F1 Sprint: o que é? O que mudou em 2024? - Julianne Cerasoli Skip to content

F1 Sprint: o que é? Quais GPs terão sprint? Como elas melhoram as corridas?

A F1 sprint é um formato que estreou na categoria na temporada 2021, e que vem ganhando espaço. Foram realizadas três provas do tipo no primeiro ano e em 2022, número que subiu para seis eventos na temporada de 2023. O formato tem suas falhas, mas também já demonstrou diversas qualidades. E é justamente em busca de remediar as falhas que houve alterações importantes que começam a valer a partir do GP do Azerbaijão de 2023. Aqui analiso tudo sobre a F1 sprint.

De onde surgiu a F1 sprint?

A Fórmula 1 sempre soube que enfrentaria resistência com esse formato. Lembro bem de como essa história começou. No GP da Alemanha de 2018, em Hockenheim, os jornalistas da imprensa escrita que iam a todos os GPs foram chamados em dois grupos para uma conversa com os chefões da FIA e da Liberty. 

Não sabíamos o que estava em pauta até chegar lá: pedidos de sugestões de mudanças na Fórmula 1. Dentre elas, a proposta de um formato diferente, “como no tênis, há o Grand Slam”, lembro de ouvir de Ross Brawn. Pelo que soube depois, os jornalistas tinham sido separados em dois grupos de propósito. Um tinha os “dinossauros”, com algumas décadas de paddock, e no outro estava a geração mais nova.

Não coincidentemente, a ideia do tal Grand Slam ganhou mais tração no nosso grupo, ainda que com muitas ressalvas. Eu, particularmente, gostei. Vivemos em um mundo com muitos estímulos e é importante oferecer variedade, novos estímulos. Como correr em cantos diferentes do planeta, em circuitos de tipos distintos, ter provas durante o dia, ao entardecer, de noite. Tudo isso a F1 faz bem, por que não variar também o formato?

É claro que há motivos comerciais por trás disso. Há motivos comerciais por trás de todos os elementos de variação do campeonato listados acima. Com a sprint, você ganha mais tempo de exposição na TV, pois são três dias de atividades que valem alguma coisa. Você motiva os torcedores a comparecerem na sexta-feira. E os promotores a pagar mais para ter um evento “especial”. Sim, a Liberty diz que escolhe as pistas que geram mais emoção, mas sabemos que não é bem assim. Eles vendem a sprint.

As barreiras da sprint

De entender a oportunidade de negócio à prática, foram meses de negociação. O plano inicial era que não houvesse uma classificação para a sprint. O grid da corrida curta seria definido pela classificação inversa do mundial.

É fácil entender por que a ideia não foi para frente. O grid invertido é usado nas categorias de acesso da F1 com sucesso, mas se trata de campeonatos com carros iguais e fornecedores únicos de motores. A F1 é diferente por ser um mundial em que todas as equipes precisam fazer seu próprio carro. Por definição, não é uma categoria em que se corre de igual para igual.

Motorzão novo, campeonato em jogo, e Hamilton foi de último na classificação para primeiro no GP de SP de 2021, aproveitando a sprint

O segundo entrave foi a nomenclatura. Hoje, usa-se F1 sprint, ou apenas sprint, para que não haja confusão com os termos classificação ou corrida. Não deixa de ser engraçado que seja assim, já que a sprint é, ao mesmo tempo, uma classificação e uma corrida!

E o terceiro grande entrave foi a grana. A sprint nasceu junto com o teto orçamentário. Ou seja, as equipes foram ao mesmo tempo pressionadas a gastar menos e usar o equipamento por mais tempo com níveis de potência (e desgaste) elevados. 

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Então, sem o grid invertido, com o nome F1 sprint, e com compensação financeira de 150.000 dólares por sprint, adicionados ao teto orçamentário, o novo formato saiu do papel. 

Sexta-feira de sprint: 

Equipes e pilotos têm uma sessão de 1h de treinos livres para configurar seus carros para o resto do final de semana (normalmente, são três sessões de 1h). Sob regime de parque fechado, eles fazem a classificação da sprint. 

É uma versão diminuída da classificação normal, com a obrigação de usar pelo menos um jogo de pneu médio no SQ1 (que tem 12 minutos), um jogo de médios também no SQ2 (10 minutos) e um jogo de macios no SQ3 (oito minutos).

Sábado de sprint:

Sem poder mexer na configuração dos carros, os pilotos disputam a sprint.

A sprint dura ou 100km + uma volta. Isso resulta em uma corrida de cerca de meia hora. O vencedor leva oito pontos, o segundo leva sete, e assim sucessivamente até o oitavo colocado, que recebe um ponto.

Abandonos por acidentes geram compensação financeira maior para as equipes. É permitido que se adicione a diferença entre o gasto com o acidente e 100 mil dólares. Ou seja, se o dano gerado custou 500 mil, a equipe pode adicionar 400 mil ao teto da temporada.

Depois da sprint, os carros saem do parque fechado e é possível fazer alterações. Isso mudou em 2024.

Como ficam as punições

Quando há punições por violações esportivas no treino livre ou classificação do GP, elas são cumpridas no grid de domingo. Punições na classificação da sprint são cumpridas no grid da sprint. As de trocas de componentes (da unidade de potência ou câmbio) são cumpridas no GP. E punições por quebra de parque fechado resultam em largada do pitlane na sprint E no GP!

Por que a F1 sprint é boa?

Ainda hoje, muita gente torce o nariz para a novidade, que certamente ainda precisa de ajustes, mas também tem qualidades importantes.

Equipes sob pressão

O formato sprint significa que as equipes têm apenas uma hora de treinos livres para finalizar a configuração dos carros. O setup já vem preparado em grande parte dos simuladores, mas um ponto fundamental só pode ser checado na pista: a integração real do carro com a condição do asfalto em determinada situação climática.

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Portanto, ter apenas um treino livres antes do carro entrar em parque fechado joga mais incertezas no fim de semana, ainda mais se as condições climáticas mudarem do horário mais cedo do treino livre para a classificação. Dois exemplos disso foram as corridas da Áustria e do Brasil em 2022 para a Red Bull: em ambas as oportunidades, eles foram batidos porque não encontraram o melhor acerto para seu carro.

Mas é claro que as equipes reclamaram e o terceiro formato da sprint, adotado em 2024, muda um pouco isso. Agora, há dois parques fechados. Então os carros ficam os mesmos do começo da classificação da sprint até o final da corrida curta, e depois podem ser alterados entre a sprint e a classificação do GP.

Sexta-feira mais atrativa

É indiscutível que a sexta-feira fica mais atraente com um treino livre bem mais movimentado que o normal e, principalmente, uma sessão de classificação. 

Além disso, para atrair mais público, as classificações das sprint são realizadas mais tarde. Com isso, há grandes chances de variações climáticas significativas entre o treino livre e a classificação, e também entre o final da classificação da sprint e a condição da sprint em si, já que ela é disputada na manhã/início da tarde do sábado.

Corridas melhores no domingo

f1 sprint em Silverstone
Aquela primeira volta do GP da Grã-Bretanha de 2021 só foi tão intensa por causa da sprint

O que geralmente acontece em um fim de semana de GP é um sem-número de simulações nos três treinos livres, que dão alguns indicativos para as equipes. Mas nada se compara a uma corrida em si, quando todos colocam as cartas na mesa.

Quando isso acontece, todos percebem onde estão seus pontos fortes e fracos, e reagem de acordo. Isso não ocorre na sprint em si porque há muito o que perder arriscando uma manobra que pode colocar o piloto no fim do grid quando mais pontos estão em jogo. Porém, o mesmo motivo leva a posturas mais agressivas no domingo.

Um grande exemplo disso foi o GP da Grã-Bretanha de 2021. Lewis Hamilton largou na pole na sprint, logo perdeu a ponta, e passou a corrida toda atrás de Max Verstappen, sem conseguir passar. Ambos conseguiram informações valiosas ali, inclusive sobre o mapeamento de recuperação de energia das unidades de potência.

A Mercedes percebeu que a Red Bull recuperava energia na reta Wellington, e seu motor estava configurado de maneira diferente. Então Hamilton sabia que tinha que atacar no final desta reta, e antes do DRS ser ativado. 

Se a sprint não tivesse ocorrido, eles provavelmente teriam percebido isso tarde demais para reagir na corrida.

Por que a F1 sprint é ruim?

Há dois pontos fundamentais que ainda fazem com que o novo formato enfrente resistência. Lembro que na primeira vez que tive de explicar o conceito, fiquei com a impressão de que precisava de muitas palavras para dizer que “a classificação da sexta define as posições de largada da mini corrida do sábado, cujo resultado forma o grid do GP no domingo.” 

Continuo achando que são palavras demais. Mas, com o tempo, a audiência se acostuma. Como se acostumou com gols no campo adversário contando para o desempate em mata-mata no futebol, por exemplo.

Este não é o grande problema, no final das contas. E foi para remediar uma falha fundamental que a sprint mudou em 2023.

Sábado perd(ia) muito com a sprint

Os minutos finais do Q1, Q2 e Q3 na classificação da Fórmula 1 são alguns dos auges de qualquer fim de semana. É aquele momento em que os carros e pilotos são tudo o que podem. No formato sprint, isso também acontece, mas o significado fica diluído porque há mais chances de se recuperar. No entanto, este não era o grande problema antes da mudança de 2023.

O mesmo motivo que aumenta a emoção, o início do parque fechado ainda na sexta-feira, fazia com que a sessão de treinos livres do sábado de manhã perdesse sua função. Normalmente, seria palco de simulações de classificação bastante tensas, pois um acidente pouco mais de 2h antes do início da definição do grid é o pior pesadelo para os mecânicos.

Com a mudança de 2023, a sessão do sábado de manhã passou a ser competitiva com a disputa da classificação para a sprint em si. E isso busca mudar o problema central. Porém, a adoção de dois parques fechados certamente vai tirar grande parte da aleatoriedade do desempenho dos carros.

Pilotos arriscam pouco na sprint

F1 sprint em Imola
As sprint em si foram procissões em 2021 e 2022

Temendo ir parar no fim do grid no GP no formato de 2021 e 2022, os pilotos não tinham grandes motivos para arriscar. E, se alguém estava largando fora de posição por algum problema na sexta, a sprint só servia para corrigir isso para o domingo. 

Em 2023, acabou a ligação entre o resultado da sprint e o GP do domingo. Assim, a busca é acabar com o grande motivo para o conservadorismo dos pilotos no sábado.

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Um ponto muito interessante da mudança da regra da sprint é que ela veio com um aumento da alocação de peças da unidade de potência. Agora são quatro MGU-H, quatro MGU-K, quatro motores a combustão e quatro turbos por ano. Assim, diminui outra desculpa dos pilotos para não forçar.

Qual o cenário em que a sprint funciona?

Além de carros fora de posição, um único cenário em que a sprint pode ser mais movimentada é quando ocorre alguma surpresa em relação aos pneus. Ou os macios não duram tanto quanto o esperado. Ou os médios se mostram duros demais e não entram na janela de funcionamento. De qualquer maneira, para que isso resulte em uma sprint boa, é necessário que a pista ofereça chances de ultrapassagem.

Foi a junção de tudo isso que gerou a melhor sprint que tivemos até agora, no GP de São Paulo de 2022. A classificação com chuva bagunçou o grid, a Red Bull errou ao colocar o pneu médio, que não funcionou. E Interlagos ajudou a disputa a ficar mais franca.

Mas não dá para contar com essa conjuntura sempre.

Uma coisa é certa. A F1 é um campeonato em que cada construtor faz seu próprio carro e há diferenças consideráveis entre os equipamentos. Então nem o formato antigo da sprint, nem o que vale em 2023 vão gerar resultados aleatórios. Quanto mais classificações, mais chances dos carros mais rápidos largarem na frente. Então, mesmo que o formato de 2023 avance em algumas questões, não é nenhuma revolução na sprint.

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