A Mercedes tinha a obrigação de colocar a Ferrari em seu devido lugar após o susto da Malásia e Lewis Hamilton logo mostrou que não estava para brincadeira, posicionando seu carro como uma arma engatilhada na largada. Ainda que isso tenha causado tensão entre seus compatriotas: “Será que ele já sabe qual o ângulo exato para largar ou isso vai abrir um espaço para o Vettel?”, questiona o narrador David Croft, da Sky Sports.
Mas a tática funciona e o inglês não dá chances a seus rivais. “Hamilton foi para cima do Rosberg e manteve a ponta. Bottas veio bem e Felipe tem também o ataque de Raikkonen. A Ferrari largando bem”, observa Cleber Machado, na Globo. “Os dois carros da Ferrari já estão na frente e Massa recupera posição com Bottas”.
Enquanto os globais destacam a importância de Massa não ter ficado atrás de Bottas na largada, Martin Brundle, na Sky, vê “grandes primeiras curvas de Kimi Raikkonen, que fez seu trabalho com as Williams. E que péssima primeira volta para a Red Bull.”
Na Antena 3, o narrador Antonio Lobato estava com um olho na ponta e outro “lá para trás, onde está Fernando. Pelo menos ganhou a posição de seu companheiro.” Nas primeiras voltas, os espanhóis se impressionam pelo fato do compatriota estar lutando com as Red Bull, mesmo que pelas últimas posições mas, como frisa Croft ao ver as equipes disputando o 14º lugar, “pelo menos da McLaren a gente esperava isso”.
A corrida, de fato, é mais movimentada na parte de trás. Carlos Sainz roda, no que Brundle vê como “a primeira demonstração dele de que é um estreante”, enquanto Pedro de la Rosa acredita que “os pneus duros não estavam completamente aquecidos.”
Também dentro do bolo, Ricciardo e Kvyat protagonizam uma briga ferrenha, mesmo com a Red Bull pedindo ao russo, que está com pneus médios, ao contrário do companheiro, que ceda a posição. Para o comentarista espanhol Cristóbal Rosaleny, “não é o mesmo Kvyat da Toro Rosso. Quando se chega em uma equipe grande, os egos aumentam”. Os demais também não entendem a resistência do jovem piloto. “Fazendo isso eles só estão perdendo tempo”, critica Luciano Burti.
As atenções se voltam à estratégia e De la Rosa observa que os pilotos estão alinhados por equipe e que isso pode influir na estratégia, porque companheiros estão próximos e “quem parar primeiro, volta na frente.”
Isso também vale para os ponteiros. Os britânicos discutem se Rosberg pode ser usado como escudo para evitar o undercut da Ferrari. “Como eles vão fazer algo desse tipo se ambos estão na disputa pelo título?”, questiona Croft. “A Mercedes queria ter 5s de vantagem para cobrir o que quer que a Ferrari fizesse. Mas Vettel está conseguindo se manter mais perto”, alerta o repórter Ted Kravitz. Brundle desdenha da ameaça. “Na verdade, ele não vai conseguir um undercut de 6s. Eles só estão influenciando na maneira como a Mercedes está lidando com a corrida, obrigando-os a parar para cobri-los.
Por outro lado, De la Rosa salienta que, “se Rosberg pudesse escolher, entrava no box agora [antes de todos] e destroçava a corrida de Hamilton. Mas não vão permitir.” Vettel, de fato, para primeiro para provocar a entrada dos demais.
A escolha dos compostos para o segundo stint causa certa confusão. Antes das paradas, De la Rosa duvida que a Mercedes coloque pneus macios, pois vê isso como um risco. “Será a Ferrari capaz ou se arriscará a colocar o macio? Se a Mercedes colocar o médio teremos uma luta muito bonita, porque o rendimento do médio não está bom.” Porém, logo depois, observando os tempos de Hamilton com o composto já usado, volta atrás. “Olhando os tempos de Hamilton, se eu fosse ele, colocaria os macios”, diz o comentarista, que é lembrado por Rosaleny que “Ferrai e Mercedes vão fazer isso porque são os únicos que têm pneus macios guardados da classificação. Eles vão ficar em outro planeta na corrida.”
Já Burti demora para ver que não apenas a Mercedes optou, de fato, pelo pneu macio. “Quando o carro é bom, equilibrado, até nisso faz a diferença porque o carro balança menos”, disse, justificando a escolha por parte dos atuais campeões mundiais. Até perceber que a Ferrari tinha copiado a estratégia. Na verdade, a questão da pressão aerodinâmica até faz sentido, como explicava Brundle. “Com a maior pressão aerodinâmica, a Mercedes pode usar os médios melhor que os outros.”
As atenções se voltam brevemente para a McLaren e Red Bull e Lobato salienta que “estão chegando em um acordo para liberarem a quinta unidade de potência, mas tem equipe que não vai conseguir fugir de punição nem se tiver seis.” Enquanto isso, Cléber brinca, dizendo que “como eles não conseguem passar ninguém, ficam brincando de trocar posição”. Mas Reginaldo Leme não concorda: “Vocês ficam brincando, mas isso se chama McLaren e se chama Honda.”
O rádio
Até que vem o rádio que marcaria a prova. “Lewis está pilotando muito devagar, falem para ele acelerar. Se eu me aproximar, vou destruir meu pneu, como no primeiro stint. Esse é o problema”, reclamou Rosberg.
Os comentaristas estranham. “Imaginava que você gostaria de fosse lento!”, exclamou Croft. “Ele está sugerindo que Lewis está empurrando ele para as Ferrari. O Webber gostava de fazer isso para desestabilizar Vettel”, lembrou Brundle. “Vocês imaginam que Hamilton esteja mais lento por opção?”, questiona Cléber, e ouve de Reginaldo que ele só está querendo poupar os pneus. E Burti de certa forma concorda com bronca de Rosberg. “A Ferrari é um carro ‘normal’, digamos, que anda bem de reta. Então, se Vettel se aproximar, tem grandes chances de passar.”
Mas, para Lobato, que estava no comercial com a Antena 3 no momento do rádio, Hamilton está fazendo mais do que isso. “Os homens da Ferrari estão indo muito rápido e Hamilton está indo suspeitamente lento. E Rosberg reclamou porque, caso contrário, vai acabar com seus pneus. Não é que eles vão passar na pista, mas se estiverem perto é só antecipar a parada e eles passam Nico”, resume o narrador. “Mas para ele tanto faz. Seria um rival a menos.”
De la Rosa observa como Lewis está segurando o ritmo. “Estou vendo que Hamilton está lento no segundo setor e lembro que Button fazia duas curvas nesse setor, que degradam muito o pneu, muito lentamente para economizar borracha. Estou pensando se ele não está fazendo esse segredo que Button nos ensinou na McLaren. Não que ele dissesse alguma coisa, mas a telemetria entregava.”
A Mercedes, então, passa a pedir que Hamilton acelere. “O que eles estão dizendo para Hamilton é que, se isso for deliberado, eles vão dar o tratamento preferencial para Rosberg”, diz Croft. “Mais do que isso, eles estão dizendo que vão dar a vitória a Nico, que teria o direito ao undercut”, vê Brundle.
A Ferrari é a primeira a mexer suas peças, para surpresa de Reginaldo, que “não esperava que eles fossem os primeiros a parar”. Mas é Cléber Machado quem explica que, “assim eles têm a chance de voltar na frente de Rosberg”, ainda que Burti ache “difícil a Ferrari conseguir alguma coisa nesse sentido porque o pneu médio é mais lento, mas eles têm de tentar algo.”
Isso obriga a Mercedes a responder chamando o alemão, para proteger o segundo lugar. Mas se o alemão parar antes conseguirá superar Hamilton. “A pergunta de um milhão de dólares é se Hamilton tem meio segundo no bolso”, define De la Rosa. E tem. “Duas voltas sensacionais de Hamilton. Ele realmente estava em ritmo de cruzeiro, empurrando o companheiro para cima das Ferrari”, observa Brundle, que defende o compatriota. “Ele quer ser campeão. É justo.”
Para De la Rosa, “Hamilton sabe o que faz, amigos. E também é verdade que a Mercedes tem uns mapas de motor muito agressivos que, quando são usados, dão uns 5km/h.” Mas isso não convence Lobato. “Ainda bem que não aconteceu nada porque senão teríamos confusão até o Bahrein, porque Hamilton foi maquiavélico segurando o ritmo”, afirmação rebatida pelo comentarista. “Pelo que conheço dele, não estava pensando em Rosberg, mas em ganhar a corrida. Ele estava gerindo a corrida dele.” E o narrador insiste. “A parte maquiavélica é que pediram que ele fosse mais rápido mas ele só acelerou quando o companheiro parou. Mas isso é normal nos grandes pilotos da história.”
Hamilton não dá chance para Rosberg reclamar na segunda parte da prova. E nem a Mercedes dá brechas para a Ferrari. As atenções, então, retornam ao fundo do pelotão. “Ricciardo deve pensar que tem umas seis Sauber nessa corrida. Sempre tem alguma na sua frente”, diverte-se Brundle.
A reclamação de Hamilton sobre o superaquecimento de seu assento faz Burti lembrar uma história inusitada. “Aconteceu comigo no Canadá, em 2001. O banco esquentou e chegou a formar bolhas no traseiro. Não é brincadeira, esquenta de verdade. Inclusive já vi o Rubinho tendo o mesmo tipo de problema.” Percebendo que o comentarista estava exaltado pelos risos dos demais, Cléber pede “calma” ao piloto da Stock Car.
A corrida ainda teria um momento curioso, quando Raikkonen quer que a Ferrari “tire essas McLaren na minha frente”, ao aproximar-se para colocar uma volta na dupla. Os espanhóis reconhecem que é uma cena que dói. “Exatamente há um ano, Fernando fez um pódio aqui e Kimi esteve perdido por toda a corrida. Vimos o engenheiro dele o consolando depois da corrida porque ele estava ferido – e é difícil que isso aconteça com Kimi”, lembra Lobato. “Fernando quase deu uma volta nele naquela corrida, com o mesmo carro. E agora vai acontecer o inverso devido a uma troca de equipe”, emenda De la Rosa.
O narrador ainda comenta sobre uma entrevista que foi ao ar antes do GP, na qual Ron Dennis promete uma melhora rápida. “Tomara que seja sim, ainda que Ron Dennis não tenha dito a verdade tantas vezes. Que agora seja diferente pelo bem de Fernando.”
Nesse momento, as McLaren disputam a 14ª colocação com Maldonado, até que Button bate na traseira do venezuelano. “É raro ver Jenson envolvido em uma colisão dessas. Acho que foi culpa dele”, lamenta Brundle. “Maldonado vinha fechando a porta e acho que Button bobeou”, concorda Burti. O inglês acabou sendo punido pela manobra.
Nas voltas finais, Raikkonen ensaiou uma pressão para cima de Vettel, ainda que Brundle não acreditasse que fosse para valer. “Não consigo imaginar que Vettel tenha ido para a Ferrari sem o status de número 1”, disse o inglês.
Mas o finlandês acabou nem tendo essa chance, devido ao Safety Car trazido pela quebra de Max Verstappen na reta, em lance que deu um tom cômico à corrida: os chineses bateram a asa dianteira três vezes no muro antes de conseguir retirar o carro. “Os comissários estão fazendo um trabalho tão bom retirando aquele carro quanto Maldonado no pitlane”, compara Croft, lembrando a lambança do venezuelano, que errou a entrada dos boxes. “Esse carro não esterça muito! É exatamente o contrário de um táxi londrino”, compara Brundle. “Ai ai ai, bateu! Os comissários nos deram um momento de comédia, mas não é assim que têm que acabar as corridas de F1”, lamenta Lobato. “Vamos ver se ele escuta: deixa passar todo mundo, puxa para trás porque esse carro esterça pouco, daí você vai conseguir”, ensina Burti.
A corrida acaba com Safety Car e mais uma vitória de Hamilton, “oitava vitória em 10 provas e, nas duas que não ganhou, foi segundo”, como salienta Lobato. E, polêmicas a parte, Brundle salienta que ele “tem o direito de ir no ritmo que ele quiser para fazer sua corrida”, enquanto destaca a corrida de Raikkonen, com “ótimo ritmo, grande primeira volta. Só a classificação que não funcionou para ele.”
Para Burti é Vettel quem “está de parabéns” pela corrida. “Mas Ferrari ainda não está em condições de lutar pela vitória. Nasr também fez uma boa prova, chegando em oitavo em um dia no qual as coisas não funcionaram tão bem.”
Falando em coisas que não funcionam muito bem, Lobato prefere sonhar com dias melhores para Alonso. “A imagem de Raikkonen dando uma volta em Fernando doeu, mas esperamos que possamos ver um filme diferente em pouco tempo.”