Pneus pra que te quero. As transmissões da BBC para os britânicos, da La Sexta para os espanhóis e da Globo para os brasileiros começam pautadas pelo assunto do dia: as bolhas, que afetavam especialmente os carros da Red Bull – e todos com uma pontinha de torcida para que o problema impedisse mais uma vitória de Vettel. “Essa não é uma pista em que você gostaria de ter um problema como esse. Eu estaria nervoso”, admite David Coulthard.
Na largada, Galvão Bueno vê “todos que têm esse problema com o pneu” ficando para trás, enquanto os espanhóis se revoltam com o erro na freada de Bruno Senna, que acaba com o dia de Jaime Alguersuari e quase leva Fernando Alonso. “Por favor, por favor…”, não para de repetir o narrador Antonio Lobato. “Bruno mostrou que está um pouco enferrujado”, observa Martin Brundle. “Deu uma fritadinha e escapou”, para Galvão.
Mas quem impressiona a todos é Rosberg, que pula na ponta. Não o Keke, como Galvão chegou a dizer antes da largada, mas Nico. “Ele está voando. E Webber mais uma vez largou mal”, vê Brundle.
Os espanhóis só sentem falta do australiano na volta 2. Lobato está empolgado com o início de Alonso, que tinha pulado de oitavo para quarto. “Vettel tenta passar Rosberg o mais rápido possível para se livrar do homem que vem atrás.” Suspeito que não se referia ao terceiro colocado, Felipe Massa.
O brasileiro era pressionado por Alonso. “Fernando chegou em Massa e disse: ‘ou vamos, ou sou é quem vou’”. E vai, para delírio dos compatriotas. “Assumiu o risco”, diz Marc Gené, com uma ponta de alívio. “Dia de corrida aberta na Ferrari”, ironizam os britânicos. “Ótima manobra de Fernando e isso é o máximo de agressivo que Felipe pode ser”, afirma Brundle, referindo-se à defesa do brasileiro em relação a Hamilton, que também o ultrapassa.
Galvão Bueno não está feliz com a postura de Massa em relação a Rosberg. Ao não conseguir passar o alemão, abriu a porta para a dupla Alonso-Hamilton. “Faltou ao Felipe paciência para tentar a ultrapassagem no lugar certo. Não adianta ficar mostrando o carro no miolo”, repetia a cada cinco voltas. “As Ferrari tinham acerto para seco e estavam muito animadas”, completava o narrador, ainda que, como todos sabiam que não choveria no domingo, a aposta era geral.
Na BBC, a preocupação/torcida era em relação aos pneus da Red Bull. “Eles estão com problemas!”, exclamava o repórter Ted Kravitz quando Vettel e Webber foram aos boxes nas primeiras voltas. Mas Coulthard duvidava que seria um problema tão grande. “Eles não precisam ganhar a corrida, então resolveram parar cedo para não arriscar muito. É questionável se os pneus novos terão tanto problema.”
O movimento na pista e nos boxes confunde todos. “Não sei para onde olho, mas estou gostando disso!”, diz Brundle. “Petrov foi para o reabastecimento”, afirma Galvão. “O que quero dizer é trocar de pneus. Aquele fogo no carro de Heidfeld me deixou com reabastecimento na cabeça”, justifica. Enquanto isso, Pedro de la Rosa crava que Vettel certamente vai a quatro paradas.
Na pista, Webber passa Alonso em um duelo de tirar o fôlego na Eau Rouge. “Até tirei o olho da tela”, confessa Coulthard. “Alonso salvou os dois de um grande acidente”, completa Brundle. “Parecia ímã, um querendo bater no outro”, diz Galvão. Os espanhóis estavam apressados para ir aos comerciais e perdem duas ultrapassagens do piloto da Ferrari.
Na volta, Lobato vibra: “Alonso está a 6s de Vettel e ele tem problemas de bolhas!” A alegria dura pouco, quando Hamilton bate e parece perder a consciência por alguns segundos. “Cuidado que creio que ele não está se mexendo”, o narrador muda o tom. Galvão também está preocupado: “Absurda a falta de sensibilidade do diretor de imagens”.
Os britânicos não veem nada de anormal e colocam a culpa toda em Kobayashi. “Lewis claramente não sabia que Kobayashi estava lá”, acredita Brundle. “Não tem culpa nenhuma, deixou espaço. O Kobayashi é que começou a fazer a curva onde ele estava e não se pode fazer isso. Não tinha como passar por fora dali”, defende Coulthard. Apenas Kravitz estranha a demora do inglês em sair do carro e procura a McLaren, que esclarece. “Eles acham que foi por frustração.”
Os espanhóis acreditam em acidente de corrida. “Kobayashi tem 70% de culpa, mas Hamilton também se moveu na freada.” Galvão define: “Era Hamilton e Kobayashi. Ninguém ia ceder.”
O narrador brasileiro acredita que a corrida está “caindo no colo de Dom Alonso”. Enquanto isso, os espanhóis temem que não parar durante o Safety Car era um erro e tentam imaginar maneiras do piloto da Ferrari vencer – e desanimam. “O engenheiro disse que não parar não é um desastre. Mais foi”, define Lobato.
Os britânicos consideram Vettel, terceiro atrás do Safety Car, na melhor posição. “Ele é o grande vencedor do SC e Webber será rápido no final da corrida”, define Kravitz, que vai buscar uma explicação da Ferrari. “Eles acreditam que Alonso pode fazer uma parada a menos.” Luciano Burti segue a mesma linha: “A vantagem é de Webber, porque já tirou o médio do caminho, mas Vettel poderá ir para cima com macios novos agora.”
Ainda antes da metade da prova, Coulthard prevê que Button pode ser quarto, enquanto Kravitz quer apostar que o inglês vence. “O dinheiro vai para caridade”. Coutlhard e Brundle se esquivam, com o primeiro apostando em uma briga entre o piloto da McLaren e Webber “porque os dois já usaram o médio.” Na Globo, se surpreendem em ver Jenson em cima de Massa. “Ele vem como quem não quer nada e já vai passar. Tem uma finesse impressionante”, diz Galvão.
Os espanhóis entrevistam Jaime Alguersuari, revoltado com Bruno Senna. “Foi estúpido. Era a melhor chance de pontuar bem. Quero pensar que vamos ter essa chance novamente.” Lobato escolhe as palavras. “Gostamos de Bruno, mas ele acabou com o sonho de Jaime e quase de Fernando, quase tira os dois espanhóis.” Para Burti, “não foi culpa de Bruno, foi falta de experiência. Freou um pouquinho mais tarde do que deveria. Ele está muito tempo sem correr.” “É aprendizado para ele”, completa Galvão.
Na frente, Alonso é ao menos 1s mais lento que os rivais com o pneu médio. “Não vejo como ele vai conseguir se segurar”, Coulthard chega a propor que o espanhol pare de novo e coloque macios. “Não é temperatura, é rendimento”, sentencia De la Rosa, que não se conforma com a dobradinha da Red Bull. “Não tinham domínio tão grande, foram os outros que falharam.”
Quando Button se aproxima para passar Alonso, Lobato diz que nem quer ver. “O que acontece com a Ferrari? É um desastre!” Ao ver seu piloto fora do pódio, logo lembra que “Massa está 50s atrás”, ‘esquecendo-se’ do pneu furado do brasileiro.
Nas voltas finais, a atenção é para a batalha entre Schumacher, que havia largado em último, e Rosberg pela quinta posição. No rádio, o engenheiro de Nico diz que a briga está liberada. “Michael vai pegar você, é isso que ele quis dizer”, ‘traduz’ Brundle. “Se tem uma corrida em que o Schumacher pode descontar tudo o que o Rosberg tem feito com ele é essa. Se vira, Rosberg. Você acha que alguém vai dizer para o Schumacher que é para manter posição?”, afirma Galvão.
Lobato desconfia da mensagem dada para Rosberg de que tem de economizar combustível, ainda que De la Rosa lembre que é normal ter de economizar em Spa. “Pode ser código, porque não é normal um piloto sair com nível de combustível diferente do outro, mas também Rosberg andou num ritmo mais forte no início da corrida”, raciocina Coulthard.
Hora dos balanços finais. Para os espanhóis, os cinco primeiros fizeram corridaças. “Ele soube lidar com os pneus, não sentiu a pressão, soube ultrapassar e teve uma estratégia perfeita”, De la Rosa encheu Vettel de elogios. “Quase todos os 13s que Alonso perdeu foram pelo pneu médio”, observa Gené.
Na BBC, Vettel também ganhou destaque – “o que quer que joguem nele, pneus, Safety Car, ele consegue superar” –, mas Coulthard elegeu Schumacher e Button (“com ultrapassagens brutais”) como os melhores, com direito a menção honrosa para Maldonado, “visto como um hooligan ontem, mas que na corrida foi bem”, segundo Kravitz.
Burti destaca Button e Webber, enquanto Galvão faz um balanço dos brasileiros. “Se esperava mais do Massa e tem a decepção do Bruno Senna, que depois fez uma grande corrida. Ele ficou a três posições de ganhar um pontinho, como o tio dele fez na estreia”, comenta, esquecendo-se de que, naquela época, os pontos eram dados até o sexto colocado. Do lado brasileiro, resta pensar em um desempenho melhor em Monza – da nova estrela, claro. “Tomara que o Bruno classifique e largue bem.”