F1 Falta comando - Julianne Cerasoli Skip to content

Falta comando

A polêmica dos testes feitos pela Mercedes a pedido da Pirelli em Barcelona escancarou o esgotamento de um modelo de não-gestão da Fórmula 1 em um momento importante de sua história, às vésperas de uma mudança de regulamento que busca aproximar a categoria da realidade de um mundo cada vez menos voltado à exploração de limites e mais ligado à eficiência.

Não-gestão porque a categoria hoje virou terra de ninguém. Não há um Pacto da Concórdia em vigor e a Federação Internacional se finge se morta. Sem encontrar uma via comum para negociações por meio de sua associação, a FOTA, as equipes perderam a chance de ter pulso firme em dois pontos que, se não forem revistos, podem tornar o negócio insustentável em alguns anos: o corte efetivo de gastos e a divisão do dinheiro gerado pelos acordos estabelecidos com organizadores e TVs pelo promotor Bernie Ecclestone. A CVC Capital, empresa a qual Bernie representa, fica com boa parte da grana e fechou escusos contratos individuais com cada time. Não é difícil imaginar quem tenha levado vantagem. Em outras palavras, a Fórmula 1 é rentável, mas esse dinheiro não volta a quem faz o espetáculo.

Em meio a esse clima de falta de comando e jogo de interesses, algo simples, como a necessidade da restrição aos testes de pista ser aliviada para a próxima temporada devido à extensa mudança de regulamento vira um rebuliço.

A diminuição dos testes foi bem-vinda quando as montadoras bateram em retirada e foi bem absorvida pelas equipes desde sua implementação, em 2009, em grande parte porque, de lá para cá, o regulamento técnico se manteve razoavelmente estático. A história muda de figura agora, tanto para as próprias equipes, que terão de mudar radicalmente os sistemas de seus carros para adaptá-los à nova unidade de potência com motor turbo V6 e uma unidade de ERS muito mais eficiente, quanto para a fornecedora de pneus, que terá de lidar com carros que geram muito mais torque.

Para piorar a situação, a Fórmula 1 não tem uma fornecedora de pneus sob contrato para o ano que vem. A Pirelli vem pressionando para que uma decisão seja tomada rapidamente, e os italianos têm lá seus motivos financeiros e políticos para isso, mas não deixam de estar certos: é preciso que as diretrizes técnicas para 2014 sejam definidas o quanto antes, caso contrário ninguém poderá reclamar se o pneu durar por seis voltas na primeira corrida da próxima temporada. Afinal, vimos principalmente nos últimos dois anos o quanto a atual conjuntura, com a Pirelli testando com carros datados, pode gerar surpresas – muitas vezes agradáveis para nós, mas aterrorizantes para as equipes.

A questão em torno do teste da Mercedes, portanto, não é da possível vantagem que o time alemão ganhou ou deixou de ganhar. O problema é a falta de comando político e a desunião entre as equipes, que, ao invés de trabalhar juntas neste momento delicado, ficam trocando farpas.

A Fórmula 1 precisa urgentemente rever a política de testes para que evitar que estas situações “clandestinas” se tornem corriqueiras porque, em comparação aos últimos anos, a necessidade de colocar os carros na pista será exponencialmente maior em 2014 – para as equipes e para quem for responsável pelos pneus. Isso é óbvio. Porém, para chegar lá, é preciso que alguém assuma o comando. Por enquanto, ele está na mão de Bernie e do caos que ele gosta de criar para fomentar seus lucros. As equipes e, principalmente, a FIA, precisam endurecer o jogo.

11 Comments

  1. Julianne, com a aposentadoria de Ecclestone, as coisas podem mudar, ou esse sistema de gestão ja ficou intrínseco na Formula 1, assim como o futebol brasileiro e a CBF?

    • Com a aposentadoria do Bernie vai vir outra pessoa que ama grana tanto quanto o velhinho. Simples assim.

  2. Ju,com essas mudanças no regulamento no ano que vem com um motor com mais torque o que muda em relação aos pneus pois com maior torque o desgaste seria absurdo o que você já sabe sobre isso ou qual a sua opinião ?

    • Beto,

      Desculpe me intrometer, mas talvez eu consiga esclarecer um pouco sobre o assunto.

      Os motores turbo do ano que vem terão dois sistemas de recuperação de energia, o tradicional K-ers que atua na frenagem das rodas e o H-ers que irá recuperar energia dos gases do escapamento, através de um moto-gerador acoplado no eixo do turbo.A quantidade de energia acumulada será 5x maior e poderá ser utilizada por ate 30 seg. por volta. A reaceleração será feita de dois modos: através de um motor elétrico ligado ao conjunto motriz ( como já ocorre hoje) e outro motor elétrico adicional acelerando o turbo, o que irá aumentar a quantidade de ar+combustivel admitida no motor.

      O desgaste dos pneus será maior, pois as acelerações serão muito mais rápidas, pois com um motor elétrico acoplado no turbo, não haverá o efeito turbo-lag. Também serão cerca de 160 hp adicionais. Além do peso adicional das baterias extras que terão que ser instaladas para acumular esta energia extra e as implicações decorrentes da mudança de distribuição de peso.

      Enfim serão muitas mudanças e os testes serão muito necessários, o que promete um campeonato muito interessante para o próximo ano.

      Abs.

      • Muito bom Ricardo,estou ansioso para o ano que vem,quem vc acha que tera o melhor motor ?

        abs,

  3. Chega a ser assustador como uma categoria esportiva regida como um negócio de alcance global pode admitir algumas posturas tão flagrantemente desfuncionais.

    Politicamente muita coisa precisa ser revista na Fórmula-1. Até mesmo para chegarmos a um ponto em que a política não seja algo tão importante e comentada. O ideal é que certas coisas funcionassem de uma forma mais fácil, com aquele jeitão de engrenagem auto-lubrificada, e não com as pajelanças que rolam quase sempre.

  4. Acho esses acordos em paralelo negativos, pois mesmo que as “grandes” equipes sejam o carro chefe, a F-1 pode ser comparada a um filme, onde os “coadjuvantes” fazem falta. Um grid esvaziado tornaria a disputa menos emocionante! A F-1 é um reflexo da vida, onde quem tem mais, tem mais regalias, mas para manter a sustentabilidade, as equipes menores tem que participar mais da divisão do bolo para poder evoluir suas estruturas e pontuar com mais frequência, animando a disputa e não servindo apenas de retardatários.

  5. Sobre a proibição dos testes. Não seria simples e “barato” transformar algumas das sextas-feiras de corrida em treino livre? A cada 3 GPs, por exemplo, as sextas seriam destinadas a treinos livres.

    • As sextas já têm 3h de treinos livres, não sei se você se refere a um aumento do tempo de pista. O que está sendo negociada é a possibilidade de permanecer nos circuitos europeus (por questões logísticas) após as provas, aproveitando a estrutura já montada.

      • Sim, mas ficam limitados ao número de pneus fornecidos para o fim de semana. Não é assim que ocorre?! Tanto é verdade que não aproveitam todo o tempo disponível, a primeira meia hora é quase inútil às sextas.
        Falo de testes mesmo, sem preocupação de economizar equipamento para a corrida (pneus, cambio..etc)

        • Sim, eles são limitados por pneus (3 jogos), câmbio e motores.


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