O retorno da Renault como construtora e a vitória das montadoras nas últimas reuniões do Conselho e do Grupo de Estratégia deixaram a Red Bull em uma posição bastante frágil a médio prazo. Embora a série de ameaças de abandonar a Fórmula 1 tenha cessado com o acordo-tapão com os franceses, os últimos acontecimentos tornam difícil imaginar um atalho curto para o time que dominava a categoria há pouco mais de 24 meses voltar a reinar.
A cada capítulo da história dos V6 turbo híbridos na Fórmula 1, fica mais claro que Ron Dennis tinha uma boa parcela de razão quando apostou no fim da parceria com a Mercedes para buscar uma relação de equipe de fábrica com a Honda. Pelo menos até agora, não pela Honda em si, mas conceitualmente: como o novo regulamento colocou grande peso de diferencial no motor, os times que tiverem as relações mais estreitas com as fornecedoras ganham uma vantagem impossível de ser tirada apenas com um chassi brilhante, especialmente em tempos de grande restrição técnica.
E cabe o parênteses: tal restrição técnica tem sido a forma encontrada pela Federação Internacional para frear os custos, uma vez que as equipes, incluindo a Red Bull, não aceitam ter suas contas controladas.
Em teoria, a Red Bull teria uma relação de time de fábrica com a Renault, mas a incompetência dos franceses de um lado e as lavagem de roupa pública de outro fizeram a parceria ruir, deixando o time em uma posição frágil.
Ciente da importância da Red Bull como ferramenta de marketing e fomento de novos talentos para a F-1 hoje, além da tentativa de garantir proteção para seu aliado Christian Horner, Bernie Ecclestone usou todas as armas para fazer a categoria acreditar que o atual regulamento é errado, jogando os preceitos do desenvolvimento de uma nova tecnologia mais sustentável no lixo e promovendo a entrada de motores mais baratos, simples – e potencialmente mais velozes. Mas não venceu desta vez, o que colocou em dúvida a viabilidade da continuidade do projeto da Red Bull na categoria.
A empresa austríaca necessita que sua marca tenha o máximo de visibilidade possível nas corridas e, para isso, precisa protagonizá-las. Para que isso ocorra, tem de ter um motor competitivo. Para ter um motor competitivo, carece de uma parceria nos moldes do que tem a McLaren.
Não coincidentemente, muito se falou da Audi ano passado, mas o escândalo das emissões da Volkswagen fez o foco da companhia se voltar para bem longe de um retorno à Fórmula 1, sem expectativa de mudança no curto prazo.
Junte isso às dúvidas existentes a respeito da prometida revolução aerodinâmica de 2017 – que ou não sai do papel até 2018, ou será bem menos radical do que inicialmente se previa – e as chances da Red Bull voltar ao topo ficam cada vez menores.
10 Comments
Não há forma de começar a postagem que não seja elogiando o seu blog Julianne, ótimas análises da f1.
Lendo a matéria, me lembrei de uma frase do Ron Dennis sobre as dificuldades da McLaren-Honda:
“Temos que melhorar o chassi e encontrar uma solução para o motor em conjunto com a Honda, aqui vencemos em conjunto, assim como perdemos em conjunto.”
Foi essa falta de tato e a postura arrogante ao longo do ano, que fez a RedBull perder a parceria com a Renault e o status de equipe de fábrica que tinham, mas eles já se deram conta da vantagem desse status, tanto que”já choraram” dizendo que seria “burrice” dos franceses investirem mais na equipe de fábrica do que neles. Claramente buscando essa vantagem, agora perdida.
Um grande abraço a todos do Blog!
Concordo contigo, Nato, o blog da Julianne é sensacional. Temas bem escolhidos, dados precisos e uma análise muito coerente. Resumindo, ela é do ramo, mesmo. E, para completar, tem uma turma de bem informados como você, Aucam e outros. Do texto aos comentários, o blog é muito bom.
Sobre o tema, eu tenho um pensamento mais voltado as equipes garagistas (independentes). Para mim, Red Bull, Sauber, Force India, Manor e Williams poderiam juntar forças, criar uma joint venture (parceria) e produzir um motor para elas. O custo cairia drasticamente porque seria rateado e, com isso, as equipes não ficariam nas mãos de Honda, Mercedes, Ferrari e Renault. Todas teriam que trocar informações entre si sobre o desenvolvimento e teriam a mesma geração da unidade de potência.
A Williams, por exemplo, poderia ser a fornecedora das baterias. Ganharia dinheiro com isso. Red Bull encabeçaria o desenvolvimento. Sauber, Force India e Manor entrariam como sócias e entrariam com a grana.
Elas poderiam batizar o motor com nome único, poderiam dar seus nomes ou vender o nome do motor (naming rights), como a Red Bull está fazendo com a TAG Heuer. Esse, de fato, seria o motor padrão da F1 e não feriria nenhum regulamento (eu acho). E não precisaria começar do zero. As equipes poderiam comprar a Cosworth e fazer isso. Seria bom para o esporte, bom para a maioria das equipes, bom para Ecclestone, bons para os fãs e péssimo para politicagem da categoria.
Ideia genial, será que esses cara não pensam nisso?
Lembrando que a Willians é quem fornece as baterias da F-E, logo eles tem experiência (até certo ponto) com a tecnologia.
Qual o email do Sir Frank?
rs
As análises da Julianne são coerentes por que ela analisa os fatos como são, não põe a opinião pessoal em momento algum, esse é o grande diferencial do blog ser tão bom.
Um grande abraço a todos do blog!
Bela ideia Daniel, quem sabe um dia ele não pensem nisso.
Abraços a todos do blog.
Muitíssimo interessante sua idéia/proposta, DANIEL RIBEIRO.
Gostei do título, JULIANNE. Ótima análise. Sem não conseguirem convencer uma grande fabricante, acho que a médio ou longo prazo se verão forçados a meterem as mãos num projeto próprio, com todas as dificuldades inerentes.
Ops, SE não conseguirem etc.
“Em teoria, a Red Bull teria uma relação de time de fábrica com a Renault, mas a incompetência dos franceses de um lado e as lavagem de roupa pública de outro fizeram a parceria ruir, deixando o time em uma posição frágil.”
Pois éh! Foi esta “lavagem de roupa pública” que revelou uma face muito prepotente e desrespeitosa dos comandantes dos touros-vermelhos. Esqueceram que nos últimos 04 anos o título que ela obteve não foi tão somente porque contavam com o mago-Newey. Más também tinham um motor eficiente que possibilitou a Red Bull e o Vettel aparecer no mapa da F1. Foi por esta atitude que agora a Xaropeira viu a Mercedes e Ferrari negarem as suas engenhocas. E hoje ela se ver “sem asas” hehehe!
Olá Ju,
Embora quase não tenho comentado aqui, jamais deixo de acessar este blog infalivelmente todos os dias. É leitura OBRIGATÓRIA para todo o fã de Fórmula 1. Você escreve como poucos, entende como os grandes – está no nível dos maiores especialistas de automobilismo do mundo, acredite.
E este ano começou arrasando com textos que são obras de arte da literatura automobilística. Poucas vezes vi tanta clareza de um jornalista em tratar temas delicados como a parte técnica. E você faz isso com suavidade, da melhor maneira possível.
Este preâmbulo é para não ficar de fora a engrossar o coro dos leitores que enaltecem o seu trabalho. Parabéns e que você continue sempre assim, nos brindando com seu conhecimento.
A Red Bull vai pagar caro por ter cuspido no prato que comeu.
Eles foram arrogantes ao extremo, vinham de quatro campeonatos consecutivos, e se o domínio da Mercedes incomoda muita gente, o da Red Bull por vezes também incomodou, apesar de em 2012 o campeonato ter sido bem valorizado pela sequência de sete vencedores diferente nas sete primeiras corridas de um campeonato que teve oito vencedores no total.
Tudo bem que ninguém está na Fórmula 1 para perder, ninguém está lá para investir rios de dinheiro e não colher frutos. Ninguém está lá apenas para fazer número. Mas se os austríacos tivessem um pouco mais de humildade, poderiam esperar mais um pouco, até porque hoje as montadoras estão tendo mais tokens para melhorar suas unidades de potência e um pouco mais de liberdade para trabalhar nesta complexa tecnologia.
Teria sido mais inteligente se a Red Bull tivesse cobrado da FIA pela volta do regulamento antigo, ou mudanças no atual, ainda que a própria Renault foi a que mais torceu pela introdução destes motores do que desgastar um relacionamento que rendeu frutos.
Acharam que podiam tudo e agora estão vendo que nem tudo se pode na Fórmula 1 só porque tem muito dinheiro para investir. Se acharam superiores a todos e a tudo e agora vão pagar por isso.
Um abraço!
Julianne, como sempre, você entrega um texto delicioso de ler. Sim, tecnicamente falando, ele é profundo, traz detalhes e minúcias que está ficando difícil encontrar no jornalismo automobilístico. Ao mesmo tempo, é de uma suavidade e facilidade de leitura ímpares, que traduz as coisas complexas do mais intrincado universo tecnológico em frases quase de prosa… sou seu fã!
Sobre a Red Bull, concordo com o Sergio, os caras cuspiram no prato em que comeram. E a lavagem de roupa suja publicamente criou rachaduras na confiança mútua e, agora, reverter esse cenário, é tarefa difícil. Esse será um ano de “comer o pão que o diabo amassou” na mão da Renault, que envidará esforços prioritariamente para a equipe de fábrica. Em paralelo, se a Ilmor encontrar algum “pulo do gato” no motor-base da Renault que a Red Bull receberá, imagine a encrenca, rsrsrs…
Obrigado Julianne e abraços a todos.