. Eu, pelo menos, vejo isso hoje na Fórmula-E. O problema da F1 é político, no fim.
Abraços a todos
A F1 tá mais bagunçada do que ninho de galinha. Esses velhos ultrapassados que comandam a FIA não levam a sério o que os pilotos pedem, porque também os mesmos não se impõe. Os pilotos parecem mais um bando de meninas indecisas sem saber com qual roupa vai pra festinha. Junta todo mundo e chega junto batendo na mesa, porque enquanto ficar só um piloto falando nas reuniões com o restante do bando sem abrir o bico, não vai adiantar nada.
Aonde a F-1 quer chegar? Certamente não é no Estado atual aonde GPs tradicionais, como o da Alemanha, são ameaçados pela falta de público e um país como a Espanha não terá transmissão em TV aberta.
Ver pilotos como Vettel e Alonso sem condições de disputar o título por 3 anos seguidos, ninguém aguenta mesmo. Ano passado a F-1 iniciou a temporada com uma dobradinha da Mercedes com Vettel da Ferrari em 3º e encerrou a temporada com uma dobradinha da Mercedes com Vettel da Ferrari em 3º. Depois de anunciar “mudanças” pra “promover o caos” a F-1 abre a temporada com uma dobradinha da Mercedes com Vettel da Ferrari em 3º, o que deverá se repetir em várias corridas ao longo do ano, como foi ano passado.
Quando teve os tópicos com as “enormes” mudanças eu não quis bancar o pessimista, mas parecia o sujeito que jantava pizza, tomando coca cola e quindim pra sobremesa, descobre que está diabético e precisa mudar a alimentação, passando a jantar esfiha e a tomar pepsi cola com brigadeiro na sobremesa. Aí esse sujeito diz “mudei completamente minha alimentação, não sei porque minha glicemia continua subindo”.
Nem nos 5 títulos seguidos do Schumacher foi tão chato. Os pilotos obviamente querem poder dar tudo de si, o que só pode acontecer com pneus de qualidade e abertura total pra que as fabricas possam desenvolver a UP. Sobre as ultrapassagens, em números pode até ter em mais quantidade agora, mas a maioria é tipo uma Willians parar na volta 15 pra trocar pneu, voltar poucos segundos atrás de alguma Sauber da vida que irá parar algumas voltas depois, e esta Willians, de pneu novo e asa aberta passar de passagem pela tal Sauber.
Não sou eu quem diz isso; são os pilotos, o Bernie, a audiência em queda livre(A Globo perdeu pra Record em plena corrida de Interlagos ano passado).
Seria ótimo o Rosberg ganhar o título deste ano, porque enquanto quem ganha é o Hamilton, um dos grandes nomes da história da categoria, muita gente não percebe o que está acontecendo realmente.
Acho que o Alonso tem feito os comentários mais fundamentados, ele vem criticando bastante a falta de testes, tem o prejudicado bastante nos últimos anos em que tinha(tem) equipe com suporte e dinheiro, mas não consegue lutar pelo título pela falta de testes… Eu compartilho isso com ele, onde já se viu, apenas duas semanas de testes antes da temporada, para testar variados sistemas novos? Onde já se viu perder a participação ativa de campeões com gás pra lutar, como Alonso e Vettel nos últimos anos, como bem colocou o colega, por engessamento de motores e falta de testes? É muito pouco teste, ano passado a Mclaren mal pode andar, esse ano a sauber pouco andou com o carro novo, a equipe nova Haas, estreante na categoria e etc, esse pra mim é um dos problemas… Há outros, falta liberdade pra escolhas de pneus e estratégias diferentes(que esse ano parece que melhorou um pouco), falta de liberdade para desenvolvimento dessas up (parece que há também uma melhora nesse sentido para esse ano, só não sei a que ponto, pois pra mim nessa última corrida, foi a mesma coisa) e etc…
O problema da F1, a meu ver, é o excesso de informações sobre tudo o tempo todo. Cada cm² do carro é conhecido ao extremo. Temperatura, desgaste, tudo é de conhecimento dos engenheiros e pilotos. “Recolha o carro”, diz o engenheiro antes de uma peça quebrar. “Mantenha distância de dois segundos para o carro da frente para diminuir o desgaste dos pneus”. “Faça a curva assim ou assado”, “freie tantos metros antes da curva”, “não ataque a zebra”, “não dispute posição na pista para não perder tempo nem gastar pneus”… Esse conhecimento minucioso de tudo acaba com qualquer imprevisibilidade. Não está mais nas mãos dos pilotos a gestão do carro, da corrida. Enquanto houver essa ingerência externa nas corridas tudo vai continuar previsível.