F1 Turistando: 10 anos de F1 – edição Bahrein - Julianne Cerasoli Skip to content

Turistando: 10 anos de F1 – edição Bahrein

A vista de Manama desde o Forte (Foto: Julianne Cerasoli)

Alguns dos textos que mais gosto de escrever são os do turistando mas, agora na quinta temporada dessa série, confesso que já não sabia muito bem o que contar para vocês sobre os destinos da F1. Mas esta é uma temporada especial para mim, porque completo 10 anos trabalhando na cobertura do esporte, então resolvi fazer um turistando resgatando um pouco das histórias que vivi por aí.

Não vai ter Turistando: 10 anos de F1 em todo GP, porque eu também queria trazer outra série para vocês (na próxima corrida vocês vão descobrir o que é). Mas, quando tiver, vou tentar entreter vocês mesmo com tendo uma memória que deixa muito a desejar.

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Quando penso no Bahrein, logo vem à mente o calor seco (além dos quarteirões aleatórios, com grandes espaços só com areia mesmo na região mais central de Manama, algo que não lembro de ter visto em nenhum outro lugar). Quando estreei por lá em 2017, acabei guardando até com certo carinho as altas temperaturas depois que eu saí de lá direto para São Petersburgo, na Rússia, naquele ano: em coisa de umas 6h de voo ou até menos, eu saí de quase 40 graus para abaixo de zero e neve. Deu saudades do deserto rapidinho!

A praia não é exatamente igual às brasileiras (Foto: Julianne Cerasoli)

Não que eu morra de amores pelo Bahrein, e meus colegas homens não entendem o porquê. Certa vez eu fiz uma escala lá com outro jornalista, que achou o máximo porque todo mundo reparava nele, pela primeira vez na vida. 

Alguns minutos depois ele já tinha pensado duas vezes: ‘’Ok, isso é horrível. Olha como eles olham para você!’’

Sim, é horrível.

Saindo do aeroporto, você sempre tem a impressão, sendo mulher ocidental, que está fazendo algo errado. No Uber, certa vez, o motorista deu zero estrelas em um trajeto de uns 15 minutos em que não houve problema algum. Eu e outra jornalista ficamos tentando imaginar o porquê. Porque éramos duas mulheres sozinhas? Porque éramos duas mulheres sozinhas e viemos conversando no carro? Porque éramos duas mulheres sozinhas, viemos conversando no carro e estávamos com roupas ocidentais (que não são tão incomuns no Bahrein, considerado um dos melhores lugares para estrangeiros morarem no mundo)? Porque éramos duas mulheres sozinhas, viemos conversando no carro e estávamos com roupas ocidentais indo para um bar? 

Não é assim sempre. O Bahrein é um país que vem tentando se abrir há muito tempo, mas é claro que há uma parcela da população mais conservadora. Para quem não localiza logo de cada no mapa, o país é ligado por uma ponte com a Arábia Saudita, país com o qual tem forte ligação.

Como uma criança

Certa vez eu sabia que teria um jogador da NBA como convidado VIP no grid. Decorei o nome e o time antes de ir e lá fui eu. Certamente ele seria muito mais fácil de encontrar do que qualquer ator de Hollywood. Agora imagine a cena de eu, com 1,62cm e com um salto que me dava só uns 5cm a mais entrevistando um jogador de basquete no meio do barulho do grid? Por sorte, ele parecia acostumado com esse tipo de situação. Para me ouvir, se apoiou no meu ombro e se curvou até ficar do meu nível, como se estivesse falando com uma criança. Entrevista feita.

Dei sorte que, naquele ano, tinham concordado que era melhor gastar um pouco mais e me ligar no grid. Até porque no Bahrein é uma das etapas em que, misteriosamente, o 4G desaparece no grid quando o príncipe está por perto. Isso, mesmo que haja uma torre de telefonia instalada dentro do próprio circuito que, por sinal, tem a melhor estrutura de todo o calendário. Mas não quando o príncipe está no grid.

Aliás, não é a toa que o Bahrein se tornou um porto seguro para a F1 na pandemia. Diria que em nenhum lugar a categoria tem um impacto tão grande em termos de exposição internacional do que lá. E a imagem do país para a categoria só melhorou com a oferta das vacinas. Eles têm mais do que precisam, e estão com dificuldade de convencer os mais jovens a tomar. “Eu não preciso de vacina” foi o que eu mais ouvi dos taxistas por aqui.

Portão nove
Aquele futebol básico de fim de tarde (Foto: Julianne Cerasoli)

Já comentei que sou a louca do aeroporto, especialmente no Oriente Médio. Sou fascinada pelas culturas em que muita gente continua usando as vestimentas tradicionais, e não se rendeu ao uniforme do jeans e camiseta.

E o aeroporto de Manama é um hub importante, mas nem chega aos pés de Dubai ou Doha. É mais um hub local de conexão do Oriente Médio com a parte da Ásia em que ficam Índia, Paquistão, Bangladesh. Então qualquer escala em Manama é uma viagem ao desconhecido das vestimentas tradicionais para mim. E costumes, e cores, e rostos.

Eu reparo. Nos pés descalços ou com sandálias, na sobreposição de estampas, de cores, nas diferentes amarrações dos tecidos. Dou uma espiada no Google para tentar entender de onde cada um vem. E a espera no aeroporto vira aula de antropologia, cultura e geografia.

Até que eu passei no raio-X junto com um grupo que eu realmente não conseguia entender de onde era. Tentei cruzar todas as informações que fui somando na mente ao longo desses anos, mas não era o suficiente. Eles às vezes me pareciam muçulmanos, mas não eram muçulmanos árabes. Às vezes pareciam indianos pelo tipo de vestimenta, mas não pelas cores. 

Não pensei duas vezes: segui o grupo até o portão de embarque número nove (dava para notar que eles estavam atrasados, então iriam direto para lá). Eu até sorri por dentro quando chegamos: Karachi. Eu ainda não fazia ideia do que isso significava! Dá-lhe Google e finalmente ‘cheguei’ ao meu destino: Paquistão.

Karachi é a maior cidade do Paquistão, com mais de 15 milhões de habitantes, e sua importância histórica vem do porto, já que ela fica perto da foz do rio Indo, um dos mais longos do mundo. E o Paquistão é um país de maioria muçulmana, mas etnicamente são de maioria punjabi, ou seja, mais identificados com a Índia (eles inclusive se tornaram dois países depois de deixarem de fazer parte do Império Britânico depois da segunda guerra muito em função de diferenças geradas pela religião). No entanto, Karachi é a capital da região que concentra a população paquistanesa dos sindhis que são hindus em sua maioria. Será que aquele grupo era ou não dessa minoria étnica paquistanesa?

Fiquei sem essa resposta. Só sei que tem voo direto Karachi-Manama.

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