O que os analistas diziam sobre os testes há um ano

Ferrari na frente, Red Bull andando junto, McLaren e Mercedes um pouco atrás. Seria a previsão para o GP da Austrália, com base nos dados da pré-temporada? Não, é a reprodução do que os jornalistas estavam dizendo um ano atrás. E as apostas não mudam muito para este ano. Também, pudera. Uma história como a da Brawn/Honda, saindo do fundo do grid para chegar ao domínio total de uma temporada para a outra, é fato raro na F1, e é mais provável que isso aconteça após uma grande revolução nas regras. Portanto, as análises de pré-temporada não costumam ser muito entusiasmastes.

Ainda por cima, muitas vezes os resultados dos testes mascaram a realidade. Até a Jaguar já despontou como surpresa num passado não muito distante. É claro que os treinos dão indicativos. Poremos dizer com certeza que a Red Bull teve ensaios bem menos problemáticos que a McLaren. Porém, quando cada um está avaliando um aspecto do carro, faz pouco sentido ficar se debruçando sobre os tempos e determinar a exata ordem dos times.

A abordagem curiosa da McLaren nos testes agradou ano passado

Para refletir um pouco sobre tudo o que é escrito sobre os testes, resolvi dar uma passeada pelo que era dito há um ano. “As estatísticas mais óbvias apontam uma McLaren ligeiramente superior às demais”, dizia matéria do UOL. “O time que reúne os dois últimos campeões mundiais fez os melhores tempos de Jerez de La Frontera e Barcelona. Além disso, a McLaren também foi a equipe que mais vezes esteve entre as três melhores da sessão, com oito ‘pódios’, contra sete de Ferrari e Sauber, que ficam no segundo lugar no quesito.”

O melhor tempo da última sessão em 2010 fez com que a McLaren assumisse um papel que hoje é o da Mercedes: será que a evolução mostrada em Barcelona será suficiente para chegar nos rivais? “A sensação é que o time vai brigar por pole positions, mas ainda precisa evoluir um pouquinho para acompanhar o ritmo de corrida de algumas das principais rivais”, cravou a matéria do Tazio. Os ingleses estavam mais otimistas. “Não foi apenas a simulação de classificação de Hamilton que impressionou, seus long-runs também atraíram olhares invejosos dos rivais”, publicou o F1 Insight. O que se viu na primeira prova, no Bahrein, foi um time a 1s da Red Bull na classificação. Pode ter ganho 2 das primeiras 4 provas, mas de maneira circunstancial, não pela performance.

O curioso é que a Mercedes, há um ano, também prometia um extenso pacote que mudaria o carro da noite para o dia. E não foi o que aconteceu. Os analistas já duvidavam. “A preocupação é clara. Parece o retrato do fim do ano: carro confiável, rápido, mas que foi ultrapassado no desenvolvimento”, afirmou Téo José, em seu blog. “Ao contrário da McLaren, faltam alguns décimos de segundo para os ponteiros com o carro leve, mas o ritmo de corrida é bom”, apostou o Tazio. A desconfiança não era dividida pelos ingleses, que acreditavam nas palavras do heptacampeão, de que havia ficado otimista com os updates (como neste ano?). “Devem estar na disputa por vitórias”, definiu o The Telegraph.

Os analistas não acreditavam muito na Red Bull. Preocupavam-se com as quebras – que realmente atrapalharam Vettel no início de sua campanha – e com o ritmo de corrida. “Em termos de performance, o carro da Red Bull é um dos mais fortes no grid. Mas os problemas de confiabilidade preocupam. Se resolver isso, é candidata ao título”, dizia o Tazio. Há um ano, era a Ferrari o carro a ser batido. “Particularmente na mão de Alonso”, o F1 Insight já apontava. “O desgaste de pneus é um dos pontos positivos, a equipe está no geral um pouco à frente. Eu diria que é o carro mais equilibrado. Em classificação ainda precisa melhorar um pouco”, afirmou Téo José.

Como de costume, há otimismo em relação à Williams

Todos viam a Williams como candidata a surpreender – e o time começou a temporada com resultados piores que a Force India. “O time do Barrichello vai lutar para ser a quinta força. Pelo menos no começo do ano e, quem sabe, em uma corrida ou outra possa ser a quarta”, acreditava Téo José. Enquanto isso, a Renault que, de fato, foi essa 5ª e eventual 4ª força no campeonato, estava desacreditada. “Kubica é um grande piloto, mas pela pré-temporada parece que esse será mais um longo ano para o time de Enstone”, dizia o Telegraph.

Para encerrar, num sintoma clássico de alarme falso de testes, o jornal inglês dá a maior bola fora de todas. “A Sauber poderia fazer alguns pódios se tudo funcionar”.

Mas, se mesmo depois de tudo isso você não resistir dar uma olhada nas previsões, recomendo pelo menos um pouco de humor britânico com Sniff Petrol.

20 anos do tri de Senna: o histórico GP do Brasil de 1991

E neste penúltimo dia do especial sobre o 3º título de Ayrton Senna na F1, feito em parceria com o Café com F1, é hora de lembrar do Grande Prêmio do Brasil. Não teria como deixar aquela corrida passar em branco, considerada uma das mais importantes e emocionantes na vida do piloto.

Uma das imagens míticas de Senna é a do pódio do GP do Brasil

A história começa pelos treinos classificatórios. Com a pista úmida, o brasileiro dominou o primeiro treino e a primeira qualificação. Sim, naquele tempo eram duas sessões, uma na sexta-Feira e outra no sábado e os tempos combinados entre elas definiam o grid de largada. Mas no sábado Interlagos amanheceu com um sol forte e as Williams cresceram. Nigel Mansell e Riccardo Patrese fizeram dois belos tempos e ficaram com a primeira fila.

No entanto, quem viveu a época Senna lembra que ele gostava sempre de ir para a pista no último segundo, para ser o último a completar uma volta, que geralmente era a mais rápida. E naquela tarde em São Paulo não foi diferente e lá foi o piloto da McLaren para sua volta salvadora. Usando cada milímetro da pista, Senna conseguiu o que parecia impossível e marcou a pole position.

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Na corrida, o brasileiro manteve a ponta enquanto Mansell deixava para trás Patrese e ia para cima de Senna. Mas o piloto da McLaren resistiu com bravura às investidas do “Leão” e em determinado momento até conseguiu abrir uma pequena vantagem. Na volta 25, o inglês foi obrigado a fazer uma parada prematura nos pits por causa de um pneu furado. Mas depois que todos pararam, ele voltou para a segunda posição e muito mais rápido que Ayrton Senna.

Mansell foi então à caça do brasileiro, mas, na volta 59 acabou rodando na pista devido a um problema no câmbio e abandonou. Senna liderava a prova com uma imensa vantagem para Patrese, o segundo colocado, e a prova encaminhava para o fim. Não poderia ser melhor para o piloto, que parecia que enfim venceria a corrida do Brasil depois de bater na trave várias vezes. Mas a sorte virou e o McLaren do piloto começou a apresentar problemas.

Primeiro ele perdeu a terceira e  a quarta marchas, o que começou a exigir dele um esforço extra para controlar o carro e já havia o feito perder 3s para Patrese. Mas assim que conseguiu se virar com a situação, duas voltas depois, a quinta também falhou. Ficou só com a sexta velocidade e não olhou mais a placa que lhe mostrava a diferença para o segundo colocado, só acelerou.

Mesmo com muitas dores e achando que não seria possível vencer, Senna se superou e em nome do sonho de vencer em casa, deu um jeito de se virar e foi levando. E se como perder as marchas não fosse o bastante, começou a chover no circuito. Ficou dramática a vida do piloto, pois se já estava complicado reduzir a velocidade nas curvas, reduzir com a pista molhada era inimaginável. A chuva aumentou e a direção de prova decidiu encerrar a prova.

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O esforço foi tão grande que o Senna teve que se resgatado pelo Safety Car, pilotado por Wilson Fittipaldi, para retornar aos boxes. Na chegada ao pit lane, o piloto vê o pai dentre as várias pessoas que o cercavam e gritou para que se aproximasse. Quando chegou perto do pai, Senna desabou no ombro dele e pediu um beijo. No pódio, faltou força para levantar o troféu, devido aos espasmos musculares que sentiu no fim da prova.

“Só voltei à realidade quando vi a bandeirada. (3s à frente de Patrese). Aí senti um imenso prazer em viver, em estar em Interlagos, na minha terra e vendo a minha gente feliz. Não foi a maior vitória da minha vida, mas foi a mais sacrificada.”

Há quem considere a façanha impossível e fique procurando algum sinal nos vídeos onboard. O fato de o piloto reduzir para pegar sua bandeira do Brasil com um fiscal seria a prova de que o carro não tinha tantos problemas, mas o sofrimento estampado no rosto de Senna naquele pódio vale mais que mil palavras.

Foi uma corrida de gigante, uma vitória de gênio, que o engrenou para a conquista do tricampeonato.

20 anos do tri de Senna: Ayrton começa arrasador, mas Mansell encosta

Nada menos que 19 times e 41 pilotos competiram durante aquela temporada de 1991, cuja história começamos a contar hoje no especial dos 20 anos do tricampeonato de Ayrton Senna, feito em parceria com o Café com F1. Os cinco menores times tinham que enfrentar uma pré-classificação. Inicialmente, eram Jordan, Dallara, Modena, Fondmetal e Coloni (as duas últimas corriam com apenas 1 carro!). Como os três primeiros tiveram bons resultados, foram promovidos, deixando a pré-classificação para AGS, Footwork e ex-campeã do mundo Brabham. Eram 34 carros competindo por 26 lugares no grid. A Jordan, que fazia sua estreia depois obter títulos nas categorias inferiores, acabou sendo a grande surpresa do ano – e ainda deu a 1ª chance a Michael Schumaher.

Naquele ano, houve uma mudança na pontuação. O vencedor levaria 10 pontos, um a mais do que antes, aumentando a diferença para o 2º colocado, que seguia ganhando 6. E todos os resultados contariam – até 1990, somente os 11 melhores valiam para o campeonato.

O cenário estava aberto quando o ano começou, no GP dos Estados Unidos. As atenções ainda estavam voltadas ao duelo entre os rivais Ayrton Senna e Alain Prost, devido ao controverso final da temporada anterior, e a Ferrari apareceu bem nos testes de pré-temporada. No entanto, Senna e a McLaren tiveram uma arrancada arrasadora, com 4 poles e 4 vitórias nas 4 primeiras corridas, enquanto aquele que viria a ser seu principal rival pelo título, Nigel Mansell, abandonou as 3 primeiras etapas. Uma delas foi o GP do Brasil, mas esta é uma história para amanhã. Outra foi no GP de Mônaco, de ponta a ponta. “Há pouca coisa que o estouro da champanhe da vitória não cure”, disse um exausto Senna após a prova, com a mão em carne viva após as 3.120 trocas de marcha feitas durante a corrida.

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Mansell voltara para a Williams depois de uma passagem desastrosa pela Ferrari. O “leão”, então com 37 anos, havia anunciado a aposentadoria, mas foi convencido por Frank Williams de que teria um carro vencedor. A equipe, que também contava com Riccardo Patrese, estava desenvolvendo seu sistema de suspensão ativa e o câmbio semi-automático, obra de Patrick Head e do jovem projetista Adrian Newey, mas ainda não dominava a tecnologia.

Quem substituiu Mansell na Ferrari foi a revelação Jean Alesi, que, junto do companheiro Alain Prost, teve que lidar com uma frágil Ferrari.

A Williams só mostrou seu potencial na 5ª etapa, no Canadá, e fechou a primeira fila. Seria uma vitória tranquila e bastante lucrativa para o campeonato, uma vez que Senna abandonou com uma falha no alternador. Mas Patrese teve um pneu furado e Mansell, saudando a torcida na última volta, fez com que os giros do motor caíssem demais e o propulsor apagou. A trapalhada deu a última vitória da carreira a Nelson Piquet.

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Mas já ficara claro que as Williams haviam encontrado sua forma. Com uma dobradinha no México, e vitórias de Mansell na França – após grande ultrapassagem sobre Prost, que corria em casa – e na Inglaterra, quando Senna arriscou colocar menos combustível para tentar chegar no inglês e acabou parado na pista com uma pane seca, cena que se repetiu na Alemanha, embolaram o campeonato. “Se não estivermos em igualdade técnica com os Williams em três corridas, o campeonato estará perdido”, alertou Senna. A grande vantagem dos rivais era o câmbio semi-automático. Como as equipes ainda não conseguiam 100% de confiabilidade com a novidade, a McLaren optara por continuar usando a opção manual. “Parece que o Mansell acelera um motor turbo e eu um aspirado”, reclamou o brasileiro. Outra diferença era que o motor V12 Honda, da McLaren, era 21kg mais pesado que o Renault.

Passada a metade do ano, Senna tinha 51 pontos contra 43 de Mansell. A Williams se mostrava superior e a McLaren tentava, desesperadamente, encontrar uma forma de bater o rival. Para piorar a situação do brasileiro, enquanto Patrese lhe tirava pontos, seu companheiro, Gerhard Berger pouco contribuía. Era preciso reagir na 2ª metade da temporada, sobre a qual falaremos na sexta-feira.

20 anos do tri de Senna: quem eram os rivais

Dando sequência ao especial sobre os 20 anos do tricampeonato de Ayrton Senna, feito em parceria com o Café com F1, é hora de relembrar quem eram os grandes rivais do brasileiro naquela conquista. Para falar a verdade, até o torcedor mais crítico de Senna deve ter imaginado naquele início de temporada que o piloto levaria o título com “os pés nas costas”, tamanho foi o domínio apresentado. O piloto e a McLaren simplesmente venceram as quatro primeiras provas da temporada, mas no decorrer do campeonato apareceram alguns rivais para dificultar a conquista do brasileiro.

senna mansell carona go da inglaterra 1991
Senna pegando uma carona com Mansell depois de abandonar em Silverstone

Os principais

Nigel Mansell: O inglês partia para a 11ª temporada na Fórmula 1 e continuava devendo um título. Depois que bater na trave em 1986 e 87 e de ter uma passagem desastrosa pela Ferrari, ele estava de volta à Williams, que contava com um super carro empurrado pelos potentes motores Renault. Não teve um belo início de temporada, mas chegou ao fim disputando o título.

Alain Prost: depois de expulsar Mansell da Ferrari em 1990, passou a ser a principal aposta da equipe italiana para lutar pelo título e tirá-la da fila que completava 10 anos naquela temporada. Mas o carro não era confiável e o piloto somou uma porção de quebras durante o ano. Com a velha mania de disparar contra todos, o francês acabou se dando mal na Itália, pois ninguém critica a Ferrari e continua na equipe para contar a história. Foi demitido e anunciou o fim da carreira. Voltaria em 1993 para ganhar o tetracampeonato.

Ricardo Patrese: o italiano tinha ainda mais tempo de estrada do que Mansell, pois entrou para a Fórmula 1 em 1977 e, antes de chegar à Williams, passara por Shadow, Arrows, Brabham e Alfa Romeo. Todos esperavam que ele seria rebaixado a escudeiro de Mansell, mas, durante a temporada, mostrou que estavam equivocados e chegou até a vencer prova depois de ultrapassar o Leão nas últimas voltas. No entanto, matematicamente fora da disputa, acabou ajudando o companheiro na briga contra Ayrton Senna.

Mansell, Patrese Senna GP do México 1991
Mansell, Patrese e Senna no pódio do GP do México

Os coadjuvantes

Nelson Piquet: o brasileiro da Benetton não tinha o carro ideal nas mãos, para comprovar o talento que já havia demonstrado outrora, mas mesmo assim andou sempre no pelotão da frente e chegou a vencer corrida.
Jean Alesi: depois de despontar com uma grande promessa na temporada anterior pela Tyrrell, foi contratado pela Ferrari, mas não manteve o mesmo brilho que havia demonstrado em 1990.

Michael Schumacher: apesar de estrear do meio para o fim da temporada, o alemão terminou na zona de pontuação na metade das provas que disputou, dando mostras do que viria nos anos seguintes. Outro estreante daquele ano foi Mika Hakkinen, correndo pela já cambaleante Lotus.

Nos próximos capítulos, mostraremos como foi a disputa do campeonato e as histórias daquele marcante GP do Brasil de 1991.

Vettel fica em casa e Hamilton se prepara para novos saltos

A imprensa italiana até que tentou armar um estardalhaço tirando de contexto as declarações de Sebastian Vettel para alimentar boatos de que o alemão poderia ir para a Ferrari num futuro próximo, mas a Red Bull se mexeu e anunciou hoje a renovação do contrato do atual campeão mundial até o final de 2014.

Isso pouco surpreende. Afinal, a Red Bull tem o melhor carro desde meados de 2009 e não dá sinais de que seu domínio corre risco de terminar logo. O próximo grande pacote de mudanças acontecerá em 2013 e, até lá, a base que começou com o RB5 deve prevalecer.

Ainda por cima, ao não transformar Vettel em segundo piloto nas últimas corridas de 2010, mesmo tendo Mark Webber em condições bem mais favoráveis de conquistar o título, a equipe mostrou seu total apoio ao alemão, que tem motivos de sobra para se sentir em casa ao lado da empresa que o apoiou desde os tempos de kart, em 1998.

vettel 2000 karting
A Red Bull forjou a carreira de Vettel desde 1998

O anúncio, ainda antes do início da temporada 2011, serve para acalmar os rumores que começavam a brotar sobre uma possível ida à Ferrari, uma vez que o contrato de Vettel terminaria ao final desde ano – com uma opção para 2012. A boataria ganhou força depois que declarações do atual campeão do mundo foram mal interpretadas. Perguntado por qual equipe gostaria de guiar caso não pudesse estar na Red Bull, o alemão de 23 anos respondeu, com seu tom brincalhão, que “pagaria férias a Alonso ou Massa para guiar seus carros”. Nada de outro planeta, tendo em vista que os italianos disputaram o título até o final em 10 dos últimos 12 anos. Mas a imprensa italiana resolveu interpretar isso como se Vettel estivesse se oferecendo para correr pela Scuderia, ainda mais agora que o futuro do antes preferido para o cockpit vermelho, Robert Kubica, é incerto.

Além disso, a Mercedes era outra equipe à qual o nome de Vettel era ligado, em virtude da nacionalidade.

Por outro lado, o alvo das especulações na Red Bull volta a ser Mark Webber. O australiano teve seu contrato renovado por mais uma temporada em meados de 2010 e, aos 36 anos (completa 37 em agosto), tem que conviver com os boatos de aposentadoria. Webber já se indispôs com a equipe ao final do ano passado, ao dizer se sentir “emocionalmente prejudicado” em relação ao companheiro. Continuar na mesma linha pode deixá-lo de mãos abanando em 2012.

Numa outra notícia muito interessante sobre o futuro de outra grande – e jovem – estrela da F1, Lewis Hamilton deu um passo gigante no caminho de se tornar um popstar ao se associar ao empresário Simon Fuller. Explico melhor a história no PodiumGP.

20 anos do tri de Senna: a construção de um mito

A obstinação e o desejo de vencer acima de tudo dentro das pistas, mesclados com uma imagem frágil e uma fé inabalável fora delas fazem de Ayrton Senna um dos pilotos mais admirados da história da F1. Naquele 1991, todos já sabiam o que teriam pela frente quando viam aquele McLaren vermelho e branco, com o capacete amarelo ao centro: fosse em termos de velocidade pura, em uma volta lançada, fosse disputando roda com roda por posição nas corridas, era osso duro de roer.

Como a grande maioria dos pilotos, Senna começou ainda criança no kart, conquistando 6 títulos entre brasileiros e sul-americanos, sendo que uma de suas grandes frustrações foi nunca ter sido campeão mundial. Estreou na Fórmula Ford 1600 em Brands Hatch, em 1981, com um 5º lugar. Na prova seguinte, foi 3º e, 15 dias depois, venceu sua primeira corrida em monopostos, no que seria o início de uma carreira recheada de recordes na F-Ford, inglesa e europeia. Em 1983, estreou na F3 batendo o então prodígio inglês Martin Brundle de maneira controversa, mostrando a agressividade que seria seu cartão de visitas na F1.

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O brasileiro chegou a testar com equipes grandes, mas estreou na categoria pela modesta Toleman, em 1984, marcando seus primeiros pontos logo na 2ª corrida, na África do Sul. Mas foi uma performance em Mônaco, debaixo de chuva, que deu notoriedade ao tímido garoto, então com 24 anos. Largando em 13º, foi abrindo espaço até ultrapassar Niki Lauda pelo 2º lugar na volta 19 e ir à caça de Alain Prost pela vitória. Ayrton chegou a passar Prost, mas a prova havia sido interrompida e valeu a ordem da volta anterior, por questões de segurança. Não faltariam oportunidades de vingar o triunfo negado.

O piloto deu seu primeiro salto na carreira ao assinar com a Lotus para a temporada seguinte. Ainda não era um carro para lutar pelo título, mas Senna pôde, ao menos, mostrar à concorrência duas daquelas que seriam suas marcas registradas: colecionar pole positions e dominar corridas no molhado. Em sua primeira vitória, logo na 2º prova do ano, em Portugal, obteve o que apenas 21 pilotos conseguiram até hoje: um grand chelem (pole, volta mais rápida e vitória liderando todos os giros), com direito a uma volta de vantagem sobre o 3º colocado. O ano de 1985 ainda resultaria em mais 6 poles, mais 2 melhores voltas e outra vitória, na Bélgica. Mais 8 poles e 2 vitórias marcaram a temporada seguinte e, em 1987, finalmente venceria seu primeiro GP de Mônaco, cena que se repetiria outras 5 vezes.

Terceiro colocado no campeonato daquele ano, Senna foi contratado para ser companheiro do então bicampeão mundial Alain Prost. Começou sua carreira na McLaren com uma pole position no GP do Brasil. Após uma pane na largada, fez uma prova de recuperação e foi desclassificado quando estava em 2º. Curiosamente, teve que esperar até 1991 para vencer na terra natal pela primeira vez.

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Num ano em que o duelo se polarizou apenas entre as duas McLaren, que venceram 15 das 16 provas, Senna emplacou uma forte sequência de 6 vitórias em 7 provas na metade do campeonato e levou a melhor sobre Prost por 3 pontos, dando início a uma das maiores rivalidades que a F1 já viu. A conquista foi suada. Senna fez a pole, mas o carro morreu na largada, o que o levou à 14ª posição. Foi ultrapassando um a um até vencer o GP do Japão e se tornar campeão pela 1ª vez. “Quanto mais difícil, melhor, mas não achei que tinha que passar por este sofrimento todo. Só Deus sabia que seria tão duro. Mas agora que acabou acho que foi melhor assim. Guiei o que podia e o que não podia. Foi a corrida da minha vida”, disse na época, num claro exemplo de frase de efeito sennista, alguém que soube usar a mídia como poucos. Fora das pistas, teve um bate-boca com Nelson Piquet por meio da imprensa, marca de uma rivalidade que sobrevive até hoje.

No ano seguinte, Prost conseguiria a revanche e o tricampeonato, mas o clima dentro da equipe havia se tornado insustentável. O acidente entre os dois e a consequente desclassificação no GP do Japão decidiu o campeonato e colocou Senna contra os dirigentes da época, particularmente o francês então presidente da FIA Jean Marie Balestre. Já Prost acreditava que Senna era privilegiado na McLaren e arriscou uma mudança para a Ferrari, que não era campeã havia 10 anos.

Isso não acabaria com a rivalidade dos dois, que disputaram palmo a palmo o campeonato de 1990. Senna chegou à penúltima prova do ano com chances de ser campeão. Revoltado com a posição do pole, que não lhe daria muita vantagem, e ainda se sentindo injustiçado pela decisão de 1989, Senna jogou o carro em cima de Prost e, assim, tornou-se bicampeão, numa das jogadas mais polêmicas da carreira. Era nesse clima que chegava a 1991 com pompa de favorito.

Craques na pista não são garantia de lucro para TVs

As transmissões de F1 estrangeiras, particularmente da Inglaterra e da Espanha sempre estão em voga no Faster. Afinal, o blog nasceu para mostrar que existem outras formas de ver o esporte, muito diferentes do produto que recebemos. Curiosamente, ao mesmo tempo em que ambos têm motivos de sobra para comemorar feitos de Button, Hamilton e Alonso, respectivamente, suas TVs não poderiam passar por momentos mais distintos. Em notícias publicadas no mesmo dia, enquanto o jornal britânico Guardian crava que a F1 na BBC corre perigo, a espanhola La Sexta comemora o aumento do espaço para a categoria em sua grade de programação de 2011.

Depois de anos sendo a TV oficial da F1 na Inglaterra, a BBC perdeu os direitos de transmissão ao final da temporada de 1996 para a emissora privada ITV, que levou a categoria à casa dos britânicos até o final de 2008. Nos últimos dois anos, de volta ao lar, o produto ganhou consideravelmente em qualidade, mas não cresceu no mesmo nível em termos de audiência.

BBC F1 team
Equipe da BBC comemora com a Brawn em 2009

 

A BBC é uma TV pública, financiada por uma taxa paga pelos cidadãos britânicos para receber seu sinal em casa. Em outubro de 2010, a emissora fechou um acordo com o governo para fixar essa quantia anual em 145,50 libras (em torno de R$ 390) pelos próximos 6 anos. Com isso, terá que cortar cerca de 14% de seu orçamento. O objetivo é diminuir em 340 milhões de libras ao ano os gastos até 2014. Estima-se que 60 milhões devem ser tirados do esporte.

De acordo com o Guardian, a F1 é uma das modalidades que estão na mira dos cortes, juntamente do tênis. A BBC paga 40 milhões de libras (mais de R$ 100 mi) ao ano pelos direitos de transmissão, além dos gastos com o envio de uma considerável equipe aos GPs, um gasto que não condiz com sua audiência. Pode parecer pouco perto dos 300 milhões de libras que a emissora investe anualmente em cobertura esportiva – número que viria bastante em anos de Copa do Mundo e Olimpíada –, mas os ingleses não querem mexer na cara cobertura futebolística devido a seu retorno garantido.

Não é, contudo, algo a ser decidido agora: o contrato da BBC com a FOM dura até 2014. No entanto, é mais um dos inúmeros sinais de que o atual modelo comercial de quem controla a categoria já não faz maia sentido.

Por outro lado, a espanhola La Sexta, que também tem os direitos da F1 desde o início de 2009, anunciou que suas transmissões agora começarão nada menos que 2h antes das corridas – “e só não fazemos mais porque a FIA não nos permite”, garantiu o apresentador Antonio Lobato.

A emissora fala em disponibilizar mais de 250 horas ao vivo, 400 entrevistas e 900 reportagens durante o ano, com 11h de F1 a cada final de semana de grande prêmio, incluindo flashes ao vivo desde a quinta-feira, treinos livres de sexta-feira por meio de sua página na Internet e sessões de sábado e domingo ao vivo na TV, incluindo a GP2.

Nada mal para quem começou a ver a F1 pra valer em 2004, com a Telecinco, que manteve os direitos até 2008. Antes disso, era a TVE que transmitia as corridas. O contrato da La Sexta, uma emissora menor e que tem apostado na cobertura de eventos esportivos, a exemplo da Record por aqui, dura até 2013. Mesmo em 2004, antes do primeiro título de Fernando Alonso, a audiência já chegava aos 13,5 pontos em média, mas o recorde absoluto  se deu justamente na última corrida de 2010: 7.430.000 espanhóis viram seu compatriota perder o título em Abu Dhabi, o que significa 49,4% de share e mais de 29 pontos de audiência, sendo que o segundo programa mais visto na semana do evento foi justamente o pós-GP. A melhor marca anterior era do GP de Cingapura, com perto de 2 milhões a menos de espectadores. Se combinadas as audiências da La Sexta e da TV3, que tem os direitos no território catalão, o número passa dos 9 milhões.

hamilton champion massa gp brasil
A BBC ainda não conseguiu bater a audiência que a ITV teve no GP do Brasil de 2008

São marcas semelhantes às da Inglaterra, país em que a audiência flutua entre 4 a 5 milhões por corrida e cujo maior pico dos últimos anos foi o GP do Brasil de 2008, quando mais de 9 milhões de espectadores viram Lewis Hamilton conquistar o título – a  coroação de Jenson Button foi assistida por “apenas” 6,6 milhões. Para efeito de comparação, a população do Reino Unido é de 61,8 milhões, enquanto a Espanha tem 45,9 milhões de habitantes.

“Eu e meu companheiro precisamos trabalhar juntos no desenvolvimento do carro”

A frase poderia ser de qualquer piloto do grid e é o exemplo máximo do bom mocismo – se é que o termo existe – que marca as entrevistas na F1 hoje em dia. Lendo o material para escrever o post de quarta-feira, fiquei pensando sobre como nos sentimos à vontade para julgar atitudes que ouvimos dizer/escolhemos acreditar que outros fizeram, ou mesmo questionar atos que não nos dizem respeito, como aqueles vizinhos chatos que dão palpite na sua vida, mesmo só vendo você entrar e sair de casa. Enfim, como cultivamos o politicamente correto, mesmo que sejamos enganados por ele.

Talvez sempre tenhamos sido assim, mas a Internet, a diminuição aparente das distâncias e a difícil barreira entre a vida particular e pública parece ter dado voz e projeção a esse costume de fofoqueiro de bairro. Teria muitas perguntas a fazer a quem se importa tanto com que os outros fazem, como por exemplo, por que o fato de Ronaldo ter saído com um travesti incomoda até hoje, mas esse não é o ponto do texto.

É lógico que os setores de marketing estão muito atentos a isso. E não vão querer ligar as marcas que representam a alguém cuja imagem é qualquer coisa diferente de imaculada. Até aí, estão em seu direito. O problema é quando a neurose é tão grande que suprime as personalidades. O blog fala de F1, mas isso é algo que tem acontecido até com bandas de rock, símbolos da transgressão em outros tempos.

O shit happens marqueteiro depois da Turquia convenceu alguém?

Não demora para surgir as reclamações dos saudosistas, para os quais os pilotos/astros de antigamente eram melhores porque tinham personalidade. Que esses, de hoje em dia, são uns vendidos. Que já não há rivalidade de verdade como antes, e blá, blá, blá.

Personalidade não é item opcional, todo mundo tem. A diferença é que a de uns é mais forte que de outros, mas será que é uma questão de ter ou de poder mostrá-la? Até chegar ao topo e viver de suas glórias, dependendo da imagem que você constrói, terá certas empresas a seu lado – ou nenhuma.

Liuzzi, por exemplo, campeão mundial de kart e da F3000. Não é nenhum zero à esquerda. O quanto do fato dele estar na Hispania hoje tem a ver com o que realmente fez pelas equipes por que passou e o quanto suas dificuldades no caminho foram resultado do temperamento/imagem forte?

Além disso, há a questão da mídia. Imagine se um piloto resolve ter uma noite de James Hunt na véspera de decisão do título mundial. Provavelmente, alguém terá uma câmera a postos – ainda que seja do celular – e, antes mesmo de acordar, o talvez futuro campeão do mundo já estará na capa de todos os portais da Internet como, no mínimo, um irresponsável.

O slogan desta propaganda de 2007 diz tudo: "Racing is a state of mind"

Aí fica fácil de entender o desfile de declarações e posturas pasteurizadas no paddock, como em outros esportes e setores. Quanto mais dinheiro envolvido, mais profissionalismo é exigido e até falar o que pensa se torna proibido. E, ao mesmo tempo em que os pilotos são acusados de omissão em situações como no recente cancelamento da prova do Bahrein, quem mostra a cara logo é jogado na parede.

Convenhamos, é maçante ouvir as declarações de um Vettel, um Massa, um Kubica, um Hamilton. Só dizem o que é esperado deles. Mas não os julgo: se não o fazem – como quando, recentemente, o atual campeão do mundo brincou que gostaria de pagar férias a um dos pilotos da Ferrari para que ele assumisse um dos carros vermelhos – são massacrados. Isso, sim, é uma chatice só.

Há um circuito na F1 que anda comemorando os lucros

Não vá se animando com o título do post. Ninguém achou a receita infalível para recuperar o dinheiro das cifras absurdas cobradas por Bernie Ecclestone pelo direito de sediar uma corrida de F1. Pelo menos para os organizadores – dependendo da localização do circuito, a cidade lucra com o evento – esta continua sendo uma tarefa inglória.

Mas o exemplo de Silverstone é importante para os países que têm tradição no esporte, mas não conseguem concorrer diretamente com o caminhão de dinheiro dos emergentes que vêm tomando o calendário. O circuito é de propriedade do Clube de Pilotos Britânicos e precisa encontrar na iniciativa privada e na própria receita recursos para se sustentar.

É claro que esse modelo foi o que quase tirou o GP da Inglaterra da antiga base aérea da 2ª Guerra Mundial, mas o excesso de ganância do projeto de reconstrução de Donington Park e uma inteligente contra-proposta deixaram Ecclestone sem escolha.

Com um projeto de modernização, que inclui a construção de um novo paddock e a transferência da reta dos boxes para o local entre as curvas Club e Abbey, serão investidos US$ 47 milhões (US$ 64 no total, incluindo as alterações já feitas na pista). Uma barganha se comparado aos planos de gastar quase US$ 220 milhões na renovação de Donington. A intenção é que a obra diminua a diferença da estrutura do velho Silverstone em relação às obras faraônicas do Oriente. Depois de muita resistência, a pressão de Ecclestone, que fez um verdadeiro leilão, ameaçando o futuro do GP que marcou o início da F1 em 1950, fez os administradores botarem a mão no bolso. Isso sem qualquer ajuda governamental.

Novo paddock deve ficar pronto em maio

Mas Silverstone tem lenha para queimar. O circuito movimenta ao menos US$ 75 milhões ao ano – tem crescido a um ritmo de 14%/ano de 2007 para cá – e teve um lucro de US$ 3,24 milhões em 2010.

Há vários motivos para o sucesso na gestão do circuito. Especula-se que o contrato para a realização do GP da Inglaterra, fechado em dezembro de 2009, renda cerca de US$ 20 milhões aos cofres da FOM, sendo que o valor é aumentado em pelo menos 5% a cada ano. Apesar de ainda ser uma quantia considerável, é pouco se comparado ao que países menos tradicionais pagam. Afinal, um circuito inglês tem mais poder de barganha que um coreano, por exemplo, pois há muito mais investimento vindo de nações como Inglaterra, Itália e, nos dias de hoje, Espanha, que de qualquer outro lugar.

Mesmo assim, eventos em outros locais tradicionais têm passado por dificuldades. O presidente da Catalunha reclamou dos prejuízos, Spa e Hockenhein também andam perdendo dinheiro, e a França sequer tem um GP. Qual seria o segredo dos ingleses?

Uma explicação plausível, comprovada pelo fato do aumento do dinheiro movimentado nos últimos 4 anos, é o sucesso de Lewis Hamilton e o ressurgimento de Jenson Button. A Inglaterra ficou 12 anos sem ter um campeão do mundo e emplacou logo dois seguidos. Na esteira do sucesso na categoria máxima, o fato de ambos serem cria do automobilismo local faz crescer o interesse pelo esporte em geral.

Com isso, outro diferencial de Silverstone é sua alta rotatividade durante o ano, uma vez que a cultura do esporte a motor na Inglaterra, não somente da F1, é muito forte. Mesmo as categorias de base atraem um ótimo público. No total, o circuito recebe nada menos que 1 milhão de pessoas por ano.

Depois da corrida, tudo acaba em música em Silverstone, com a participação de pilotos e "músicos" ligados ao circo

Assim como construções para Jogos Olímpicos e Copas do Mundo, muitos dos circuitos novos ficam às moscas durante boa parte do ano. Isso, porque são pensados exclusivamente para atender às demandas da F1, quando poderiam ser utilizados até para outros tipos de eventos, não necessariamente automobilísticos. Mas como atrair público para qualquer coisa que aconteça no meio do nada, no caso de pistas como Abu Dhabi, Istambul Park e Shanghai?

Ao menos no Brasil, Interlagos é localizado numa área urbana e vem sendo utilizado para eventos extra-F1. O quanto São Paulo paga à FOM pelo direito de organizar a prova é segredo de Estado, mas não ouvimos reclamações da prefeitura, mesmo sendo ela quem arca com os custos das reformas, que consomem entre R$ 15 e 20 milhões ao ano. Ainda assim, a estrutura do circuito há tempos não comporta a F1 de hoje e a promessa é de que um novo paddock será feito. Talvez não nos moldes de Silverstone – quem sabe no dia em que o circuito atrair 1 milhão de pessoas por ano! – porém, ficar parado, da maneira como os ingleses fizeram por anos, esperando que a tradição lhes salvasse, não é uma opção.

Mais uma vez, a McLaren tem que correr atrás do prejuízo

Uma das grandes questões desta pré-temporada tem sido a McLaren. Não é a primeira vez que o time parece ao menos perdido, o que não necessariamente resultou em fiascos no passado, mas o desânimo de Lewis Hamilton e Jenson Button, somado à disparidade de voltas completadas em relação aos rivais diretos ao título cobre de dúvidas o real potencial do MP4-26.

Ao final dos treinos de ontem, o campeão de 2008 falou em limitar os danos no início do campeonato. “O carro pode melhorar. Se mantivermos o caminho certo no desenvolvimento durante diversas corridas, poderemos diminuir a distância e competir por vitórias. Se conseguirmos marcar pontos nas primeiras provas, ficando, por exemplo, no top 5, quando o carro for capaz de vencer corridas, o título ainda será possível. Então, definitivamente não estou desistindo do ano”.

O desafio da McLaren é compreender suas inovações

Seu companheiro também não anda muito otimista. “Há trabalho para ser feito para sermos tão rápidos quanto Red Bull, Ferrari e um ou dois times, mas estamos melhorando e é um ótimo sentimento. Ficaria surpreso se andarmos no ritmo de Red Bull e Ferrari em Melbourne, é pedir muito considerando a quilometragem e a performance nos testes até agora.”

Hamilton reclamou muito dos pneus e quem viu o carro na pista observou que os McLaren se movem mais que a concorrência, são mais ariscos, o que favorece o desgaste da borracha. Aparentemente, falta downforce para o carro.

O que dá para perceber é que a equipe tem tido problemas em quase todos os dias de testes. Ontem, por exemplo, Hamilton sofreu uma pane hidráulica e uma falha no escapamento. Assim, não conseguem evoluir na mesma proporção que os rivais, que têm passado constantemente da marca de 100 voltas por dia.

Em entrevista ao f1.com em 21 de fevereiro, o diretor Jonathan Neale indicou qual seria o caminho durante os testes. “A primeira tarefa é ter certeza de que o carro não tem gremlins que prejudiquem a quilometragem, que os números do túnel de vento batem com os da pista e que o carro é estável. Se você tem um problema, particularmente aerodinâmico, você tem que voltar e repensar até os updates que já estão preparados, pois terá que mudar a base. Por isso, todos nós trabalhamos para firmar nossa base.”

E parece que a base não está bem firmada. O time decidiu estrear o carro novo apenas na segunda bateria de testes, a fim de estabelecer uma boa comparação para os pneus Pirelli num carro já conhecido. Fez o lançamento do bólido de 2011 dia 4 de fevereiro e impressionou com as diferentes entradas de ar, tanto nos radiadores, quanto na carenagem.

Tanta inovação tem custado caro aos engenheiros, cuja dificuldade nos testes é compreendê-las. Até uma troca de peças para a avaliação de diferentes configurações tem dado dores de cabeça que projetos menos ambiciosos não geram. Além disso, muito tempo de pista foi perdido por falta de peças de reposição.

Até agora, o MP4-26 deu 741 voltas, contra 1211 da Red Bull e 1285 da Ferrari. Nenhum dos pilotos conseguiu ainda fazer uma simulação completa de corrida, ao mesmo tempo em que os rivais chegam a completar 2 por dia. Nada disso, no entanto, significa que o carro seja exatamente lento, como frisou o chefe Martin Witmarsh em entrevista publicada hoje. “Tivemos algumas dificuldades de confiabilidade durante os testes até agora, mas estamos confiantes de que estamos na direção certa agora.”

Cruzando todas essas informações, do sentimento dos pilotos de que este (ainda) não é um carro vencedor, com a explicação de Neale e Witmarsh, o tipo de dificuldade encontrada e os dados de quilometragem, parece que os planos iniciais devem ter sido refeitos e que a McLaren chegará à Austrália alguns passos atrás dos rivais, que já começam a fazer até simulações de classificação, buscando performance pura. Uma vez reencontrado o norte, o time terá que correr atrás do prejuízo para tirar a diferença.

A equipe sempre aparece com maneiras diferentes de coletar dados

Isso não quer dizer que o carro nasceu ruim, como o modelo de 2009, que tinha problemas fundamentais. Aliás, Hamilton se adiantou em dizer que se sente muito melhor com esse modelo em relação àquele, que começou a pré-temporada a cerca de 2,5s em relação aos líderes.

O déficit de desenvolvimento inicial se parece mais com o que aconteceu ano passado. Hamilton levou mais de 1s1 do pole Vettel na 1ª classificação de 2010 e, com um misto de boas estratégias e rápida evolução, a McLaren chegou à liderança entre os construtores ainda em maio.

Mesmo vendo a história se repetir – olhando para trás, é difícil lembrar de alguma temporada recente em que a McLaren tenha despontado como favorita na pré-temporada – Neale rebate as críticas e diz que está tudo sob controle. “Ano passado, jornalistas de menor reputação julgaram que estivéssemos com problemas devido ao número de sensores que usamos no carro. Nós somos muito mais disciplinados em relação a como usados os testes”. Provavelmente no último dia de testes, quando todos ensaiarem com pneus supermacios, pouco combustível e com todas as atualizações já prontas no carro, veremos o quanto há de disciplina e o quanto há de trabalho duro pela frente.

Sebastian Vettel fazendo escola na Alemanha

Bacana a chamada para a temporada de F1 2011 na TV alemã RTL. Qualquer fã da categoria já identifica na hora, mesmo sem um carrinho sequer…

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=DxyfwioAgzg&w=640&h=390]
Vendo o vídeo, imaginei: se fosse feito no Brasil, qual seria o símbolo, o gesto, o que definiria nossos pilotos?

Vários jeitos de ver os 10 anos de Fernando Alonso na F1

Os 10 anos de Fernando Alonso na F1, completados dia 4 de março, não passaram despercebidos por aqui, nem, é claro, em seu país natal. Diferentes foram as abordagens, cada um exagerando para um lado, em muitos exemplos de como não fazer jornalismo. Perseguido para uns, mau caráter para outros, não é de se estranhar que a verdade fique em segundo plano quando o objeto de discussão é um piloto que nunca fez muita questão de agradar.

Os espanhóis destacam que Alonso terminou sua primeira corrida, o GP da Austrália de 2001, de Minardi, a 2 voltas de um certo Michael Schumacher. Nunca havia feito uma curva sequer com o carro, cujo motor tinha 3 anos de defasagem. Sua volta mais rápida foi mais de 3s pior que do alemão que, em 5 anos, se converteria em seu rival pelo título. “Bernie Ecclestone o comparava com Ayrton Senna e a imprensa de todo o mundo dizia que se tratava de um novo campeão”, cita o jornal El Comercio, das Asturias. Ao fim daquela corrida, prossegue a publicação, Alonso “anunciou a essência de sua filosofia: ‘me ultrapassam carros, não pilotos’”.

O Diario AS destacou que a audiência da estreia do asturiano não chegou a 200.000 pessoas, nada comparado ao estouro que o esporte teria na Espanha nos anos seguintes, e definiu Alonso como “polêmico de longe, extrovertido de perto”.

Os jornais também destacam os números do bicampeão, que já é o 6º na história em número de vitórias e 5º em pódios. Neles, no entanto, assim como na matéria veiculada pelo canal de TV Antena 3, os pontos polêmicos da carreira de Alonso não são citados.

"Dos títulos con Renault, un infierno en McLaren y un futuro en Ferrari", é a definição do canal Antena3

O mesmo não acontece na TV La Sexta, que detém os direitos de transmissão da F1 na Espanha. No especial comemorativo da data, há uma página dedicada às sanções tomadas pelo piloto, numa lista que não deixou de fora sequer a penalização por atrapalhar Robert Doornbos na GP da Hungria de 2006. Surpreendentemente, tudo escrito sem tomar partido, ainda que o início do texto saliente que “o asturiano teve que se esforçar ao máximo para se tornar uma lenda do automobilismo, mas também sofreu inúmeros tropeços que impediram que aumentasse seu currículo”. O problema é terem ignorado o papel do espanhol no caso da espionagem em 2007.

O episódio também é ignorado pelo El Mundo, ainda que o “Alonsismo em 10 atos”, mais autoral, dê uma ideia muito boa da jornada do menino de Oviedo. É interessante como os espanhóis sofrem do mesmo complexo de vira-lata brasileiro, no melhor estilo “apenas um brasileirinho contra o mundo”. O texto salienta que Alonso, como Pau Gasol, Rafa Nadal e a seleção de futebol, levou a Espanha a feitos que antes só eram “dos outros”.

Há alguns dados interessantes, como o fato de Briatore ter conseguido que os direitos de transmissão fossem repassados de graça para a Espanha em 2003 – lembrando que não havia cobertura contínua até então – e como começou a briga entre Alonso e Ron Dennis, por uma caixa de câmbio quebrada no GP da França.

O único especial com material exclusivo, contudo, foi publicado em doses homeopáticas pelo Marca. A longa entrevista, disponibilizada no original pelo blog do Octeto, tem 5 partes, e gerou várias das manchetes nos sites brasileiros nos últimos dias (parte 1, 2, 3, 4 e 5). Os italianos (aqui e aqui) também usaram essas entrevistas, destacando a diferenciação que o piloto fez entre a McLaren e a Ferrari e as ligações com a Itália, que permeiam sua carreira na F1, passando pela Minardi e Briatore.

Aliás, se a ideia é mesmo saber o que os pilotos disseram e em que contexto o fizeram, o remédio é sempre procurar os originais.

Por mais que a imprensa daqui tente colocar brasileiros na história, a única pedra no sapato de Alonso não responde nem por Massa, nem por Piquet

Isso nos leva ao texto do portal UOL, cujo título já evoca “coleção de conquistas e desafetos”. Entre suas “frases polêmicas”, há uma “dedico o título para mim e mais ninguém”, que teria sido proferida depois do primeiro triunfo. De fato, uma declaração de Alonso na época deu o que falar, mas foi outra (retirada devidamente da transcrição da coletiva da FIA, de 25 de setembro de 2005): “acho que o título é o máximo que posso alcançar em minha vida, em minha carreira, e é graças a 3 ou 4 pessoas, não mais que isso”, referindo-se a seus pais, sua irmã e sua avó.

As conquistas são tratadas com desdém, fruto de “mudanças de regras como a ausência de trocas de pneus”, que prejudicaram a Ferrari. Com o que o site chama de desafetos, o espanhol daria uma de “João sem braço”. O engraçado é que o texto prossegue sem imputar culpa alguma a Alonso nos episódios citados, ao menos em relação aos brasileiros. E, novamente, ao falar do GP da Hungria de 2007, falta contexto e a questão das provas é omitida.

Curiosamente, na retrospectiva do portal Terra, quem leva a pior é Felipe Massa. De maneira errônea, o site aponta que Alonso já se colocava entre as Ferrari em 2004, citando Massa como um dos pilotos. Não seria Barrichello? Enfim, outra publicação, que, a exemplo da maioria das espanholas, decidiu tangenciar as polêmicas.

Apesar da imprensa brasileira tentar criar inimigos para Alonso entre os brasileiros, o rival de verdade do espanhol é Lewis Hamilton. Na terra do inglês, encontrei apenas uma matéria, no site especializado YallaF1. Ali, nada de juízos de valor. E se você quiser saber o que aconteceu naquele final de semana do GP da Hungria, que acabou com qualquer possibilidade do casamento Alonso e McLaren dar certo, terá que se esquivar de fontes brasileiras e espanholas. Embora Max Mosley provavelmente contaria uma história um pouco diferente, o texto é o que melhor apresenta os fatos.

Dois temas que dão o que falar: o show e Schumacher

Peço desculpas aos leitores fiéis do Faster, mas a blogueira que sequer descansou no Ano Novo decidiu tirar uns dias para recarregar as baterias e começar com tudo a temporada. Deixo vocês com dois temas polêmicos sobre os quais escrevi no PodiumGP nos últimos dias:

A Fórmula 1 é espetáculo ou esporte?

“Não é de hoje que o esporte em geral, não apenas a Fórmula 1, flutua entre o profissionalismo e o entretenimento. Ser um esportista não é a mesma coisa que trabalhar das 9 às 18h num estabelecimento qualquer e o fato da grande maioria dos eventos serem realizados aos finais de semana é prova disso.

A competição em si não depende do público, mas toda a estrutura para que ela aconteça, sim. Por isso, não é de se estranhar que as pessoas que regem – e faturam com – o esporte tenham a necessidade de fazer de um produto esportivo um espetáculo.

A superioridade conquistada na pista muitas vezes incomoda quem investe

Isso não é de hoje. Ao final do campeonato de 1988, em que sua McLaren deixou de vencer apenas um GP, Ron Dennis recebeu uma ligação do presidente da Phillip Morris, sua patrocinadora, pedindo que maneirasse no ritmo e começasse a perder às vezes, pois o domínio era ruim para a competição.

O problema é que esporte e show têm objetivos conflitantes. Ao invés do “que vença o melhor”, a mentalidade do espetáculo gera a necessidade de criar emoção onde não há, alternativas onde a realidade é pragmática. Enquanto na primeira situação o melhor vence, na segunda, é a disputa que tem que prevalecer. Quando não é encontrado um meio termo, o esporte desvirtua o show, e o show desvirtua o esporte.

É o que vem acontecendo com a F-1 nos últimos anos. Após o domínio absoluto de Schumacher e da Ferrari, a categoria sentiu a necessidade de se recriar. E tem feito isso sucessivamente.”

Leia o texto na íntegra aqui

A volta de Schumacher mancha o mito Schumacher?

“Michael Schumacher é o homem que levou ao limite todos os aspectos em que poderia ter alguma influência como piloto. O preparo físico, a interação com os engenheiros, a liderança dentro da equipe e a maximização do uso de todos os dispositivos disponíveis no cockpit, como o equilíbrio de freio, chegando ao perfeccionismo de treinar entradas de box para ver até onde poderia acelerar antes da linha que limita a velocidade no pitlane. O alemão nos deu incontáveis aulas de como a Fórmula 1 pode ser quase uma ciência exata.

Desde a estreia, em 1991, Schumacher sempre foi o símbolo da obstinação

Mas nem tudo foram flores em sua carreira. Quando se sentiu pressionado, quando as coisas não saíram exatamente como planejado, Schumacher frequentemente mostrou até onde era capaz de ir para atingir seus objetivos. Foi assim quando jogou o carro em cima de Damon Hill e Jacques Villeneuve nas decisões de título de 1994 e 1997, respectivamente, e quando decidiu estacionar o carro em plena Rascasse na classificação para o GP de Mônaco em 2006, por exemplo.

“Voltar provavelmente foi mais difícil que Michael imaginou que seria. Ele já não tem mais 24 anos e está lutando contra pilotos jovens e ambiciosos, que querem deixar sua marca no esporte”.

Ross Brawn, em julho de 2010.

Perder nunca foi – e nem poderia ser – o forte do piloto mais vitorioso da história da categoria, chegando ao degrau mais alto do pódio por 91 vezes. Aquele que, ainda garoto e inconstante, já incomodava os grandes Prost e Senna com sua Benetton amarela; aquele que cometeu o que descreveu mais tarde como a maior loucura da vida ao ir para uma Ferrari bagunçada em 1996, trabalhou duro por 5 anos para moldar a Scuderia à sua feição e começou a história mais vencedora que já se viu na F1, com 5 títulos seguidos; aquele que detém a grande maioria dos recordes no esporte: foram 72 triunfos apenas como piloto Ferrari, 68 pole positions, 76 voltas mais rápidas, entre muitos outros.”

Leia o texto na íntegra aqui

As brigas internas de 2011: Ferrari e McLaren

Continuando o post anterior, sobre as rivalidades que nos esperam em 2011, a dinâmica que mais interessa aos brasileiros é a que ocorre dentro da Ferrari, entre o já não tão queridinho Felipe Massa e o inimigo da nação, Fernando Alonso.

Massa x Alonso

Talvez seja o desfecho mais imprevisível do ano. Será que os pneus Pirelli removerão toda a diferença que marcou 2010? Quais serão os desdobramentos da ordem de equipe na imagem que Felipe tem dentro da equipe e perante si mesmo? O quanto vai pesar o trabalho que Alonso fez ano passado de trazer a equipe para seu lado? Será que isso só dura enquanto ele andar na frente?

O fato é que a Ferrari contratou Alonso sabendo o que vinha no pacote. Sua experiência dividindo as atenções com Hamilton na McLaren não foi nenhum conto de fadas e sua maneira absolutista de trabalhar acabou se encaixando como uma luva no modo de pensar ferrarista. No final das contas, é inegável que o espanhol – ajudado pelos erros da Red Bull, claro – levou a Scuderia a disputar um título com o qual a performance do carro não permitia sonhar. E que a falha em Abu Dhabi gerou um sentimento de débito do time com o piloto, embora este tenha cometido erros tolos no início do ano.

“Não posso falar que estou feliz da vida, porque, para mim, a felicidade é a vitória. Não corro aqui para chegar em segundo”. Felipe Massa, após o GP da Alemanha de 2010.

“É provavelmente a maior vantagem que tive sobre um companheiro e isso me deixa feliz”. Fernando Alonso sobre seu desempenho em 2010.

Do outro lado do box, um piloto cujo contrato termina ao final de 2012 e que foi humilhado ano passado. Tanto nas vezes em que teve que ouvir que era mais lento, quanto por indiretas nada sutis do chefe, que afirmou pensar que era seu irmão quem estava ao volante.

Felipe tem um incômodo histórico: em 5 anos de Ferrari, viu seu time disputar o título de pilotos até a última etapa 4 vezes, sendo que em 3 delas eram seus companheiros que estavam na briga – mesmo que 2 deles fizessem seu 1º ano na equipe. Conhecido como um guerreiro, é de se esperar que Massa esteja se concentrando em dar a resposta na pista. Afinal, iniciando sua 6ª temporada como titular na Ferrari, o brasileiro bem sabe que as crises se dissipam tão rapidamente quanto chegam em Maranello. Sabe também que, se repetir 2010, não deve se segurar por lá e, na pior das hipóteses, tem que render para valorizar seu passe numa possível transferência.

Resta saber qual o interesse da equipe nessa possível recuperação. Pelo menos, na Ferrari, não haverá surpresas: quem estiver na frente na metade do campeonato terá clara prioridade. É assim que o esporte funciona para os italianos.

Hamilton x Button

A postura não poderia ser mais diferente na McLaren. A constante necessidade de mostrar o quão igualitário é o tratamento entre pilotos e o quão bem se relacionam Lewis Hamilton e Jenson Button já deixou muita gente desconfiada. No entanto, se houve qualquer problema entre os dois em 2010, são atores de primeira.

“Aquele cara nunca desiste. Ele é como um pitpull”. Jenson Button descreve Lewis Hamilton.

“A McLaren está encantada com Lewis e Jenson. Na verdade, acho que eles causam inveja às outras equipes”. Martin Witmarsh.

Embora haja uma grande rivalidade entre seus fãs na Inglaterra, Hamilton e Button acabam, tanto atraindo públicos diferentes fora das pistas, quanto trilhando caminhos opostos dentro delas. Enquanto Button é o homem das decisões e oportunidades, Hamilton é o cara dos riscos, das voltas impossíveis. A vantagem para a Ferrari na pontuação ano passado, apesar da performance similar dos carros, mostra o quanto isso é benéfico à equipe.

Há quem acredite que estilos tão diferentes acabem perturbando o foco do desenvolvimento do carro que, aliás, foi o ponto fraco de 2010. Por outro lado, se há um time com capacidade técnica para suplantar necessidades tão distintas, é a McLaren.

Em 2010, vimos muito do impressionante Hamilton de 2007, o que comprova a teoria de que um bom companheiro de equipe é tudo o que um piloto precisa para dar o melhor de si. O mesmo pode ser dito sobre Button, que chegou a impressionar mais nas corridas no molhado do início do ano que em sua campanha inteira pelo título. Resta saber o quanto o fato do campeão de 2009 já estar adaptado e ter dado pitacos desde o início do projeto de 2011 pode mudar a dinâmica entre os dois, uma vez que, apesar da diplomacia, ninguém duvida que o território prateado tenha dono.

As brigas internas de 2011: Red Bull e Mercedes

Um campeonato de F1 não é completo sem “aquela” rivalidade para animar a disputa. E se os algozes estiverem dentro da mesma equipe, melhor ainda. Às vezes, dois pilotos mal podem se olhar, mas, se este não for o caso, logo a imprensa já começa a dizer que, por trás da calmaria, o circo está pegando fogo. E sempre escolhe o piloto mais midiaticamente palatável como mocinho e aquele que não faz muita questão de agradar como bandido.

As nacionalidades também ajudam, claro. Mansell, tido aqui pelos fãs de Piquet como um piloto mediano, que não conseguiu bater o brasileiro mesmo sendo o queridinho da Williams, é visto na Inglaterra como um dos maiores e mais azarados pilotos da história. Talvez a verdade esteja no meio do Atlântico, longe da falta de objetividade de uns e outros.

Um dos grandes atrativos da temporada passada foi a briga interna nos times grandes, e a expectativa é de que os capítulos que vêm a seguir sejam ainda melhores. Quem diria que Rosberg levaria a melhor sobre Schumacher ou que Webber seria uma pedra no sapato de Vettel?

Schumacher x Roberg

Claro que, até que a temporada comece para valer, só podemos imaginar o que acontecerá. No caso da Mercedes, as indicações são de que o carro não nasceu bem novamente. Porém, ao contrário do ano passado, Schumacher não tem motivos para reclamar dos pneus. Eles não privilegiam pilotos que lidam melhor com carros que saem de frente, como ano passado e, portanto, devem igualar o jogo dentro da equipe alemã. Isso, se a F1 não se provar dinâmica demais até para um dos melhores pilotos da história da F1.

“Eu não acho que tenha prejudicado o mito dele. Ele é um heptacampeão mundial e sempre permanecerá no livros históricos. Mas com certeza me senti bem em vencê-lo”. Nico Rosberg.

O normal da briga interna na Mercedes seria um equilíbrio, pendendo para Schumacher devido à abordagem mais agressiva do heptacampeão nas corridas. Interessante será ver qual a reação de Rosberg caso isso aconteça: em 2010, o alemão mais jovem foi exemplarmente político e falou na pista. Que reação teria caso saísse perdendo? Qualquer mal estar com a equipe só prejudicaria a ele mesmo, pois Schumacher tem mais uma, duas temporadas pela frente. A longo prazo, Nico sabe que é nele que o time tem que confiar. Como o carro de 2011 não deve fazê-los lutar pelo título, o mais inteligente seria pensar lá nos frutos que pode colher num futuro próximo.

Vettel x Webber

Já na Red Bull, nada indica que a postura de qualquer dos envolvidos seja muito diferente do que foi em 2010: Vettel dando uma alfinetada aqui, guiando de forma perfeita ali; Webber se colocando na posição de outsider; Marko se assegurando de que seu pupilo receba os devidos mimos; Horner se fazendo de desentendido e Mateschitz garantindo que o esporte fica em 1º lugar.

“Não vou para a pista para prestar primeiros socorros a ninguém. Acho que há ambulâncias suficientes para isso no circuito”. Sebastian Vettel, quando perguntado se ajudaria Webber a ganhar o título ano passado.

“Claro que já não tenho mais 20 anos, mas Sebastian não tem nenhuma tatuagem ou brinco, então talvez se eu fizesse algo do tipo poderia ajudar”. Mark Webber.

O que pode tornar 2011 diferente são as corridas iniciais do agora campeão do mundo. Ano passado, problemas técnicos lhe tiraram duas vitórias certas nas duas primeiras provas, o que certamente mudou a história do campeonato. Ninguém duvida do enorme talento de Vettel e o normal é que o alemão domine o australiano ao longo de uma temporada. Porém, 2010 mostrou que Webber, e seu complexo de vira-lata, é capaz de guiar muito mais do que se espera dele quando se sente deixado para trás. Aquela vitória em Silverstone que o diga.

Vettel, no entanto, parece não se preocupar. Recentemente, quando listava os rivais pelo título, deixou o companheiro por último, e afirmou que “se o carro for bom, ele estará na luta”. Para bom entendedor, já bastou.

A diferença, para Webber, é que ele não tem o contrato para 2012 fechado e, se quiser permanecer na Red Bull, terá que se manter calado. As especulações sobre seu futuro já começaram e Mateschitz chegou a afirmar que “Mark é um piloto muito forte e certamente outras equipes vão se interessar por ele”. Parece que ninguém se importa em cutucar o australiano.

Os pneus Pirelli prometem complicar a vida dos grandes

Temos ouvido muita conversa a respeito das múltiplas paradas de boxes que nos esperam em 2011 e do impacto que os novos pneus Pirelli terão nas estratégias de corrida. Isso deve gerar provas mais emocionantes, pela oportunidade da adoção de diferentes estratégias e pela maior possibilidade de erros, tanto nos pitstops em si, quanto de estratégia – com uma degradação tão forte quanto a que vimos nos testes até agora, esperar uma volta a mais para parar pode arruinar uma corrida.

Tenho que concordar com Fernando Alonso quando ele diz que as equipes chegarão à corrida da Austrália com 1 set de pneus macios e 3 de duros e não terão muito o que inventar, mas o espanhol bem sabe que isso serve para os ponteiros, que terão que largar com o pneu com que se classificaram. De uma hora para a outra, ser o 11º com mais jogos de pneus no bolso se tornou um negócio bem razoável.

Tudo porque o regulamento guarda alguns pormenores interessantes:

Cada piloto tem à disposição 6 jogos de pneus prime e 5 option para o final de semana, lembrando que são chamados de prime sempre os mais duros disponíveis, e de option os mais macios. Além disso, podem ser usados 4 jogos de intermediários e 3 de pneus de chuva.

As opções de chuva só podem ir para a pista se esta for declarada molhada pela direção de prova e as de seco, como nada é simples na F1, são distribuídas em doses homeopáticas.

Pouco pneu e muita degradação. E não é uma reclamação

Antes da 1ª sessão de treinos livres, as equipes recebem 2 jogos de prime e 1 de option. Ao final dessa 1h30, devolvem 1 jogo de prime. Quando a sexta-feira acaba, os outros dois voltam para a Pirelli. Não é de se estranhar, portanto, que a pista fique tanto tempo vazia num momento que serviria para testes.

Com isso, os pilotos têm que fazer as demais sessões do final de semana com os 8 jogos restantes (4 de cada tipo), que são entregues no sábado.

Novamente, nada de simplificar: antes do início da classificação, mais dois jogos (1 de cada tipo) também têm que ser devolvidos. Para quem se perdeu na conta, cada piloto tem à disposição 3 jogos de pneus duros e 3 de macios para fazer a classificação e a corrida.

Se na Era Bridgestone isso já era pouco, nos tempos dos Pirelli “Pacman” será um desafio e tanto para as equipes. E colocará ainda mais pressão em cima dos pilotos na classificação. Eles terão que tirar tudo do carro de cara, sem o direito de trocar de pneu ou mesmo uma 2ª volta lançada, pois a diferença da 1ª para a 2º volta no composto macio tem sido de 1s.

Um time grande, por exemplo, que tem como objetivo largar entre os 10 primeiros, deve usar um jogo de duros no Q1, um de macios no Q2 e mais dois sets de macios no Q3, seguirem o formato que usavam até o ano passado. Um dos macios será usado na primeira fase da corrida e sobram 2 jogos novos de duros para o restante da prova. Se as corridas tiverem, como alguns esperam, mais de 2 paradas, fatalmente os pilotos terão que recorrer a borracha usada – e escolher o momento apropriado para fazê-lo, provavelmente no final da prova, com a pista mais emborrachada.

Mas não daria para economizar pneus na classificação? Com a diferença, calcula-se, de 0s8 entre o composto duro e o macio, os escolhidos para as primeiras etapas, seria arriscado guardar os mais velozes apenas para o Q3 – e minha suposição dá conta de que um único set de duros seria usado para o Q1 e Q2, o que não sei se será possível, devido ao desgaste. Para efeito de comparação, ano passado houve provas em que a diferença entre o melhor tempo do Q2 e o 11º colocado (e 1º eliminado) ficou em 1s5 no Bahrein e chegou a 1s7 na Hungria, mas na grande maioria dos eventos não passou de 1s – no Canadá e em Valência, inclusive, os 11 primeiros ficaram separados por apenas 0s5.

E no Q3, não dá para fazer apenas uma tentativa? É a saída mais plausível, mas novamente entramos na questão da pressão e da impossibilidade de tirar rendimento de uma segunda volta lançada, no caso de um erro.

“Na classificação, são necessários pelo menos 3 sets, e isso se tudo correr bem. Se houver uma bandeira amarela ou vermelha, ou mesmo um erro, você perde o pneu. Não dá para reciclá-lo e fazer uma segunda tentativa.”

Sebastian Vettel

Além disso, a diferença de rendimento entre os compostos torna difícil a decisão de arriscar fazer o Q3 com duros: uma posição na 4ª ou 5º fila do grid é quase certa, mas será que valerá a pena largar com essa borracha mais resistente e deixar os macios para o final da corrida? Novamente, só quem está em posição de apostar vai tentar algo assim. Quem poderia tentar? Renault, Mercedes, Williams ou ninguém?

Outra questão é que, quem não chegar ao Q3, provavelmente terá usado um set de duros no Q1 e dois de macios no Q2. Isso dará uma flexibilidade ainda maior, porque não há a obrigatoriedade de largar com o pneu com o qual se classificou.

Quem se adaptar melhor aos botões no volante sai na frente

Ouvimos os pilotos reclamarem da quantidade de botões no volante deste ano e há quem não entenda tanto falatório, afinal, é o mesmo desafio para todos. Um deles, de acordo com o jornalista inglês James Allen, inclusive respondeu ao engenheiro, quando este lhe pediu que apertasse mais um botão “Só tenho um par de mãos!” A questão é que eles mesmos sabem a dor de cabeça que vem pela frente – e que haverá rivais que se adaptarão muito mais rapidamente e tirarão proveito disso.

Nada disso é novidade. Há anos vemos pilotos que modificam com mais frequência o equilíbrio de freios. Em 2010, houve os que acionavam por mais vezes o duto aerodinâmico e os que melhor lidaram com as regulagens da asa dianteira, que ajudavam a cuidar dos pneus. E, em 2011, não será diferente. Mas isso deve fazer mais diferença, uma vez que a asa traseira móvel e o KERS juntos representam até 1s por volta, como vimos no post de ontem.

Num vídeo que já postei no blog, podemos ver claramente a diferença entre um piloto que se aproveita de todos os dispositivos possíveis (Alonso) e seu companheiro (Piquet), mais concentrado em apenas guiar. Naquela classificação, 0s3 separaram os então pilotos da Renault e é difícil dizer o quanto dessa diferença veio dos “botões”.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=NiejwnTOO5g&w=480&h=390]

A questão, portanto, não é que os pilotos acham que não terão capacidade para lidar com todas as novidades. Mas, sim, sabem que é muito difícil conseguir tirar proveito de 100% delas, em 100% do tempo.

As novidades no volante deste ano são a asa traseira móvel e o KERS. Ambos podem ser utilizados em treinos livres e classificações sem restrições – a não ser a de 6s6 por volta do sistema de recuperação de energia cinética. Aos domingos, as regras mudam para a ATM. Ao menos no início do ano, certamente veremos erros.

E essa não é uma consequência dos botões em si. Ambos os dispositivos mexem com a velocidade final dos carros. Portanto, se os pilotos dispararem tanto o KERS, quanto a asa traseira móvel, cedo demais, a tendência é o carro rodar; se voltarem à “configuração normal” tarde demais, irão com muita velocidade para a entrada da curva. Além de pressionar o botão certo, o momento também terá que ser exato.

Isso leva a crer que muitos pilotos vão preferir não se arriscar e deixar os botões de lado. Isso vai refletir nos tempos de volta, principalmente em classificação. E quem se der melhor não será apenas pelo carro, nem pela pilotagem, mas também pela capacidade de pensar/fazer várias coisas ao mesmo tempo.

Isso tem tudo para fazer grande diferença nas classificações, que prometem ganhar em emoção em 2011 – mesmo que os sábados já tenham sido mais atraentes que os domingos em várias oportunidades nos últimos anos. Como as diferenças de tempo são mínimas, o bom uso de KERS e ATM se farão indispensáveis. Além disso, como veremos amanhã, os pneus terão papel importantíssimo, também, no sábado.

O pequeno grande Ecclestone não dá ponto sem nó

Vou interromper um pouco a sequência de posts mais técnicos da semana para escrever algumas linhas sobre Bernie Ecclestone. Foi só o manda-chuva dos direitos comerciais da F1 jogar a isca de mais uma “ideia” mirabolante que, mais uma vez, muita gente mordeu. E olha que a pérola já era antiga, a de provocar chuva artificial para dar emoção aos GPs

Não, Bernie não está gagá ou vai propor algo como isso para as equipes ou a FIA. Adepto – ou inventor? – da máxima “falem mal, mas falem de mim”, vez ou outra o inglês dá alguma entrevista bombástica para tentar encobrir uma notícia que não lhe agrada ou para abordar en passant uma discussão que realmente lhe apetece. E, sempre, estamos falando de dinheiro, e não de corridas emocionantes e desse blá blá blá de ultrapassagens que não deve fazer sua cabeça.

Bernie tinha algumas manchetes para esfriar nesta terça-feira, quando foi publicada a tal entrevista (inclusive, pelo site comandado pela empresa da qual é CEO, o F1.com). Sua biografia não autorizada revelou detalhes de sua vida que não queria que fossem colocados em público e um texto assinado por Jackie Stewart no The Telegraph, no sábado, culpando os projetos de seu protegido, Hermann Tilke, pela falta de emoção nas provas, vinha ganhando apoio e visibilidade.

Além disso, com o cancelamento dos testes do Bahrein, que começariam nesta quinta-feira, há hiato na presença da F1 na mídia. E isso é um incômodo e tanto para Bernie.

‘Ah, se todos os lugares fossem como a Malásia para eu marcar a corrida para o horário daquela pancada de chuva...’

Daí a “sugestão” da chuva artificial, que nem foi o ponto mais interessante da entrevista. Ecclestone costuma escolher muito bem as palavras e o momento de dizê-las. Aparentemente, sabe que não será possível encaixar o GP do Bahrein no final do ano: fazer 3 GPs em finais de semana seguidos não é de praxe no caso de um deles (Índia) ser estreante, em local cuja logística ainda é desconhecida, e a segunda opção, da trinca Abu Dhabi-Bahrein-Brasil, impõe um deslocamento ainda maior para as equipes, além de levar o final do campeonato para dezembro, na mesma data da última rodada do Brasileirão. Por isso, o chefão está empurrando aos times a possibilidade de fazer o evento durante as férias de agosto e já garantiu que estabeleceu junto a Jean Todt que uma decisão tem que ser tomada antes do início do campeonato.

“É muito simples. Não precisamos de uma corrida alternativa aqui na Europa ou em qualquer outro lugar. Precisamos correr no Bahrein. Acho que os times são sensíveis o bastante para correr lá até nas férias de verão, apesar das altas temperaturas, porque é a maneira de apoiarmos o país”

Bernie Ecclestone

Sim, para garantir seus milhões (leia-se “apoiar o país”), Bernie quer sacrificar as férias dos profissionais e rasgar a parte do acordo de restrições de gastos que prevê o fechamento das fábricas em agosto para correr num lugar cuja temperatura média em agosto é de 38ºC! E ainda são as chuvas artificiais que ganham as manchetes…

Outro ponto interessante foi Ecclestone indicar que uma mulher poderia substituí-lo no controle da FOM, já que elas “não são tão influenciadas pelo ego e são melhores na tomada de decisões”. Nada de se estranhar vindo de alguém que, nos bastidores, tenta emplacar sua advogada, Sacha Woodward-Hill, como sua sucessora. E ainda são as chuvas artificiais que ganham as manchetes…

E, para finalizar com chave de ouro, um exemplo do estilo Bernie Ecclestone de controlar pilotos – o ex-chefe de equipe, inclusive, disse que contrataria Vettel e Alonso se tivesse um time, e que saberia como controlar as tensões internas. Perguntado o que faria se fosse chefe de Kubica, não titubeou.

“Ele estava fazendo um rali entre dois testes. Teria dito a ele: ‘você vai correr de rali semana que vem então imagino que estará muito cansado para o teste na semana seguinte. Vou colocar seu companheiro de equipe e o piloto de testes nas sessões.’ Você acha que ele teria participado do rali? Acho que não”.

KERS se torna a principal dor de cabeça da pré-temporada

O desgaste dos pneus pode ser a grande fonte de viriáveis em 2011, mas o que vem dando mais dor de cabeça às equipes nesta pré-temporada é o KERS.

Ele é o culpado pela maior parte das falhas nos carros até agora, além de trazer dificuldades para o projeto e até para as estimativas que os times fazem para ver onde estão em termos de rendimento em relação às rivais.

E não é um sistema em particular que está gerando problemas: Renault, Mercedes e Williams, cada uma usando seu próprio KERS, são as campeãs de tempo perdido.

Tanto, que o diretor técnico da equipe de Rubens Barrichello, Sam Michael, admitiu que eles devem adotar o sistema mecânico, que utiliza uma turbina, ao invés de baterias, para o ano que vem. Ele foi abandonado por ora devido à dificuldade de encaixar o equipamento no pequeno espaço disponível, mas, se as baterias continuarem a prejudicar a equipe, isso deve ser revisto.

Barrichello e seu companheiro, Pastor Maldonado, inclusive, têm feito muitas sessões sem o dispositivo no carro, para evitar mais perdas de tempo de pista.

Por enquanto, clientes de Renault e Mercedes parecem satisfeitos

Renault e Mercedes também vêm tendo problemas, enquanto há poucas notícias de reclamações de seus clientes, Red Bull, dos franceses, e McLaren e Force India, dos alemães. Curiosamente, o sistema da Ferrari, que teve um nascimento complicado em 2009, vem apresentando boa confiabilidade.

Mas o mau funcionamento não é o único porém. Nico Rosberg disse que é complicada a interação entre o desgaste dos pneus e o KERS. Isso porque, à medida que os pneus traseiros vão perdendo rendimento, fica cada vez mais difícil recuperar a energia por meio da frenagem sem desequilibrar o carro. Quando isso acontece, o normal é os pneus traseiros travarem, o que desgasta ainda mais a borracha, criando um círculo vicioso. Para corrigir o problema, o piloto é obrigado a mudar constantemente o equilíbrio de freios, o que geralmente é feito por meio de uma alavanca ao lado do volante.

As equipes já tiveram que passar pelo desafio de encaixar as baterias numa traseira bastante povoada pelo tanque de combustível, praticamente duas vezes maior que o usado em 2009. Isso, sem comprometer o fluxo de ar, no ano em que os difusores duplos, fundamentais para o aumento da pressão aerodinâmica, foram banidos. Para completar, como a distribuição de peso foi fixada neste ano em 45.5 a 46.7% na frente e 53.3 a 54.5% na traseira e há, portanto, um limite de carga para se trabalhar.

Outra questão causada pelo KERS é a dificuldade de leitura que o sistema causa nas voltas. As equipes fazem análises de acústica, entre outras, para determinar os níveis de combustível dos concorrentes e desvendar sua real performance, mas pouco pode ser feito em relação ao sistema de recuperação de energia e à asa traseira móvel. De acordo com Pat Fry, da Ferrari, o tempo de volta pode variar de 0s7 a 1s se ambos os dispositivos forem ou não utilizados.

Mais um motivo para os times trabalharem duro em cima do sistema que, ao contrário de quando surgiu pela primeira vez, em 2009, hoje é um diferencial de performance importante, daqueles itens obrigatórios a todos os carros. Se algum desses times não conseguir resolver suas questões, fica difícil concorrer com as demais. Além de perder 0s3 a 0s4 por volta, verão toda a concorrência passar como um foguete nas largadas.

Novos pneus prometem premiar os pilotos mais sutis

Muita gente vem apostando que, mesmo em tempos de asa traseira móvel e KERS, são os pneus que farão a diferença em 2010. Isso porque, a julgar pelos testes realizados até agora, a Pirelli levou ao pé da letra a recomendação de produzir borrachas que se degradam rapidamente.

É sabido que diferentes carros causam interações distintas com o asfalto, provocando níveis de desgaste diversos. Os pilotos também têm seu papel: os que privilegiam a velocidade em entrada de curva, atrasando virar o volante ao máximo e fazendo-o de forma agressiva (como se a curva fosse “quadrada”), tendem a desgastar mais esses compostos mais moles da Pirelli e a sofrer com a degradação, a não ser, é claro, que mudem seu estilo de guiar. Vettel, Hamilton e Alonso são exemplos disso.

Button é um dos mais interessados na nova borracha

A marca italiana afirma que, como sua borracha foi projetada para trabalhar em altas temperaturas, condições sob as quais a grande maioria dos GPs é disputada, a degradação deve ser menor do que aquela vista nos testes até agora – daí o prejuízo do cancelamento dos ensaios no Bahrein.

Outras características que a Pirelli não espera ver durante os finais de semana de corrida é a falta de emborrachamento da pista – a aderência não tem melhorado de um dia para o outro – e o excesso dos chamados “marbles”, ou bolas de gude – restos de pneus que se desprendem e sujam a pista.

É uma boa notícia para Sebatian Vettel, que já se declarou preocupado com o excesso de sujeira fora do traçado. “Em meia distância de corrida haverá tantos detritos na pista que a asa traseira ajustável não vai ajudar. E, por causa disso, quando você sai do traçado ideal, você precisa frear muito mais cedo”, afirmou o piloto da Red Bull à revista alemã Auto Motor und Sport. A julgar pelas previsões da Pirelli, isso não acontecerá.

Mas o certo é que as corridas terão mais paradas nos boxes que na época dos Bridgestone. Mesmo que a degradação não seja tão forte quanto no asfalto de uma Barcelona invernal, o comportamento dos pneus é muito diferente do que tínhamos até o ano passado. Quando eles acabam, é de uma vez.

Os gráficos abaixo, cortesia de James Allen, comparam as saídas longas nos testes em 2010 e em 2011. Repare como os tempos de volta do ano passado até melhoram com o passar das voltas, mostrando que os pneus são tão bons que o efeito da queda do combustível se sobrepõe ao desgaste. No caso dos dados recentes, o rendimento de todos apresenta forte tendência de queda.

Os tempos mantinham uma linha ascendente com os Bridgestone
Já com os Pirelli, a queda de rendimento é acentuada

A Pirelli já anunciou que levará os compostos duro e macio aos primeiros GPs. Calcula-se que a diferença entre eles seja de 0s8 e que, enquanto o primeiro tipo dura 20 a 22 voltas, o segundo não passa das 14.

Observando que, mesmo os carros considerados os que melhor cuidam dos pneus, Red Bull e Ferrari, têm uma queda de rendimento de 2 a 3s nas saídas de mais de 10 voltas, poderemos assistir a um campeonato mais de resistência que de velocidade. Isso porque, se um piloto conseguir, andando num ritmo um pouco mais lento e que force menos o pneu, dar mais voltas, ele pode economizar os cerca de 25s de um pitstop.

É preciso esperar para determinar a reação da borracha em altas temperaturas mas, ao que tudo indica até agora, andar rápido talvez não seja mais uma grande vantagem.

Falta base e apoio para o novo campeão brasileiro na F1

País de 8 títulos mundiais, empatado com a Alemanha e a 1 da Inglaterra, o Brasil começa a temporada 2011 de F1 com apenas 2 representantes como titulares – e outros 2 no monótono cargo de reserva. E o cenário para o futuro a curto prazo não é muito animador.

O Brasil tem apenas Luiz Razia na categoria de acesso à F1, a GP2; tem Cesar Ramos, campeão da F3 Italiana, na qual Victor Guerin ingressa em 2011, caminho também trilhado por Nicolas Costa e João Jardim (resultado do apoio da Fiat); Felipe Nasr, Lucas Foresti, Yann Cunha e Pipo Derani na F-3 Inglesa… não foge muito disso. Pouca quantidade para se tirar qualidade e nada que surpreenda quem vê há tempos as fórmulas de base do país e o kart abandonados. Quem quer ser piloto tem que tentar a sorte cedo na Europa, com 15, 16 anos.

E praticamente bancando do próprio bolso. Como vimos em posts anteriores (aqui e aqui), enquanto o dinheiro de grandes empresas tem ajudado pilotos de países menos tradicionais a ganhar espaço (com o patrocínio, eles conseguem boas vagas, bons resultados, e vão subindo de categoria), os brasileiros perdem espaço. Afinal, se uma empresa nacional não aposta neles, por que uma estrangeira o faria?

A saída tem sido buscar espaço longe dos monopostos. O turismo é o caminho predileto e até no Mundial de Rali tem piloto brasileiro. Ou seja, não é mão de obra que falta, mas sim investimento no caro mundo do automobilismo europeu.

A pergunta que fica é: por que as empresas brasileiras não investem em automobilismo? Mesmo a que seria a categoria de monopostos que sobrevive no país tem grid de 8 carros e é apoiada pelas multinacionais Fiat e Santander. Por aqui, há o apoio da Cervejaria Petrópolis, que patrocina nada menos que 25 pilotos, a maioria no turismo. E não passa muito disso.

A agora dupla dinâmica brasileira não tem exatamente muitos anos pela frente

Colocando em números, segundo recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Marketing Esportivo, o automobilismo tem o mesmo nível de patrocínio de esportes como atletismo, natação, ginástica, boxe, vela, judô e esgrima que, juntos, respondem por 12% do total investido em modalidades esportivas no país. A liderança incontestável é do futebol, que fica com quase dois terços dos R$ 328 milhões injetados. Bem atrás, aparecem vôlei (R$ 49 milhões), basquete (R$ 16 milhões) e o futsal.

Isso, num país em que a audiência de F1 fica entre 11 e 15 pontos, chegando a dobrar quando brasileiros disputam o título. Nada mal para um produto subaproveitado transmitido nas manhãs de domingo. Os índices dos jogos de futebol, para efeito de comparação, giram em torno dos 20 aos 30 pontos (dependendo dos times que estão em campo), somando Globo e Bandeirantes.

Se mesmo pilotos que chegaram a uma categoria de tanta visibilidade têm dificuldade em encontrar apoio (o caso de Bruno Senna, que não consegue muito apoio mesmo contando com a força do sobrenome, é emblemático), a base anda mais que abandonada. E isso não é “privilégio” do automobilismo. A ajuda governamental, por meio do bolsa atleta, só recentemente começou a chegar a quem ainda não lidera nenhum ranking ou tem bons resultados internacionais. Um recente levantamento do Tribunal de Contas da União, inclusive, mostrou que a maior parte dos recursos fica com profissionais de esportes não olímpicos, um crime num país que pretende sair da atual 23ª posição para a 10ª no quadro de medalhas nos Jogos do Rio, em 5 anos.

Justamente com a proximidade, tanto das Olimpíadas, quanto da Copa do Mundo, o cenário para o automobilismo não é nada positivo, pelo menos até 2016, quando Barrichello terá se aposentado e Massa completará 35 anos. À exceção de Lucas Di Grassi e, talvez, Bruno Senna, é difícil ver um futuro a curto prazo para o Brasil na categoria, ao menos em termos de performance. Assim como o Comitê Olímpico Brasileiro tem tudo para aprender na Olimpíada do Rio com o desastre anunciado, a F1 vai servir de exemplo de que não se forma campeões sem trabalho de base e investimento.

Por que a F1 precisa de um teto orçamentário?

Lunático talvez tenha sido o termo mais leve atirado a Max Mosley quando o então presidente da FIA propôs o teto orçamentário de US$ 65 milhões. Na época, em 2009, a Toyota gastava US$ 445 milhões e sequer disputava o título, a McLaren torrava US$ 433 milhões e a Ferrari, US$ 414. De ambos os lados, era pedir demais. Afinal, foram décadas de trabalho para chegar construir uma imagem tal que permitia a cobrança de cifras exorbitantes por patrocínio. E, quanto mais dinheiro disponível, mais se gasta.

Por outro lado, os times menores, que não eram nem bancados por grandes empresas, nem conseguiam atrair grandes patrocinadores, estavam desaparecendo: não era exagero pensar num grid com 16 carros, ou até menos.

Mas o mercado se regula, e foi isso que aconteceu de lá para cá. Em meio à crise financeira, a receita diminuiu e as contas, também. É claro que o acordo de restrição de gastos (RRA) ajudou a disciplinar as equipes neste sentido, mas dá para se observar também uma tendência natural de queda nos investimentos, principalmente com a saída dos gastões Toyota e Honda.

Todavia, os orçamentos atuais, que giram entre US$ 200 e 300 milhões, ainda não são exatamente uma barganha. É nesse sentido que o RRA trabalha, mas ainda não sabemos até qual quantia as equipes pretendem chegar.

Os US$ 65 mi de Mosley eram um exagero

O fato é que cada vez fica mais claro que um teto orçamentário é uma solução a ser estudada. Não os US$ 65 milhões do velho Max, mas uma quantia que permitisse a manutenção do DNA do esporte e, ao mesmo tempo, garantisse sua saúde e independência financeira. O termo acabou ganhando má fama pela campanha desastrosa da FIA em 2009, porém, na prática, é o objetivo final do RRA. Os gastos limitados incentivam novos investidores, que não mais verão a F1 como um buraco negro, além de dar sustentabilidade ao negócio e cortar os excessos que nada acrescentam – alguém sente falta daqueles lançamentos espalhafatosos de um passado recente, por exemplo?

Além das finanças, um teto pode, de quebra, ajudar no lado da competição e substituiria a atual festa das mudanças de regras, que tem servido mais para confundir o público que melhorar o espetáculo. Ultrapassagens dependem da aerodinâmica, mas também de diferenças. Com um regulamento mais livre que as contas, um carro pode ter características diferentes do outro, já que cada grupo de engenheiros encontraria sua solução.

Faço parte dos que acreditam que o nível de ultrapassagens não é de todo ruim. Elas têm que ser como um gol no futebol, não como uma cesta no basquete. As mudanças feitas nos pneus e alterações em algumas pistas em que tradicionalmente as manobras são mais raras – Bahrein, Valência, Abu Dhabi, etc. – já resolveriam a questão. Tentar impor ultrapassagens por regulamento, além de dar a ideia de artificialidade, gera gasto em cima de gasto.

Na verdade, qualquer limitação/imposição por meio das regras gera o trabalho/gasto de, a cada 2, 3 anos, refazê-las para nivelar o jogo, porque alguém interpretou o texto de forma mais extrema.

Regras como a asa traseira móvel geram mais gastos que resultados

Um óbvio problema do teto orçamentário é que as brigas, que hoje giram em torno do regulamento técnico, com uma equipe acusando outra de estar trapaceando, certamente entrarão no campo financeiro – como, aliás, já está acontecendo com a Red Bull. Aí é uma questão de vontade política para estabelecer formas de controle fiscal rígidos – papel da FIA, que anda quieta em relação ao assunto, e não das próprias equipes. O momento é propício, uma vez que o primeiro passo, de reconhecer que se anda gastando demais, já foi dado.

Outra questão é que, com a nova regulamentação de motores de 2013, é muito provável que as montadoras voltem a se interessar pelo esporte. O que impediria que os custos voltassem a subir? Pode-se deixar tudo nas mãos da autorregulação do mercado – confiando que as empresas tenham aprendido com os exemplos do passado ou enxerguem a nova conjuntura econômica – ou estabelecer um teto orçamentário compatível com o senso elitista e inovador da F1, ao mesmo tempo em que se assegura a saúde econômica da categoria.

Patrocinar uma grande equipe é um ótimo negócio

Mesmo que anunciar na F1 não seja nada barato, é altamente lucrativo. Até a Red Bull, cujo tipo de investimento na categoria não é nada ortodoxo, teve um ganho em chamado “valor de exposição” maior que o orçamento de suas duas equipes somadas: US$ 345 milhões gastos contra US$ 366,6 milhões obtidos em termos de imagem. Isso sem contar nas cifras acumuladas pelo título de construtores e pelas demais cotas de patrocínio que ambos os carros ostentaram durante o ano.

Também, pudera. A categoria comemorou mais um ano de crescimento em sua audiência, chegando aos 527 milhões de espectadores em 2010. Os números do ano passado não foram divulgados oficialmente, mas acredita-se que não tenham passado dos 520 milhões. Os dados desse ano significam que cerca de 27,7 milhões de pessoas estavam ligadas em cada corrida, em média. Isso, nos 188 países que recebem as transmissões da categoria.

Ganhar dinheiro de forma pouco convencional é a especialidade da Red Bull

O “valor de exposição” é o cálculo do tempo que a marca apareceu durante as transmissões transformado na quantia que seria paga caso a empresa tivesse optado por comprar uma cota publicitária de TV. Os números da Red Bull sugerem um retorno de 150% em relação ao valor investido, tanto na equipe principal, quanto na Toro Rosso. A marca monopolizou nada menos que 30,5% de toda a exposição durante as etapas do mundial, o que é explicado pelo fato de estar presente em dois times, mas principalmente por um deles ser o carro mais rápido do grid.

Melhores retornos de patrocínios em 2010

Marca Equipe Valor de exposição estimado
1º Red Bull Red Bull, Toro Rosso US$ 366,6 milhões
2º Vodafone McLaren US$ 122,4 milhões
3º Santander Ferrari US$ 99,3 milhões
4º Petronas Mercedes US$ 85,4 milhões
5º Renault Renault, Red Bull US$ 69,3 milhões

Não por acaso, as equipes arrecadam grande parte de seu orçamento com patrocínio, e as cotas dos grandes times são bem mais salgadas. Uma parceria com a extensão da Vodafone – que, inclusive, dá nome à McLaren – ou do Santander na Ferrari sai entre 50 e 70 milhões de dólares ao ano. Em 2010, enquanto a primeira teve retorno de 190% do investimento, o banco espanhol chegou aos 200%. Num acordo fechado há mais tempo, antes da crise financeira, estima-se que a Phillip Morris pague cerca de US$ 100 milhões por sua propaganda subliminar nos carros vermelhos.

Além de lucro, a parceria entre McLaren e Vodafone ainda rendeu boas risadas:

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Mas não é preciso investir tanto para colocar seu nome num carro de F1 – ao menos que não se importe de ter um espaço menos visível e/ou numa equipe que apareça menos. As 141 marcas que patrocinam as 12 equipes tiveram uma exposição conjunta em 2010 que vale US$ 1,2 bilhão, média de US$ 62 milhões por GP. Cada uma delas injeta, em média, US$ 4,31 milhões ao ano – ou US$ 607,710 milhões ao todo. Ou seja, tem muita gente fazendo dinheiro por meio da categoria.

No entanto, há uma certa dose de risco envolvido. É fato que um grande patrocinador de uma das equipes que dominam o campeonato terá muita visibilidade. Mas, se sua empresa não tiver muita bala na agulha, o retorno não é tão garantido, pois sua marca pode ficar escondida no meio do pelotão e, assim, uma ferramenta de marketing mais tradicional, como os comerciais de TV, por exemplo, pode ser mais lucrativa. Por isso, as equipes pequenas têm mais dificuldade em prospectar clientes.

Orçamentos caem após o acordo de restrição de gastos

Como vimos no post de terça-feira, os gastos na F1 chegaram a um patamar tão alto em meados da primeira década de 2000 que apenas as grandes montadoras poderiam bancar. Não demorou para que as primeiras medidas fossem tomadas pela FIA, cujo então presidente, Max Mosley, tinha convicção de que, ao primeiro sinal negativo, as empresas retirariam seu investimento de uma hora para a outra, para reduzir os custos. Restrições nos motores, câmbios, carros reserva, testes, etc. Tentou-se parar, por regulamento, uma gastança que parecia incontrolável.

No entanto, os números de 2008 não eram nada animadores e uma crise financeira ameaçava assolar a categoria.

Recursos dos times em 2008

Toyota: $445.6m
McLaren: $433.3m
Ferrari: $414.9m
Honda: $398.1m
Renault: $393.8m
BMW Sauber: $366.8m
Red Bull Racing: $164.7m
Williams: $160.6m
Toro Rosso: $128.2m
Force India: $121.85m
Super Aguri: $45.6m

Total: $3,073.45m

Mas as restrições geravam um outro problema. Ao impor limitações, não estariam privando a F1 de sua vocação de explorar tudo ao máximo? As respostas dadas recentemente, com a adoção, programada para 2013, de motores 1.6 turbo trabalhando em até 12.000 rpm, mostram bem que a sobrevivência econômica falou mais alto em relação a uma das características fundamentais da F1.

Em 2009, vendo que as restrições não estavam surtindo o efeito desejado, Mosley partiu, então, para um saída mais radical: impor um teto orçamentário de cerca de 65 milhões de dólares, excetuando o gasto com marketing e o salário dos pilotos e funcionários do alto escalão. É lógico que a ideia foi mal recebida pelas equipes, que chegaram a ameaçar formar uma categoria paralela.

Mosley apertou demais as equipes e acabou fora da FIA

Talvez o teto tenha sido tão mal recebido por impor uma quantia máxima exageradamente pequena de uma hora para a outra. Talvez a ideia de ter a FIA controlando as contas não soou bem para algumas equipes. O fato é que a associação dos times (FOTA) ganhou a queda de braço com a federação ao propor o acordo de restrição de recursos (RRA), que prevê a diminuição paulatina de gastos, incluindo regras para o uso de túneis de vento/CFD e número de funcionários (280 em 2011).

Houve algumas mudanças no texto original durante negociações em 2010, que afrouxaram as restrições em si e apertaram a fiscalização. As regras atuais valem até 2012, quando um novo acordo, que já está sendo costurado, entrará em vigor.

O RRA prevê multas em dinheiro para quem desrespeitar as regras. Por exemplo, se um time passar do limite em 5%, deixa de receber a mesma quantidade dos recursos garantidos pela posição no mundial de construtores. Quanto maior a infração, maior a multa – de 5-10%, o valor é multiplicado por 1.1, e assim em diante. Há suspeitas de que a Red Bull tenha gastado mais do que deveria ano passado, mas nenhuma ação formal foi tomada até agora.

Orçamentos de 2010

Equipe Nº de funcionários Orçamento
Scuderia Ferrari 900 US$ 325 milhões
McLaren Mercedes 550 US$ 298 milhões
Mercedes Grand Prix 600 (450  Brackley e 150 Stuttgart) US$ 251 milhões
Red Bull Racing 550 US$ 203 milhões
Renault F1 Team 494 US$ 142 milhões
Scuderia Toro Rosso 257 US$ 142 milhões
AT&T Williams 500 US$ 122 milhões
Force India F1 Team 280 US$ 108 milhões
BMW Sauber F1 260 US$ 101 milhões
Lotus F1 Racing 260 US$ 88 milhões
Virgin Racing desconhecido US$ 61 milhões
HRT F1 Team desconhecido US$ 54 milhões

Essa conta da Renault particularmente parece discrepante, uma vez que, além de fabricar seus motores, foi divulgado que os 15 milhões que Vitaly Petrov traz para o time representam 7% do orçamento. Ou seja, se esses 15 milhões forem em euros, a conta final da equipe é de US$ 285 milhões; se for em dólares, “apenas” US$ 214 milhões.

O quanto Petrov gasta sozinho dos 15 milhões que traz à Renault não se sabe

O interessante é perceber o quanto a McLaren gasta, mesmo sendo cliente dos motores Mercedes. Uma vez que seu projeto é desenvolver o próprio propulsor a partir de 2016, a quanto chegará essa conta?

Há ainda equipes que terceirizam outros componentes, o que também ajuda a economizar. Isso implica em menos funcionários e na economia do desenvolvimento. Com isso, uma empresa como a Williams, que visa usar as tecnologias desenvolvidas na F1 para vendê-las ao mercado automobilístico, acaba tendo um gasto maior na F1 que, por exemplo, a Force India. Como a diferença entre ambos é de apenas 14 milhões de dólares, fica claro o malabarismo que a equipe de Grove faz.

O fato é que os times têm gastado menos. Com a saída de várias montadoras, sobre as quais falamos em detalhe ontem (aqui e aqui), os orçamentos diminuíram 10% em média já em 2009. Em relação a 2010, a queda foi de 35%. Mesmo assim, o orçamento das 12 equipes juntas chega perto de 1,8 bilhões de dólares, pagos em parte pelos 175 patrocinadores que a categoria reúne. Cada um deles injeta, em média, 4.31 milhões de dólares ao ano. Mas patrocínio é um assunto para amanhã.

Contar com as pessoas certas é uma das chaves do sucesso

Como vimos no post anterior, a relação entre investimento e sucesso na F1 não é direta. Talvez o exemplo mais curioso seja dos alemães da BMW. Tudo bem que sua meta de fazer frente à rival Mercedes, uma marca tradicional na F1, cuja parceria com a McLaren se mostrara vencedora, era um tanto inglória, mas tudo levava a crer que eles estavam no caminho certo. Apesar de terem sido fornecedores de motor no passado, a ligação com a Williams, que teve início em 2000, parecia levá-los a uma incorporação ou, ao menos, a um modelo semelhante ao do concorrente. Os alemães injetaram muito dinheiro na equipe de Grove, que contou com o segundo maior orçamento, ficando atrás apenas da Ferrari, em 2002: os US$ 353.3 milhões resultaram num vice-campeonato de construtores.

Só faltou a última meta para a BMW: disputar o título

Como a incorporação da Williams encontrou uma grande barreira nos chefes da equipe, a solução foi a compra da Sauber, em 2006. Com o total controle do time, a BMW estabeleceu uma meta: pontos no 1º ano, pódios em 2007, vitórias em 2008 e lutar pelo campeonato no ano seguinte. O orçamento foi mantido no mesmo nível dos tempos de Williams – embora os rivais tenham aumentado bastante seus gastos na época, levando a agora BMW Sauber ao 6º lugar entre os mais gastadores – e os planos corriam bem, até que o mal nascido carro de 2009 deixou o time bem longe das pretensões da montadora. Alegando preocupações ambientais, os alemães deixaram a F1 quando viram que, além de investimento e planejamento, era necessário ter paciência para vencer na categoria.

Foi o que não faltou à Red Bull. Como Mark Webber bem disse após vencer em Mônaco ano passado, eles um dia foram a piada do paddock e hoje são o time a ser batido. Investiram bastante e de maneira planejada, assim como a BMW, mas perceberam que a F1 traz algumas surpresas e não é tão engessada quanto as metas alemãs.

Ao final de 2004, a Jaguar vendeu sua estrutura em Milton Keynes para o milionário austríaco do ramo de bebidas energéticas Dietrich Materschitz, pelo preço simbólico de US$ 1 somado à promessa de investir US$ 400 milhões nos 3 anos seguintes. Materschitz passou, então, a recrutar profissionais de outras equipes, como Gerhard Berger, Adrian Newey, Geoff Willis e Neil Martin, ao invés de contratar pilotos caros. Preferiu trazer David Coulthard e Mark Webber já em fim de carreira, para ajudar a desenvolver o carro, e apostou em jovens talentos de seu programa de desenvolvimento. Embora tenham sofrido muitas quebras nos primeiros anos, o time logo deu um salto de produção em relação aos anos de Jaguar, pulando de 10 para 34 pontos já na 1ª temporada.

Tudo bem que a Red Bull se esforçou para virar a piada do paddock

Mesmo assim, o time ainda era tido pelos concorrentes como apenas uma ferramenta de marketing da Red Bull, e não como uma equipe séria. Mas a genialidade do projetista Adrian Newey finalmente fez a diferença e, aproveitando-se das mudanças no regulamento de 2009, lá estava a “piada do paddock” lutando pelo campeonato até a penúltima etapa. E em 2010, com a evolução do carro, veio o primeiro título de pilotos e de construtores.

O orçamento da Red Bull, pelo menos oficialmente, não é dos maiores, mas os cerca de US$ 200 milhões têm sido suficientes para acompanhar o ritmo de desenvolvimento dos gigantes Ferrari e McLaren. Se as acusações dos rivais, de que o time vem desrespeitando o acordo de restrição de gastos, nosso assunto de amanhã, são choradeira de perdedor ou verdade, é difícil saber. O fato é que eles são um exemplo de como investir corretamente na F1.

Dinheiro não é garantia de felicidade na F1

É comum ter os times que lutam pelo campeonato encabeçando a lista dos maiores gastadores a cada temporada, o que leva à conclusão inicial de que dinheiro é fundamental neste negócio. Porém, isso não é regra. A invasão das montadoras na categoria, que marcou a primeira década dos anos 2000, foi a demonstração prática de que um grande orçamento não é prova de sucesso. Os japoneses da Toyota e da Honda, para citar os exemplos mais claros, gastaram os tubos e abandonaram a “brincadeira” de mãos abanando.

Os maiores times têm mais recursos porque atraem mais patrocinadores e gastam mais porque têm os melhores profissionais a bordo e continuam desenvolvendo o carro, em paralelo à concepção do modelo do ano seguinte, até a última prova, caso estiverem lutando pelo título.

Um time médio até gostaria de gastar todo o possível, mas o normal é que tenha mais dificuldade em atrair patrocínio e investimento. A não ser, é claro, que ele seja controlado por uma grande empresa disposta a investir o que for preciso para promover sua marca.

Os mais otimistas podem dizer que a Red Bull sempre teve a vitória em seu DNA

Ainda mais se esta empresa for uma montadora de carros: qual a valia para quem trabalha com automóveis manter uma equipe de F1 que não vence? Qual a mensagem que você mandaria para seus possíveis consumidores se andasse no meio do pelotão?

Paralelamente a isso, a manutenção do investimento no esporte está interligada ao desempenho financeiro da montadora fora dele. A Ford, dona da Jaguar, foi a primeira a pular fora do barco. Seu investimento não era dos maiores – estima-se que, depois de comprar a Stewart por cerca de US$ 100 milhões, investiu cerca de US$ 160 milhões por ano, praticamente uma barganha quando o assunto é F1. Não coincidentemente, caiu do 4º lugar que o time do tricampeão Jackie Stewart havia conseguido em 1999 para o 9º lugar no ano seguinte, com apenas 4 pontos marcados. Não melhorou muito nas temporadas seguintes, marcando uma média de 11,25 pontos por ano até vender a equipe para o milionário Dietrich Materschitz, dono da fabricante de energéticos Red Bull. Pouco tempo antes, quedas nos lucros da Ford foram anunciadas.

A história recente também mostrou que, assim como a economia, a abundância também não é garantia de sucesso. A Honda percorreu o mesmo caminho da Jaguar: começou fornecendo motores para a BAR e tomou o controle definitivo da equipe em 2005. O orçamento da BAR-Honda já não era dos mais enxutos: US$ 225.1 milhões em 2002, por exemplo, mas chegou perto dos US$ 400 milhões em 2008.

Após um começo animador, com o 4º lugar entre os construtores em 2006 e um ótimo campeonato de Jenson Button, o time caiu drasticamente de produção e marcou apenas 20 pontos se somados os dois anos seguintes. Em meio a notícias de prejuízos da montadora, os japoneses anunciaram sua saída da F1 no final de 2008.

Japoneses deram dois exemplos de como não fazer na F1

Curiosamente, apostando todas as suas fichas num grande pacote de mudanças nas regras, o time havia contratado Ross Brawn, um dos pilares da era Schumacher na Ferrari, e concentrara seus investimentos e esforços, que incluíam a utilização simultânea de 2 túneis de vento, no projeto de 2009. Desistiram meses antes de ver o fruto de todo esse esforço detonar a concorrência e dominar o campeonato, sob o nome de Brawn.

Especula-se que o estilo de gestão japonês, mais horizontal, e a consequente demora na tomada de decisões tenha sido o fator chave para o fracasso da Honda, teoria que ganhou força com a ainda mais desastrosa experiência da Toyota na categoria.

Eles estouraram todos os limites do que se imaginava ser possível gastar na F1: com um orçamento beirando os US$ 450 milhões anuais, marcaram em média 34,8 pontos em cada um de seus 8 anos na categoria. Em outras palavras, gastaram quase US$ 13 milhões por ponto! A média é alavancada pelos 88 pontos de 2005, um ano atípico para quem nunca passou do 2º lugar em nenhuma das 276 oportunidades que teve (contando ambos os carros).

O fato de terem insistido em pilotos experientes que nunca tiraram aquele algo a mais do carro, como Olivier Panis, Ralf Schumacher e Jarno Trulli, ou a falha em formar um corpo técnico mais eficiente são algumas das explicações plausíveis para o insucesso da Toyota, que contou com investimento e paciência de sobra. Mas o fato é que o time viveu uma montanha-russa de resultados e, já sem a concorrente Honda fazendo-lhe sombra, decidiu abandonar seu projeto ao final de 2009. E a verdade é que não fez falta.

Red Bull e Ferrari um passo à frente de Mercedes e McLaren

Tudo indica que Adrian Newey acertou a mão outra vez

Sabemos que uma equipe tem um bom teste quando não passa por muitos problemas, não necessariamente quando seus carros lideram a tabela de tempos. E, nesta ótica, Red Bull e – um degrau abaixo – Ferrari têm motivos para estarem confiantes ao menos para este início de temporada.

Vendo os carros desfilarem pelo circuito de Barcelona, o comentarista da TV britânica e ex-piloto Martin Brundle fez a seguinte análise: “A Mercedes tem tração ruim, a McLaren parece como se estivesse em pneus frios o tempo todo, as demais balançando”. Fica óbvio que todos têm trabalho a fazer.

É claro que ainda há tempo para se encontrar em meio aos dados coletados nestas 3 sessões de testes e acrescentar pacotes, principalmente aerodinâmicos, que podem mudar a história daqui para frente, mas, ao mesmo tempo em que Red Bull e Ferrari apresentam boa confiabilidade e bom ritmo nos long runs (várias voltas em sequência, simulando situações de corrida), McLaren e Mercedes acumulam problemas.

Os alemães pareceram evoluir nestes 4 dias de testes em Barcelona, completando 427 voltas e algumas simulações. No entanto, não se livraram totalmente do que os ingleses chamam de “gremlins” no carro, especialmente em seu KERS, e também não chegaram a empolgar no ritmo dos long runs. O diretor Norbert Haug admitiu que, se o campeonato começasse hoje, seus pilotos estariam fora do top 10. Pode estar blefando, mas parece que a briga da flecha de prata é mais com a Renault que com os times dominantes.

Quanto as equipes andaram até agora nos testes

Equipe Voltas em Barcelona Total
Ferrari 435 1184
Red Bull 349 1002
Mercedes 427 968
Sauber 392 926
Renault 363 867
Force India* 272 863
Williams 351 863
Toro Rosso 317 847
McLaren* 331 843
Virgin 329 764
Lotus 251 429
Hispania** 188 375

*usaram o carro do ano passado nos primeiros testes

**ainda não estreou o carro de 2011

Embora também use o KERS Mercedes, a McLaren pode, ao menos, confiar no equipamento. Seus problemas são outros, decorrentes do risco assumido com o novo projeto: de tão inovador, qualquer pequena mudança se torna uma odisseia para os engenheiros. Além de ter lançado o carro após o primeiro teste, a equipe também se mostra indecisa em relação a qual a melhor saída para os escapamentos – o que demanda tempo: o time demorou 2h para reposicionar o escapamento no teste de Jerez. Nada disso ajuda a garantir quilometragem. Hamilton conseguiu, enfim, cruzar a barreira das 100 voltas no último dia de Barcelona, mas o time contabilizou apenas 331 nos 4 dias.

McLaren anda sofrendo com carro inovador

Para exemplificar os problemas do time de Woking, no sábado Hamilton deveria fazer uma saída de 11 voltas. Ao invés de fazê-las em sequência, a cada uma que completava, voltava aos pits para mexer no carro. Terminou o dia um pouco cabisbaixo. “Vejo o Webber fazer 139 voltas e só posso rir”, admitiu. O inglês também parece, observando seu ritmo nas saídas mais longas que fez até agora, estar castigando mais os pneus que os rivais. Na próxima bateria de testes, a partir do dia 8 de março, poderemos ter uma ideia melhor do verdadeiro ritmo da McLaren.

A volta de Felipe Massa no final do treino de Barcelona foi numa simulação de classificação mas, como a Red Bull ainda não tirou o máximo do carro, seu melhor tempo entre os 4 dias não quer dizer muita coisa. Os engenheiros acreditam que os atuais campeões mundiais estejam 0.4s à frente da Ferrari. Como o melhor tempo do 3º dia, de Nico Rosberg, também foi resultado de um ensaio de uma volta lançada, podemos dizer que a Mercedes, 0s5 mais lenta que a Ferrari, tem muito trabalho pela frente.

Alguersuari disse acreditar que a Toro Rosso está à frente entre as intermediárias. Curiosamente, o espanhol afirmou que seu carro está entre 0.8s a 1s dos Red Bull, enquanto Rubens Barrichello vê 0.7s entre sua Williams e os atuais campeões. O fato é que ambas as equipes parecem ter melhorado, embora o KERS esteja dando uma dor de cabeça e tanto ao time do brasileiro.

Como a Sauber se beneficiou do uso de todo o conjunto traseiro da Ferrari, incluindo a suspensão, é esperado que a equipe de Kobayashi e Perez também deixe a Force India para trás.

É difícil julgar o ritmo da Lotus, que tem mostrado velocidade – calcula-se que o time tenha ganhado 1s em relação ao ano passado – e falta de confiabilidade. O fato de andarem sem o KERS no início da temporada pode custar caro, principalmente nas largadas. A Virgin, por outro lado, tem conseguido dar diversas voltas, mas fica devendo no quesito performance.

Para onde vai o orçamento das equipes de F1?

Os custos da F1 são maiores que das demais categorias porque esta é a nata do automobilismo. É um campeonato de construtores, então o custo do carro de F1 é muito maior, uma vez que uma das funções da categoria é desenvolver e se equipar com tudo o que há de melhor quando o assunto são carros de competição. É claro que uma fatia considerável é gasta com marketing, mas qual seria o sentido de tanta abundância se ninguém fosse lucrar?

O aumento da importância da tecnologia a partir do final dos anos 1980 já começou a escalonar os gastos, que chegaram a números impressionantes em meados da primeira década de 2000. Capitaneados por seis montadoras (considerando a Mercedes como parceira e então acionista da McLaren), os orçamentos chegaram aos 450 milhões de dólares ao ano.

Não por acaso, a FIA passou a impor regras que limitavam alguns grandes focos de gastos e foi fechado um acordo entre as equipes para que os investimentos caíssem, mas isso é assunto para quinta-feira.

A restrição aos motores não é coincidência

Uma das restrições é no motor, que hoje tem que durar, efetivamente, 2,5 finais de semana de corrida, embora as equipes utilizem os propulsores de forma menos ortodoxa. Olhando a “tabela de preços”, a FIA acertou em mirar primeiramente neles. Os motores representam grande parte do orçamento – e explicam em parte porque times que fazem seus próprios modelos estão na frente em qualquer lista de gastos.

Outra peça que compromete o orçamento é o câmbio. Não coincidentemente, o atual regulamento prevê que o equipamento tem que durar 5 corridas. Veja o valor estimado de alguns componentes:

Quanto custa cada peça de um F1

Motor US$ 214.300
Monocoque US$ 117.900
Câmbio US$ 148.600
Telemetria US$ 137.150
Sistemas eletrônicos US$ 54.500
Suspensão US$ 35.300
Asa dianteira US$ 21.500
Asa traseira US$ 12.900
Escapamento US$ 11.600
Volante US$ 12.500
Tanque US$ 10.700
Bodywork US$ 8.500
Roda (4x) US$ 7.200
Visor do volante US$ 5.200
Caixa de direção US$ 4.300
Discos de freio (4x) US$ 4.800
Pneus (4x) US$ 2.600
Pedais US$ 2.200
Espelhos US$ 1.300

De acordo com uma estimativa publicada na revista F1 Racing de março de 2008, o motor aparece como o grande vilão das contas das equipes. É claro que quem compra as unidades não consome tanto de seu orçamento com o equipamento. Na outra ponta, a exploração de tecnologias no desenvolvimento dos propulsores é interessante para as companhias que os fornecem, o que justifica o investimento maior.

Equipes como a Honda tinham 2 túneis de vento operando 24h por dia

Divisão de Gastos

Motor 50%
Pesquisa e desenvolvimento 8,8%
Produção de peças 7,5%
Equipamentos 6,3%
Equipe de corrida 6,3%
Pilotos 5%
Equipe de testes 5%
Sistemas hidráulicos 3,8%
Aluguel, contas gerais 3,8%
Prospecção de patrocinadores 3,8%

Em dados de 2004, antes das restrições impostas pela FIA, aparece outro comedor de dinheiro, o túnel de vento, cujo uso é bastante restrito hoje em dia. As maquetes em tamanho real só podem ser utilizadas 4 vezes por ano (se não forem realizados testes em linha reta). No restante do tempo, apenas escalas de até 60% são permitidas. Outro gasto que anda bem mais reduzido é com os testes, que geravam contas ainda mais “gordas” e hoje não podem passar de 15.000km por equipe. Por outro lado, essa restrição fomenta o uso dos simuladores, longe de ser uma tecnologia barata.

Pesquisa e desenvolvimento

1. McLaren $25.50m
2. Toyota $25.10m
3. Williams $22.60m
4. Ferrari $22.40m
5. Renault $18.70m
6. Sauber $18.06
7. BAR $17.40m
8. Red Bull $11.40m
9. Jordan $7.50m
10. Minardi $7.02m

Túnel de vento

1. Ferrari $11.25m
2. McLaren $9.96m
3. Williams $9.76m
4. Toyota $8.95m
5. Sauber $8.78m
6. BAR $7.80m
7. Renault $6.18m
8. Red Bull $3.95m
9. Jordan $3.20m
10. Minardi $0.38m

Produção de peças

1. Toyota $3.40m
2. Ferrari $3.20m
3. McLaren $2.70m
4. BAR $2.40m
5. Williams $2.25m
6. Sauber $1.70m
7. Renault $1.62m
8. Red Bull $1.45m
9. Minardi $0.75m
10. Jordan $0.64m

Motores

1. Toyota $192.50m

2. BAR (Honda) $181.50m
3. Williams (BMW) $169.00m
4. Ferrari $165.00m
5. McLaren (Mercedes Benz) $144.00m
6. Renault $121.00m
7. Red Bull (Cosworth) $66.00m
8. Sauber (Ferrari) $28.00m
9. Jordan (Toyota) $10.50m
10. Minardi (Cosworth) $10.00m

Viagem e acomodação

1. Ferrari $17.61m
2. Toyota $12.72m
3. McLaren $11.74m
4. Williams $9.10m
5. BAR $7.72m
6. Renault $7.33m
7. Sauber $6.65m
8. Red Bull $4.90m
9. Jordan $4.16m
10. Minardi $0.95m

Testes

1. McLaren $64.96m
2. Williams $63.04m
3. Ferrari $62.72m
4. BAR $56.64m
5. Toyota $53.06m
6. Renault $28.40m
7. Sauber $20.00m
8. Red Bull $4.88m
9. Jordan $4.20m
10. Minardi $1.78m

Equipe de corrida

1. Ferrari $35.85m
2. Toyota $28.30m
3. Williams $26.16m
4. McLaren $24.13m
5. Renault $23.90m
6. Sauber $22.89m
7. BAR $22.14m
8. Jordan $20.33m
9. Red Bull $18.59m
10. Minardi $9.77m

Folha salarial

1. Ferrari $48.30m
2. Toyota $44.40m
3. McLaren $36.12m
4. Williams $35.64m
5. Renault $34.20m
6. BAR $33.30m
7. Sauber $32.40m
8. Red Bull $26.28m
9. Jordan $15.40m
10. Minardi $7.60m

Salário dos pilotos

1. Ferrari $51.00m
2. McLaren $31.00m
3. Toyota $24.00m
4. Renault $11.00m
5- BAR $8.00m
5- Williams $8.00m
7. Sauber $4.00m
8. Red Bull $3.00m
9. Minardi $0.60m
10. Jordan $0.50m

Eventos corporativos

1. Williams $10.04
2. Ferrari $8.91
3. McLaren $8.24
4. BAR $6.69
5. Renault $6.21
6. Toyota $5.76
7. Sauber $3.96
8. Red Bull $2.59
9. Jordan $1.35
10. Minardi $0.40

Prédios e equipamentos

1. Ferrari $426.24
2. Toyota $397.21
3. McLaren $359.33
4. Williams $355.59
5. BAR $343.59
6. Renault $258.54
7. Sauber $146.44
8. Red Bull $143.04
9. Jordan $67.78
10. Minardi $39.25

O único que não quer saber de cortes orçamentários é Bernie

A notícia pode ficar um tanto escondida em meio ao furor pelo óbvio cancelamento do GP do Bahrein, sobre o qual já discutimos (em duas oportunidades, aqui e aqui), mas tem até mais importância. Quase simultaneamente, autoridades ligadas aos GPs da Austrália e da Espanha declararam que suas corridas correm risco de deixar de acontecer num futuro próximo.

Isso se enquadra muito bem no nosso tema da semana, sobre os orçamentos da F1. Ao mesmo tempo em que as regras restringem gastos e as equipes se comprometem a diminuir suas contas, Bernie Ecclestone continua fazendo contratos de cifras inimagináveis para simplesmente ceder o direito de que um país organize uma etapa do campeonato.

Os preços variam e dependem do poder de barganha da localidade. Um GP querido no calendário e que produz grandes disputas – o que gera visibilidade e, é claro, dinheiro – como o do Canadá ganhou um “desconto” para voltar à temporada em 2010, depois de não ter o contrato renovado no ano anterior. Especula-se que Montreal pague hoje 11 milhões de euros. Bastante, mas ainda longe dos 20 milhões da Turquia ou dos 60 do Bahrein.

Os australianos há tempos não andam felizes com seu evento. Primeiro, eram questões ambientais, somadas agora a sucessivos prejuízos com a queda no interesse local e aumento nas contas. “Era um bom negócio em 1996, quando custava ao governo apenas US$ 1.7 milhões mas, com a diminuição do público e os contribuintes tendo que arcar com US$ 15 milhões por ano, o governo deveria minimizar as perdas e cair fora”, disse o parlamentar Michael Danby, que afirmou ter feito uma pesquisa com moradores e revelou ter o apoio de 90% dos 600 entrevistados.

Asturianos em peso em Barcelona

Mas o exemplo mais emblemático é o da Espanha. O evento reúne mais de 100.000 espectadores somente aos domingos desde o estouro do fenômeno Alonso e, mesmo assim, dá prejuízo. Além disso, o país anda assustado com a crise financeira. “Todos sabem que temos restrições no orçamento e que a F1 é deficitária. Mas também temos que considerar o impacto econômico e como o evento promove o país”, disse Artur Mas, presidente da Catalunha, que disse não garantir a realização da prova até o final do contrato atual, em 2016.

Eles não são os únicos organizadores descontentes. Outros GPs que reúnem bom público e se tornaram tradicionais no calendário, como Bélgica e Alemanha, recentemente reportaram prejuizos e ameaçaram retirar seus eventos caso as taxas não sejam revistas. O GP da Inglaterra – outro que está sempre lotado de entusiastas – correu, recentemente, sério risco de não acontecer já que, sem apoio governamental, os organizadores tiveram dificuldades na arrecadação de fundos para fazer as reformas necessárias para competir com as obras faraônicas dos circuitos recém-integrados ao circo.

O que tem acontecido é que, mesmo levando-se em conta o impulso econômico que a visita da F1 dá a qualquer cidade – é o evento que gera mais dinheiro para uma gigante como São Paulo, por exemplo – o custo da organização está se tornando insustentável.

É uma tendência que Ecclestone cisma em não enxergar, maravilhado pelos candidatos que não param de aparecer, desde os norte-americanos até os russos. Mas quanto tempo demorará para eles receberem a conta e perceberem que os números não se encaixam? Será que já teremos perdido Spa, Hockenheim, Silverstone, e todos os outros circuitos que nos trazem boas corridas até lá?

Liberar a cabeça dos engenheiros ou os gastos das equipes?

“Os melhores pilotos, guiando, nos melhores circuitos, os melhores carros, feitos pelos melhores engenheiros. A Fórmula 1 é, essencialmente, uma categoria elitista. Isto está em seu DNA, foi por isto que ela foi criada, nos anos 1950. E, por ser a nata do automobilismo, é a que atrai maior atenção da mídia, de gente chegada em poder e em dinheiro.

A principal diferença da F1 para as demais categorias do automobilismo é ser, em essência, um campeonato de construtores. O fato de cada equipe ter que construir seu carro e de haver uma competição milionária entre os times fez com que os gastos crescessem exponencialmente ao longo do tempo. E, especialmente nos últimos 2 ou 3 anos, isso se tornou muito fora de moda. O mundo está percebendo que uma abordagem sustentável é a saída mais inteligente para continuar crescendo. Mesmo as economias emergentes que Bernie Ecclestone foi caçar no Oriente Médio e no Sudoeste Asiático vão secar – ou implodir, como estamos assistindo no Bahrein. É fácil entender, portanto, por que a F1 anda tão preocupada com seus gastos.

A Toyota mostrou que dinheiro não traz felicidade na F1

Somado a isso, a engenharia (particularmente, a aerodinâmica) evoluiu tanto que já não serve mais para as corridas de automóvel. Os modelos de hoje são tão perfeitos que usam todo o ar “bom” para si e jogam o resto para fora. Aí também fica fácil entender por que um carro feito para andar de cara para o vento não consegue seguir outro, que joga todo o ar “turbulento” para trás.

Não adianta falar em volta do efeito solo, freios menos eficientes, o que for: hoje há tecnologia para melhorar tudo o que já funcionou para dar emoção às corridas um dia”.

Este é um trecho do post que publiquei hoje no PodiumGP e que abre a discussão aqui no FasterF1 dessa semana: por que se gasta tanto na F1? Onde se gasta? Como tornar a categoria sustentável, sem mexer em seu DNA de ser a nata do automobilismo?

O que a F1 está esperando?

A Federação Internacional prefere um silêncio lacônico, Bernie Ecclestone tenta convencer a todos que a situação no Bahrein está melhorando e a associação das equipes (FOTA) chega à conclusão de que o melhor é seguir a recomendação das autoridades – do automobilismo, não do país. Todos esperam que a decisão de cancelar o primeiro grande prêmio de 2011, que hoje parece inevitável, não tenha que ser tomada.

O fato é que a F1 está cheia de conexões com monarquias árabes “amigas” do Ocidente. Parte da equipe de GP2 do filho de Jean Todt, presidente da FIA, é de investidores do próprio Bahrein. A Williams tem negócios no Qatar, a Ferrari tem um grande patrocinador e um parque temático com seu nome nos Emirados Árabes Unidos e a McLaren – cujo chefe também é presidente da FOTA – tem 41% de suas ações nas mãos justamente do governo que anda sendo questionado por sua própria população, que protesta diariamente em busca de voz ativa e mais igualdade social. Isso sem contar o contrato que, especula-se, gira em torno dos 60 milhões de euros para que os barenitas garantam seu enfadonho circuito como palco da abertura da temporada.

Bernie e o Príncipe do Bahrein

Ninguém, é claro, quer correr o risco de sair no prejuízo. Preferem esperar a situação se acalmar – ou “tudo explodir de vez”, como disse Ecclestone – para respirar aliviados e embarcar o restante do equipamento ao Bahrein, como se nada tivesse acontecido. Já vimos um esforço parecido, mesmo que a incerteza naquele momento fosse causada por outros motivos, na Coreia no ano passado. Falando em equipamentos, boa parte já foi enviada ao Bahrein, o restante iria nesta semana para os testes, de 3 a 6 de março – datas, inclusive, já devidamente reservadas também no circuito de Barcelona. Mais um motivo para estranhar a lentidão em se tomar uma decisão.

Seria difícil imaginar que o governo barenita conseguisse garantir a segurança de todos os envolvidos na F1 se continuasse a responder com o uso da força. Estamos falando de algumas centenas de pessoas, dentre elas muita gente importante no mundo dos negócios, muita gente com seguros que possivelmente não permitirão que corram tal risco, muita gente que seria um alvo preferencial. Isso sem contar na recente recomendação de países como Reino Unido e Estados Unidos, de que seus cidadãos cancelem qualquer viagem “não essencial” ao país. É lógico que explodir tudo de vez não seria muito inteligente, mesmo a curto prazo. Não coincidentemente, o príncipe do Bahrein vem tentando uma saída política para a crise.

Assim, deixariam de perder o dinheiro negociado com Ecclestone e teriam uma chance e tanto de propagandear sobre como são fundamentais para a saúde financeira e a ordem do país, como merecem ficar no poder. E não há dúvidas de que a F1 aceitaria se prestar ao papel de palco para o desfile dessa ditadura bem disfarçada, pelo menos aos olhos do Ocidente.

Como Ecclestone já declarou que a decisão está nas mãos do príncipe, se a prova não acontecer, são os barenitas que arcarão com o prejuízo. E o velho Bernie pode lavar as mãos.

Por mais que todos neguem que queiram se associar com um país de liberdades restritas, por mais que digam que só aparecem por lá uma vez por ano para correr, a F1 está envolvida até o pescoço com essa gente. A rápida dissipação dos protestos e a vitória do governo barenita é tudo por que FIA, Ecclestone e FOTA estão esperando.

Novas regras trazem sentido à volta do KERS em 2011

Depois de um ano abandonado por comum acordo entre as equipes – nunca deixou de constar no regulamento – o KERS, ou sistema de recuperação de energia cinética, volta com tudo em 2011. Com o ajuste do regulamento, o equipamento que foi usado apenas pelas maiores equipes em 2009, quando foi introduzida, será imprescindível neste ano.

O KERS é um sistema de baterias que capta a energia calorífica gerada pela frenagem e a transforma em energia cinética. Trata-se de uma das alternativas de reaproveitamento energético e é, portanto, uma das apostas para tornar a indústria automobilística mais “verde”. Voltando à F1, quando se aperta um botão no volante, essa energia é transformada em potência e ajuda a incrementar a velocidade final. Seu uso está limitado por regulamento em 6s6 por volta, gerando cerca de 80cv.

Não é exatamente um mar de potência, o que gerou um problema de custo/benefício em 2009: além do alto valor do projeto em si, como o peso mínimo do conjunto piloto + carro era de 605kg, muitos acharam que era comprometer demais a balança para obter dividendos de menos. Como resultado, apenas 4 equipes começaram o ano utilizando o aparelho: BMW, Renault, Ferrari e McLaren.

As duas primeiras logo pularam fora, enquanto a Ferrari, que parecia não conseguir tirar tanto proveito da potência extra quanto os rivais, selecionava certas pistas para utilizar o aparato, sendo a McLaren a equipe que mais apostou no KERS – e acabou sendo a dona da primeira vitória de um carro equipado com ele, no GP da Hungria.

Mecânicos com luva de borracha em volta do carro é sinal de KERS ativo

Dessa vez, no entanto, o KERS tem tudo para ficar. Ao contrário dos primeiros modelos, que pesavam por volta dos 40kg, a Mercedes anuncia que seu KERS para 2011 não passa dos 25kg.

O limite mínimo de peso do conjunto carro + piloto foi aumentado dos 605kg de 2009 para 640kg, o que elimina a questão da balança. O problema, agora, é outro: com o fim do reabastecimento, as equipes terão que ser criativas para encaixar as baterias junto de um tanque de combustível consideravelmente maior que o usado em 2009. Isso, tendo que balancear o excesso de peso concentrado na traseira com a necessidade de gerar o mínimo possível de carga nos pneus (ainda por cima pneus Pirelli, menos duráveis que os Bridgestone).

Esse aumento no limite de peso, no entanto, não elimina a necessidade de pilotos que são mais pesados que seus companheiros terem que emagrecer. Mark Webber, Jenson Button e, em menor escala, Fernando Alonso, terão que suar a camisa para reduzir a desvantagem para seus companheiros “baixinhos”. Quanto mais leve o piloto, maiores as possibilidades de jogar com os lastros.

O KERS não é necessariamente um sistema de baterias. Exemplo disso é o sistema mecânico, por meio de uma turbina, que a Williams desenvolveu (mas não usou) em 2009. A engenhoca continuará no armário por enquanto, já que não há espaço para a turbina com o tanque de combustível atual, mas trata-se de uma boa solução para 2013, quando a F1 usará motores menores e menos beberrões, de 4 cilindros. Na oportunidade, inclusive, espera-se uma boa melhora na potência que pode ser gerada pelo KERS.

A partir dos 26s dá para ver o KERS de Kimi Raikkonen em ação, na largada e relargada do GP da Bélgica de 2009:
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Há um sensível ganho nos tempos de volta quando se usa o KERS, mas sua principal valia é nas largadas. Isso porque o sistema gera um tipo de torque que funciona muito bem em baixas rotações, daí sua larga utilização também em saídas de curva. Nada impede, no entanto, que seja usada junto da asa traseira móvel. Cabe ao piloto determinar qual o melhor momento de gastar seu ‘boost’ de 6s6/volta.

O equilíbrio de frenagem também muda com o torque a mais. Vitaly Petrov revelou que teve dificuldades nos primeiros testes. “Ainda preciso me acostumar, porque a traseira escapa com mais facilidade.” O russo, inclusive, não deve estar nada feliz com a escolha de Nick Heidfeld como seu companheiro: tem 1,85m e 75kg, contra 1,67m e 58kg do alemão. É outro que deve entrar na fila do regime.

Mesmo com os atrativos dessa reintrodução do KERS – que poderiam ser muito maiores, claro, se o regulamento previsse um aumento de potência – as equipes menores optaram por não utilizá-lo. Também, pudera: a Mercedes, por exemplo, cobra nada menos que 6 milhões de euros (mais de R$ 13,5 milhões) por seu sistema. “Em uma volta lançada, ainda não é uma grande vantagem, mas em largadas e durante as corridas, sim. Nós só não vamos usar no início da temporada porque isso desviaria recursos de nosso setor de engenharia e cremos que precisamos acertar outras coisas antes de poder usufruir do KERS”, reconheceu o diretor técnico da Lotus, Mike Gascoyne. Além do time de Trulli e Kovalainen, Virgin e Hispania dispensaram o aparato.

Quem usa o KERS de quem

Equipe Sistema KERS
Red Bull Renault
McLaren Mercedes
Ferrari Ferrari
Mercedes Mercedes
Renault Renault
Williams Williams
Force India Mercedes
Sauber Ferrari
Toro Rosso Ferrari
Lotus A princípio, não usará
Hispania Não usará
Virgin Não usará

Enzo não viu a época mais vitoriosa da Ferrari

Neste último dia do especial sobre a vida e obra de Enzo Ferrari, feito a quatro mãos com o Café com F1, passaremos para os últimos anos da equipe, que viveu um verdadeiro período de glória na década anterior com Michael Schumacher e sua turm.

A fase na equipe não era nada boa. O último título havia sido conquistado em 1979 com o sul-africano Jody Scheckter e, daí para frente, o que se viu foi um período de bastante confusão na gerência da equipe, que resultou nestes anos de jejum, assim como uma traumática transição dos motores aspirados para os turbo e as tragédias que tiraram Gilles Villeneuve e Didier Pironi de comcate quando a Scuderia tinha feito um bom carro, em 1982. Coincidentemente, foi em 79 que Luca di Montezemolo deixou o time para encarar novos desafios para a carreira. Na década de 90, o mesmo Montezemolo retorna à equipe de Maranello com um grande desafio nas costas: reconstruir a Ferrari, mas sem fazê-la perder a alma que cativou milhares de fãs ao redor do mundo.

Schumacher admite que ir para a Ferrari em 96 foi a maior loucura que fez na carreira

Começou-se aos poucos a montar uma seleção de profissionais para retornar ao pelotão da frente. O começo não foi fácil, nem Nigel Mansell ou Alain Prost deram certo em Maranello. No fim de 1993, tentou fechar com o brasileiro Ayrton Senna, para que o piloto encabeçasse o projeto de levar a equipe ao título, mas ele preferiu fechar com a Williams. Para chefiar o time dos boxes, Montezemolo levou Jean Todt, que era diretor da Peugeot nos rallies. Em 1995 foi a vez de atrair a Philip Morris, gigante do setor do tabaco, que injetou um grande capital financeiro na equipe. Com o dinheiro da Malboro, foi a vez de ir atrás do piloto que levaria a equipe novamente às vitórias: Michael Schumacher, já bicampeão mundial.

A primeira temporada na equipe foi difícil, mas promissora, pois terminaram o ano com três vitórias. Para 1997, Schumacher, que já tinha a equipe nas mãos, convenceu Montezemolo a contrarar Rory Bryne e Ross Brawn, que trabalharam com ele nos títulos de 1994 e 1995. Era o que faltava para o time retornar com força a disputa do título. Em 1997 foram cinco vitórias e a disputa contra Jacques Villeneuve até o fim. Em 1998, mais seis vitórias e a briga desta vez foi contra Mikka Häkkinen. Mas o título, que era a grade meta da equipe, ainda teimava em fugir.

Em 1999, ano que a equipe completaria 20 anos de espera, era a oportunidade de ouro para conquistar o título. O carro nasceu forte, mas Michael Schumacher sofreu um acidente em Silverstone, que o tirou da disputa da temporada. Eddie Irvine, que assumiu o posto de primeiro piloto, entrou na briga pelo campeonato e levou a decisão até o fim. Schumacher voltou no fim da temporada e trabalhou para ajudar o companheiro de equipe, mas Häkkinen levou novamente o título.

Schumacher comemorando vitória com a equipe em 2000

Ano 2000, o ano da virada. Começou a era Schumacher na categoria e os frutos plantados nos últimos anos começaram a ser colhidos. Michael venceu nove das 17 provas do ano e tirou a equipe da fila de títulos. Em 2001, novamente nove vitórias em 17 provas e o bicampeonato. Em 2002, o domínio foi maior e foram 11 vitórias em 17 provas e o tricampeonato. Já em 2003 foi mais complicado, e a decisão foi para a última prova, mas foram seis vitórias e o tetra do piloto com a equipe. 2004 foi covardia, tanto que obrigou a FIA a mudar o sistema de pontuação: 13 vitórias, sendo que 12 foram nas 13 primeiras provas. Quinto título da parceria com o time de Maranello.

Tamanho domínio tinha que acabar em alguma hora e em 2005 a Ferrari viu a Renault e a McLaran passearem, pois os pneus Michelin eram bem mais rápidos que os Bridgestone. Em 2006, o alemão pendurou as luvas em grande estilo, vencendo mais sete vezes e ficando com o vice-campeonato. Não acabou aí o sucesso da Ferrari na década. Em 2007, Kimi Räikkönen substituiu Schumacher na equipe e logo no primeiro ano conquistou mais um título para o time, o sexto da década que entrou para a história.

Kimi Räikkönen, o último campeão da equipe. Até quando?

A equipe criada por Enzo Ferrari no fim da década de 40 tornou-se uma potência, tanto nas competições quanto nas vendas, e conquistou fãs nos quatro quantos do planeta. E não dá indícios de que vá diminuir o ritmo. Em 2010, lá estavam eles novamente disputando o título até a última prova, com o espanhol Fernando Alonso e, em 2011, a tendência é que eles estejam novamente na disputa. Mais do que um império, o comendador criou uma marca que se confunde com a própria F1.

A situação do Bahrein e as minas de ouro de Ecclestone

Com os conflitos entre protestantes e forças militares no Bahrein se intensificando, há uma grande possibilidade de que o último teste de pré-temporada, que seria realizado no país entre os dias 3 e 6 de março, e a prova de abertura do mundial, na semana seguinte, sejam cancelados. A GP2 Asia, marcada para este final de semana, já foi, por falta de médicos.

Um boa medida do quanto a situação é séria é a declaração de hoje de Bernie Ecclestone, que prometeu anunciar uma decisão entre terça e quarta da semana que vem. Logo ele, sempre o último a afastar qualquer chance de prejuízo, não se arrisca a dizer se a corrida será realizada ou não – claro que não consegue evitar as brincadeiras de sempre e abriu a possibilidade de fazer a corrida após o GP do Brasil, em dezembro, “uma corrida natalina”. Essa demora para um posicionamento da FIA e da FOM é praticamente uma carta branca para que o governo do Bahrein faça ‘o que for necessário’ para calar a população e evitar que o reino perca dinheiro com o cancelamento da prova – estamos falando de algo em torno de 60 milhões de euros. E isso não cheira nada bem.

Seria possível desviar os testes para a vizinha Abu Dhabi, mas dificilmente um outro GP ocuparia o lugar do Bahrein, já que parte dos equipamentos das equipes já foi enviado ao país. Seria o caso, portanto, de iniciar a temporada em Melbourne e, provavelmente, guardar o projeto do campeonato mais longo da história para depois.

Povo do Bahrein tem algo mais importante para fazer do que assistir corrida no momento

Não seria a primeira vez que um GP é cancelado por problemas políticos. Isso já aconteceu durante a ditadura argentina, nos anos 1970. O passado ainda guarda algumas histórias inacreditáveis de momentos em que a política invadiu o automobilismo, como o sequestro de Juan Manuel Fangio quando este foi a Cuba para o GP de Havana. Mas nada pode ser comparado às proporções que o esporte tomou nas últimas décadas.

Correr em países de regimes autoritários também não é novidade para uma categoria que esteve na África do Sul do Apartheid (dos anos 60 aos 80), no Brasil da Ditadura Militar (anos 70 e 80), na Argentina da Guerra Suja (de 1976 até 1981), na Espanha de Franco (começo dos anos 50, e depois entre fins dos 60 até os 70), em Portugal do Salazar (fim dos anos 50), e na Hungria socialista (final dos anos 80). Hoje, além do Bahrein, Emirados Árabes Unidos, China, Malásia e Cingapura também podem entrar na lista, ao menos, das semi-democracias que gastam montanhas de dinheiro com a F1.

Curiosamente, é a segunda vez que se fala em cancelamento em bem pouco tempo. Em outubro de 2010, era a Coreia que perigava não aprontar a pista a tempo de fazer sua estreia na categoria. A lentidão das licitações governamentais e as chuvas foram as vilãs dos coreanos, que chamaram até o exércio para aprontar o básico e realizar a prova. Em 2009, foi o GP da Espanha que esteve ameaçado, contudo mais por histeria devido à gripe H1N1 que qualquer fato mais concreto.

A questão é que a expansão comercial promovida por Ecclestone não enxerga muito mais que dinheiro. Não importa de onde ele vem, se o negócio se sustenta. O que interessa é explorar mercados e cobrar uma taxa inacreditavelmente alta por isso – acredita-se que cada GP seja negociado por um preço, enquanto o Canadá pagaria RS 25 milhões por prova, a conta da Turquia chegaria a R$ 58 milhões. Não coincidentemente, os eventos de Valência e da Austrália enfrentam oposição popular, de gente que vê muito dinheiro sendo investido em algo cujo retorno não é tão claro. Se a família real sair enfraquecida dos confrontos no Bahrein, é outra mina de ouro que tende a esvaziar.

Enzo Ferrari se vai em 1988, mas a paixão não morre

Enzo Ferrari não devia estar gostando do que via naquele 1988, então aos 90 anos. Em 14 de agosto, deixou órfã sua equipe sem ter a oportunidade de ver uma salvadora vitória em Monza, a única que escapou das mãos das McLaren Honda de Senna e Prost naquele ano. Uma rara dobradinha, nos obscuros anos 1980 da Scuderia.

Na época, Enzo já não era um líder tão ativo e já não comparecia à maioria das corridas, mas fazia questão de manter-se fiel a seus princípios: o que dizer de um homem cujos funcionários tinham medo de sequer mencionar que faltava potência nos propulsores Ferrari nas reuniões com o chefe? Se um piloto reclamava, provavelmente a crítica não chegada ao chefe, que costumava dizer que “aerodinâmica é coisa de quem não sabe fazer motor”.

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Essa era sua marca: era um líder presente e implacável. “O Commendatore queria saber tudo e todas as decisões – favorecer este e aquele piloto, exercer pressão sobre aquele membro da equipa – eram tomas apenas e só por ele. Quase todos os problemas tiveram problemas com essa situação. Hawthorn, Behra, Surtees. Hill, entre outros, abandonaram a equipa por motivos pessoais. Outros, como De Portago, Collins, Bandini, estavam sob grande pressão quando tiveram os seus acidentes fatais”, contou o fotógrafo Bernard Cahier, que ra próximo de Ferrari. “Ele vivia em Maranello como um Imperador. Quando não tinha muito interesse em receber alguém, fazia o esperar durante duas horas ou mais, sem razão aparente. Até o Rei da Bélgica passou por isso… A sala dele era pontada de branco e não tinha decoração, para além de umas cadeiras e uma mesa. Uma vez disse-me, na brincadeira, que ia fazer uma placa de homenagem ao visitante desconhecido, encontrado morto na sala de espera!…”

O velho comendador já podia ir-se em paz: sua missão de criar um império construindo carros de corrida e verdadeiras obras de arte para alguns abonados e sonhos para os demais mortais estava mais que cumprido. Mesmo os anos de seca não arrefeceram a paixão dos torcedores, que acabaram sendo conhecidos simplesmente como tifosi, embora a palavra italiana sirva apenas para designar o torcedor, de qualquer esporte.

O Comendador morreu aos 90 anos, em 1988

A Ferrari se tornou ao longo dos anos um símbolo de uma Itália que poderia ser diferente da realidade caricata da política do país, da economia trepidante, da impunidade. É um toque de arte de um povo conhecido pela atenção aos detalhes, seja de esculturas e quadros, sapatos e alfaiataria, e pelo bom gosto no design.

E não é uma paixão que se resume aos amantes dos carros. A Ferrari é uma das marcas mais consolidadas no mundo, e não dá mostras de declínio. Em janeiro desde ano, a empresa ficou em 1º lugar na Itália e em 3º lugar no mundo numa classificação por “Texto 100”, que investiga citações em blogs, comunidades e espaços abertos na Internet, ficando apenas atrás do Google e da Coca-Cola

Enzo convenceu os italianos – e, com eles, muita gente ao redor do mundo – de que seus carros têm alma, que são mais que puras máquinas. A Scuderia, então, tornou-se algo sagrado. O piloto que quer ganhar o coração dessa família precisa, antes de tudo, colocar-se abaixo dela, repetir a cada momento que ela é diferente e nunca, sob hipótese alguma, deve deixar transparecer que não deu 200% de si dentro daquele carro.

Mesmo que a equipe tenha ganhado embates políticos por baixo do pano, tenha sido beneficiada por acordos comerciais e seja um constante empecilho à democracia na F1, ninguém em sã consciência quer imaginar a categoria sem o império dos sonhos de Enzo Ferrari.

Pirelli promete movimentar as estratégias de corrida

Nesse estágio em que as grandes equipes ainda não buscaram a performance pura, o mais interessante dos treinos está longe da tabela final de tempos. Afinal, certamente não veremos a Williams colocando 1s7 na Red Bull na primeira corrida no Bahrein (se a F1 for mesmo ao Bahrein, mas essa é outra história). A grande manchete desses ensaios tem sido a diferença de tempos entre a 1ª e a última voltas de uma mesma saída.

Essa diferença de tempo é o chamado drop off, que determina a degradação dos pneus. Numa situação de corrida, começando com o tanque cheio, é normal que o tempo caia à medida que o peso do combustível é eliminado, e que ele suba devido ao desgaste dos pneus. A tendência é que a diminuição do peso tenha uma ação maior, ou seja, que os tempos de volta caiam lentamente até determinado ponto em que a degradação é tão forte que eles se estabilizam. Até o ano passado, era por esse momento de estagnação nos tempos que as equipes esperavam para fazer suas paradas.

Pode apostar: pneus vão dar mais emoção às provas que a asa móvel

Com os pneus Pirelli, tudo indica que a história será diferente. Assim como ocorria na época da Bridgestone, serão 4 tipos de pneus (duro, médio, macio e super macio). A diferença entre eles é simples de entender: quanto mais rígido, mais durável e lento. Agora, a diferença entre a borracha fornecida pelos japoneses e a dos italianos promete dar muita dor de cabeça para os estrategistas – e proporcionar corridas cheias de alternativas.

São levados apenas 2 tipos para cada corrida e, salvo algum caso especial, as combinações possíveis são duro-macio e médio-super macio. As equipes não costumam divulgar com qual pneu estão testando mas, ao que parece, a diferença entre super macio e médio seria de 1s3 em média (isso depende, e muito, do carro e do estilo de pilotagem), e do macio para o duro, 2s2. Muito provavelmente, tendo em vista que um pitstop demora cerca de 25s, dependendo da pista, a hora em que vai compensar perder o tempo de trocar os pneus que continuar rodando lento na pista vai chegar muito antes do que com os Bridgestone.

É bom já ir começando a praticar pitstops...

Por isso, estamos vendo drop offs altíssimos nos testes até agora. Tomando como exemplo a saída em que Barrichello fez o melhor tempo em Jerez: depois de rodar na casa do 1min19 na 1ª volta, terminou sua saída, 7 voltas depois, andando 3s mais lento. Quando calçou os pneus duros, rodou por 25 voltas, com um drop off de apenas 2s. A Mercedes de Schumacher apresentou um quadro semelhante. O que estamos vendo até agora é que os carros mais equilibrados têm uma queda menor no rendimento: Vettel perdeu cerca de 1s em ritmo num stint de 11 voltas, enquanto Alonso fez 19 voltas, com perda de 1.2s entre as primeiras e as últimas.

Nesse quadro do F1 Fanatic, que leva em conta os stints de Schumacher, Alonso e Vettel feitos na tarde de sábado, dia em que as condições de pista mais se assemelhavam com um dia de corrida (temperatura de pista em 33ºC) é possível ver como Ferrari e Red Bull (provavelmente mais leve) mantêm uma linha com menor variação de tempos que a Mercedes.

De qualquer maneira, o espanhol disse que eles não estão conseguindo fazer mais de 40 voltas no mesmo pneu, o que confirma a tese de que serão necessárias ao menos 2 paradas.

Para a próxima bateria de testes, em Barcelona (pista comedora de pneus dianteiros esquerdos, especialmente), a Pirelli vai levar um novo super macio. Parece que é o composto mais rápido e menos durável que tem preocupado as equipes. Tanto, que os italianos confirmaram hoje que não vão arriscar: levarão os compostos duros e macios para as primeiras quatro provas (Bahrein, Austrália, Malásia e China).

O cockpit da Ferrari sempre foi lugar para os grandes

Neste terceiro dia do especial sobre a vida de Enzo Ferrari, feito em conjunto com o site Café com F1, vamos falar dos anos em que a equipe arrasou e também sobre as grandes feras que pilotaram em seus carros . A equipe de Maranello sempre causou admiração e desejos em todos os amantes do automobilismo, e com os pilotos não foi diferente. Basta ver dois exemplos recentes: Fernando Alonso tanto fez que conseguiu dirigir para a equipe e o campeão de 2010, Sebastian Vettel, anda dando declarações sobre o sonho de pilotar o carro vermelho no futuro.

O motivo para isto não é segredo! Além da enorme tradição e sucesso na categoria, a legião de fãs que conquistaram com o tempo faz com que ser piloto Ferrari eleve a carreira de qualquer um.

É difícil determinar quem veio antes: se a Ferrari é especial porque sempre teve grandes pilotos ou se esses pilotos são atraídos porque a Ferrari é especial. De qualquer maneira, logo nos primeiros anos de F1, o cockpit da equipe italiana já contava com um astro das pistas, o argentino Juan Manuel Fangio, que conquistou o título de 1956 com a Scuderia. Giuseppe Farina, o primeiro campeão da história da F1, também passou pelo time em 1952 e 1953. Mas o primeiro grande ano mesmo da Ferrari foi em 1961, quando conquistou o título de equipes e pilotos com norte-americano Phil Hill.

Enzo Ferrari, Wolfgang von Trips, Maglioli, Phil Hill e Chitti no GP da Itália de 1960

A Ferrari 156 daquele ano foi um carro revolucionário, aproveitando-se das várias mudanças que o regulamento sofreu, como a adoção dos motores de 1,5 litro. Além de Hill, a equipe contava com o alemão Wolfgang von Trips e a luta pelo campeonato ficou restrita aos dois. Até que, no GP da Itália, o piloto sofreu um acidente e faleceu. Para a última prova, a Ferrari que já estava com o título garantido, resolveu se retirar em homenagem a Von Trips, atitude que não agradou muito Phil Hill, que gostaria de festejar o título correndo em casa para sua torcida. Enzo Ferrari definia Phil Hill como um piloto que não era de alto nível, mas que era seguro e eficiente em circuitos rápidos. “Ele amava retas longas e curvas de pé em baixo, mas ele não era tão interessado nas curvas sinuosas e em circuitos mais difíceis, que exigiam precisão contínua”, disse Enzo.

A equipe também teve outras grandes temporadas, mas outra que precisa ser citada é a de 1975. Um tal de Andreas Nikolaus Lauda deu um verdadeiro show naquele ano. Ele começou muito mal o campeonato, marcando apenas cinco pontos nas primeiras quatro provas, mas daí o austríaco se transformou e venceu cinco corridas até o fim da temporada, ficando com o título. Os amigos mais próximos do comendador costumavam dizer que Lauda não fazia parte apenas da equipe Ferrari, mas também do coração de Enzo Ferrari, que tinha total admiração pelo piloto.

Niki Lauda marcou época a bordo dos Ferrari

Mas talvez o piloto mais venerado pelos ferraristas e tido como filho pelo comendador tenha sido Gilles Villeneuve. Apesar de nunca ter sido campeão pela Scuderia, a garra e determinação do canadense conquistaram o coração dos italianos. Curiosamente, o piloto sofreu por sua lealdade à equipe duas vezes. Em 1979, concordou em não ultrapassar o companheiro Jody Scheckter, que acabou sendo campeão. Depois, em 1982, viu a Ferrari de Pironi desrespeitar uma ordem de equipe e privá-lo de uma vitória em Imola. Morreu num acidente, nos treinos para a prova seguinte, contrariado. “Sua morte dos privou de um grande campeão – um que eu amava muito. Meu passado é cheio de luto por meus pais, irmão, filho. Minha vida é cheia de memórias tristes. Olho para trás e quando vejo os rostos de meus entes queridos, vejo Gilles entre eles”, disse Enzo. Segundo o diretor técnico da Ferrari na época, Harvey Postlethwaite, era a sinceridade do canadense que cativou tanto o chefe. “Ele não era político, era totalmente descomplicado. Se estivéssemos testando e ele sentia que o carro era ruim, simplesmente dizia ‘não me levem a mal, eu poderia guiar o dia inteiro, mas o carro é uma porcaria e acho que devo dizer isso’. Enzo o amava por isso.”

Enzo tinha Villeneuve como um filho

Outros grandes pilotos passaram pela equipe no decorrer dos anos: Mario Andretti, John Surtees, Jody Scheckter que conquistou o título de 1979 pela equipe, o último antes de um longo período de jejum. Mas tarde, Nigel Mansell e Alain Prost, foram os mais famosos dentre os contratados para tentar tirar a equipe de anos sem título. Sem sucesso. Mas recentemente, Kimi Räikkönen e Fernando Alonso, estrelas da nova geração, que com certeza já entraram para o hall das estrelas que passaram pela equipe.

Para fechar com chave de ouro os grandes anos da equipe, é preciso falar de Michael Schumacher e a fase entre o ano de 2000 e 2004, quando conquistaram cinco títulos mundiais. Apesar de Enzo Ferrari já ter falecido nesta época, foi o apogeu da equipe criada por ele 53 anos antes. Uma parceria que destruiu todos os recordes existentes até então na categoria.

Um dos motivos para este sucesso talvez tenha sido os novos rumos que a Ferrari tomou depois da morte de Enzo Ferrari, assunto que será tratado amanhã, no quarto dia deste especial.

Red Bull e Ferrari são os reis da confiabilidade até agora

Enquanto alguns times quebram a cabeça para entender os Pirelli (assunto sobre o qual falaremos mais amanhã), outros têm questões mais urgentes para resolver. Dos grandes, McLaren, Mercedes (com os mesmos problemas hidráulicos de Valência) e Renault não estão conseguindo tanta quilometragem quanto os líderes da confiabilidade: Red Bull e, principalmente, Ferrari – que já tem mais de 400km a mais rodados que os rivais mais próximos, justamente os rubro-taurinos. A McLaren sofreu com alguns problemas mecânicos e teve seus testes aerodinâmicos atrapalhados pelo vento nesse que foi o primeiro teste do carro novo e deu apenas 233 voltas, contra 463 da Scuderia.

Alonso e Massa andam justificando o salário

Entre as médias, é a Williams que tem enfrentado mais problemas, principalmente no KERS, enquanto a Virgin surpreende pelo número de voltas dados em relação às concorrentes mais próximas.

Quanto as equipes andaram até agora nos testes

Equipe Voltas kms
Ferrari 749 3196
Red Bull 653 2782
Force India* 591 2479
Mercedes 541 2310
Sauber 534 2274
Toro Rosso 530 2261
Williams 512 2158
McLaren* 512 2149
Renault 504 2135
Virgin 435 1834
Lotus 251 1089
Hispania* 188 753

*usaram o carro do ano passado nos primeiros testes

Quanto cada piloto andou

    Voltas Divisão em %
Red Bull Vettel 324 49%  
Webber 329 51%  
McLaren Hamilton 177 35%  
Button 244 48%  
Paffett 91 17%  
Ferrari Alonso 452 60%  
Massa 297 40%  
Mercedes Schumacher 351 65%  
Rosberg 190 35%  
Renault Kubica 200 38%  
Petrov 150 31%  
Senna 68 14%  
Heidfeld 96 18%  
Williams Barrichello 330 65%  
Maldonado 182 35%  
Force India Sutil 218 37%  
Di Resta 302 52%  
Hulkenberg 71 11%  
Sauber Kobayashi 238 45%  
Pérez 296 55%  
Toro Rosso Buemi 301 57%  
Alguersuari 198 37%  
Ricciardo 31 6%  
Team Lotus Trulli 132 52%  
Kovalainen 119 48%  
Hispania Karthikeyan 188 100%  
0%  
Virgin Glock 247 56%  
d’Ambrosio 143 44%  

Enzo Ferrari e os primeiros – vencedores – passos na F1

Continuando o especial sobre Enzo Ferrari, feito em parceria com o Café com F1, depois da criação da equipe em 1947, eles entraram de cara nas competições. Primeiramente, com os carro sports, que deram a primeira vitória à equipe. Em 1949, o americano Luigi Chinetti e o inglês Lord Selsdon conquistaram as 24 Horas de Le Mans pilotando o modelo 166M da equipe.

Chinetti e a primeira vitória da Ferrari no automobilismo

Em 1950, a Ferrari começou também a disputar a Fórmula 1, que foi criada naquele ano. Apesar de não participar da primeira prova em Silverstone, a equipe italiana já estava no grid na segunda em Mônaco. Mas a vitória só apareceu no ano seguinte, em 1951 com Jose-Froilan Gonzalez, justamente no GP Britânico. Em 1952, Enzo Ferrari conquistou o primeiro título de piloto na categoria, com Alberto Ascari, que em 53 levou o bi.

Mas Enzo mantinha, com sucesso, o braço da equipe nas competições de turismo e na década de 50 conquistou sete títulos em nove temporadas do Campeonato Mundial de Carros Esportivos. Na Le Mans, o sucesso também continuava e em 1954 estrearam uma equipe de fábrica, conquistando o caneco. Venceram também em 58 e de 1960 a 1965.

E o Brasil teve presença nesta história inicial da empresa de Enzo Ferrari no automobilismo. Chico Landi foi para a Europa no fim da década de 40 para participar de algumas provas e acabou batendo a porta do comendador para pedir um carro para competir. Ele costumava lembrar que enxugou o suor da mão direita no bolso da calça antes de estendê-la a Enzo Ferrari. Enzo teria dito ao brasileiro: “Não costumo vender nem alugar minhas máquinas. Mas vou ceder uma a você, Chico, porque você é bravíssimo.”

Chico Landi e a Ferrari verde e amarela

Mas ele pilotou apenas 1 prova com a Ferrari, no GP da Itália de 1951. Diz a história que Enzo Ferrari, que já admirava o talento do brasileiro, ofereceu-lhe um contrato para correr pela equipe na categoria, mas Landi disse que só aceitaria se pudesse pintar o carro com as cores do Brasil. Enzo não aceitou, explicando que a cor vermelha da equipe era insubstituível, e o contrato não foi para frente. Curiosamente, Enzo acabou acertando com o argentino Juan Manuel Fangio.

Seria o primeiro dos grandes pilotos que passaram pela Ferrari desde então, mas isso é assunto para o próximo capítulo.

A vaga de Kubica na Renault nunca foi de Bruno Senna

Ao contrário da onda que se criou, especialmente na imprensa brasileira, Bruno Senna nunca esteve em posição de ocupar a vaga de Robert Kubica na Renault. Usando uma declaração do chefe da equipe, Eric Boullier, no lançamento do carro, de que o brasileiro seria o piloto reserva, muita gente se esqueceu – ou fingiu esquecer – de que o acidente de Kubica criava uma circunstância extraordinária: alguém teria que assumir a liderança da equipe desde o 1º GP até, provavelmente, o fim do campeonato.

E, assim, as declarações de Boullier de que o time precisava de um piloto experiente e que Bruno só andaria para testar o carro eram ignoradas, na tentativa de inventar uma notícia que não existiu. No final das contas, mais um episódio de afobação e falta de discernimento, que acabou marcando a cobertura do acidente do polonês desde o início – mais alguém notou a tom do “Kubica volta à UTI”, nas manchetes do final de semana, como se isso não fosse um procedimento normal após a cirurgia?

E Bruno não pode ser responsabilizado por esse carnaval feito em cima de seu nome. Esperou alguns dias para se pronunciar e, quando o fez, pelo twitter, se limitou a desejar melhoras a Kubica. “Desejando ao Robert recuperação completa e rápida, para que ele possa continuar mostrando o grande talento naquilo que ele mais gosta! Correr”. Enquanto Heidfeld estava no carro, salientou que não havia uma luta pela vaga. “Animado para o teste de amanhã e espero ajudar a equipe no desenvolvimento do carro.” Mas isso não vende, claro.

Bruno não caiu na onda do "vestibular"

Chegado o “dia do vestibular”, Bruno andou, assim como Paffett na McLaren e Hulkenberg na Force India, para citar alguns exemplos, para dar informações ao time e manter-se um pouco na ativa, numa categoria em que as oportunidades de se treinar são escassas e o termo “piloto de testes” não faz muito sentido.

No final das contas, a tabela dos melhores tempos pode mostrar que Bruno foi 1s mais lento que Heidfeld – como também 1s mais rápido que Vitaly Petrov, o outro piloto titular da equipe – mas não haveria valor algum em colocá-los frente a frente, exatamente nas mesmas condições. Afinal, já que não há uma disputa pela vaga, o que importa à Renault neste momento é desenvolver o carro, testar seus componentes e avaliar o rendimento dos diferentes compostos dos pneus Pirelli combinados aos distintos níveis de combustível com os quais terão que andar nas corridas.

De acordo com os engenheiros da equipe, o brasileiro ficou a 0.2s do tempo de Heidfeld andando sob circunstâncias similares e só perdeu um pouco no quesito consistência, em que, diga-se de passagem, o alemão foi excelente. Depois de 2 saídas de checagem de sistemas, mandou ver 1:21.933, 1:21.849 e 1:21.898, em sequência, logo de cara, e em vários outros momentos mostrou lidar muito bem com o desgaste dos pneus (veja os tempos na íntegra aqui). É isso que a Renault espera dele.

Enquanto isso, Bruno fez o papel de um piloto reserva, o que o brasileiro nunca deixou de ser na equipe. Esse, aliás, foi apenas seu 2º teste na F1 (o outro havia sido com a Honda, uma vez que a Hispania não treinou). Sua verdadeira ambição não tem nada a ver com o lugar de Kubica, mas sim em mostrar em cada chance que tiver de entrar no carro que pode fazer um trabalho melhor que o inconstante Petrov para, apostando numa maior independência financeira da equipe, lutar por uma vaga como titular em 2012.

O próprio piloto adotou o tom político e apoiou a decisão de não lhe dar um cockpit agora. “Só tive um dia no carro e foi bom, mas para se preparar você precisa muito mais que isso – eles precisam de um piloto que esteja pronto”, reconheceu. E é nisso que ele tem que trabalhar.

Enzo Ferrari fez do pós-guerra uma oportunidade

Qualquer um que já tenha assistido a uma corrida de F1 percebeu que a Ferrari não é uma equipe como as outras. Não é por acaso. Ao contrário das grandes montadoras ou dos independentes, a Scuderia é uma equipe de corridas que se tornou fabricante de carros. Apesar de ser um gigante, são as corridas que estão em seu DNA. Continuando a parceria com o Café com F1, que já mostrou as trajetórias de Bernie Ecclestone, Ron Dennis, Frank Williams e Colin Chapman, além das histórias dos 30 anos do 1º título de Nelson Piquet na F1 (dá para acessar tudo isso aqui), o nome da semana é Enzo Ferrari.

E pensar que toda essa história começou mais por força das circunstâncias que por qualquer outro motivo. Enzo Ferrari nasceu em 1898, em Modena, no coração da Itália. Viu o pai e o irmão morrerem em decorrência de uma epidemia de gripe e os negócios familiares ruírem durante a 1º Guerra Mundial. Após ele mesmo ter contraído a doença e ficado com a saúde bastante debilitada, foi dispensado do exército italiano, o qual chegou a servir.

Tendo que começar do zero, decidiu apostar no sonho de infância de ser piloto de corridas. Seu pai, Alfredo, levou-o à primeira corrida quando o menino ainda tinha 10 anos, e ensinou a paixão pelo automobilismo. Sem formação, Enzo tentou uma vaga na Fiat, mas não foi aceito. Foi trabalhar, então, na CMN, uma pequena montadora italiana, em que tinha a possibilidade de testar carros e participar de corridas.

Correndo contra Tazio Nuvolari com sua Alfa Romeo

Por intermédio de um amigo, conseguiu ir para a Alfa Romeo, em 1920. Corajoso e arrojado, seguiu competindo e teve alguns bons resultados, culminando com a vitória na Coppa Acerbo, em 1924. O sucesso fez com que Ferrari se tornasse o piloto principal da fábrica. Com o novo título, poderia ter largado no já prestigioso GP da França, mas aparentemente uma crise de confiança fez com que o italiano desistisse daquela que seria sua maior corrida até então – ao invés de correr com carros de segunda mão em eventos locais, agora eram os últimos modelos da Alfa que estavam sob seu comando. Enzo ainda disputou algumas provas, tendo até sucesso, mas o acontecido serviu para mostrar que pilotar não era com ele.

Nessa época, Ferrari já era dono de uma revendedora da Alfa em Modena. Fundou sua própria companhia em 1929, a Scuderia Ferrari. Como a Alfa parou de disputar corridas na época, a função da Ferrari era prover suporte mecânico e outros serviços para que os abonados clientes da marca pudessem alinhar seus carros no grid. Em troca, Enzo trazia conhecimento técnico para sua empresa, acordo similar ao que firmou com Bosch, Pirelli e Shell.

Com as parcerias, conseguiu atrair dois grandes pilotos italianos da época, Giuseppe Campari e Tazio Nuvolari, quem Enzo considerava o melhor de todos os tempos. É claro que, com 50 pilotos – Enzo mesmo correu até 1932, até que seu primeiro filho, Dino, nasceu –, a Scuderia Ferrari colecionou títulos logo em seu primeiro ano. Nenhum deles era assalariado, apenas recebia parte da premiação pelas vitórias.

O nascimento do filho Dino fez Enzo parar de vez com a carreira de piloto

Um desses pilotos era Rene Dreyfus. Recém-chegado da Bugatti, o francês teve uma primeira impressão bastante distinta da imagem que a Scuderia tenta vender hoje. “Com Ferrari, aprendi o negócio da corrida, porque sem dúvida ele era um homem de negócios. Enzo era amigável e agradável, mas não muito afetivo. Não era como pertencer a uma família, a exemplo do que acontecia com os irmãos Maseratti, nem dava intimidade que tinha com Meo Constantini (Bugatti). Enzo Ferrari amava as corridas, sem dúvida, mas era mais do que o amor de um entusiasta: ele tinha a visão prática de que aquilo poderia resultar num império rentável.”

Na década de 1930, a Alfa Romeo queria sair de vez do mundo das corridas, mas a Pirelli convenceu a empresa de que a Ferrari poderia ser o braço esportivo da montadora. Mesmo contando com uma boa estrutura e ótimos pilotos, foram anos difíceis para os italianos, que não conseguiam superar a força dos alemães da Mercedes.

Em 1937, a Alfa Romeu decidiu retomar o controle de seu departamento de corridas e Enzo não admitiu ser relegado novamente ao posto de funcionário. A Scuderia, então, rompeu com a montadora e passou a andar com as próprias pernas.

Como, por contrato, eles não podiam competir contra a Alfa por 4 anos, Enzo criou a Auto-Avio Costruzioni e passou a construir seus próprios carros. A 2ª Guerra Mundial interrompeu a disputa e inclusive, devido aos bombardeios, fez a Scuderia mudar-se de Modena para a pequena Maranello. Ao invés de carros, produzia artigos bélicos. Apenas em 1947, quando a poeira baixou, Enzo Ferrari fundou a Ferrari S.p.A, empresa que se tornaria um império de sonhos e paixões.

O que a preferência por Heidfeld diz sobre a Renault

Tudo bem que trazer de volta de uma segunda possível aposentadoria um piloto cujo único recorde na F1 é o de maior número de GPs sem vencer uma corrida sequer não é nada comparado ao craque que a Renault tinha liderando sua equipe até o acidente do último domingo, mas é uma clara opção pela segurança. Todo mundo sabe o que Nick Heidfeld pode fazer, enquanto apostar por um novato seria uma loteria.

Heidfeld sabe dar os atalhos para que os engenheiros desenvolvam o carro – algo fundamental, especialmente para um projeto inovador como esse Renault –; não vai se apavorar naquele momento em que é preciso tirar tudo do carro no finalzinho do Q2 (e a classificação tem se mostrado o grande calvário dos pilotos menos experientes); vai saber dosar os pneus para se aproveitar da estratégia; não vai se afobar por uma ultrapassagem; e ainda tem mais experiência que os demais com os novos pneus, pois foi piloto de testes, mesmo que apenas na fase inicial, da Pirelli. Em 173 GPs, soma uma pole, 8 segundos lugares e 4 terceiros.

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Por outro lado, sabem também que o alemão nunca foi daqueles pilotos brilhantes, que levam o carro a posições as quais ele não merece. É correto, aproveita oportunidades em que os menos experientes podem falhar, como em provas na chuva, mas, por exemplo, se a Renault estiver no mesmo nível do ano passado, ele estará longe do pódio que Kubica conseguiu em Mônaco.

Ou seja, para uma equipe que ainda não está no nível de uma McLaren, Ferrari e, principalmente, Red Bull, e depende do brilho de seu piloto para alçar voos mais altos, trata-se de uma opção ultraconservadora. A Renault mostra, com isso, que quer minimizar os danos, e não arriscar um salto. Sabemos que os pontos no mundial de construtores valem muito dinheiro, e financiamento não é exatamente o forte da equipe.

Num pensamento mais ousado, eles poderiam muito bem arriscar. E se Bruno Senna fosse capaz de fazer um trabalho tão bom quanto Heidfeld? Seria isso tão difícil de acontecer, tendo em vista que o brasileiro foi 3º na F-3 Inglesa em seu segundo ano de carreira e vice-campeão da GP2 2 anos depois? É lógico que poderia dar muito errado: Bruno poderia classificar-se mal, se envolver em muitos acidentes, etc. – e por isso é uma aposta. No entanto, já que perderam Kubica e já têm o ano comprometido, por que não?

Ao que parece, a Renault só tinha reserva para Petrov

Paralelamente a tudo isso, é interessante a dinâmica entre o que acontece no hospital e na cabeça dos dirigentes – quem será que está tomando essas decisões? – da Renault. Com as notícias que vêm da Itália, de que Kubica conseguiu mover os dedos (o que significa que a reconstrução das veias deu certo e que sua mão está salva), cada vez fica mais claro que a volta do polonês é mais uma questão de “quando” que de “se”, embora ainda seja muito cedo para responder “em que condições”. E a preferência por Heidfeld denota a confiança da equipe de Enstone na volta rápida de sua estrela, já que eles não parecem sentir a necessidade de encontrar um substituto para o projeto, apenas para o cockpit.

Por outro lado, toda essa revolução causada pelo acidente de Kubica é mais uma prova do risco em se contratar um piloto pagante, no qual a equipe não deposita qualquer esperança, a não ser receber os pagamentos em dia. Se acontecesse com Vettel, Webber assumiria a liderança e Ricciardo, a vaga; na McLaren, Button faria o papel de Hamilton tranquilamente e Paffett está pronto para subir ao cockpit; na Ferrari, Massa estaria na mesma posição, ficando a dúvida se os italianos, que têm a tradição de só colocar pilotos rodados em seus carros, optariam por Bianchi. Todos teriam seu prejuízo, é claro, mas poderiam confiar muito mais, tanto nos pilotos que seriam alçados à liderança, quanto nos substitutos, já envolvidos no trabalho da equipe. Na hora da verdade, ficou claro qual o peso de Petrov na Renault. Nenhum.

Para Kubica, rali é treino que a Fórmula 1 não permite

Ver pilotos de F1 competindo em outras categorias foi ficando cada vez menos comum à medida que o esporte foi se profissionalizando e se capitalizando. Tanto, que perder um piloto extraordinário numa categoria menor, como aconteceu com o bicampeão Jim Clark, que morreu num F2 nos anos 1960, hoje seria impensável.

Seria. O acidente de Kubica numa prova de rali acendeu a questão sobre qual o limite dos riscos que um profissional pode assumir fora das pistas de F1 – em contraposição à necessidade driblar a drástica diminuição do tempo de contato com o carro com a limitação dos testes. Num esporte tão ligado à imagem e ao dinheiro, a resposta mais lógica seria: o contrato é o limite. E o acordo firmado pelo polonês e sua equipe permitia sua participação nesses eventos. Quando o piloto assinou com a equipe francesa, que passava por um 2009 deplorável, tinha grande potencial de barganha, e conseguiu uma abertura muito maior do que nos dias de BMW.

Kubica é o símbolo da felicidade a postos dentro de seu carro de rali

Reforçando essa tese, Nelsinho Piquet revelou hoje que a própria Renault era bastante restritiva quando ele pilotava na equipe. “Lembro que eles eram céticos até para me liberar para corridas de kart. Eles não queriam deixar. Sei, porque falo com muita gente de lá, que o Robert é cabeça dura e que deve ter insistido tanto que eles concordaram”, afirmou. “Mas acho que agora todos os contratos vão ficar ainda mais restritos.”

Para o polonês, e ele deixou isso muito claro na entrevista de hoje para a Gazzetta dello Sport, a questão é pragmática: “sou um piloto melhor porque fiz vários ralis ano passado. Eles ajudam na concentração, especialmente agora que quase não há mais testes na F1. Performance na F1 é fruto de uma série de detalhes e o rali permitiu que eu trabalhasse certos aspectos em que ainda tenho que melhorar”.

Em outras palavras, já que não pode treinar em seu próprio esporte, procura outro e, no rali, encontra uma especificidade maior que em outras modalidades. Há pilotos que apostam no triathlon, mais pela questão física, há outros que pegaram gosto pelo xadrez, do lado da concentração. Mas nada é mais específico que guiar.

Webber nem gosta de lembrar dos dias de recuperação

É lógico que sua autoconfiança não permite que sequer imagine a possibilidade de se machucar numa brincadeira dessas. Caso contrário, nem na F1 poderia estar. Na sua cabeça, quanto maior o risco, maior o prazer de sair ileso. E ponto.

É claro que poderia optar pelo kart, e o faria se a equipe não permitisse correr com brinquedos mais sérios, mas o fato é que a Renault achou que disputar ralis era algo razoável e, se, como diz o polonês, isso o faz um piloto melhor, é uma aposta: se meu piloto acredita que estará mais bem preparando correndo determinados riscos, eu permito que ele o faça e assumo as consequências ou tomo uma decisão mais conservadora e fico imaginando o que poderia ter sido? É uma questão difícil.

Mark Webber, que correu as primeiras etapas de 2009 ainda se recuperando de um grave acidente de mountain bike, quando fraturou a perna, fala em equilíbrio. “Precisamos nos sentir vivos fora das pistas. No final das contas, você é adulto e toma as decisões, mas também aceito que há uma grande equipe que trabalha por nós e a qual representamos. Não é fácil encontrar o equilíbrio correto”, disse o australiano, que logo se distanciou da situação de Kubica – “o que aconteceu comigo é como se tivesse quebrado uma unha perto do que aconteceu com ele”.

De qualquer maneira, Kubica só pensa na recuperação. “Quero voltar mais forte que antes, porque depois desses acidentes você não é o mesmo, você melhora.”, acredita. “Aconteceu em 2007, depois da batida do Canadá. Voltei mais forte mentalmente. O piloto não é só acelerador e volante. Há uma diferença entre quem guia a 80% e a 95%.” Confiante na recuperação, disse estar seguro de que volta neste ano. E para o rali? Aí vai ser um pouco mais difícil convencer os chefes.

 

O quanto se pode testar na F1?

Teve quem chiou quando a Ferrari andou por dois dias seguidos em sua pista em Fiorano logo após o lançamento do F150, dizendo que, mal o campeonato começara, os privilégios e a vista grossa aos italianos já estavam a todo vapor.

É lógico que a Scuderia, do alto de toda sua imponência e arrogância, alimentou a ideia de que, com ela, as coisas são diferentes. E houve momentos no passado em que isso ficou claro. Porém, testes como este são permitidos por regulamento.

Além dos ensaios coletivos, como o que começa hoje em Jerez, o regulamento prevê outras duas oportunidades de colocar os carros na pista fora dos finais de semana de corrida: em testes aerodinâmicos em linha reta e para filmagens comerciais. O chamado shakedown, ou seja, algumas voltas para checar os sistemas de um carro novo, não é citado no regulamento, mas sua prática provavelmente entra nas regras como um dia de exibição/promoção.

É claro que, como acontece com tudo na F1, as equipes usam essas brechas de regulamento ao máximo e utilizam cada segundo de pista para trabalhar na performance de seus carros.

E isso não acontece só entre as poderosas. Até a Hispania vai a Monza nesta semana para uma “rodagem promocional” para a Pirelli. A Lotus já fez a sua, no dia que rodou sozinha em Valência. Na ocasião, Trulli e Kovalainen deram 90 voltas, mais que na soma dos outros dois dias em que estiveram na pista espanhola (53), testando junto das outras. Pelo menos o vídeo ficou bom:

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É o artigo 22 do regulamento técnico que rege essa parte e ele permite que os carro rodem nas seguintes condições:

  • eventos de promoção ou demonstração, em que devem ser usados pneus providos especificamente para tal (não há especificação de número de voltas ou de quantas vezes isso pode ser feito no ano);
  • um dia de testes aerodinâmicos, a serem realizados em retas ou raios constantes aprovados pela FIA, o que pode ser repetido 4 vezes entre 1º de janeiro e o final do campeonato. Qualquer um desses dias pode ser substituído por 4 horas de sessão num túnel de vento de escala 100% (fora isso, só é permitido usar escalas de até 60%);
  • nenhum competidor pode ter mais de 15.000km de teste em pista durante o ano.

Isso quer dizer que, no final das contas, é a quilometragem final que vai limitar os dias de testes, lembrando que toda a restrição visaria o corte de custos. O resultado é visível, mas não nos orçamentos, e sim na dificuldade dos estreantes (equipes e pilotos) entrarem no ritmo dos demais. Se lembrarmos que, há 20, 30 anos, a F1 vinha até o Rio de Janeiro para fazer seus ensaios de pré-temporada, dá para arriscar que não são exatamente os testes que andam engordando a conta.

Por que as mãos são importantes para um piloto?

As informações da Renault dão conta de que Kubica tem melhorado a cada dia e já está “pronto para lutar por sua volta”. E ninguém duvida disso. Se há alguém que não viveria sem as corridas, seria ele. Todos torcemos para que seja uma questão de tempo, mas é claro que a extensão de suas lesões na mão preocupam.

Há quem diga que se pilota com a cabeça, mas é um conjunto de sensações e reações que constroem um grande piloto. As mãos têm um papel fundamental nisso tudo. Elas, juntamente do antebraço, precisam se fortes em certos momentos, delicadas em outros. Além disso, é importante ter mobilidade nos dedos, cada vez mais solicitados para trocar marchas, acionar a embreagem, o rádio, a bebida, o diferencial, o KERS, a asa traseira móvel e modificar demais configurações por meio do volante.

A força é necessária principalmente nas curvas de alta. Com o restante do corpo preso ao cockpit, não há muito espaço para usar outros músculos como uma espécie de alavanca para fazer a curva. É isso que fazemos quando manejamos um objetivo muito pesado: quem nunca se viu retorcendo-se todo/a para abrir uma compota, por exemplo? Buscamos força das costas, até contraímos o abdome inconscientemente.

Um piloto não tem espaço para fazer isso e depende exclusivamente de seu antebraço para enfrentar uma Puhon em Spa ou uma curva 8 na Turquia. Nas curvas de alta, o normal é virar o volante de uma vez e segurá-lo até o final na mesma posição, sendo as correções feitas mais no pedal – há pilotos que apoiam os cotovelos no cockpit, para ter mais força. E isso por repetidas vezes. Então é fácil entender por que força (de músculos e tendões) e resistência são essenciais.

Rodada à parte, aqui dá para ver bem como o braço tem que segurar toda a força G, que o empurra para o lado contrário da curva:
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Ao passo que, em curvas de média e baixa velocidades, é a delicadeza que faz a diferença. Para isso, é importante estar com a sensibilidade em dia (e esta vem dos nervos). O volante tende a ficar mais “leve” quanto menos aderência houver na pista. Essa é a dica para, mesmo antes do carro começar a sair de frente ou de traseira, o piloto fazer a correção.

São basicamente destas valências que Kubica precisa para voltar em alto nível, uma vez que as demais lesões são apenas fraturas, relativamente mais fáceis de curar – lembrando que uma contusão na perna direita, como a dele, é bem menos prejudicial para um piloto que na esquerda, que controla o freio e precisa ter uma força explosiva muito grande.

E, é claro, recuperação é sempre muito individual. Quem é mais forte mentalmente tende a se sobressair. Há alguns meses aqui no Faster, publiquei num post sobre a importância do treinamento mental para os pilotos algumas declarações de seu médico, Ricardo Ceccarelli, que inclusive estava na cirurgia do polonês. O profissional comentava sobre o fato de Kubica, acertar as 100 tentativas em 1min num exercício em que aparece uma palavra colorida e você tem que checar se palavra e cor coincidem – para piorar, os botões de “verdadeiro” e “falso” trocam de lugar. O polonês é capaz de acertar 300 sem errar uma sequer, é o recordista da Formula Medicine, empresa especializada em treinamento de pilotos, que presta serviço, inclusive, vários dos que estão no atual grid da F1. “Isso indica não apenas uma imensa concentração, como também um cérebro muito veloz para processar informação. É possível treinar o piloto, por meio de exercícios como esses, a usar menos energia para ter essa mesma velocidade de raciocínio, por meio da repetição.” Definitivamente, não estamos falando de qualquer um.

Turma de 2011: Hispania

Em 2010
Colocação/pontos: 11º, 0 pontos
Melhor resultado: 14º (3 vezes, duas com Chandhok e 1 com Senna)
O que levar para 2011: instinto de sobrevivência
O que esquecer: absolutamente todo o resto

Quem tá vivo aparece

Narain Karthikeyan
Chennai, Índia, 14.01.1977
19 GPs
Por que Karthikeyan: nada explica a escolha, além do dinheiro indiano
Em 2010: correu 9 das 25 etapas da Nascar Truck Series e foi eleito o piloto mais popular

 

Karun Chandhok não tinha dado uma volta sequer em seu Hispania quando entrou na pista para a primeira classificação de 2010, no Bahrein. Isso já explica a situação do time, que começou como um bom projeto, nas mãos do ex-piloto Adrian Campos, e hoje segue por caminhos desconhecidos, comandada pelo empresário José Ramón Carabante e o engenheiro mal encarado Colin Kolles. O carro, que no ano passado não contou com nenhuma evolução no ano todo – nem a asa dianteira foi modificada, de Mônaco a Monza – não deve sofrer exatamente uma revolução em 2011.

Tudo bem que o projeto antigo era da Dallara e o novo foi desenvolvido por engenheiro ex-Honda e Red Bull Geoff Willis, além de contar com transmissão e câmbio da Williams. No entanto, diante da prometida evolução dos Virgin e Lotus e do péssimo exemplo de gerência que Kolles deu em 2010, mesclando seus 4 pilotos a esmo, é difícil imaginar que o time saia da última fila do grid.

As imagens em computador divulgadas até agora apontam para algo que parece mais um carro de F1 que o do ano passado, com mais detalhamento aerodinâmico. O bico é mais baixo, a exemplo do Virgin, e a carenagem do motor é mais longa, como o Red Bull. Mas o que mais chamou a atenção foram as mensagens chamando patrocínios. Frases como “Your logo here”, “This is a cool spot” estavam espalhadas pelo carro. Pelo menos o departamento de marketing vem tendo ideias novas.

Curiosamente, a equipe decidiu não ir a Jerez e fazer uma filmagem promocional para a Pirelli em Monza e só volta à pista com os demais em Barcelona – tudo com o modelo do ano passado, é claro.  O carro deste ano só vai para a pista na última bateria de testes, no Bahrein, a partir de 3 de março.

Não é nenhum carro virtual ou cores mais chamativas que vão tirar a impressão de que é muito provável que eles não larguem em muitos GPs, tendo em vista que a regra dos 107% volta em 2011. Como ano passado a Hispania teve pelo menos um de seus carros com marcas acima de 7% mais lentas que o dono do melhor tempo no Q1 em 9 dos 19 GPs, é improvável que o cenário mude drasticamente. E não largar seria, comercialmente, um desastre para a equipe.

A contratação de Narain Karthikeyan não ajuda muito nesse sentido. O indiano de 34 anos teve uma passagem na F1, em 2005, pela Jordan, e fez 5 pontos em 19 corridas. Não deixou saudade. Mas, com o apoio da montadora Tata, está de volta. Seu companheiro ainda não foi anunciado. O projeto é tão falho que falta até quem queira pagar para correr nele.

Turma de 2011: Force India

Em 2010
Colocação/pontos: 7º, 68 pontos
Melhor resultado: 5º (2 vezes, com Sutil)
O que levar para 2011: o rendimento da 1ª metade do campeonato
O que esquecer: perda de peças importantes do corpo técnico

Montanha russa

Adrian Sutil
Stamberg, Alemanha, 11.01.1983
71 GPs
Por que Sutil: precisa mostrar serviço depois de um final de 2010 difícil
Em 2010: 11º, 47 pontos
O que levar para 2011: a evolução que mostrou de 2007 a 2009
O que esquecer: tentativas desastradas de guiar mais que o carro

 

Com moral

Paul di Resta
Livingston, Inglaterra, 16.04.1986
Estreia em 2011
Por que Di Resta: bateu Vettel quando foram companheiros na F3 Euroseries e é considerado um piloto de ótimo feedback pelos engenheiros
Em 2010: campeão da DTM

A Force India tem que decidir de que lado está. Se continuará o linha ascendente que teve em seus primeiros 3 anos e meio de vida, saindo do fundão do grid para o pódio solitário com Fisichella na Bélgica em 2009. Ou se entra na briga com a Toro Rosso por uma vaga no Q1. A ex-Jordan e Spyker trilhava um bom caminho, tendo à disposição o motor Mercedes e a colaboração técnica da McLaren, mas perdeu muito com a debandada de engenheiros no meio da temporada passada. Com a saída, especialmente de James Key, que acabou arrumando a casa da Sauber, o desenvolvimento do carro ficou comprometido e a equipe acabou perdendo, por 1 ponto, o 6º lugar entre os construtores para a Williams.

É de se imaginar que o projeto deste ano também tenha sido comprometido, feito em meio a profundas mudanças estruturais. Mas o ótimo motor e a parceria com a McLaren continuam de pé, além do time contar com uma competente dupla de pilotos.

Adrian Sutil mostrou em suas 4 temporadas na F1 que tem a competência para aproveitar oportunidades de levar pontos importantes para casa. É claro que fez suas trapalhadas e tem o péssimo hábito de tentar guiar mais que o carro, mas é um bom parâmetro para seu novo companheiro, Paul di Resta. O escocês de 24 anos chega gabaritado pelo bom retorno que deu aos engenheiros da Force India quando testou o carro às sextas-feiras em 2010, pela vitória no mano a mano com Vettel na F3 Euroseries e o recente título da concorrida DTM. Porém, são justamente os 4 anos que passou disputando apenas o campeonato de turismo que podem atrapalhar um pouco seu “ritmo de jogo” em monopostos no início. Se um dos dois ficarem aquém do esperado, Nico Hulkenberg estará mais que pronto para assumir o cockpit. É certamente a line-up mais forte do meio do grid.

Até por isso, a equipe fala em lutar pelo 5º lugar no grid neste ano, ou seja, se embolar com Renault e Mercedes. Pelo menos à primeira vista, o carro lançado hoje não parece correr muitos riscos. O único detalhe que chama a atenção é a entrada de ar acima da cabeça do piloto dividida ao meio, solução trazida pela Mercedes em 2010 – e abandonada neste ano. Nos testes de Jerez, veremos se o novo Force India é confiável; em Barcelona e no Bahrein, se almejar o 5º lugar é sonhar alto demais.

Acidente de Kubica é só uma das questões da Renault

Com a noção cada vez mais clara de que a recuperação de Kubica será longa, a Renault já começa a armar um plano de contenção. Não é o caso de simplesmente chamar o piloto reserva, como o próprio chefe da equipe, Eric Boullier, já adiantou. Eles precisam arrumar outro piloto número 1 para a equipe.

É claro que não há ninguém no mercado que possa suprir a falta de Kubica, o piloto que teve a maior disparidade entre seu talento e o rendimento de seu carro ano passado. E os nomes que surgem não são dos mais interessantes: Heidfeld, Liuzzi, etc. Por enquanto, é chute, e não é esse o centro da questão.

De um lado, há a óbvia preocupação com a recuperação do polonês que, nesses estágios iniciais, é de difícil previsão. Quando, como ou até se ele volta são perguntas ainda longe de serem respondidas. De outro, quais serão os próximos passos para a recuperação da Renault, que vem tentando se reerguer depois do fiasco técnico e moral de 2009, quando chegou ao fundo do poço depois de convalescer por 2 anos de maus resultados.

A ideia dos franceses era se livrar da equipe que consumia muito e ganhava pouco, mas o estouro do escândalo de Cingapura alterou os planos – acredita-se que Max Mosley tenha costurado um acordo para garantir a equipe no grid nos próximos anos, em troco de uma punição branda no julgamento do crashgate.

Pelo menos no lançamento, quem deu as caras foram Gerard Lopez e Eric Boullier, da Genii

Grande parte das ações do time, então, foi vendida à Genii, empresa cujo negócio é fazer dinheiro. Contrataram Kubica, investiram direito, e tiveram um 2010 promissor, subindo do 8º lugar no mundial de construtores ao 5º em 12 meses. É bem verdade que, mesmo que o trabalho na pista tenha sido bem feito, não faltam dúvidas a respeito da questão financeira da equipe, que teria recebido o dinheiro da FOM adiantado no ano passado e até sido oferecida como garantia de empréstimos de sua proprietária, empresa com base em Luxemburgo (como se isso já não fosse estranho o bastante).

Ao final do ano, os negócios da equipe ficaram ainda mais nebulosos, com a parceria com a Lotus Cars. Inicialmente, foi anunciado que a montadora teria comprado os 25% que ainda estavam nas mãos da Renault. Hoje, acredita-se que quem o fez foi a própria Genii e que a Lotus entre com patrocínio, embora a empresa garanta que quer comprar o time em 2 anos. Seja como for, com a montadora mal das pernas, é mais dinheiro que não se sabe de onde veio.

No entanto, o fato do CEO da Lotus Cars, Dany Bahar, ter sido indicado como diretor da equipe, não ajuda em nada a elucidar a situação. Por que colocar um simples patrocinador no controle do time? É claro que a relação entre Lotus e Genii é mais profunda que isso e são óbvias as intenções da montadora de controlar a equipe, 4 vezes campeão mundial com Schumacher (nos tempos de Benetton) e Alonso (já com Renault). Contando que saia no lucro, a Genii está na sua, mas o que acontecerá até lá é uma incógnita.

Dany Bahar e seu esquadrão de planos mirabolantes

 

As primeiras faíscas começaram a sair logo após o anúncio da “compra” da Lotus Cars, com Boullier fazendo questão de dizer que é ele quem manda. Depois, na apresentação do carro,  Bruno Senna (cujo sobrenome cai como uma luva para a estratégia de marketing da montadora) e Romain Grosjean (protegido do chefe da equipe no programa de desenvolvimento de pilotos Gravity, uma das plataformas de negócio da Genii) se proclamaram substitutos imediatos dos pilotos titulares.

E pensar que Kubica, que ainda poderá ter papel importante nessa briga, já parecia ter escolhido seu lado, ao declarar no lançamento do carro: “até onde eu sei a Lotus é um patrocinador. Eu poderia falar sobre o sonho de guiar pela Total (referindo-se a outra marca que estampa seu carro). Acho que seria diferente se a Lotus fosse dona da equipe e estivesse totalmente envolvida. É uma boa parceira para se ter e eles têm grandes ambições. Parece promissor.”

Realmente parece promissor. O carro tem um escapamento inédito e parece ser bem nascido. Encontrar um substituto para Kubica, que tenha capacidade semelhante de liderar e acelerar, será tão difícil quanto manter essa Renault de gente demais no comando e clareza de menos nas finanças nos eixos.

Turma de 2011: Virgin

Em 2010
Colocação/pontos: 12º, 0 pontos
Melhor resultado: 14º (2 vezes, com Glock e Di Grassi)
O que levar para 2011: continuar melhora da parte final do ano
O que esquecer: confiabilidade e erros de projeto

Peso nas costas

Timo Glock
Lindenfels, Alemanha, 18.03.1982
55 GPs
Por que Glock: rápido e consistente, parece ter tirado tudo do carro ano passado
Em 2010: 24º, 0 pontos
O que levar para 2011: ótimas classificações
O que esquecer: perdeu algumas oportunidades de terminar mais à frente em corridas

 

O que vier é lucro

Jéróme D’Ambrosio
Etterbeek, Bélgica, 27.12.1985
Estreia em 2011
Por que D’Ambrosio: pagando bem…
Em 2010: 11º na GP2

 

O primeiro carro de F1 inteiramente desenhado no computador, com o apoio da Fluidodinâmica Computacional, ou CFD, passou vergonha em seu primeiro ano. Os engenheiros da Wirth Research, empresa do diretor técnico da Virgin, Nick Wirth, erraram nada menos que o tamanho do tanque de combustível. Contudo, o carro evoluiu durante o ano, mesmo que num ritmo inferior em relação a seu concorrente direto, a Lotus. O último lugar no campeonato de construtores se deve mais à falta de sorte que qualquer outro fator: o Virgin dos competentes Timo Glock e Lucas Di Grassi (particularmente prejudicado pelo fato da equipe não ter recursos para dar equipamentos iguais aos pilotos) era bem mais rápido que o Hispania.

Mas a equipe tem dois bons motivos para acreditar num 2011 melhor. A Wirth Research aumentou sua capacidade técnica e hoje se proclama como o maior centro de CFD do mundo, enquanto a montadora russa Marussia se tornou title sponsor do time e promete mais investimento. Como dinheiro nunca é bastante, a Virgin ainda foi atrás do belga Jéróme D’Ambrosio para fechar um orçamento melhor em 2011.

Como mesmo contar com um piloto pagante tem seu preço e D’Ambrosio pouco deve aportar – o piloto foi 11º na última temporada da GP2, sua 3ª numa categoria em que nunca brilhou – resta se apoiar na capacidade de Glock, que se mostrou bem nas classificações e consistente nas corridas em 2010. O time não ousou muito em seu carro. O detalhe que salta aos olhos é o bico mais baixo, indo na contramão dos demais projetos lançados até o momento. Pelo menos a parte traseira parece compacta, outra forte tendência desse ano. A novidade do carro é a saída de seus escapamentos, unidos até o difusor. A Virgin chegou a testar a saída da Renault no simulador, mas acredita que sua solução é melhor.

Seu objetivo é um tanto humilde: um 12º, talvez 1 ponto, qualquer migalha serve para definir a batalha pela 10ª colocação – a última das que garantem dinheiro – no mundial de construtores.

Sobrou afobação na cobertura do acidente de Kubica

Hoje a F1 viveu seu segundo terremoto desde que o twitter caiu definitivamente no gosto de fãs, equipes, pilotos e imprensa. O chocante acidente de Robert Kubica no Rali de Andorra, que resultou em graves lesões na mão do polonês e deve tirá-lo de combate por um ano gerou uma comoção quase instantânea. O que sobrou desse dia maluco foi o gosto amargo na boca, mesmo com a comprovação de que os 140 toques são uma ferramenta e tanto para espalhar uma notícia quente, mesma impressão daquele 25 de julho de 2009, quando era Felipe Massa quem nos dava um susto e tanto.

O problema é que, junto da notícia em si, segue uma enxurrada de irresponsabilidade, falta de tato e afobação. De um retweet a outro, muita gente se convenceu de que o polonês havia perdido o braço e teve até quem comemorou por antecedência o carro vencedor que Bruno Senna teria ganho de presente.

O perigo de ferramentas como essa, à qual todos têm acesso, é que as fontes se perdem. No afã de buscar informação, a frase que vem de uma @ obscura vale tanto quanto um canal oficial. E, pior ainda, “protegida” pelo imediatismo, muita gente que aprendemos a respeitar no dia a dia se perde em rumores sem fundamento.

Será que vivemos com uma pressa, uma fome por novidades, tão grande, que já não importa se o que passamos para frente é verdade ou não?

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Com a poeira baixando, nos atemos aos fatos:

Sim, Kubica correu o risco de ter a mão amputada. Mas isso não se concretizou.

Sim, Kubica deve demorar para voltar às pistas e é, pelo menos na visão de Igor Rosello, o médico especialista em mãos que estava na operação do polonês – e, portanto, a fonte que conta mais que qualquer @ – muito provável que perca a temporada. Mas isso depende da resposta que seu organismo dará à intervenção de hoje e o próprio profissional recomendou que se esperasse ao menos 5 dias para ver qual será o próximo passo.

Sim, Eric Boullier disse, durante o lançamento do Renault, na semana passada, antes do furação passar, que Bruno Senna teria a prioridade se fosse necessário substituir algum piloto. Mas isso não quer dizer que, com a ausência prolongada do líder Kubica, a equipe não vá procurar um piloto mais experiente.

Com uma longa recuperação médica em questão e uma equipe cujo cenário interno é pra lá de nebuloso no centro de uma situação pra lá de delicada, o melhor é lembrar que a paciência é um santo remédio.

Desvendando a asa traseira móvel

Quatro campeões mundiais em carros competitivos, a incerteza de quem sairia na frente depois do imprevisível início de 2009, a volta de Schumacher… a temporada de 2010 prometia, mas o marasmo da primeira etapa, no Bahrein, gerou um clima de desespero que resultou nela, a asa traseira móvel. No final das contas, muita gente acredita que a temporada passada tenha sido uma das melhores da história e o fato é que a falta de ultrapassagens não impediu que o campeonato tivesse um sem número de variáveis e reviravoltas.

O artifício, no entanto, estava criado. A asa traseira móvel tem, basicamente, a mesma função do duto aerodinâmico: flexionar uma das lâminas do aerofólio para gerar um ganho de velocidade nas retas. Até aí, tudo bem. A diferença é que todos os carros contarão com ela, mas nem sempre poderão usá-la.

O plano inicial da FIA é estipular zonas de ultrapassagem, mas o sistema será avaliado nos últimos testes antes da temporada começar, no Bahrein, no início de março, e nas primeiras provas do campeonato. As zonas já determinadas até agora são as retas dos boxes do Bahrein, da Austrália e da Malásia, além da reta oposta da China.

Como a asa móvel funciona?

O aerofólio traseiro é composto de duas asas: uma maior e outra maior, na parte de cima. A asa móvel é justamente a lâmina que fica mais ao alto. O regulamento prevê que, por meio do acionamento de um botão no volante, essa lâmina se curve (de uma hora para a outra, não pode ser lentamente) e se distancie em 50mm da de baixo.

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Esse “corredor” formado entre as duas asas diminui bastante a resistência ao ar do aerofólio, fazendo com que o carro ganhe em velocidade. O piloto sentirá imediatamente o carro mais leve e o ganho esperado é de cerca de 10km/h – o que varia de acordo com o circuito e o carro.

Antes de fazer a curva, o piloto acionará novamente o botão, para que a asa volte ao normal. Se o sistema falhar, a força do vento provavelmente fará esse papel.

Quando o piloto pode acionar a asa traseira móvel?

1. Em treinos e classificações: a qualquer momento, como ocorria com o duto ano passado.

2. Nas corridas:

2.1: Apenas pelo piloto que está a menos de 1s do concorrente que vai a sua frente. A FIA pintará duas linhas no chão no ponto de frenagem da curva que precede a reta designada pela entidade como ponto de ultrapassagem, marcando essa distância de 1s. Se ambos os carros estiverem entre essas duas linhas, a asa poderá ser acionada.

2.2: A asa só poderá ser acionada nos últimos 600m da reta designada pela FIA como ponto de ultrapassagem. O piloto só pode apertar o botão quando passar por uma 3ª linha, já na reta, que indica o início da zona de ultrapassagem.

2.3: Independentemente da distância entre os pilotos, a asa não poderá ser acionada nas duas primeiras voltas após a largada e as relargadas, depois de períodos de Safety Car.

Asa móvel desativada

Asa móvel ativada

O fato da FIA estipular uma zona de ultrapassagem não exclui manobras em outras partes do circuito. A diferença é que, fora dessa zona, a asa não poderá ser acionada em corridas. Essa zona de ultrapassagem, aliás, terá 600m, distância que a FIA considera ser suficiente para que a manobra seja feita, sem que isso se torne banal. Difícil será encontrar 600m de reta em circuitos travados como Mônaco e Hungria.

Não há dúvidas de que a novidade ainda vai dar pano pra manga. As linhas que os pilotos terão que ver ao mesmo tempo em que freiam, se aproximam de um rival e apertam os botões – ainda por cima, tem o KERS –; questões de segurança por uma possível falha do sistema ou pelo fato de haver dois carros em velocidades muito discrepantes; a excessiva facilidade em ultrapassar; pilotos achando que estavam dentro da linha, mas na verdade não estavam; dificuldade de compreensão do público… pelo menos por enquanto, de certo, só que há muita coisa que pode dar errado.

Pirelli e inovações marcam os primeiros testes

Muito se fala que não dá para tirar conclusões dos testes – e não dá mesmo. Quem não se lembra dos tempos assombrosos da Sauber ano passado? Mas é possível identificar algumas tendências.

A mais presente dessa primeira bateria de testes, em Valência, foi o forte desgaste dos pneus Pirelli. O composto mais macio foi o que assustou as equipes: perdia cerca de 0.2s por volta, o que significa 10s depois de metade de uma prova. Os outros dois que já foram testados, o macio e o médio, têm uma perda razoável, entre 0.05s e 0.1s por volta. Isso significa que as estratégias de uma parada são coisa do passado e que veremos movimentação nos boxes bem mais cedo que o habitual.

Portanto, a degradação não é absurda. A dificuldade que os pilotos têm encontrado – e isso pode ser um reflexo do estágio inicial em que estão os carros – é como domar os bólidos quando os pneus, principalmente os traseiros, estão degradados. A tendência é o carro sair de traseira – de acordo com os pilotos, de uma hora para a outra – e é difícil contornar esse problema sem acabar com o pneu. É uma questão de estilo de pilotagem e característica do carro.

Até Schumacher, um dos mais interessados no rendimento do novo pneu, reclamou: “parecia que estava guiando no gelo”

O melhor tempo dos testes foi de Robert Kubica, na Renault, na 2ª em uma saída em que deu 6 voltas. Quem também fez seu melhor tempo num stint de 6 voltas foi Webber, mas seu carro parecia bastante carregado. Não há dúvidas de que a Red Bull vem forte, e ainda sem os problemas de confiabilidade do início do ano passado. Apenas o australiano grandalhão perdeu tempo de pista, pela dificuldade em arrumar seu assento.

Começam a aparecer, é claro, os candidatos a especialistas a poupar o novo pneu. Button já se animou, Rosberg é um que conseguiu fazer longos stints com o pneu macio ano passado, e o F150 aparentemente herdou a principal qualidade de seu antecessor: os rivais se impressionaram com a consistência dos stints longos que Alonso fez no 2º dia de ensaios e o espanhol se mostrou contente com a evolução dos set-ups que testou no carro. Kubica foi outro que andou 24 voltas seguidas num ritmo consistente. Contudo, os testes mais duros para os pneus ainda estão por vir: as curvas de alta de Barcelona e o calor do Bahrein darão um indicativo se o pneu é simplesmente direfente e provocará corridas mais movimentadas, ou se é perigoso.

Outro indicativo de “parentesco” entre o F10 e o F150 é a confiabilidade. Alonso fez 206 voltas sem qualquer problema. Massa teve uma quebra de um componente simples, mesmo que tenha lhe tirado muito tempo de pista. Em 2h15, no entanto, completou 66 voltas.

Massa teve azar com a quebra de uma peça simples, que o tirou muito tempo da pista

Problemas de confiabilidade marcaram os testes dos demais. A Mercedes sofreu com falhas eletrônicas, hidráulicas e no tanque de combustível e penou para ativar seu KERS pela primeira vez. Seu carro parece mais nervoso que os demais e até Ross Brawn admitiu que eles estão apenas “razoavelmente encorajados”. Problemas no KERS também tiraram tempo de Barrichello, na Williams. A Sauber e a Toro Rosso sofreram com a parte traseira do carro (de bodyword a câmbio), enquanto a Lotus só deu 53 voltas em 2 dias, com problemas na direção hidráulica. Andando sozinha hoje, somou 90 giros.

As novidades

Os engenheiros têm duas preocupações centrais nesse ano: tentar gerar a mesma pressão aerodinâmica que nos tempos dos difusores duplos, e transferir o mínimo possível o peso adicional do KERS aos pneus traseiros, principalmente agora que contam com os menos duros Pirelli. Fora isso, as equipes precisam estar seguras de que os sistemas do KERS e da asa traseira móvel estão funcionando com precisão.

A Williams testou uma suspensão traseira incorporada ao suporte da asa traseira. Isso só é possível devido à caixa de câmbio “em miniatura” desenvolvida neste ano, o que enxugou bastante a traseira. A Toro Rosso reavivou o twin floor da Ferrari de 1992, na tentativa de recuperar a pressão aerodinâmica.

Um dos ângulos mais procurados pelos fotógrados foi a inovadora traseira da Williams

Já a Renault tornou-se o centro das atenções ao apostar em jogar os gases do escapamento pelos sidepods, direcionandos-os sob o assoalho para gerar downforce. O escapamento, aliás, parece ser o principal aliado na tentativa de substituir o efeito dos difusores duplos. E cada um tem sua aposta. Acredita-se que a Ferrari esteja usando o orifício da ignição para tal e que a Red Bull esteja escondendo algo diferente. A McLaren, por sua vez, teria dois modelos diferentes, a serem testados em Jerez.

Classificação (carros de 2011*)

Pos. Piloto Carro Melhor tempo Voltas 01.02 Voltas 02.02 Voltas 03.02
Kubica Renault 1:13.144 104 95
Alonso Ferrari 1:13.307 98 108
Vettel Red Bull 1:13.614 93 43
Webber Red Bull 1:13.936 17 102
Massa Ferrari 1:14.017 78
Maldonado Williams 1:14.299 29 98
Perez Sauber 1:14.469 42 104
Schumacher Mercedes 1:14.537 15 110
Rosberg Mercedes 1:14.645 15 69
10º Buemi Toro Rosso 1:14.801 46 73
11º Kobayashi Sauber 1:15.621 68
12º Barrichello Williams 1:16.023 78 51
13º Petrov Renault 1:16.351 28
14º Alguersuari Toro Rosso 1:16.474 20 64
15º Kovalainen Lotus 1:20.649 15
16º Trulli Lotus sem tempo 38

*Force India, McLaren, Hispania e Virgin optaram por usar o carro do ano passado, alguns porque seus projetos não estão finalizados, outros para ter um base de comparação mais estável para os pneus Pirelli.

Turma de 2011: McLaren

Em 2010
Colocação/pontos: 2º, 454 pontos
Melhor resultado: 1º (5 vezes, 3 com Hamilton e 2 com Button)
O que levar para 2011: forte dupla de pilotos e estratégias inteligentes
O que esquecer: falhas no desenvolvimento

Coração

Lewis Hamilton
Stevenage, Inglaterra, 07.01.1985
71 GPs
14 vitórias
Por que Hamilton: extremamente rápido e arrojado
Em 2010: 4º, 240 pontos
O que levar para 2011: as ultrapassagens incríveis
O que esquecer: os erros sob pressão

 

Cabeça

Jenson Button
Frome, Inglaterra, 19.01.1980
191 GPs
9 vitórias
Por que Button: estilo suave e pilotagem inteligente
Em 2010: 5º, 214 pontos
O que levar para 2011: a capacidade de fazer longos stints com pneus macios
O que esquecer: performance nas classificações

 

2010 era um ano promissor para a McLaren: depois de um super agressivo padrão de desenvolvimento em 2009, o time inglês havia terminado a temporada entre os primeiros colocados e contava com o reforço do atual campeão mundial, Jenson Button, que uniria forças ao dono do título de 2008, Lewis Hamilton. Pilotos fortes, carro bem encaminhado, o melhor motor, uma grande estrutura. Mas o ano não fluiu como o esperado. Se na primeira metade da temporada a McLaren estava próxima o bastante para conseguir se aproveitar das oportunidades que os rivais e o clima deram, após as frustradas tentativas de encaixar o escapamento soprado no difusor, cópia da Red Bull, a performance do time ficou dependente de eventuais características de circuitos ou performances perfeitas de seus pilotos.

Com um carro abaixo dos rivais, nem mesmo os dois últimos campeões mundiais até então mantiveram o padrão de pilotagem. Button passou a se classificar muito mal e Hamilton cometeu erros infantis durante as provas. No final das contas, a McLaren ficou no lucro o 2º lugar no mundial de construtores e uma boa fatia de dinheiro para 2011.

Mas é clara a intenção em mudar esse cenário. O MP4/26 tem um visual arrojado, com entradas de ar em forma de U e outra na carenagem do motor – a ideia é ter a maior quantidade possível de ar de “bom”, como definiu o diretor técnico Paddy Lowe, no assoalho, para suprir a falta do difusor duplo. O bico também traz modificações e a distância entre eixos é maior, mas a equipe jura que os verdadeiros segredos estão escondidos dentro do carro e admite que o escapamento ainda não está pronto, alimentando os boatos de que adotarão uma saída semelhante à Renault.

Se o que deixou a desejar ano passado foi o carro e seu desenvolvimento, pelo menos desta vez eles não podem ser acusados de não tentar.

Turma de 2011: Toro Rosso

Em 2010
Colocação/pontos: 9º, 13 pontos
Melhor resultado: 8º (1 vez, com Buemi)
O que levar para 2011: aproveitar que os pilotos têm que mostrar serviço
O que esquecer: falta de desenvolvimento

Ano decisivo 1

Jaime Algursuari
Barcelona, Espanha, 23.03.1990
27 GPs
Por que Alguersuari: piloto muito jovem, em plena evolução
Em 2010: 19º, 5 pontos
O que levar para 2011: a melhora no ritmo de classificação
O que esquecer: desperdiçar chances de pontuar

 

Ano decisivo 2

Sebastien Buemi
Aigle, Suíça, 31.10.1988
36 GPs
Por que Buemi: é uma pergunta que ele tem que responder neste ano
Em 2010: 16º, 8 pontos
O que levar para 2011: tornar os lampejos nas corridas mais comuns
O que esquecer: tendência em se envolver em acidentes

A Toro Rosso passa por uma transição técnica nada fácil. Passaram de equipe satélite da Red Bull para independente. Isso significa que o time teve que criar uma equipe de projetistas e começar um carro do zero. Depois de um ano mais conservador, chegou a hora de dar um passo adiante. De um carro que sequer contava com o duto aerodinâmico até o final da temporada passada, para um 2011 animador, com um pacote que inclui o KERS da Ferrari.

O novo Toro Rosso não teve muitos problemas técnicos

Animador em termos, claro. O objetivo da Toro Rosso é o 8º lugar no mundial de construtores. Teoricamente, só precisam ultrapassar a Sauber para consegui-lo, mas o ótimo pacote da Lotus e a promessa de um grande upgrade na estrutura de concepção do carro da Virgin fazem com que a primeira prioridade seja evitar ser ultrapassada pelas equipes que estrearam em 2010.
O carro é o primeiro totalmente idealizado e construído na fábrica de Faenza desde o Minardi de 2005. Os sidepods possuem uma curvatura interessante, visando ganho de downforce, e a geometria de suspensão escolhida é a pull rod, diferentemente do outro cliente da Ferrari, a Sauber, e da própria Scuderia. Novidades à parte, o fato é que a equipe já começa um pouco atrás: apesar de ter estreado o KERS em Valência, a asa traseira móvel só chega nos testes de Jerez, a partir do dia 10.02.

 

Um desenho diferente dos sidepods

Pilotando para a principal candidata à última vaga entre os eliminados no Q1 e já sem poderem ser considerados estreantes, Jaime Alguersuari e Sebastien Buemi sabem que sofrerão pressão de todos os lados. De um, o sonho de ganhar a promoção para a Red Bull, com a possível aposentadoria de Webber. De outro, a sombra de Daniel Ricciardo, piloto reserva da equipe principal das latinhas, que pilotará o Toro Rosso às sextas-feiras.

Turma de 2011: Mercedes

Em 2010
Colocação/pontos: 4º, 214 pontos
Melhor resultado: 3º (3 vezes, todas com Rosberg)
O que levar para 2011: confiabilidade
O que esquecer: carro difícil de acertar

Panela velha

Michael Schumacher
Hürth-Hermülheim, Alemanha, 03.01.1969
269 GPs
91 vitórias
Por que Schumacher: deve ser a tradução de agressivo em alemão
Em 2010: 9º, 72 pontos
O que levar para 2011: o ritmo de corrida das últimas provas
O que esquecer: todo o resto

Ganhando espaço

Nico Rosberg
Wiesbaden, Alemanha, 27.06.1985
89 GPs
Por que Rosberg: inteligente e constante, dificilmente erra
Em 2010: 7º, 142 pontos
O que levar para 2011: a tendência em ficar longe de confusões
O que esquecer: excesso de zelo no mano a mano

A queda no rendimento nas últimas corridas de 2009, depois de um início arrasador sob o nome de Brawn, já anunciava os dias difíceis que viriam. A obra-prima, que havia sido desenvolvida com os rios de dinheiro da Honda, não teve como seguir seu crescimento com a drástica redução de pessoal entre 2008 e 2009. Com a chegada da Mercedes, ao final do ano (quando o desenvolvimento do carro de 2010 já estava bem adiantado), o time tomou a decisão de continuar compacto, já de olho nas restrições do acordo de restrição de gastos, que prevê, entre outras medidas, corte de pessoal.

O W02 apresentou alguns problemas técnicos no início dos testes

Por essas e outras, é compreensível que o mesmo time que espantou a todos no início de 2009 tenha despencado em 2011. A campanha foi ainda mais prejudicada pela difícil readaptação de Michael Schumacher, envolto em problemas com os pneus e o acerto do carro. Ao menos a equipe alemã confirmou que podia contar com seu outro novo recruta, Nico Rosberg, que deu os 3 únicos pódios à equipe.
É de se esperar que, tanto os problemas de desenvolvimento e projeto, quanto de adaptação – de Schumacher e na integração da ex-Brawn com a Mercedes – fiquem para trás em 2011. O problema é a distância considerável que separa os alemães da ponta. Mesmo lembrando que as flechas pararam de ser desenvolvidas em meados do ano, a diferença de quase 1s2 na classificação em Abu Dhabi é alarmante; na Inglaterra, quando o carro ainda recebia peças novas, a distância para a pole foi de 1s.


Não coincidentemente, alguns conceitos do carro do ano passado foram abandonados. A entrada de ar acima da cabeça do piloto agora tem um ar mais standard, o bico mais baixo foi levantado, ganhou a forma em V característica dos Red Bull e as entradas dos radiadores ficaram mais anguladas e triangulares. Seguindo a moda do paddock, a traseira é esguia e as suspensões, em formato pull rod. A aposta da Mercedes é num projeto que se aproxime dos conceitos adotados pela Red Bull, e na força de seu KERS, notavelmente o melhor e mais leve em 2009.

Turma de 2011: Williams

Em 2010
Colocação/pontos: 6º, 69 pontos
Melhor resultado: 4º (1 vez, com Barrichello)
O que levar para 2011: bom padrão de desenvolvimento
O que esquecer: dificuldades financeiras

Rubens Barrichello williams
No pique

Rubens Barrichello
São Paulo, Brasil, 23.05.1972
306 GPs
11 vitórias
Por que Barrichello: experiência, entusiasmo e conhecimento técnico
Em 2010: 10º, 47 pontos
O que levar para 2011: encaixou-se bem no modo de trabalhar da Williams
O que esquecer: más largadas

 

Pastor Maldonado williams
Tô pagando

 
Pastor Maldonado
Maracay, Venezuela, 09.03.1985
Estreia em 2010
Por que Maldonado: depois de anos de barbeiragens, parece que evoluiu ano passado, dominando especialmente o início do campeonato da GP2
Em 2010: campeão da GP2

 

Passar a Force India pelo mundial de construtores na última etapa do ano não é exatamente o que se espera de uma equipe que faturou 9 títulos de construtores e fez 6 campeões do mundo nos anos 1980 e 1990. Insistindo no caminho independente, sem parceria com grandes montadoras, a Williams vem em decadência de resultados e investimentos há pelo menos 6 anos. Tanto, que teve que apelar pelo dinheiro venezuelano de Pastor Maldonado para esta temporada, após perder patrocinadores importantes.

williams 2011 valencia
Ainda com pintura provisória, o carro pouco lembra seu antecessor

Nesse quadro pouco favorável, o jeito foi aproveitar as novas regras de 2011 para arriscar. O câmbio é o menor já produzido pela equipe e a suspensão usada foi a pull rod, como as com que a Red Bull trabalha desde 2009. O bico também chama a atenção, seguindo a tendência dos modelos altos adotados pelas outras equipes, mas terminando antes da asa dianteira.

Porém, parece que o maior segredo do carro está escondido na traseira, extremamente compacta e com um baixíssimo centro de gravidade. As equipes têm trabalhado muito nesse setor especialmente para acomodar melhor o pesado KERS sem colocar muita carga nos pneus traseiros e também para tentar diminuir o prejuízo em termos de downforce do banimento dos difusores duplos.

williams rear 2011
A traseira super slim da Williams

williams rear
Em outro ângulo

Falando em KERS, a Williams foi a única a produzir um dispositivo sem utilizar baterias para seu carregamento em 2009, num projeto que não chegou a ir para a pista, mas continua sendo desenvolvido para a indústria automobilística. Para esse ano, a equipe optou por desenvolver seu próprio modelo de maneira convencional.

Em relação aos pilotos, toda a confiança que a equipe pode depositar num trabalho consistente de Barrichello se transforma em dúvida quando o assunto é Maldonado. Ele mostrou na campanha pelo título da GP2 ano passado o que sabe, mas demorou 4 temporadas para chegar a esse nível de maturidade e contou com aquela que foi considerada a pior safra da categoria como concorrência. Tendo em vista que muita gente boa sofreu para se adaptar a essa F1 praticamente sem treinos, altos e baixos é o máximo que se pode esperar desse ano de estreia do venezuelano.

Turma de 2011: Red Bull

Em 2010
Colocação/pontos: 1º, 498 pontos
Melhor resultado: 1º (9 vezes, 5 com Vettel e 4 com Webber)
O que levar para 2011: o carro imbatível
O que esquecer: falta de confiabilidade e mau gerenciamento de pilotos

Sebastian Vettel
Nos ombros dos gigantes

Sebastian Vettel
Heppenheim, Alemanha, 03.07.1987
62 GPs
10 vitórias
Por que Vettel: capaz de proezas e deslizes incríveis, é um gênio amadurecendo a olhos vistos
Em 2010: campeão, 256 pontos
O que levar para 2011: as performances em classificação e a facilidade em vencer da ponta
O que esquecer: a dificuldade em abrir caminho no pelotão

Mark Webber
O outro

Mark Webber
Queanbeyan, 27.08.1976
232 GPs
Por que Webber: acostumado a lutar, promete ser uma pedra no sapato do companheiro campeão
Em 2010: 3º, 242 pontos
O que levar para 2011: a tranquilidade para liderar corridas
O que esquecer: o ar de “contra tudo e todos”

Em 2010, eles conseguiram perder pontos das maneiras mais inesperadas. Ora seus pilotos davam um encontrão em plena reta, ora um deles saía voando e fazia jus ao slogan da empresa, mas, quando tudo ia bem, era impossível segurar os Red Bull. Disparado o melhor carro do ano, chegou a colocar 1s no rival mais próximo na classificação da Hungria. A primeira reação da concorrência foi questionar, porém, se havia algo ilegal no RB6, nem a FIA encontrou. A solução foi copiar.

redbull 2011 launch
O mais novo da linhagem real que começou com o RB5

No entanto, em que pese alguns problemas com a confiabilidade – foram cerca de 60 pontos perdidos por quebras, só com Vettel – e trapalhadas de seus pilotos, não havia nada que as poderosas McLaren e Ferrari pudessem fazer: sob o comando do projetista Adrian Newey, eles estavam sempre um passo à frente.

E têm tudo para continuar ditando o ritmo em 2011. O RB7 apareceu com uma traseira absurdamente compacta e bem trabalhada. O carro é o único até agora que tem algo parecido à aleta de tubarão que tomou conta dos modelos nos últimos dois anos e comenta-se que seu sistema de escapamento seja ainda mais complexo que o da Renault, cuja saída parece ter sido trazida mais para a frente. Se nem todos os mistérios do RB6 foram desvendados em uma temporada toda, é difícil imaginar que um dia seja o suficiente para aprender muita coisa sobre o RB7. A boa notícia para o time nesse início dos treinos coletivos é a confiabilidade, algo incomum aos projetos recém-nascidos de Newey.

red bull launch 2011
A traseira enxuta, mas não anoréxica como a da Williams

red bull launch 2011
Carro já nasceu cheio de detalhes

O engenheiro, inclusive, reconheceu que, além de ter mais dificuldade que os rivais com o KERS, que não foi utilizado pela equipe em 2009 por questões de peso e aerodinâmica, ainda recebeu da Renault um equipamento mais pesado que da concorrência, algo que eles mesmos pretendem corrigir em Milton Keynes.

Além das saídas geniais de Newey, outra dinâmica a ser observada na equipe dos touros é entre os companheiros Vettel e Webber. Em teoria, o australiano não deveria ser páreo para o candidato a novo Schumacher mas, ajudado pela “moleza” que é guiar um Red Bull nesses dias, Mark chegou perto em 2010, o que causou uma mau gerenciada guerra interna. O braço austríaco, que é na prática quem manda, claramente apoia Vettel, fruto do programa de desenvolvimento de pilotos da empresa de latinhas. Por outro lado, Webber não é de ficar quieto. Caso o RB7 seja tão dominante quanto seu antecessor, a aposta por um tirar pontos do outro dentro da equipe é a única chance da concorrência.

Turma de 2011: Lotus

Em 2010
Colocação/pontos: 10º, 0 pontos
Melhor resultado: 12º (1 vez, com Kovalainen)
O que levar para 2011: o bom padrão de desenvolvimento
O que esquecer: falta de confiabilidade

Cheio de gás

Heikki Kovalainen
Suomussalmi, Finlândia, 19.10.1981
71 GPs
1 vitória
Por que Kovalainen: levou o “título” de melhor dos nanicos em 2010
Em 2010: 20º, 0 pontos
O que levar para 2011: a regularidade e o entusiasmo com o projeto
O que esquecer: se envolveu em alguns acidentes

Passou da hora

Jarno Trulli
Pescara, Itália, 13.07.1974
238 GPs
1 vitória
Por que Truli: corrida defensiva é com ele mesmo
Em 2010: 21º, 0 pontos
O que levar para 2011: boas performances na classificação
O que esquecer: na verdade, tem é que lembrar de olhar as bandeiras azuis

Já virou lenda a história que o diretor técnico Mike Gascoyne conta de que, no início da Lotus Racing (agora devidamente renomeada como Team Lotus), havia tão poucos funcionários que, ao receber uma ligação, eles fingiam passá-la para outro departamento e atendiam com uma voz diferente. O resultado disso foi um carro extremamente conservador, cujo objetivo era terminar corridas. Foram vários abandonos – apenas somando problemas hidráulicos e de câmbio, foram 10 no ano – mas a evolução do carro provou que o corpo de engenheiros caminhava para o lugar certo. Aliás, todo o projeto da equipe, da aposta por pilotos experientes à relação construída com os fãs por meio das mídias sociais, mostra uma seriedade ímpar na turma do fundão do grid.

O objetivo desse ano é entrar no grande e competitivo bloco intermediário – que, por sua vez, cada vez mais se divide em três camadas, com Mercedes e Renault mais próximas do topo, Williams e Force Índia um pouco abaixo e Sauber e Toro Rosso nas rabeiras. Não se trata de uma meta simples, tendo em vista que, mesmo na última corrida de 2010, Trulli levou quase 1s7 do mais lento das equipes já estabelecidas. Se essa é a meta dentro das pistas, fora delas o time precisa, ou ganhar a luta judicial para poder usar o nome Lotus, ou apostar num plano B e fortalecer sua marca para ter investimentos suficientes para continuar na F1 no futuro.

O carro de 2011 tem duas importantes novidades: o motor Renault e, principalmente, câmbio e transmissão da Red Bull. A equipe, inclusive, deverá usar o simulador dos campeões mundiais em algumas oportunidades. Das “fotos” (na verdade, apenas imagens digitalizadas foram divulgadas) do lançamento, não dá para notar muita coisa, além do maior refinamento aerodinâmico, especialmente na asa dianteiro, em relação ao ano passado, e o bico mais alto. A maior surpresa fica por conta da entrada de ar acima da cabeça do piloto ser nos moldes da usada pela Mercedes em 2010, algo que até o time alemão abandonou para esse ano.

Turma de 2011: Renault

Em 2010
Colocação/pontos: 5º, 163 pontos
Melhor resultado: 2º (1 vez, com Kubica)
O que levar para 2011: o bom padrão de desenvolvimento
O que esquecer: os altos e baixos no rendimento, nos diferentes circuitos

Me dê um carro

Robert Kubica
Cracóvia, Polônia, 7.12.1984
77 GPs
1 Vitória
Por que Kubica: um piloto de poucos erros e muita velocidade
Em 2010: 8º, 136 pontos
O que levar para 2011: a consistência ímpar que teve em 2010
O que esquecer: as brigas políticas internas e a Ferrari, por enquanto

2ª chance

Vitaly Petrov
Vyborg, Rússia, 08.09.1984
19 GPs
Por que Petrov: o que ele vai aprontar dessa vez?
Em 2010: 13º, 27 pontos
O que levar para 2011: a atuação defensiva perfeita em Abu Dhabi
O que esquecer: excessos e erros de avaliação

Depois de um 2009 abaixo da crítica, em que faltou investimento e sobraram escândalos, a Renault iniciou uma nova era, sob o comando da Genii Capital. Apesar do R30 não ter nascido particularmente bem, o desenvolvimento do carro permitiu que a equipe brigasse com a Mercedes. Não que a classificação do campeonato deixe isso claro: os 163 a 214 se devem muito mais à fraca campanha do estreante Petrov – que levou mais de 7 décimos, em média, do companheiro durante a temporada – do que a um projeto errôneo.

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O carro de 2011 promete ser tão agressivo quanto os planos de Dany Bahar para tomar o controle do time nos próximos anos, sob a bandeira da Lotus Cars, companhia da qual é CEO. Entrando neste ano como patrocinadora e já ditando o tom da pintura do carro, que se remete ao tradicional patrocínio da marca de cigarros John Player Special dos bólidos de Colin Chapman nos anos 1970 e 1980, a marca está em plena briga judicial com a outra Lotus, o Team Lotus verde e amarelo de Tony Fernandes.

De Renault mesmo, só o motor

Politicagem à parte, o carro promete inovar. Ainda não se sabe com precisão, mas há algo de novo em relação ao escapamento e, segundo o diretor técnico, James Allison, “haverá mais desenvolvimento no sentido de direcionar os escapes para o assoalho.” (embora as formas arredondadas próximas aos radiadores tenham deixado a impressão de que os gases estejam direcionados para frente). Com o desenvolvimento iniciado em fevereiro de 2010, o R31 tem, fora o motor, 92% das partes diferentes em relação a seu antecessor. Uma delas é a suspensão traseira: o time decidiu adotar as pull rods, ao estilo Red Bull.

Curiosa saída do escapamento no R31

Escapamento à parte, o que mais chamou a atenção no lançamento da Renault foram os 5 pilotos reservas. Bruno Senna, garoto-propaganda dos sonhos de Bahar, que poderá usá-lo a bordo de um Lotus preto e dourado para remeter ao passado do nome, nas mãos de Ayrton Senna, parece ter a prioridade, mas Romain Grosjean, queridinho do chefe da equipe, Eric Boullier, disse que o terceiro piloto é ele. E não é só isso. Fairuz Fauzy, Jan Charouz e Ho-Pin Tung também estão na reserva. A ideia é fazê-los andar com modelos antigos e usá-los para eventos promocionais, nos moldes da academia de pilotos da Ferrari.

Segundo Boullier, há a possibilidade de Senna andar algumas sexta-feiras caso os engenheiros de Kubica e Petrov julguem que isso não vá os atrapalhar. A briga pelos reservas mostra que um conflito de interesses entre Bahar, pelo lado da Lotus, e Boullier, pelo da Genii, é questão de tempo.

Turma de 2011: Sauber

Em 2010
Colocação/pontos: 8º, 44 pontos
Melhor resultado: 6º (1 vez, com Kobayashi)
O que levar para 2011: estratégias ousadas com Kobayashi
O que esquecer: falta de confiabilidade

Showman

Kamui Kobayashi
Amagazaki, Japão, 13.09.1986
22 GPs
Em 2010: 12º, 32 pontos
Por que Kobayashi: não existe ultrapassagem impossível para o japonês
O que levar para 2011: a “falta de respeito”, mesmo com os grandes nomes
O que esquecer: a tendência em se envolver em acidentes

 

Aposta

Sergio Perez
Guadalajara, México, 26.01.1990
Estreia em 2011
Por que Perez: na GP2, mostrou ano passado que evoluiu e sabe abrir caminho no meio do pelotão
Em 2010: vice-campeão da GP2

Peter Sauber teve que juntar os cacos às pressas depois da saída da BMW, que havia comprado sua equipe, ao final de 2009. Praticamente sem patrocinadores, ainda que não se saiba o tamanho da ajuda da montadora alemã para que a equipe sobrevivesse, sofreu com a falta de confiabilidade, especialmente do motor Ferrari na primeira metade da temporada.

Conseguiu superar as dificuldades principalmente quando colocou Kobayashi em estratégias ousadas. Como ultrapassar não é um problema para o japonês, a revelação de 2010 ia abrindo caminho e alçando a Sauber a posições que não merecia: com o 8º carro do grid, pontuou em 8 das 11 provas finais do campeonato.

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Para 2011, o tradicional time suíço, que já deu a primeira oportunidade a pilotos como Kimi Raikkonen e Felipe Massa, promete dar um passo importante. Com a chegada do dinheiro trazido pelo mexicano Sergio Perez e o recente anúncio da parceria com a marca de tequila Jose Cuervo, terá mais recursos para desenvolver o carro e, quem sabe, lutar com Force India e Williams por um lugarzinho no Q3.


Usando motor, câmbio e KERS da Ferrari, a Sauber também optou pelo tipo de suspensão similar ao da Scuderia. “A geometria de suspensão é de certa forma ditada pelo câmbio, mas toda a solução para a suspensão foi criada aqui dentro”, salientou o diretor técnico James Key, que chegou na metade do ano passado, vindo da Force India, e foi o grande responsável pelo crescimento do time na segunda parte da temporada.

Turma de 2011: Ferrari

Em 2010
Colocação/pontos: 3º, 396 pontos
Melhor resultado: 1º (5 vezes, todas com Alonso)
O que levar para 2011: padrão de desenvolvimento do carro
O que esquecer: estratégias em corridas menos óbvias


Título é obrigação

Fernando Alonso
Oviedo, Espanha, 29.07.1981
159 GPs
26 Vitórias
Por que Alonso: agressivo e cerebral, corre com a tabela de pontuação na cabeça
Em 2010: 2º, 252 pontos
O que levar para 2011: liderança dentro da equipe e o rendimento na 2ª metade do campeonato
O que esquecer: os erros do início da temporada

 

Pressionado

Felipe Massa
São Paulo, Brasil, 25.04.1981
135 GPs
11 Vitórias
Por que Massa: sabe que precisa mostrar serviço neste ano para salvar sua vaga na Ferrari
Em 2010: 6º, 144 pontos
O que levar para 2011: ritmo de corrida
O que esquecer: a falta reação frente ao companheiro e à dificuldade de aquecer pneus

O erro de estratégia que decretou a derrota de Fernando Alonso no campeonato de 2010 é a marca da gestão cheia de altos e baixos da Ferrari nos últimos 3 anos, após a saída de Jean Todt do comando da equipe. Agora que a busca por um piloto que lidere a Scuderia parece ter acabado com a chegada do espanhol, falta acertar a mão no projeto do carro (que já deu um grande salto de 2009 para 2010) e evitar perder oportunidades por más avaliações de estratégia.
Pensando nisso, a equipe contratou Neil Martin, que conduzia a estratégia na Red Bull, e reorganizou-se de maneira a trabalhar num sistema parecido com o da McLaren, fazendo projeções simultâneas na fábrica e na pista durante os GPs, para ter mais exatidão nas decisões-chave.

Tendo um ano de experiência com o KERS, é de se esperar uma melhor adaptação em relação a equipes como a Red Bull, que não usou o sistema em 2009. Outras melhoras devem acontecer nos freios (a equipe desenvolveu um novo sistema junto da parceira Brembo) e no consumo de combustível (a Shell teria desenvolvido uma gasolina melhor a fim de que o carro possa ter um tanque menor). Um supostamente inovador sistema de suspensão traseira é a grande aposta da equipe no modelo F150.

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Além disso, o time italiano se gaba de ter melhorado seu túnel de vento e de ter sub-locado o equipamento da Toyota, o que possibilita burlar a limitação de uso do túnel combinada no acordo de restrição de gastos.
Dentro da pista, a Ferrari espera um melhor trabalho de seus pilotos. Enquanto Alonso errou muito na primeira parte do campeonato de 2010, Massa teve um ano para esquecer. Para tirar os 0.2s de desvantagem que, segundo Stefano Domenicali, teve em média para a Red Bull vai precisar que o ótimo rendimento das últimas 9 corridas do ano passado sejam a constante em 2011.

O agregador de valor e o pagante – parte 2

Ontem tentei mostrar um pouco do porquê de um banco como o Santander querer associar sua imagem a pilotos como Alonso, Hamilton e Massa, de uma empresa como a Red Bull precisar de Sebastian Vettel e o que o uísque tem a ver com a chegada do escocês Di Resta à F1.

Esses – e vários outros, como Button, por exemplo, o garoto propaganda perfeito para as sóbrias marcas que a McLaren tem como parceiras antigas, como a Tag Heuer e a Hugo Boss – são casos bem diferentes de pilotos cujas carreiras nas categorias de base não foram tão brilhantes. Quando vemos um Yamamoto ou um Karthikeyan conseguindo vagas, logo procuramos qual a nova marca estampada nos carros.

Chávez Maldonado Venezuela Williams
Petróleo e política são o combustível da carreira de Maldonado

Num fenômeno mais recente, empresas gigantes em seus países têm investido pesado mais cedo na carreira de pilotos para colher os frutos quando chegam à F1. Num exemplo inverso à relação de Alonso e Santander – o banco só apoiou o piloto depois que sua imagem já estava consolidade – bancam a carreira de jovens e lhes dão a condição, que provavelmente nunca teriam tido sozinhos, para que se desenvolvam.

É um tiro difícil de errar. Se escolhe um menino da base, compra a ele boas vagas, ele vai ganhando corridas, pois tem um bom carro, e forma um currículo, se não espetacular, que dê certa credibilidade quando chegar à F1. Com isso, temos no mexicano Sergio Perez e no russo Vitaly Petrov dois vice-campeões da GP2, e no venezuelano Pastor Maldonado, um campeão da categoria direta de acesso ao degrau principal.

Isso faz com que títulos já não signifiquem tanto. Quando um release de impresa atesta o título de Maldonado, omite que o novo piloto da Williams fez muita besteira em 4 temporadas antes de alcançá-lo, mesmo com todo dinheiro do petróleo venezuelano dando-lhe condições para vencer. Omite, ainda, que ele substitui Nico Hulkenberg, campeão com certa facilidade em seu ano de estreia na GP2 – em cima justamente de Petrov, que também fez poucas e boas por lá.

Hukenberg Glock Heidfeld Sutil Vetel Schumacher Rosberg
Além de numerosos, alemães têm perfil bem diversificado

Alguns podem dizer que os programas de desenvolvimento de pilotos, geralmente (à exceção da Red Bull) mantidos por montadoras, fazem o mesmo por seus pupilos. A McLaren, por exemplo, escolheu a dedo as equipes por que Hamilton passou e assegurou-se de que o inglês tivesse as melhores condições para ser campeão e passar à seguinte etapa. Por essas e outras, a linha é tênue e muitos julgamentos tendem a ser precipitados, mas o que se observa de diferença entre uma vaga comprada e uma cuidadosamente escolhida é que o piloto beneficiado de um tem que provar que é economicamente viável e, de outra, que tem condições técnicas de seguir em frente. É lógico que ser economicamente viável é ter condições técnicas, mas não só isso.

E chegamos à questão de Hulkenberg. O alemão se nega a pagar pela vaga, mas por que ele parece não ter valor agregado? Será que não é porque ele compete por mercado com Nico Rosberg e Sebastian Vettel? Será que não falta patrocínio das grandes empresas alemãs, tendo em vista que só as montadoras parecem apoiar seus pilotos?

A concorrência forte por um mesmo espaço na mídia certamente pesa contra o piloto, mas o grande problema de ser talentoso demais para garantir um assento por algo além da simples pressão comercial é que é preciso primeiro vencer, para depois se tornar comercialmente relevante. A questão – e não é só de Hulkenberg, inclui Di Grassi e outros tantos que permanentemente batem na trave – é como chegar lá quando as “vagas de acesso” estão financiadas.

O romantismo já não cabe no esporte em geral, muito menos na F1. Não há piloto que esteja na categoria sem que isso seja do interesse de alguém. A diferença entre uns e outros se vê na pista.

O agregador de valor e o pagante – parte 1

Em tempos em que o quase criminoso termo “piloto pagante” voltou à moda, a suspeita recai sobre cada contratação. Por que Di Resta foi escolhido pela Force India? Como Nico Hulkenberg não tem um cockpit? Quando o esporte vira negócio, nem tudo é o que parece. É difícil separar joio do trigo e enxergar quem são os pagantes pura e simplesmente e onde estão as jóias com valor agregado que funcionam como imã de credibilidade na F1.

A linha é tênue e, no final das contas, surgem mais perguntas que respostas. Talvez o maior patrocínio na categoria hoje em dia – os números são sigilosos, mas é possível arriscar um palpite – seja o do banco Santander. A entidade financeira espanhola patrocinou a McLaren por 4 anos e hoje tem uma parceria com a Ferrari, além de dar nome aos GPs da Inglaterra, Alemanha e Itália e ter presença forte nos eventos do Brasil, Espanha e Europa.

botín alonso massa hamilton button
O presidente do Santander e seus garotos-propaganda

O banco foi à McLaren com Alonso e à Ferrari com Alonso e isso não quer dizer que o espanhol tenha comprado ambas as vagas. É compreensível que uma marca queira se associar a outra que transmite valores como liderança e segurança. E isso é só parte da história. O Santander já é o maior banco da Espanha, então o que eles buscam não é apoiar seu piloto por questões nacionalistas, mas sim se associar a uma marca espanhola de sucesso para se mostrar como tal ao mundo, daí sua presença abrangente, marcando de perto seus mercados prioritários.

A associação com a McLaren, inclusive, veio num momento chave para o banco, que preparava a incorporação do britânico Abbey. Para cativar o público inglês e consolidar sua marca no país, usou Lewis Hamilton como garoto-propaganda e conseguiu um aumento de reconhecimento da marca de 20% para 82%. E é óbvio que a presença do brasileiro Felipe Massa na Ferrari também é de pleno interesse dos espanhóis, pois o Santander vê no Brasil, onde já possui mais de 6,7 milhões de clientes e é o terceiro banco privado por volume de ativos, seu maior mercado em potencial.

Este é apenas um exemplo de por que é interessante a uma marca ter sua imagem associada a um piloto com valor agregado, seja por sua imagem, nacionalidade ou resultados na pista. Outro é Sebastian Vettel na Red Bull: o ar jovial cai como uma luva no que a marca pretende vender. E isso não quer dizer que este seja o motivo principal para ser ele o escolhido para a vaga. É talentoso, vencedor desde adolescente, e está lá porque merece.

vettel
Se a ideia é vender atitude para os jovens, o piloto é Vettel

É o caso de Di Resta também. O escocês conta com o apoio da Mercedes já há bastante tempo (o que não é nenhum crime, que o digam Schumacher, Hamilton, Rosberg e outros), o que certamente pesou em sua contratação, e há quem desconfie que a empresa de uísque White & Mackay tenha algo a ver com sua escolha em detrimento a Hulkenberg ou Liuzzi. Não faz muito sentido, visto que o dono das garrafas é o bilionário indiano Vijay Mallya, proprietário também da Force India. De qualquer maneira – e entramos novamente na questão do valor agregado – ter um piloto escocês talvez ajude a promover a marca, que estampa os macacões do time desde 2009.

São casos bem diferentes de pilotos cujas carreiras nas categorias de base não foram tão brilhantes. Falarei um pouco mais sobre eles – e onde colocar Hulkenberg nisso tudo – no post de amanhã.

A asa traseira móvel em ação

Pela primeira vez, pudemos ver a asa traseira móvel em ação, no shakedown que Alonso fez logo após o lançamento da Ferrari. A mudança na configuração da asa é bem mais visível que quando eram usados os dutos. Em pouco mais de um mês, veremos se funciona. O que vocês acham:

alonso ferrari fioranoalonso ferrari fiorano

A bandeira da Itália e o palanque de Montezemolo

A Ferrari somou o branco e verde ao seu tradicional vermelho na pintura do F150 – nome, inclusive, em homenagem aos 150 anos da unificação italiana – e Luca di Montezemolo insistiu em ressaltar o valor da marca para o país na apresentação do mais novo carro da Scuderia. Tudo poderia se encaixar muito bem num discurso puramente nacionalista, não fosse o contexto do nação – e a possibilidade clara da participação direta do dirigente em seu futuro.

Montezemolo
Carisma e poder de Montezemolo ameaçam Berlusconi

Desde meados dos anos 1990, Silvio Berlusconi manda e desmanda na Itália, apoiado mais sua personalidade do que em desenvolvimento propiamente dito. Nos últimos tempos, no entanto, tem sofrido um golpe atrás do outro e está com sua popularidade mais que arranhada. O atual mandato vai até 2013, mas sua sucessão já vem sendo cogitada. Como a política italiana tem essa tradição de valorizar figuras carismáticas, é justamente Montezemolo quem aparece como um nome forte.

O empresário de 63 anos, que já comandou diversas companhias, da FIAT à marca de bebidas Cinzano, passando pelo jornal La Stampa e o time de futebol da Juventus, é considerado uma ameaça pelos aliados de Berlusconi. E tem dado indícios de que realmente o é. Recentemente, iniciou um movimento chamado Italia Futura, que promove debates no sentido de promover o renascimento econômico do país, além de estar envolvido na primeira linha privada de trens de alta velocidade italiana.

A Ferrari é uma plataforma política irresistível para Montezemolo

Não poderia demorar, é claro, para Montezemolo usar a Ferrari como sua plataforma política. Afinal, é um nome que evoca sucesso e vitórias. Depois de mandar uma mensagem mais que clara ao entitular o carro de 2009 de F60, de forma a enfatizar que a equipe é a única participante de todos os campeonatos de F1 da história e firmar posição num momento político conturbado, quando Max Mosley já manobrava contra a presença das montadoras na categoria, o F150 reforça a importância da Ferrari para a Itália e faz a conexão entre sua história, seu futuro e ao “patrotismo”.

No lançamento do carro, o dirigente já se apressou em dizer que não havia nada de político no fato da bandeira italiana estar em destaque. “Há 20 anos colocamos a bandeira nos carros. E, pessoalmente, sempre considerei isso importante. 2011 é um ano em que somos ainda mais italianos e estamos orgulhosos disso”. Claro. Só muito orgulho mesmo para explicar deixar de ganhar um caminhão de dinheiro para estampar o nome de algum patrocinador na parte traseira da asa para colocar uma grande bandeira de seu país…

Lotus e os nossos campeões mundiais

A década de 1970 começou de maneira paradoxal para Colin Chapman. Ao mesmo tempo em que conquistou os títulos de piloto e construtores, viu seu campeão morrer. Jochen Rindt, que venceu cinco provas naquele ano, acabou falecendo no GP da Itália, mas mesmo assim ficou com o título. O brasileiro Emerson Fittipaldi, que o substituiu na equipe, venceu a corrida dos Estados Unidos e, desta forma, garantiu o único título póstumo da história da F1

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Depois daquela primeira vitória do país na categoria, Emerson se estabeleceu na equipe e dois anos depois era ele quem disputava o título. Foram cinco vitórias na temporada e no fim, já no segundo ano na F1, o piloto se sagrava campeão do mundo, o mais jovem até então. Jackie Stewart, que disputou com o brasileiro, terminou 16 pontos atrás do rival, ficando com o vice-campeonato. No ano seguinte, os dois disputaram novamente o título, mas com o escocês levando a melhor.

Em 1974, Fittipaldi trocou a equipe pela McLaren e a Lotus passou por um mau momento, terminando em quarto no campeonato de construtores e em quinto no de pilotos, com Ronnie Peterson. A equipe só voltou mesmo ao topo em 1978 com mais um super carro desenvolvido por Colin Chapman. A prova disto apareceu nas pistas e a dupla de pilotos formada por Mario Andretti e Ronnie Peterson ficou com as duas primeiras posições do campeonato, com Andretti à frente.

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Emerson Fittipaldi e Colin Chapman

Foi o ápice da equipe e daí para frente não se viu nada parecido. Colin Chapman morreu em 1982 e o controle passou para as mãos de Peter Warr. Em 1985, contrataram o jovem talentoso Ayrton Senna, que venceu duas provas já em seu primeiro ano na equipe. No ano seguinte, ele conquistou mais duas vitórias e atraiu a atenção da Honda, que fechou um acordo com o time. Em 1987, o brasileiro subiu novamente mais duas vezes no ponto mais alto do pódio.

Em 1988, saiu Senna e entrou o tri-campeão Nelson Piquet. Mas a equipe desandou e os bons resultados desapareceram. Piquet ficou por duas temporadas no time e conquistou apenas três terceiros lugares e uma infinidade de quebras. Daí para frente foram vários pilotos em carros ruins que não conquistaram nada. Entre eles: Derek Warwick, Martin Donnelly, Johnny Herbert, Mika Hakkinen, Alessandro Zanardi, Pedro Lamy e Mika Salo.

1987+Senna+Lotus+Mexico+198
Senna de Lotus em 1987

No fim da temporada de 1994, depois de se afundar em dívidas e não conseguir mais resultados expressivos, a equipe se uniu à Pacific, que fechou as portas no fim do ano seguinte. Era o fim da equipe Lotus, certo? Errado! Em 2010, um grupo malaio liderado por Tony Fernandes comprou o direito de usar o nome da equipe e disputou a temporada como Lotus Racing. Neste ano, eles finalmente assumiram o nome Team Lotus, mas vão ter uma “pequena” dor de cabeça. O grupo Proton, detentor da marca Lotus Cars comprou parte da Renault e o time vai se chamar Lotus-Renault. As duas vão brigar na justiça pela exclusividade do nome, mas uma coisa é certa: a Lotus continuará na categoria, mesmo sem qualquer semelhança em relação ao grande time que foi em décadas passadas, sob o comando do gênio Colin Chapman.

A chegada à F1 e o primeiro grande ídolo da Lotus

A história da quarta equipe mais vencedora de provas e títulos da Fórmula 1 começou em 1952 com a criação da empresa Lotus Engineering em Hornsey, na Inglaterra. Dois anos depois nascia a equipe Lotus, responsável por cuidar do time nas pistas. Depois de alguns anos disputando provas em outras categorias, como às 24 horas de Le Mans e a Fórmula 2, em 1958 eles estrearam na Fórmula 1 no Grande Prêmio de Mônaco com Graham Hill e Cliff Allison no volante dos dois carros da equipe.

Innes Ireland Watkins Glen Lotus
Innes Ireland em Watkins Glen

A primeira vitória da equipe, no entanto, só aconteceu em 1961, na corrida dos Estados Unidos com Innes Ireland. Porém, um carro Lotus já havia vencido antes na categoria, mas pela equipe Rob Walker Racing Team. Foi no GP. de Mônaco de 1960 com Stirling Moss ao volante. Essa foi, inclusive, a primeira e única vez na história que uma equipe que comprava seus carros junto a outra chegou ao lugar mais alto do pódio.
Mas foi em 1963 que eles se tornaram realmente grandes. Sob o comando de Jim Clark, a equipe conquistou sete vitórias das dez provas da temporada. Foi um domínio impressionante e o segundo colocado no campeonato, Graham Hill da BRM, marcou apenas pouco mais da metade dos pontos de Clark. No ano seguinte, eles estavam novamente na briga, mas perderam o título por apenas 1 ponto para John Surtees, da Ferrari.

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Jim Clark, após a vitória na Alemanha, comemorando o segundo título

Em 1965, lá estavam eles novamente na briga pelo título. Jim Clark venceu seis das dez provas da temporada e novamente venceu com uma vantagem esmagadora para Graham Hill. A equipe passou então por vários problemas no anos seguintes, relacionados a segurança, e vários pilotos sofreram graves acidentes, inclusive alguns chegaram a morrer. A grande tragédia da história da equipe foi a perda, justamente, de Clark, numa prova de F2. A suspeita é de que um pneu furado tenha causado o acidente. Mesmo assim, Chapman tomou as dores da morte do amigo e chegou a cogitar abandonar as pistas. Isto não evitou, contudo, que eles conquistassem mais um título, em 1968 com Graham Hill, que, numa disputa emocionante contra Jackie Stewart, levou o campeonato por 12 pontos de diferença.

No próximo e último capítulo deste especial vamos tratar das décadas de 70 e 80, com Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, além, é claro, de explicar a atual confusão envolvendo o nome da equipe.

E não é que sobrou para Hulkenberg?

Hulkenberg Force India
Hulk e suas novas cores

Ele terminou 2010 como o melhor estreante do ano. Depois de um começo um tanto abaixo do que se esperava de um piloto que foi campeão da GP2 em sua temporada de estreia, Nico Hulkenberg mostrou serviço na segunda parte do campeonato e marcou 20 de seus 22 dos pontos nas últimas 9 etapas. Na média das classificações, ficou devendo apenas 1s4 para um companheiro com 17 temporadas a mais que ele – e ainda superando-o em 6 ocasiões, mais do que Button, Schumacher e Massa conseguiram, por exemplo. Isso sem falar numa pole, com mais de 1s de vantagem para pilotos que lutavam pelo título, que deixou todos boquiabertos no GP do Brasil.

Num momento em que é clara a dificuldade dos times que estão mais distantes da briga por pódios e vitórias em conseguir patrocínios, o alemão de 23 anos sobrou. Preterido na Williams em favor do dinheiro do petróleo venezuelano trazido por Pastor Maldonado, bateu à porta da Force India, única vaga à disposição longe das novatas de 2010.

E parece que, mais uma vez, os dólares falaram mais alto, mesmo que de uma maneira bem mais sutil que no caso da Williams. Foi o escocês Paul Di Resta que ficou com a vaga como companheiro de Adrian Sutil e, segundo o jornalista inglês Joe Saward, o negócio saiu em troca do sistema KERS da Mercedes, que está “à venda” no mercado por algo em torno de 6 milhões de dólares. Nada mal para uma equipe que vem crescendo, mas que ainda não nada em dinheiro.

A associação de Di Resta com a Mercedes é de longa data, em moldes parecidos a programas de desenvolvimento de pilotos. Isso não quer dizer, no entanto, que tenha comprado a vaga e falarei mais sobre o assunto amanhã. O escocês de 24 anos tem talento, é o atual campeão da DTM, tradicional e fortíssima competição de turismo alemão, e já bateu Sebastian Vettel, seu então companheiro de ASM, pelo título da F3 Euroseries, que já foi vencida por Lewis Hamilton e… Nico Hulkenberg.

Paul di Resta Sebastian Vettel
Di Resta bateu o companheiro Vettel na F3 Euroseries

O alemão fica, então, como a grande baixa da dança das cadeiras de 2011, a prova de que currículo e a superação das dificuldades de uma estreia com pouquíssimos testes não são o suficiente para garantir ninguém na F1. O piloto assinou um contrato longo – cuja extensão não foi divulgada – com a Force India, e disse esperar ter um cockpit em 2012. Muito provavelmente, a exemplo do caminho trilhado por Di Resta em 2010, deve guiar o carro às sextas-feiras, o que colocará uma pressão a mais nos pilotos titulares, principalmente Sutil, que ficou abaixo do esperado na temporada passada e não agradou muito o time ao dizer que estava analisando propostas para sair em meados do ano.

Ficar um ano longe das corridas e voltar como titular é um caminho já trilhado por pilotos como Massa e Alonso, mas uma manobra de risco em dias de testes tão reduzidos. Tendo isso em vista, a opção de Hulkenberg pela Force India, que já cedeu seu cockpit ao 3º piloto nos treinos livres em 2010, parece ser o máximo que ele pode chegar de garantir seu futuro.